Os Guerreiros Do Reino Após Os Muros escrita por _milenayamamoto


Capítulo 18
Em Chamas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♡



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763805/chapter/18

Miya levantou o rosto do chão, assustada.

—Lua, perdão... Eu acabei dormindo... - ela se sentou, tentando limpar a terra que estava grudada no seu cabelo.

Não obtendo resposta, Miya virou o rosto à procura de Lua, mas ela não estava em lugar algum.

Sam estava dormindo profundamente, seu peito se movia lentamente conforme sua respiração tranquila.

—Lua? - ela chamou pela colega, mas não obteve resposta.

A fogueira estava quase se apagando, e Miya atiçou mais alguns gravetos no fogo.

"Será que ela saiu para pegar mais lenha?", Miya se perguntava, quando de repente ela teve um pressentimento ruim que fez sua barriga gelar. Ela pegou seu arco e flechas rapidamente.

—LUAAA! - ela chamou novamente, mas só escutou o som das folhas balançando ao vento.

Sam permanecia em seu sono profundo, e nem se incomodou quando Miya o chacoalhou brutalmente.

Ela se perguntava para onde a amiga foi, quando se lembrou dos vagalumes fora da trilha de pedras:

—Ela só pode ter ido verificar o que era aquilo.

Acendeu uma nova tocha no fogo fraco da fogueira e, desistindo de acordar Sam, resolveu procurar por Lua sozinha.

Ela se lembrou das três flechas na bolsa da colega, e por precaução as levou consigo.

Enquanto Miya corria desajeitada, olhava em volta a procura dos pontos brilhantes e de Lua.

Após alguns minutos de caminhada, ela encontrou uma pequena cabana de madeira por entre as árvores. Havia um muro de tijolos inacabado cercando o lugar.

Ela resolveu sair da trilha e verificar se a colega estava abrigada ali.

Caminhou devagar até a porta e bateu:

—Olá?

A porta se abriu repentinamente e Miya sentiu um empurrão.

Alguém havia saído da cabana. Era uma pessoa baixa e cobria o rosto com um pano, deixando apenas os olhos visíveis e, com força, a empurrou e a prendeu contra a parede, fazendo a tocha de Miya cair no chão de madeira da entrada. A cabana ia se incendiar em poucos minutos.

Miya sentiu a ponta de uma lâmina cutucar sua barriga.

—O que faz aqui? - a estranha perguntou, sua voz era de criança. Parecia ser uma menina.

—Estou procurando minha a-amiga. - Miya respondeu, tentando manter a calma, mas a faca em sua barriga dificultava a situação. - Vi-viemos de Litari... Segui a trilha de pedras.

—Não há ninguém aqui além de você.

—Ela está em algum lugar, preciso encontrá-la.

A estranha criança a soltou, e perguntou, seriamente:

—Você está perdida?

—Sim. Segui a trilha a procura de Lua, minha amiga. Mas não a encontro. Pensei que pudesse estar abrigada aqui. - Miya respondeu.

A criança começou a andar de um lado para o outro. Seus pés estavam descalços e ela murmurava:

—Você está perdida.

Miya se aproximou e perguntou:

—O que é este lugar? Há quanto tempo está aqui?

—Este lugar mente e engana. Não dá para confiar. Assim como você.

A estranha guardou a faca que carregava e tirou o pano que cobria seu rosto. Miya deu um passo para trás quando viu sua imagem de criança à sua frente.

—Assim como você! - ela repetiu, agarrando Miya pelo pulso. - Mentirosa, falsa, egoísta...

A menina soltou Miya, e caiu de joelhos no chão.

Miya a amparou:

—O quê aconteceu com você?

—O que aconteceu comigo? Eu me tornei você. - ela respondeu, raivosa.

—Mas eu...

—Por que você sempre tem que estragar tudo?

—Eu não sei do que você está falando.

—Mentira.

O fogo estava subindo pelas paredes da cabana. Miya pegou nas mãos da criança e pediu:

—Venha comigo. Preciso te tirar daqui, esse lugar é perigoso.

—Não há nada mais perigoso do que ficar ao seu lado. - ela respondeu, puxando suas mãos e empurrando Miya. - Você sempre se afasta. Sempre vira as costas e abandona as pessoas.

Miya sentiu seus olhos começarem a encher de lágrimas, ela segurou o choro e gritou:

—Cala a boca.

—Não dá pra confiar em você.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Miya.

—Você é horrível. - a criança continuou. - Faz tudo errado. Sempre. Acha que está fazendo o certo ao se afastar, acha que assim não ferirá ninguém. Esconde seus verdadeiros sentimentos e sofre sozinha. Acaba magoando a todos, inclusive a si mesma.

—Eu... - a voz de Miya estava fraca. - nunca quis magoar ninguém.

—Como consegue ser tão burra? Como conseguiu me deixar desse jeito? Vamos! Olhe nos meus olhos e diga a verdade.

Os olhos da criança brilhavam de um jeito assustador e sombrio.

—Eu me afasto. Eu minto ao dizer que estou bem. Eu sou falsa por fingir que não me importo. Sou burra e... mereço ficar sozinha. - Miya falou, sem conseguir desviar o olhar, como se estivesse em uma espécie de transe.

—Isso. - a criança sorriu. - E você não quer acabar logo com todo esse sofrimento?

—Eu quero... acabar com todo esse sofrimento.

—Você não tem medo de continuar vivendo dessa maneira?

—Tenho medo.

—E o que podemos fazer para acabar com todo esse medo, com toda essa dor?

—Eu...

—Eu posso te ajudar. - a criança pegou a mão de Miya. - Você só precisa entrar na cabana. Eu estarei ao seu lado. Você não ficará sozinha.

Miya deu uns passos em direção a porta, devagar. As chamas estavam altas e a fumaça fazia ela engasgar. As lágrimas não paravam de cair:

—Eu... não...

—Você quer entrar. Precisa entrar.

—Preciso... entrar.

—Só assim você estará livre. Livre de julgamentos, livre de mágoas. Livre de culpa.

Miya parou. Ela soltou a mão da criança e gritou:

—Não! Eu não vou com você.

A criança começou a tremer e encarou Miya com aquele olhar assustador. Com a voz grossa parecendo uma fera, totalmente diferente de minutos atrás, falou:

—Você vai se arrepender.

Sem pensar duas vezes, Miya correu dali. Mas a criança era mais rápida e conseguiu pular em suas costas, fazendo com que caíssem perto do muro de tijolos inacabado.

A cabana ao fundo estava totalmente coberta por chamas, e o fogo começou a se alastrar pelas árvores próximas.

—Por favor, me solte! - Miya pediu, tentando se livrar das mãos da menina, mas essa possuía uma força inacreditável.

A criança montou na barriga de Miya, que tentava inutilmente se levantar, e colocou suas mãos em volta de seu pescoço, a enforcando.

—Eu sou você. E eu te odeio. Te odeio por ser desse jeito. - a criança urrava.

Miya não conseguia alcançar o punhal em sua bota, tentou pegar uma de suas flechas, mas a criança foi mais rápida e jogou todas elas para longe.

Já quase sem ar, Miya passou a mão pelo chão a procura de algo que pudesse usar para se defender. Sentiu seus dedos tocarem um tijolo, e sem relutar, o quebrou na cabeça da menina, que foi ao chão.

Ainda deitada, Miya tossiu tentando recuperar o fôlego.

O cheiro do incêndio tomava conta do lugar.

—Eu te odeio. - a criança chorava ao seu lado. - Eu te odeio.

Miya se sentou no chão e a observou.

—Você sempre foi uma chorona. - Miya sorriu para ela, e a pegou no colo. - Mas sabe de uma coisa? Eu sou você, e eu te amo.

A menina encarou Miya com os olhos cheio de lágrimas, sem entender.

—Eu aprendi a te amar, aprendi a me amar. E nessa caça aos monstros, eu aprendi que existem pessoas por quem lutar. E dessa vez, não vou desistir, nem fugir. Porque sei que um dia, serei alguém por quem você se orgulhará. - Miya continuou, afagando os cabelos dela.

—Você me ama? - a criança perguntou, abraçando Miya com força.

—Eu te amo.

Miya se levantou, ajudou a menina a se por de pé e perguntou:

—Você está bem?

—Sei que vou ficar. - ela respondeu e, sorrindo, segurou a mão de Miya com força.

Miya passou a mão que estava livre pelo rosto da criança, acariciando suas bochechas. E com lágrimas nos olhos, a menina começou a desaparecer lentamente diante seus olhos.

Quando Miya já não conseguia mais enxergá-la, uma tocha apareceu e se acendeu em sua mão, a mesma que até então segurava a mão pequena e delicada dela mesma criança.

—Vai ficar tudo bem. - Miya sussurrou para si mesma.

Ela olhou em direção a cabana, e não havia mais nada ali. Nem a pequena casa de madeira, nem rastros de que houve um incêndio.

Miya usou a chama de sua tocha para iluminar o chão e recolher suas flechas, e então percebeu que mais uma das flechas negras havia mudado.

Respirando fundo, sentindo seu coração leve, voltou pelo caminho que fez até chegar ali, e em poucos minutos estava de volta a trilha de pedras.

Miya estava caminhando pela trilha por uns minutos, e nenhum sinal de Lua.

Continuou andando sozinha, até escutar passos correndo em sua direção. Ela se virou rapidamente, jogou a sua tocha no que quer que estivesse se aproximando e apanhou seu arco, apontando sua flecha, pronta para atirar.

—Ai! - Sam deu um pulo para trás, a tocha passou raspando pela sua orelha. - Sou eu!

—Sam! - Miya abaixou seu arco. - Que susto você me deu.

—Que susto VOCÊ me deu. Onde está Lua? Por quê me deixaram sozinho?

—Perdão, Sam. Lua sumiu e, como eu não consegui te acordar, eu vim procurar por ela.

—Como assim ela sumiu? - Sam perguntou, pegando a tocha do chão com um lenço.

—Eu acabei cochilando, e quando acordei ela havia sumido. Sua espada, seu arco e flechas também não estavam lá... Acho que ela foi verificar o que eram aqueles pontos brilhantes.

Sam balançou a cabeça:

—Eu sabia que ela não ia deixar pra lá. Vamos encontrá-la.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou do capítulo? Não esqueça de deixar um comentário com a sua opinião ♡



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Guerreiros Do Reino Após Os Muros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.