Poder e Controle II escrita por Anne


Capítulo 8
''The Blackest Day''




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Because I'm going deeper and deeper

(Porque eu estou indo mais e mais fundo)

Harder and harder

(Mais e mais pesado)

Getting darker and darker

(Ficando mais e mais sombria)

Looking for love

(Procurando por amor)

In all the wrong places

(Em todos os lugares errados)

Annelise estava sentada entre as pernas de Krystal no jardim, enquanto as mãos hábeis da amiga corriam seus cabelos os amarrando numa trança embutida. Já havia a deixado pintar suas unhas, num preto brilhante que Krystal disse ''combinar com sua personalidade sombria e grosseira''.

Era bom ignorar toda e qualquer obrigação que tinha e passar um tempo só com Krystal, sentadas no jardim aproveitando que a ventania havia ido embora e o frio estava mais ameno. Um sol tímido iluminava o céu, o que dava a chance de alguns alunos se espalharem do lado de fora para aproveitarem o domingo. Annelise lia distraidamente o ''Livro Padrão de Feitiços: 6 série'' quando sentiu a amiga rir atrás dela.

— Acabou sua folga. Os garotos da Sonserina vem vindo aí. — Comentou ela, ainda trabalhando nos fios loiros da outra.

Annelise ergueu os olhos e viu pelo menos dez garotos caminharem até ela. Suspirando, fechou o livro e tentou se decidir se Blásio e Draco ali com eles era um bom ou mau sinal.

— Oi, Morgerstern. — Disse Unquhart, o novo capitão do time da Sonserina. — Draco me disse que você voa. Que jogava no time da sua outra escola. Pode substituir para ele no time, no próximo jogo contra a Grifinória?

Ela e Krystal pararam e olharam para eles, chocadas.

— Draco é um linguarudo. — Acusou ela, olhando torto para Malfoy, que sorriu como resposta. — Eu jogava sim em Ilvermorny, mas era como artilheira, não apanhadora.

— Você já jogou como apanhadora, lembra, quando Jason Boyer se machucou?

— Krystal! Fique quieta! — Retrucou Annelise, irritada. — Olhem, Draco me parece perfeitamente bem para jogar.

— Agora estou, mas ficarei doente no dia do jogo. — Ele deu de ombros, arrancados risos dos colegas. — Por favor, Anne. Não temos ninguém para substituir.

— Acha mesmo que eu quero ser massacrada por Potter na frente da escola toda? — Ela se levantou, com Krystal pulando em pé em seguida. Amarrou a ponta da trança dela com um laço verde de cetim. — Faz mais de um ano que não jogo.

— Você vai poder treinar antes, Annelise. — Argumentou Harper, um dos jogadores.

— Eu acho que você deveria. — Opinou Krystal, sorrindo largo e atraindo olhares dos garotos.

— Sem chance. — Annelise se abaixou e recolheu seus pertences. — Desculpe, Unquhart, mas sua equipe está um lixo e eu não vou passar vergonha.

Um ''ohh'' geral passou pelos garotos, que riram da cara azeda do capitão. Ele se virou, xingando Annelise, e saiu batendo os pés em direção ao campo de quadribol.

Draco deu de ombros, parecendo não ligar, e voltou para o castelo sozinho. Annelise enganchou o braço em Krystal e arrastou a amiga para longe de onde estavam, virando para ela somente quando estavam sozinhas outra vez.

— De todos os exemplos que você poderia dar, Jason Boyer foi o melhor que te ocorreu? — Rosnou, cruzando os braços.

Ahhh, então você se lembra de Jason Boyer! Pensei que tinha se esquecido. — Retrucou Krystal, com um sorriso largo e irônico.

— Krystal, não traga isso a tona. Eu não abri a carta dele e nem vou. Deixa pra lá!

— Annelise... — Suspirou a amiga em resposta.

— Krystal. — Respondeu com um tom de advertência. Irritada, Annelise deixou a amiga sozinha e subiu o jardim com pressa, entrando no castelo.

De todas as coisas que poderiam irritá-la, Boyer era a pior delas. E Annelise preferia continuar em sua zona confortável de proposital esquecimento.

{...}

— Professor Snape, com licença.

Snape ergueu os olhos do jornal, parecendo aborrecido por ter sido atrapalhado sem convite. Annelise continuava imóvel no batente da porta da sala do professor.

— Entre.

Ela obedeceu, fazendo sua melhor cara de inocente e se aproximou da mesa do professor.

— Gostaria de saber se o senhor pode me conceder uma permissão para estudar na área restrita da Biblioteca. — Falou simpaticamente, tentando dar seu melhor sorriso amável.

— E por que eu faria isso, senhorita Morgerstern?

— Bem... — Ela umedeceu os lábios. — Para que eu possa aprimorar meus estudos e conseguir mais pontos para a Sonserina.

Sua mentira era óbvia e Snape notou, mas não disse nada. Puxou um pedaço de pergaminho e escreveu uma autorização:

Eu, professor Severo Snape, autorizo o acesso da aluna Annelise Morgerstern à área restrita da Biblioteca para fins acadêmicos.

 

— Obrigada, senhor.

Annelise não se demorou ali, rapidamente saiu da sala do professor e se dirigiu para a Biblioteca, que se encontrava mais cheia do que nos dias de semana. Por ainda ser domingo, muitos alunos aproveitaram para colocar os deveres em ordem. Ela entregou o bilhete para Madame Pince e foi autorizada a entrar, recebendo uma chave para sair quando precisasse.

Já na área restrita, Annelise sentiu seu corpo se arrepiar apenas de ler determinadas lombadas de livros que ficavam ali dentro. A maioria tinham capas de couro e ela questionou mentalmente se eram de pele humana. Com uma careta, continuou procurando o que queria, até se sentar numa mesa junto à janela com alguns exemplares: ''Vivendo com Legilimentes'' ''Arte das Trevas e Oclumência''  e ''Guia Avançado de Oclumência''. Puxou um longo rolo de pergaminho da mochila, assim como tinteiro e pena e os espalhou sobre a mesa, abrindo a primeira página do primeiro livro e sabendo que teria um longo trabalho pela frente.

{...}

A previsão de que a Sonserina seria derrotada pela Grifinória foi provada corretemente. A Grifinória tinha marcado cem pontos e a Sonserina zero quando Potter pegou o pomo. O Salão Comunal da Sonserina esteve no mais absoluto silêncio naquela noite, enquanto uma certa torre do sétimo andar explodia em festa.

Annelise não ousou zombar dos rapazes do time, ainda que Unquhart tivesse decidido que a culpa fora toda dela por ter decidido não jogar e ficou a encarando por horas com uma expressão homicida.

— Quer que eu fale com ele? — Perguntou Blásio, ao deixar de achar graça e ficar preocupado com a reação do garoto. Enquanto ele estava sentado no sofá, Annelise estava sentada no tapete felpudo perto da lareira e tinha seus materiais espalhados na mesa de centro. Tinha um livro aberto no colo e escrevia sem parar, sem deixar que ninguém chegasse perto do seu pergaminho.

— Deixe ele lá. — Respondeu, o pescoço tão baixo que ela quase encostava a ponta do nariz na tinta. — Se ele ousar fazer alguma coisa idiota, vai se arrepender pro resto da vida. Que culpa eu tenho se colocou um monte de imprestáveis no time? — Ela não tinha respondido muita coisa até então, mas a brecha pareceu lhe deixar suficientemente indignada para erguer o rosto e olhar para Blásio, irritada. — A culpa é minha, então, minha? Eu, que estava sentadinha na arquibancada, esperando o fracassado do Vaisey defender os aros...

Pansy deu uma gargalhada estrondosa. Tinha acabado de se chegar e se jogou no outro sofá, de frente para Zabini. Annelise, no meio dos dois, deu um sorriso pela reação dela.

— Vamos ser sinceros, nosso time pode parar de competir se não conseguiram marcar um golzinho em Weasley. Weasley! — Comentou ela, dando um sorriso sarcástico e mexendo nas pontas do cabelo curto.

— Weasley jogou bem. Foi assustador. — Zabini balançou a mão, descrente. — Mas Unquhart deve estar louco da cabeça. Você está aí no chão escrevendo desde as sete da noite e já é... — Ele checou o relógio do salão comunal. — ...meia-noite e ele continua sentado naquela poltrona, te fuzilando com os olhos. Fazem horas!

— Perdeu a noção do perigo. — Pansy suspirou. — Se bem o conheço, deve estar planejando alguma contra você. Quando Draco descobrir...

— Quando Draco descobrir o que? — Perguntou Malfoy, descendo os dois degraus que separavam os sofás da porta de entrada. Parecia cansado. Se sentou ao lado de Zabini e encarou Pansy, que encarou Blásio, que encarou Annelise.

Ela arqueou as sobrancelhas, tentando decidir se contaria ou não. Pansy bufou.

— Unquhart está culpando Annelise pela Sonserina ter perdido. Ele está encarando ela desde que entrou aqui. — Indicou com o queixo. Unquhart parecia estar com os olhos tão firmes em Annelise que não notou quando os amigos se viraram para ele.

— Algum problema, Unquhart? — Draco disse rispidamente, se levantando. O garoto pareceu ter acordado do transe e olhou para ele.

— Nenhum. — Deu de ombros, olhou para Annelise rapidamente e se levantou, indo para o dormitório masculino.

— Aberração. — Pansy resmungou.

Annelise baixou os olhos para o pergaminho e encarou as longas e longas linhas que havia escrito, sentindo os olhos pesarem de sono. Com a saída de Unquhart, só restavam os quatro ali. Draco voltou a se sentar no sofá e criticava o time junto com Blásio, enquanto Pansy se levantava, despedindo-se e subindo as escadas para o dormitório feminino. Annelise, por sua vez, juntava seus materiais e aguardava a tinta do pergaminho secar completamente. Enquanto encarava o papel, se lembrou de algo que precisava fazer e sentiu as bochechas esquentarem. Subiu os olhos e encarou Blásio, desejando que ele saísse logo.

Mas Blásio permaneceu sentado pelos próximos vinte minutos, assim como Draco. Annelise não aguentava mais o sono e checou o relógio, vendo os ponteiros marcarem meia noite e quarenta. Enrolando o pergaminho, ela limpou a garganta, atraindo o olhar dos dois garotos.

— Draco, queria falar com você. — Murmurou, a voz saindo levemente rouca. Blásio pareceu surpreso e se levantou com um sorriso.

— Boa noite pra vocês.

Enquanto ele subia as escadas e Annelise sentia o olhar de Malfoy queimar em cima dela, demorou-se enrolando o pergaminho com perfeição, tentando decidir como começaria. Não devia estar envergonhada desse jeito, mas estava. Finalmente, enfiou o pergaminho na mochila e a fechou, colocando-a na mesa e se levantando. Sentiu as pernas reclamarem e os joelhos quase falharem por terem passado tanto tempo dobrados, mas ela deu alguns passos até o sofá e se sentou de lado, virada para ele, que a olhava com curiosidade. Podendo observá-lo com atenção e sem ninguém por perto, percebeu que a pele de Malfoy estava mais pálida do que o normal e que olheiras marcavam seus olhos azuis.

— Hum, então... sei que acha Slughorn idiota...

— É verdade.

— ... mas, mesmo assim, vamos ter aquele baile em duas semanas... sabe, o baile de Slughorn?

— Sei, Morgerstern.

— Hum, então, bem... vai ser diferente das outras reuniões, um baile mesmo, com convidados e tudo...

Draco riu com vontade, jogando a cabeça para trás. Annelise mordeu o lábio inferior, começando a detestar a ideia e se odiando por abrir a boca. Ele a olhou com graça.

— Está tentando me convidar para o baile de Slughorn, Morgerstern?

Ela ruborizou, sentindo as bochechas ficarem, mais uma vez, insuportavelmente quentes.

— Estou. — Murmurou, o encarando.

O sorriso alegre dele murchou, fazendo-o suspirar pesadamente.

— Claro que quero ir com você. — Começou, se aproximando dela e colocando a mão em sua nuca, iniciando uma carícia. — Mas não posso. Não posso me distrair.

— Se você me contasse o que anda planejando agora...

— Eu poderia, não é? Poderia pedir sua ajuda. Você é tão mais inteligente do que eu... — Ele murmurou, os olhos perdidos em detalhes do rosto dela. — Eu poderia mesmo. Mas você já enfrentou demais. Já fez demais. Eu não posso pedir isso de você.

— Draco...

— Eu quero tanto ir com você, mas não posso. — Sussurrou, alcançando os lábios dela com os seus. Ele a beijou tão calma e lentamente que Annelise achou que derreteria. Correspondeu com um pouco mais de urgência, mas diminuiu o ritmo para acompanhá-lo.

Ela segurou a nuca dele e o puxou para mais perto, enquanto as mãos dele desciam até sua cintura e a segurava com firmeza. Annelise, com o corpo levemente inclinado para trás e com as pernas dobradas em cima do sofá, o puxava na direção dela enquanto, dessa vez, ambos aceleravam o beijo. Ela esvaziou a mente, se concentrando apenas na sensação dos lábios macios dele nos dela e em sua língua quente percorrendo sua boca, mas quando sentiu as mãos de Draco segurarem sua cintura por dentro da blusa, sentindo os dedos dele em sua pele, inclinou-se para a frente, pois não demoraria muito para que estivessem deitados no sofá. Talvez ele tivesse entendido errado, pois quebrou o beijo, ofegante.

— Acho melhor a gente ir dormir. — Falou baixinho, encarando os lábios dela.

Annelise reclamou, se inclinando e o beijando outra vez, as mãos dela segurando o rosto dele. Draco não pareceu se importar, apenas voltou a beijá-la, outra vez devagar. Estavam absortos e concentrados na sensação e nos movimentos, as mãos dele de volta para onde estavam e as dela passeando pela nuca e pescoço dele. Quando sentiu os pulmões pedirem por ar, ela se afastou.

— Uma pena que não vai. Teríamos uma desculpa pra fazer isso a noite inteira. — Sussurrou Annelise, abrindo um sorrisinho irônico. Esfregou a ponta de seu nariz no dele, vendo-o sorrir. — Vou ter que convidar Blásio, então.

— Intimar Blásio, você quer dizer? — Respondeu Draco, beijando a bochecha e queixo dela.

— Hmmm. — Ela murmurou, suspirando. — Eu odeio você.

— Dá pra notar.

{...}

— Blásio. — Chamou ela, enquanto arrancava as raízes de uma planta de pus amarelo. — Blásio!

Ele a olhou, parecendo prestes a vomitar. Estavam na aula de Herbologia, no dia seguinte, da qual Draco faltou pois estava com muito sono. Annelise ficou tentada a fazer o mesmo, mas se levantou após Pansy gritar em seu ouvido.

— O que?

— Quer ir no baile do Slughorn comigo? — Ela sorriu largo, batendo os cílios encantadoramente.

— Adoraria, Anne. Mas eu já convidei alguém. — Blásio sorriu, se desculpando. Annelise o olhou torto.

— Quem?

— Krystal, ora. Ela não te disse?

— Não. — A expressão dela se fechou. — Não disse.

A partir daquele momento, ficou quieta. Não conversou com ninguém e se concentrou na tarefa nojenta que estava fazendo. Quando terminou e foi liberada, lavou as mãos com pressa e voltou correndo para o dormitório, para trocar de uniforme. As plantas da aula do dia faziam uma sujeira sem tamanho e Annelise foi a única que não dobrou as mangas da camisa social branca para realizar a tarefa de extração. Por sorte, havia dobrado a capa preta e colocado dentro da mochila, então só tirou a camisa branca e jogou no cesto de roupas sujas do banheiro do dormitório, para que os elfos lavassem.

Pronta, ela caminhou com pressa até o Salão Principal, já que era hora do almoço. Passou pelas portas altas em disparada até a mesa da Grifinória e não tardou a encontrar Krystal. A garota ria sem parar de algo com Lilá Brown e Parvati Patil.

— Com licença, Krystal. Posso falar com você? — Apesar do tom educado, a expressão de Annelise não era das melhores, ainda mais porque detestava Brown e Patil. Krystal se levantou.

— Oi, Anne! — Sorriu. Quase fez Annelise recuar e abrir mão da discussão que planejara. Quase.

— Queria saber quando foi que me tornei uma mera amiga pra você.

Krystal revirou os olhos e agarrou o braço dela, puxando-a até estarem fora dos olhares curiosos no Salão Principal. No hall de entrada, ela parou.

— O que foi, sua dramática?

— Eu sou dramática? Blásio te chama pra sair, você me esconde e eu sou dramática? Aposto que era disso que Brown e Patil riam, não?  — Perguntou, com uma das mãos no peito. Parecia imensamente ofendida.

— Annelise! — Krystal guinchou, rindo em seguida. — Sua idiota! Ciumenta! Não, estávamos rindo de Vane. Elas não sabem que Zabini me convidou para o baile. Foi hoje de manhã, na primeira aula. Eu te procurei perto das estufas, mas você chegou atrasada e eu já tinha ido embora. Desfaça esse bico! — Pediu, segurando os ombros de Annelise. — Você está com a cara inchada e amassada. E além disso, chegou atrasada. O que houve?

Annelise já havia perdoado o deslize da amiga e agora sorria.

— Fiquei ocupada com Draco ontem a noite... — Murmurou, dando de ombros.

— Então, as coisas estão ficando sérias entre vocês? — Krystal pulou, empolgada.

— Não, não diria isso.

— Ah, pare. Lilá me contou que todos estão comentando sobre vocês.

— Comentando o que? — Arqueou a sobrancelha, curiosa. — Bem, não importa. Há outras coisas para me preocupar. Draco não quer ir no baile de Slughorn...

— Quem você vai levar? Tem que ser um cara legal.

Annelise bufou, olhando ao redor. Descendo as escadas com um livro grosso nos braços, vinha Theodore Nott. Ele a encarou, passando a mão pelos cabelos  e piscando para ela antes de entrar no Salão Principal.

— Acho que tenho uma ideia.


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