Lua ignorou Sam e perguntou:

—E agora, Purga? Para onde vamos?

Não obtendo resposta, Sam procurou pelo gato, mas não o encontrou:

—Onde está Purga?

—Ele estava conosco agora mesmo. - Lua disse, confusa.

Escutaram ruídos vindos do bosque às suas costas, e se viraram rapidamente.

—Quem está aí? - Lua perguntou, largando no chão a corda que usou para ajudar os colegas a atravessarem o muro. - Purga? É você?

Foi possível enxergar a silhueta de um rapaz alto por entre as árvores.

—Quem está aí? - Lua perguntou novamente. - Venha para a luz!

O rapaz deu um passo a frente, saindo lentamente das sombras. Ele estava descalço, sem camisa e usava calças de pano.

Tinha os cabelos prateados e a pele bem branca, quase albina.

Quando ele levantou o rosto, foi possível ver seus olhos redondos com a pupila contraída  na vertical, formando uma fenda preta, e uma mancha dourada embaixo dos lábios.

—Purga? - Sam perguntou.

—Desculpe assustá-los. - o rapaz fez uma reverência. - Sim, sou eu. Purga.

—Mas... C-como? - Miya perguntou, espantada.

—Voltar a minha verdadeira forma é algo meio... estranho de se ver. Por isso me escondi nos arbustos, e...

—É você mesmo? - Lua o interrompeu, tão surpresa quanto os colegas.

—Sim. - Ele sorriu, dando um giro. - Purga, o gato prateado que vocês salvaram.

—Você é... humano? Um metamorfo? Um estudante da Escola Xavier para Jovens Superdotados? - Lua olhava para Purga da cabeça aos pés.

—Posso me transformar em gato, assim como os habitantes do reino de onde vim. - Purga explicou. - Acho que será mais fácil quando vocês verem com seus próprios olhos.

—E para que lado fica esse reino? - Lua perguntou.

—Já chegamos tem uns minutos. - Purga respondeu.
Sam olhou em volta, sem ver diferença.

—Já?! - Lua exclamou, confusa.

Purga balançou a cabeça, afirmando, enquanto Miya olhava em volta, sem entender.

—As fitas. Chaves que permitem que vocês, visitantes, atravessem a fenda que conecta os dois reinos. - Purga explicou.

—Estamos em outra dimensão? - Sam sussurrou. - Passamos por um portal?

Purga apenas sorriu, se aproximou do muro e deu três batidinhas nos tijolos.

Em seguida, um som que lembrava sinos veio do muro, e um arco se abriu, formando uma passagem.

—Sejam bem vindos à Litari.

Ao atravessarem o arco, se depararam com uma encantadora feira.

Barracas coloridas estavam enfileiradas e vendiam frutas, verduras, tecidos, brinquedos.

E por entre as diversas barracas, pessoas e gatos de diferentes raças e cores transitavam, conversavam alto, riam e faziam suas compras.

O cheiro de peixe grelhado atraía clientes até uma tenda, e a fila que se formava era enorme.

Purga pediu para que o grupo o seguisse, e os quatro andaram lado a lado.

Vários habitantes se aproximaram deles e os cumprimentaram, deixando os visitantes um tanto quanto constrangidos.

E em pouco tempo chegaram ao jardim.

—Esse lugar se parece tanto com o terreno do nosso colégio. - Miya comentou. - Tudo é tão parecido, e ao mesmo tempo tão diferente.

As mesmas flores, as mesmas árvores plantadas nos mesmos lugares. Mas a grama parecia mais verde, os bancos de madeira não existiam mais, e não havia sinal do prédio onde eles estudavam.

No lugar onde antes havia o colégio, agora várias casas de tijolos, simples e pequenas, estavam construídas.

—Para onde estamos indo? - Lua perguntou enquanto caminhavam.

—Para o palácio. - Purga respondeu. - Apresentarei vocês à Rainha.

Eles saíram pelos portões da frente do jardim e continuaram andando pela calçada de pedra.


Alguns homens transitavam pelas ruas de terra em carroças puxadas por cavalos, carregando sacos com grãos.

—Estes cavalos também são como você? - Miya perguntou a Purga.

—Não. - ele riu com a pergunta. - Eles são apenas cavalos. Viajam pelo reino visitando vilas distantes, trazem peixes do porto dos pescadores, entregam alimentos, levam água para as vilas que não possuem poços, fazem companhia aos viajantes e etc, etc.

Lua e Miya reconheceram o caminho que estavam fazendo. Eles caminhavam em sentido ao dormitório feminino.

Sam limpou suas mãos com álcool e disse:

—Purga, você disse que foi ao nosso "reino" à procura de guerreiros... Não creio que sejamos necessários num lugar calmo como este.

Purga fitou Sam em silêncio, pensativo. Após alguns segundos, respondeu:

—Sei que lhes devo muitas explicações. Mas acho melhor que a própria Rainha faça isso.

Não muito à frente, foi possível enxergar altos muros também de tijolos. Exatamente onde antes era o dormitório das meninas.

Os muros eram cercados por um lago. E a única maneira de chegar ao outro lado sem se molhar era atravessando uma ponte.

Após atravessarem a ponte, deram de cara com dois homens que guardavam a entrada. Eles usavam trajes vermelhos e carregavam espadas na cintura.

Ao verem Purga, eles fizeram uma referência e deram passagem, abrindo os portões.

Passando pelos guardas, o grupo atravessou um gramado enorme e subiu as escadas para o palácio.

—Lua. - Sam cochichou. - Não me faça passar vergonha na frente da Rainha. Se comporte como uma dama pela primeira vez na vida.

Lua deu uma cotovelada em Sam como resposta.