Barriga de Aluguel escrita por Thatty


Capítulo 3
Capitulo 3 - Você por acaso ouviu o que eu disse?


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Eu remexi naquele maldito bilhete a noite inteira, que dizia as seguintes palavras escritas numa caligrafia impecável: Me de uma chance de explicar as coisas. Amanhã estarei no evento da sua faculdade. Espero encontrá-la.

Meu Deus ele sabia onde eu fazia faculdade. O que mais esse homem não deveria saber sobre mim? 

O pior é que eu nem podia faltar no evento de amanhã, pois valeria nota em todas as matérias e eu estava precisando. Ia ser tipo uma feira sobre várias empresas onde o jornalismo se emprega. E só hoje percebi que a empresa dele era uma delas e ele seria um dos palestrantes de amanhã.

 Eu definitivamente não estava preparada pra isso.

Fiquei encarando o teto cheio de estrelinhas que brilham no escuro e fiquei pensando quando que minha vida virou essa loucura. Desejei por longos minutos que aquele teto desabasse sobre minha cabeça. Mas não desabou.

E foi pensando nisso que minha mente parou e eu dormi feito uma pedra. Dormir sem comer, sem trocar de roupa e sem fazer nada do que eu tinha que fazer.

Só apaguei e acordei no dia seguinte.

[...]

Não tinha um segundo se quer que eu não pensasse naquele maldito homem que estaria palestrando hoje. Porque ele me queria? Porque ele simplesmente não escolhia outra garota de tantas que se candidataram sabendo onde estavam se metendo? Porque logo eu, uma pobre coitada que não tem onde cair morta e o maior medo da vida é ter filhos?

Já estava arrumada pra palestra, num vestido colado no corpo, ele era branco e de mangas longas, tinha um corte em v atrás deixando minhas costas nuas sendo cobertas apenas pelo meu cabelo castanho escuro. Calcei saltos pretos, e carreguei na maquiagem pra sobressaltar meus olhos verdes. Não sou de me gabar, mas eu estava impecável.

Pensei que fosse chegar no evento no horário combinado mas cheguei bem em cima da hora pois peguei transito. A faculdade estava toda decorada do lado de fora.

O evento era apenas para os alunos formandos desse ano, trazia especialistas da área do jornalismo para palestrar sobre nossa futura carreira e blá blá blá. Depois das palestras tinha um comitê no campus onde estava parecendo um parque de diversões, era quase uma despedida, pois era nosso ultimo evento como estudantes.

—Está atrasada – avisou a diretora quando me viu. Ela adorava pegar no meu pé e eu odiava a presença dela. Ela cheirava a creme pra acne e desodorante barato. – Você sabe que não pode chegar atrasada...

—Ta, ta bom. Já estou aqui! –murmurei cerrando o punho e ela ajeitou os óculos empinando o nariz.

Nos duas estávamos a frente do evento, ela porque era a diretora obvio. E eu porque sou a colunista da faculdade e representante do conselho estudantil. Não queria esse cargo, mas até que eu gosto, preenche meu currículo de horas complementares.

—Tem muita coisa pra fazer ainda – disse ela e saiu batendo salto pra longe de mim.

Dei uma espiada no salão e tinha um velho gordo palestrando no palco. Passei os olhos rapidamente pelas fileiras de cadeira e não achei o que procurava. Ótimo Izobel, você esta paranoica, ele nem vai aparecer, mandou aquele recado só pra me irritar.

Tratei de fazer as minhas coisas, ajudei umas professoras com a barracas que estavam no campus e depois ajeitei a recepção e fiz tudo que me pediram. Quando já estava livre pra ouvir as palestras já eram 9 e meia. Já tinham se passado uma hora e meia do evento e tenho certeza que era a ultima palestra que estava acontecendo. Me sentei na cadeira e tentei focar no que estava acontecendo.

Eu ia ter que fazer um artigo sobre isso depois e não tinha ouvido quase nada dos palestrantes.

—Agradecemos sua participação senhor McCarthy. – disse a coordenadora da faculdade e todos bateram palmas quando um velhinho que estava no palco desceu acenando e distribuindo sorrisos. – Bom, vamos ao ultimo palestrante da noite. Tenho a honra e o prazer de chamar aqui no nosso palco o senhor Ethan Fray, chefe e proprietário da FrayCorp. Deem uma salva de palmas pra ele galera.

Eu gelei.

No mesmo instante ele apareceu no palco com um sorriso brilhante e parece que as palmas se intensificaram num nível absurdo quando a plateia viu ele.

Aquele cara era um absurdo. Ele estava todo alinhado num terno azul escuro e bem elegante. O cabelo estava uma bagunça sexy, eles tinham um tom meio castanho claro meio loiro escuro. E seus olhos cor de mel brilharam quando ele me encontrou sentada na terceira fileira olhando incrédula pra ele.

Que homem, meu Deus!

Ele pegou o microfone da mão da coordenadora e começou a dizer:

—Boa noite alunos. É um prazer estar aqui mais um ano consecutivo palestrando para os formandos em jornalismo. - disse com sua voz de veludo. Mais um ano consecutivo? Como assim? Ele já havia vindo palestrar aqui antes e eu não sabia disso? - Agradeço o convite mais uma vez coordenadora Amber. É sempre um prazer revê-la.

Ele lançou uma piscadela pra ela que saiu do palco toda vermelha e deslumbrada.

Ele não deveria ser real, nem aqui e muito menos na china. Ele era elegante demais, você percebia que ele exalava poder pela sua postura e tom de voz arrogante. Aquele sorriso maldito de quem tinha o mundo nas mãos.

—Eu faria um filho com esse cara, com certeza – A diretora disse toda assanhada olhando pra ele. Só não mandei ela calar a boca, porque mal sabia ela que era exatamente isso o que ele queria que fazer comigo.

Eu ignorei os comentários tarados da mulher ao meu lado enquanto ele começava a palestrar. 

Todos encheram ele de perguntas. Fiquei até impressionada quando umas garotas se insinuaram na frente da faculdade inteira com perguntas indiscretas. Vez ou outra ele me lançava olhares e eu disfarçava.

Sai da palestra antes dela acabar. Eu precisava de ar, estava me sentindo sufocada e coagida.

10 minutos lá fora vendo a decoração do campus que parecia um parque de diversões, onde tinha até uma pequena roda gigante ouvi os aplausos vindo de la de dentro e sabia que a palestra tinha acabado. Eu gelei desesperada. As pessoas começaram a encher o campus pouco a pouco minutos depois e eu só queria sumir.

Quando eu cogitei ir embora, eu o vi nas escadas da faculdade olhando em minha direção. Ele me intimidava com aquela cara de despreocupado, me assustava pra ser sincera. Ele nem se quer disfarçava que estava me olhando o que me deixou desconfortável. Foi então que encarando aquele olhar eu decidi que ia embora. Foda-se a minha nota, eu vou sair daqui.

Eu avistei meu carro no estacionamento e achei as chaves no bolso do meu casaco bege. Ele percebeu que eu comecei a andar rapidamente pro estacionamento e apressou o passo na minha direção.

Ai puta que pariu. Me deixa em paz.

Eu queria sair correndo, mas essa droga de salto não deixava. Quando eu cheguei no estacionamento ofegante e desesperada eu olhei pra trás e não o vi, suspirei aliviada vendo meu carro a uns 3 metros de mim. Parei e tirei meu salto ofegante e irritada.

—Fugindo de mim? – ouvi aquela maldita voz perto do meu pescoço e sobressaltei assustada.

Da onde ele surgiu?

Eu me virei lentamente e ele sorria debochado. Ele fitou o salto na minha mão e meus pés descalços de um jeito curioso. Ele era tão alto de perto.

—Claro que não – minha voz saiu fraca – Só estou indo embora.

Ele deu um passo na minha direção e eu recuei. Parecia um bichinho assustado, eu sei, era ridículo.

—Porque tão cedo? - perguntou desconfiado - Pensei que fossemos conversar senhorita Prattes.

Eu bufei.

—Para de me chamar de senhorita Prattes – eu disse apontando o salto na cara dele e ele ergueu as mãos em sinal de defesa.

—Então coloque seus sapatos agora e vamos dar uma volta. – ele disse autoritário. Aquilo não parecia apenas um pedido, parecia mais uma ordem. Eu fiquei o encarando apontando o salto pra ele como uma arma. Ele suspirou – Por favor.

—Eu preciso ir embora.

—Não vou tomar mais do que 10 minutos do seu tempo.

—Você e sua secretaria são dois mentirosos.

—Ela não é minha secretaria – ele disse revirando os olhos – É minha governanta.

—Desde quando esta nas funções de uma governanta procurar uma barriga de aluguel para o seu chefe? – perguntei e ele fechou a cara me lançando um olhar de poucos amigos.

—Desde agora. – eu bufei – Por favor, eu prometo que não vou te incomodar mais e eu tenho certeza que quer me fazer perguntas. Prometo responder todas se vier dar uma volta comigo.

Eu respirei fundo colocando meus sapatos. Sim eu tinha muitas duvidas na minha cabeça, mas não me sentia confortável conversando com ele sozinha. Eu já disse que ele me intimida?

Ele estendeu o braço pra mim como um cavalheiro e eu o encarei receosa, mas a minha curiosidade foi maior e eu aceitei. Ele sorriu satisfeito e nos voltamos pro campus andando em silencio. Eu pude sentir o olhar de metade da faculdade em mim quando me viram voltar de braços dados com Ethan Fray.

Nos atravessamos o campus sem dizer uma palavra e sendo bombardeados por olhares indiscretos.

—Pode começar a perguntar. – ele sussurrou pra mim.

—Por que eu?

Já perguntei sem rodeios. Ele respirou fundo e paramos de andar perto da roda gigante onde tinha menos pessoas. Eu me soltei de seu braço e encarei ele esperando por minha resposta.

—Porque você se encaixou no perfil – respondeu dando de ombros.

—Mas que perfil?

—O perfil que eu criei pra mãe do meu filho. – eu não disse nada, apenas fiquei esperando que ele explicasse. – Não queria apenas uma mulher pra por meu filho no mundo. Queria uma mulher pra passar os genes dela pra ele também. Não quero que ele seja um filho de qualquer uma, quero que ele tenha raízes e uma genética forte. Não quero escolher a genética dele a partir de um relatório de uma clinica médica, eu quero mais que isso.

—Mas eu sou qualquer uma, você me conheceu ontem.

—Pessoalmente sim – ele sorriu e mordeu os lábios como se escolhesse as palavras – Eu fiz um perfil nessas agencias de barriga de aluguel mas não deu em nada. Então mandei o mesmo perfil pra Catarina, a minha governanta, pra ela pesquisar mulheres com essas características. Ela achou você, não me pergunte como, enviou a vaga pro seu amigo porque ela não achou seu endereço de e-mail. E você apareceu na entrevista.

 Eu engoli em seco pensando se já deveria sair correndo.

—Que perfil você criou? - minha curiosidade tava demais.

—Eu queria primeiramente uma mulher que não tivesse família, sabe, pra não haver complicações futuras com o bebe, caso algum de vocês quisessem tira-lo de mim. Depois eu prezo muito inteligência, e você sabe que tem um QI alto demais pra sua idade, você avançou uma serie não é? – ele perguntou e eu o olhei incrédula. – O perfil é basicamente uma mulher independente, que se vira sozinha, que sabe ser inteligente, viver sem família, que aguentaria a pressão de comandar uma empresa, de viver sob pressão continua. E claro, você ser uma mulher bonita demais, é só um bônus. 

Eu arfei diante daquilo. Esse homem era louco.

—Você não pode querer isso pra uma criança. Não pode nunca escolher uma mãe com base nisso, é loucura...

—Eu posso e eu já escolhi. Eu quero que você seja a mãe do meu filho. – ele disse como quem diz "hoje o dia esta lindo". - Mas depois é só você dar ele pra mim, você não precisa se responsabilizar com nada, eu garanto. Vamos formalizar isso em um contrato.

Eu o olhei incrédula.

Como ele poderia querer uma situação dessas, e ainda formalizar em um contrato? Meu Deus!

—Eu tenho certeza que outras também se encaixaram no perfil...

—Não. – ele respondeu rápido me cortando. –Você é a única que fala 3 línguas. Ou vai mentir que além de ser fluente em inglês, fala italiano, espanhol e grego?

—Isso não quer dizer que você vai ter um filho que fale 3 línguas.

—Mas ele terá boas chances de chegar la com uma genética como a sua. Você é inteligente. Vai terminar a faculdade 1 ano antes de todos os alunos daqui. É trilíngue e é uma sobrevivente como eu... Você cresceu sozinha, sem pais, sem família e esta viva e forte até hoje. Você não precisou de ninguém com você até aqui e já tem muito mais do que uma mulher de 35. Eu quero que meu filho seja assim, como você e como eu. Eu não estarei aqui pra ele a vida inteira então ele vai precisar saber viver sozinho e...

—Para – disse me irritando – Para com isso. Eu não posso ter um filho seu.

—Por quê não? Tem noção das coisas que eu posso te oferecer e...

—Porque eu não quero que ele passe pelo que eu passei - eu o cortei - O que você chama de perfil ideal, pra mim é uma maldição. Eu não tive escolhas Ethan, eu cresci em um orfanato, fui abandonada pela minha família, eu fui uma criança pobre e sem nada na vida. Então eu precisava ser inteligente, porque eu precisava ser alguma coisa. - eu disse irritada. - Eu precisava ser forte porque eu não ia ter alguém pra mim quando eu estivesse fraca e eu ainda tive sorte porque eu tenho um amigo que é como irmão, agora você não pode me pedir pra fazer com seu filho o que fizeram comigo, não pode. Isso é cruel.

—Mas Izobel...

—Eu não vou gerar um filho e entregar ele pra você como se ele não fosse nada. Não vou fazer o que minha mãe fez comigo, eu não consigo. E eu não quero engravidar porque não quero criar laços com a criança. Eu não tive uma mãe então eu não sei como é ser uma. Eu não consigo imaginar o que seria gerar um bebê, eu entro em pânico só de pensar.

Ele respirou fundo pondo as mãos no bolso com o rosto fechado. Ele obviamente não estava satisfeito com a nossa conversa.

A noite estava começando a esfriar e eu tremia, não sei se de frio ou raiva. Ethan deu um passo na minha direção e estava me encarando agora.

—Me de uma chance de mostrar o que eu posso te dar se fizer isso por mim?

—Ethan, porque você não casa e constrói uma família com alguém que ame? Um cara como você não pode ter dificuldades em achar uma esposa.

—Izobel – ele disse meu nome de uma forma dura ignorando minha pergunta – Nesse fim de semana vai ter uma festa na minha casa. Me de uma chance de mostrar o que você pode ter, o que eu posso te dar. Me deixe leva-la nessa festa.

Eu suspirei cansada. Ele não ia desistir meu Deus.

—Eu estou 100% certa da minha decisão.

—Ótimo, então não vai lhe custar nada aparecer. – ele disse impaciente e aquilo me irritou profundamente. – Você vai ver que pode ter coisas além do seu alcance se me der uma coisa simples. Eu passo as oito pra te buscar.

Dar um filho a alguém não era uma coisa simples.

—Ethan, eu não irei. – disse numa tentativa falha de discutir mas ele me ignorou.

—Sou pontual então não se atrase. Eu odeio esperar.

—Você por acaso acabou de ouvir o que eu disse?

—Nós vemos no sábado Senhorita Prattes. – ele pegou minha mão beijando o dorso dela. Me deu uma piscadela e me deixou sozinha no gramado.

Eu fiquei observando seu andar seguro e elegante até ele entrar em um carro todo preto que deveria custar dois do meu apartamento e ir embora sem olhar pra trás.

Eu fiquei intacta no campus. Minha cabeça não funcionava direito e eu nem sabia o que pensar, não sabia o que digerir sobre essa conversa e nem sobre o que eu iria decidir sobre sábado.

 

 


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Notas finais do capítulo

Esse Ethan viu, oh la em casa! kk

Eu pretendo manter as postagens assim, com intervalo de dois ou três dias. Vou aproveitar minhas ferias pra isso. Creio que o próximo capitulo vai ser narrado pelo Ethan, então segurem seus forninhos.
Espero que tenham gostado desse cap. Não deixem de comentar me dizendo a opinião de vcs, favoritem e recomendem pra motivar a autora aqui e nos vemos no próximo ;)

Bjs da Thatty.



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