Amélia não gostava de ser feliz. escrita por MeninoSemRazão


Capítulo 7
Celia só não abraçou Amélia porque não tinha braços para isso.


Notas iniciais do capítulo

Rodada 7
TEMA:
Cenas do filme: https://www.youtube.com/watch?v=KvfvyuKlEhA&feature=share

(A cena escolhida foi a primeira, do cachorro lambendo o ouvido do homem).



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Amélia acordou com um grito. Sentiu um movimento clandestino na orelha, algo molhado. Parecia querer invadir-lhe o crânio. Levantou de súbito, assustada. Quando viu, era apenas um cachorro a lamber-lhe a orelha e ao lado do animal se estendia uma poça de sangue. Sem se dar tempo de paralisar assustada investigou a poça com o olhar, ao perceber a fonte sendo o pescoço aberto do homem não pode mais conter. Abraçou a barriga com ambos os braços, debruçou-se sobre o chão e vomitou. O cachorro, na premissa de uma possível amizade, resolveu apenas sentar-se e esperar para que recebesse algum carinho da mulher.
Vomitou até não ter mais o que pudesse sair de dentro de seu estomago. E quando terminou, partiu a voz em um grito. Alto e escandaloso, só não era digno ao de um animal feroz, pois não demonstrava-se imponência naquele grito. Muito pelo contrário aquele era de fato, um grito surgido dos vales obscuros que ocupavam os lugares mais fracos e submissos do espírito de Amélia, era um grito nascido de uma dor ancestral carregada desde seu primeiro choro. Sua dor e fraqueza ecoaram até que se desfizessem antes de percorrerem o mundo e apesar de sentir sua vibração, o solo não moveu uma palha para se dar o trabalho de tremer compadecido com aquela dor. O sol nascendo queimava sem dar-se conta, as nuvens fingiam que nada acontecia e o mar não faria nada nem se estivesse ali para ver. A solidão doeu sobre o peito de Amélia mais uma vez.
Deu liberdade ao choro esperando que esse ao menos pudesse afogar-lhe e libertá-la da situação. Sentiu tamanha fadiga que lhe dava a vontade de se debater sobre o chão enquanto continuava aos berros. Por um segundo parecia que podia voltar no tempo e no segundo seguinte se dava conta de que não podia, a esperança daqueles segundos efêmeros parecia uma braza saída das chamas do inferno a lhe carbonizar o peito. Nunca esteve tão perto da noção da sua falta de controle sobre o mundo.
Pensou no que diria quando lhe perguntassem do cadáver. Eles diriam que não haviam motivos para matar o homem, que ele não á faria nada de mais. E ela mesma se questionou sobre isso, se perguntou o que ele teria feito se não fosse o santo punhal. Sim, santo. Pois tinha atendido as suas preces. Por hora, Amélia estava segura.
O cachorro, de vira-lata abandonado na rua que era. Chegou perto do vomito e começou a cheirar dando semblante que lamberia a qualquer instante. Amélia logo o afastou, nauseada com a cena.
— Oras, não ponha isso na boca. Arranjo-lhe outra coisa para enganar um pouco o estomago daqui a pouco. – Puxou o cachorro para trás. – Obrigada por ter me acordado antes do de todos saírem para a rua, ao menos isso sou grata por agora.
Ao verificar o sexo do cachorro para pode imaginar algum nome o qual lhe chamar, percebeu que se tratava de uma cadela.
— É obvio que só poderia se tratar de uma companheira não é mesmo? – Sorriu fraco e amarelo, levantou-se. – Venha, vamos para longe daqui que lhe arranjo o que comer.
Deu um carinho de leve na cadela, andou para perto do cadáver desviando a vista para longe do mesmo. E com muito esforço pela falta de visão, conseguiu apanhar de volta o punhal. Limpou-o no vestido que já estava sujo de sangue. E com passos largos se partiu para longe da cena. Não olhou para os lados nem para trás, apenas acenou com a mão para que a cadela lhe acompanhasse.
— Te chamarei de Celia, de Celia Sánchez. Provavelmente nunca ouviu falar nesse nome. Mas ficará surpresa com as histórias que tenho para contar sobre ela. Com certeza foi uma grande mulher. Agora vamos mais rápido que sei onde tem uma padaria aqui perto. Lhe pedirei um pão mofado, espero que goste. – Sorriu largo.


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