Amélia não gostava de ser feliz. escrita por MeninoSemRazão


Capítulo 3
O tempo é uma máquina de fabricar assombrações.


Notas iniciais do capítulo

Rodada 3
TEMA:
Meme "Surprise, Bitch!"



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Faziam três meses desde que Amélia havia chegado em São Paulo. Onde ela descobriu que não conseguiria manter um nome falso, para tudo era necessário apresentar documentos e assinar papéis. Não gostava de brincar com a sorte, não iria apresentar os documentos para conseguir arranjar um quartinho e um emprego e depois se apresentar as pessoas com outro nome. Amélia não gostava de mentiras. Se fosse para ser uma outra mulher, deveria ser sem tirar nem por. Dá ponta da maior unha do pé, até a ponta do maior fio de cabelo.

Caminhava ao lado de Berenice, uma moça com quem pegara amizade no boteco em que trabalhavam juntas. Amélia acreditava na natureza como uma grande força feminina, portanto todas as mulheres continham por natureza grandes poderes. Até mesmo as mais modestas e tímidas como Berenice, que vivia a sonhar com homens e casamentos. Amélia sempre ouvia calada a amiga falar do namorado novo, olhava com atenção quando Berenice mostrava vestidos de gala estampados em suas revistas, guardava na memória e refletia sobre as filosofias que ela dizia sobre homens e casamentos. Berenice era pelo menos uns quatro anos mais jovem, e á uma lua de distancia das coisas que Amélia vivia a pensar. Mas Amélia nunca desprezou nenhuma mulher, e sempre chamava apenas por “companheira” quando ainda não sabia o nome de alguma com a qual conversava.

Andavam na rua rindo de alguma trapalhada do namorado de Berenice quando Amélia paralisou de súbito ao ouvir uma voz que achava ter sido perdida no tempo, chamando por um fantasma. Era ele, definitivamente era ele. Os ossos das pernas de Amélia pareciam ter sido feitos com farinha, o chão sob seus pés virou uma corda bamba de equilibrista e a cabeça parecia ter sido tomada pelo equivalente de pelo menos três garrafas de cachaça viradas. A voz explodia no ar enquanto chegava cada vez mais perto, e ela não ousaria fugir, se caiu no perigo de ele já tê-la achado ali, não tinha mais do que correr. Enraizou os pés na corda bamba e esperou até a voz explodir perto de seu ouvido e sentir uma mão lhe dar um choque ao pousar em seu ombro. Foi puxada para trás pelo passado.

— É você mesmo Antonietta? Não acredito nos meus olhos! – Era Gregório, o rapaz das alianças.

Amélia continuou quieta, esperava que o homem começasse a gritar aos berros contra ela. Estava assustada, algo assim nunca acontecerá antes. Berenice se empolgou vendo o brilho nos olhos do rapaz bonito que parecia feliz como uma criança ao reconhecer Amélia. A moça tinha medo pela amiga mais velha, temia que ela nunca se casasse por andar sempre maldizendo os homens e ficar de namoricos com montes deles sem importar-se em se comprometer.

Amélia sentiu como se lhe tivessem socado a boca do estomago quando Gregório a tomou nos braços, contornando seu corpo com um abraço pesado por muito desejo e saudade. Era pior do que ela imaginava que seria.

— Justo agora que desisti de te procurar, finalmente lhe encontrei Antonietta! É o destino, só pode ser ele mesmo! - Nunca na Terra havia sido visto um homem tão feliz, parecia um cachorro a rever o dono depois de anos.

 — Definitivamente, essa é uma grande surpresa Gregório. Mas receio em ter que te dizer que me chamo Amélia e não Antonietta. - As palavras saiam da boca da mulher e batiam na alma de Gregório como se fossem uma geada fria cortando sua pele. Os ossos de suas pernas pareciam que haviam sido feitos com farinha, o chão sob seus pés virou uma corda bamba de equilibrista e sua cabeça parecia presa a uma guilhotina.


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