Amélia não gostava de ser feliz. escrita por MeninoSemRazão


Capítulo 9
Paridos por uma explosão.


Notas iniciais do capítulo

Rodada 9
TEMA:
Música - Elle Me Dit (Mika)



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A velha vivia dizendo que Amélia desperdiçava sua vida. Eram muito próximas uma da outra, pois a velha quem lhe cuidava quando era uma menininha. E reclamava que só vivia com a cabeça enfurnada dentro de jornais e revistas, nem parecia criança.

— Deixe dessas revistas menina, vai lá fora aproveitar o sol! Está tão pálida que assustaria até uma assombração! – Deu uma pausa esperando uma resposta da menina e nada. – Não fique aqui, presa aqui nessa casa. Vai lá brincar vai.

Não lembrava-se de como seu fluxo de pensamentos a levou até as memórias da velha. Sua consciência era constituída por bilhões e bilhões de labirintos entrelaçados. Mas concluiu que a figura materna mais latente que teve durante a vida, fora a velha. “Mãe”, pensou. Foi ai quando teve a estúpida ideia de que se desse a luz a uma criança equilibraria a balança do mundo, repondo uma vida no lugar da que havia tirado. Mas depois percebeu como era idiota e voltou as memórias da velha.

— Você é uma menina esperta. Vai ser uma mulher rica e nem vai precisar de homem. - Dizia a velha, com a mais pura expressão de orgulho escancarado. - Não vai precisar morar nessa pocilga de cidade, pode ir para São Paulo, Paris, Nova York e até para a puta que pariu. Agora só tem que parar de ficar encarnada nessa casa. Meninas da sua idade tem é que namorar. Ir para festas. Não adianta viver assim do jeito que você vive. Você fica ai fugindo da rua e do povo e daqui a pouco vai virar uma quarentona e ninguém mais vai te querer. Tem que aproveitar agora que tem energia e os peitos ainda estão crescendo. Não tem nada que você queira fazer lá fora não? Pode me dizer qualquer coisa que eu ajudo o que for. Só não quero que fique ai desperdiçando seu tempo.

Magda não tinha reflexões a respeito de como era Amélia naquela época. Não valia o tempo gasto, analisar o passado e nem os resquícios que ele deixará intrínsecos ao futuro. Quando a velha insistia em menosprezar a forma que Amélia vivia, a jovem garota sempre citava o mesmo trecho de Valter Hugo Mãe que fazia a velha escapulir antes mesmo do final da sentença.

— “Os livros eram ladrões. Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos. Ofereciam-nos o que não nos acontecia”. – Era como recitar um “Pai nosso” ao diabo.

Magda caminhava tranquilamente, era final de uma tarde de domingo. Acreditava que por lei do universo, nada poderia acontecer naquela hora. Mas a calmaria foi rompida por gritos de dor e desespero, o som pousou sobre os tímpanos de Magda e sua alma estremeceu. Seguiu o barulho e lá estava uma jovem carregando um mundo na barriga, desmanchando as pernas em direção ao chão. Daria a luz.

— Porque você está desperdiçando sua vida aqui dentro dessa casa? Não adianta dizer que isso te faz feliz. Ninguém é feliz dentro de uma bolha, dentro de uma redoma de vidro. É, uma redoma de vidro! Eu também leio umas besteiras aqui e ali, certeza que você sabe do que estou falando. – A velha começava a se magoar com os esforços falhos com Amélia.

— Está exagerando!

— Não estou! – Silencio. Silencio. Silencio. – A gente não pode escolher não morrer. Mas escolhemos a forma que morremos. Existem coisas pelas quais vale a pena se matar, solidão não é uma delas.

A mulher grávida fazia força enquanto Magda incentivava. Eram só elas e o poder do nascimento. E tudo aconteceu dentro de uma calmaria caótica. Gritos que se ecoavam no silencio do espaço. Agora era mais um para resistir sobre a terra.

— Muito obrigada, senhora! – A jovem mãe respirava ofegante, com lágrimas nos olhos. – Qual é o seu nome?

Silencio.


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