A Cidade de Prata escrita por Matheus Braga


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo!! :D

Bora começar mais uma fic?? O prólogo é curtinho, mas já dá pra deixar aquele gostinho do que está por vir.

Deixem seus reviews. ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763981/chapter/1

 

Em algum lugar sobre o noroeste da Bahia

 

O som das pesadas gotas de chuva batendo contra os vidros do pequeno avião era ensurdecedor. Era como tentar se proteger de uma tempestade de granizo debaixo de um fino telhado de zinco. Relâmpagos tremeluzentes cortavam o céu a todo momento, e os constantes trovões estremeciam a fuselagem do pequeno Cessna 208 Caravan com tanta força que parecia a seus passageiros que a aeronave logo se partiria ao meio. Ao redor não se via nada além das pesadas nuvens escuras, e abaixo só se distinguiam altos paredões de pedra escarpada e uma vegetação densa.

Mayday, mayday, aqui é Orleans Mike Tango Juliette. – O piloto tentou contato pelo rádio pela enésima vez – Perdi todos os instrumentos e estou voando em modo visual a pelo menos 350 quilômetros a és-sudeste da cidade de Palmas, procurando pelo aeroporto de Barreiras. Alguém copia?

Mas, como em todas as vezes anteriores, tudo que se ouviu foi uma constante estática retumbando pelos fones de ouvido. Aquele som chiado horroroso, enregelante, que parecia anunciar algo muito ruim. O piloto fez o máximo para conter o frio que lhe subiu pela espinha e se virou para um dos passageiros, gritando para se fazer ouvir acima do som da tempestade:

Conseguiu alguma coisa com o seu rádio?

Não! Tem muita interferência magnética por causa dos raios!— O passageiro devolveu, também aos gritos.

Nem o celular?

Também não!

A situação deles era tensa. A começar pelo clima. Uma tempestade elétrica forte como aquela era completamente anormal naquela região. Não que isso fosse o suficiente para fazê-los retornar ao aeroporto de origem, em Palmas, mas desde que haviam adentrado o pesado bloco de nuvens cumulus nimbus todos os instrumentos do pequeno Cessna pareciam ter enlouquecido. Os marcadores giravam descontroladamente e, por alguma razão que o piloto ainda não compreendia, o rádio e o GPS simplesmente haviam parado de funcionar. Estavam voando apenas com base no que se podia enxergar através das nuvens e abaixo do avião.

O piloto acreditava que toda aquela pane que se abatia sobre o turboélice em que voavam era o resultado de uma sádica combinação do frio da tempestade com a dita interferência magnética provocada pelas constantes e poderosas descargas elétricas. Não havia outra explicação. O modesto 208 Caravan estava com suas manutenções rigorosamente em dia e havia sido minuciosamente revisado poucos dias antes. A possibilidade de quaisquer falhas mecânicas ou eletrônicas era quase nula.

Girando os botões no painel, ele sintonizou outra frequência de rádio, desta vez um canal mais aberto.

Mayday, mayday, mayday! Aqui é Orleans Mike Tango Juliette, a quem quer que esteja na escuta!— Ele tentou outra vez – Estou voando em modo visual sem nenhum instrumento de orientação. Preciso de confirmação de contato de rádio ou radar para me orientar até o aeroporto de Barreiras. Alguém copia?

E novamente, tudo que se ouviu foi o chiado de estática.

Merda!— O piloto berrou, frustrado, e se virou para o passageiro mais próximo – Vou descer mais um pouco para tentar enxergar algum ponto de referência. Estão todos de cinto?

O passageiro conferiu o restante da equipe e fez um sinal positivo.

Sim!

Um novo trovão sacudiu as asas do avião como os braços de uma boneca de plástico, e os passageiros se agarraram às suas poltronas com ainda mais firmeza. O piloto empurrou o manche apenas uns poucos graus para frente, e logo o Cessna começou a descer. O motor da aeronave pareceu assobiar, como se o avião estivesse em queda livre, e alguém começou a rezar em voz alta.

Com a diminuição da altitude, as nuvens começaram a rarear e o piloto pôde ter um panorama melhor do que havia à volta: nada. Deviam estar sobrevoando alguma área de preservação ecológica ou coisa do tipo, pois tudo que se via ainda eram os paredões de pedra e um manto verde de vegetação até perder de vista. Nenhum vilarejo, nenhuma cidade, nenhum sinal de civilização em quilômetros.

E então houve algo fantástico.

Um raio prateado ziguezagueou no céu e veio atingir um dos paredões de pedra à frente do avião. Houve uma explosão de luz branca cegante, como se tudo refletisse aquela poderosa descarga elétrica, e a montanha atingida brilhou. Brilhou, como um farol que se acende de súbito e se apaga momentos depois. Aturdido com o repentino clarão do raio, o piloto desconcentrou-se por um momento e o 208 Caravan guinou bruscamente para o lado, mas logo teve sua altitude corrigida. Os passageiros, porém, colaram seus rostos contra as janelas do lado direito do avião.

Vocês viram aquilo?— O que estava na poltrona da frente apontou pelo vidro.

Sim!— Outro confirmou – O que pode ter sido?

Não sei. Provavelmente uma grande concentração de cristais.

Alguém tem uma câmera fotográfica?

Eu tenho!— O passageiro do fundo confirmou.

Então eu quero que você registre tudo! Fotografe a montanha, os arredores, tudo! O chefe vai querer saber disso. – O passageiro se inclinou na direção do piloto – Consegue fazer algumas voltas ao redor daquela montanha?

Sem chance!— O piloto quase cuspiu ao responder – Com este tempo, as correntes de ar nos empurrariam contra os paredões. Sem chance alguma! O melhor a fazer é continuar voando em frente para tentar conseguir contato com o aeroporto de Barreiras.

Outro trovão sacudiu o pequeno Cessna enquanto o passageiro suspirava de pura frustração.

Tem certeza?— Ele tentou mais uma vez.

Absoluta! Não vou arriscar colocar nenhum de nós em risco apenas por umas poucas fotos. – O piloto finalizou, carrancudo.

Do fundo do avião, o fotógrafo apontava sua câmera para todo e qualquer detalhe que lhe chamasse a atenção: uma cachoeira caudalosa, um vale recortado contra os paredões, tudo. Passados alguns quilômetros da montanha “brilhante”, um estranho afloramento escuro entre a vegetação despertou-lhe a curiosidade. Com a câmera em punho, deu zoom até onde conseguiu, mas não foi possível distinguir nada além do que pareciam amontoados de pedra lisa e algo como uma coluna negra alta e pontiaguda, provavelmente o tronco de alguma árvore antiga carbonizado por um raio. Como vinha fazendo, fotografou tudo.

Aerona... não ident... qui é... eropor... Barrei... dentifi... agora. – O rádio começou a pipocar, ainda com muita interferência.

Alguém havia detectado o avião. Aquilo pôs um sorriso de alívio no rosto de todos a bordo. O fotógrafo até deixou as fotografias de lado para se concentrar na conversa do piloto.

Aqui é Orleans Mike Tango Juliette, voando em modo visual e procurando pelo aeroporto de Barreiras. Quem copia?

Mike Tango Juliette, aqui é a torre de Barreiras. Capturamos você em nosso radar. Qual seu plano de vôo?— Desta vez, a mensagem chegou com bastante clareza.

Torre de Barreiras, preciso pousar imediatamente. Perdi todos os meus instrumentos de navegação e orientação. – O piloto respondeu de pronto – Solicito pouso de emergência.

Houve um silêncio de alguns segundos que pareceram durar uma eternidade.

Mike Tango Juliette, ok. – A torre finalmente confirmou - Vamos trazê-lo até a cabeceira 08 esquerda e você estará liberado para pouso. Siga nossas instruções com atenção.

Houve uma comemoração breve entre os passageiros. Finalmente tiveram certeza de que chegariam seguros em casa após terem recolhido um bom material em sua expedição. E à medida que o Cessna 208 Caravan era guiado pelos controladores de vôo em direção ao aeroporto, pesadas nuvens que desciam do céu cobriram a montanha “brilhante” e tiraram-na completamente de vista.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso aí! Curtinho, mas tá valendo.

Já tô ansioso pra compartilhar os próximos capítulos com vocês. :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Cidade de Prata" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.