Staying up till morning

(Ficando acordada até de manhã)

Only 17 but she walks the streets so mean

(Tem apenas 17 anos mas anda pelas ruas com maldade)

It's alarming truly

(É alarmante, de verdade)

How disarming you can be

(O quão encantadora você pode ser)

Mais do que ver, Krystal gostava de olhar para as pessoas.

Sempre fora ligeiramente enciumada e também impressionada facilmente por Annelise Morgerstern: ela tinha dois sobrenomes nobres e conhecidos por toda a população bruxa, em qualquer lugar. Ela tinha um ar de aristocracia que nem percebia - Annelise tinha leveza em caminhar, delicadeza em seus movimentos e sua voz era quase sempre suave. Seu rosto era saudável, sem uma manchinha sequer, nunca tivera problemas com espinhas e facilmente tirava notas altas, mesmo que não estudasse. E, por esses fatos, Annelise encantava as pessoas. Ela era calma, não precisava de muito para chamar a atenção. Era o perfeito oposto de Krystal: ela falava alto e era estabanada. Não ria, gargalhava. Mas não deixava de ser tão linda e encantadora quanto.

A questão era que Annelise parecia ser impertubável. Inalcançável. Intocável. Como se nada no mundo pudesse perturbá-la, pois ela tinha um olhar de quem sabia de todos os seus segredos. E quando ela sorria era como se mil fogos de artifício explodissem e iluminassem o céu: porque Annelise não sorria só com os lábios, seus olhos acompanhavam. Ela não era exatamente a rainha da simpatia, podia ser fria, distante, mas jamais grosseira.

E, como dito, Krystal Villewick era uma boa observadora. E conhecendo Annelise tão bem, Krystal não pôde evitar perceber duas coisas: Annelise estava apaixonada e Draco também, mas aquilo não acabaria bem. Ela sentia aquilo como sentia seu coração bater dentro de si. E em segundo lugar, a Annelise de Hogwarts não era nada como a Annelise de Ilvermorny.

A Annelise de Hogwarts - que Krystal decidira chamar por Annelise Rosier, enquanto a sua Annelise era Annelise Morgerstern - era fria, calculista e grosseira. Muito grosseira. Ela ainda tinha aquele jeito de princesa bem treinada, mas seu olhar era cortante e ela não pensava duas vezes antes de usar as palavras. Carregava leves olheiras nos olhos - nada comparado à Malfoy - e a maioria de seus sorrisos não chegavam aos olhos: eram sorrisos quase sempre carregados de sarcasmo. Sua voz era instável - às vezes suave como sempre e às vezes estridente.

Mas, bem, Krystal entendia: Annelise Rosier tinha sido afetada pela guerra, enquanto Annelise Morgerstern só se preocupava com quadribol, notas altas e... Jason Boyer. E aquilo parecia ter sido mil anos atrás.

Cada vez que se deitava para dormir, a mente de Krystal vagava em maneiras de abordar Annelise sobre o que estava acontecendo. Ela sabia que se devia às coisas que ela havia contado para Krystal no verão, sobre ser... sobre... Argh. Ela não conseguia pensar nisso. Não conseguia imaginar Annelise envolvida nisso.

Mas queria a amiga de volta. Queria os olhos que sorriam. Queria a voz suave. Queria Annelise num uniforme de quadribol. Queria a amiga com o antebraço sem tatuagem das trevas. Queria a amiga que não tinha sido obrigada a presenciar assassinatos e tortura.

Por isso, na manhã de 31 de outubro, Krystal se levantou mais cedo do que de costume e sentou no tapete do Salão Comunal da Grifinória para começar a montar o presente de Annelise. Estivera se organizando há duas semanas: uma enorme cesta cheia de doces americanos (bruxos e trouxas) jazia entre suas pernas e ela a decorava com fitas verdes e pratas que se esticavam e se torciam sozinhas. Os amigos de Ilvermorny haviam mandado cartas e fotos que tinham com Annelise e Krystal as arrumava, sentindo o envelope de Jason ligeiramente mais grosso do que os outros. Zack tinha enviado um desenho do símbolo da casa Pumaruna, que Krystal e Annelise pertenciam. Também colocou na cesta doces da Dedos de Mel.

Annelise sempre pedia doces e coisas simples, pois sendo rica como era, já tinha de tudo.

Krystal sabia que talvez ela ficasse brava com as cartas e as fotos - Annelise pediu, muito séria, para que os amigos não fizessem contato com ela quando ela fosse para Hogwarts. Todos obedeceram, com exceção de Krystal. Afinal, ela era sua melhor amiga. Annelise podia até ficar brava, mas passaria quando lesse as cartas e visse as fotos, e Krystal esperava que ela se lembrasse de como a vida era leve.

Ao terminar, ela levou tudo para o quarto outra vez e começou a se arrumar para o dia de aula.

— Feliz aniversário! — Krystal exclamou, com um sorriso enorme e abraçando a cesta com os braços finos. Annelise - e metade da mesa da Sonserina - se viraram para encará-la.

Estavam no meio do banquete de Halloween quando ela decidira que era o momento certo para entregar a surpresa.

Annelise corou violentamente, se levantando.

— Krystal, não acredito! — Ela correu as mãos pela cesta e a pegou, colocando num espaço vazio do banco. Virou-se e abraçou Krystal, sorrindo largo - um sorriso que subia aos olhos.

— Hoje é seu aniversário?! — Krystal ouviu Blásio perguntar, parecendo chocado. Ela abraçava Annelise e corria os olhos pelos amigos dela: todos surpresos.

— Eles não sabem que você faz aniversário hoje?

— Ao que parece, ela não julgou que fosse importante nos contar. — Draco bufou, se erguendo. Abraçou Annelise pela cintura e deu alguns beijos em sua bochecha.

— Ah, sabem... — Annelise começou, com a voz abafada pelo abraço de Malfoy.

— Sabem coisa nenhuma, trasgo! Não posso acreditar que escondeu seu aniversário! — Zabini também estava em pé agora. — Draco, dá pra soltar ela de uma vez? — Ele obedeceu e Zabini a abraçou. — Feliz aniversário, sua descompensada!

— Pare de me ofender! — Annelise riu.

— Você é oficialmente maior de idade! — Krystal bateu palminhas. — E, depois do Natal, quando passar nos testes, já vai poder aparatar!

— Finalmente! — Annelise gemeu, sorrindo. — Deixe-me ver o que você tem aqui, Krystal...

Ela se sentou e colocou a cesta no colo, parecendo aprovar a seleção de doces e exclamando animada quando pegava algumas embalagens. Finalmente, começou a ver os remetentes das cartas. O sorriso vacilou um pouco, mas ela suspirou e continuou vendo - até chegar na carta assinada por Jason Boyer.

— Não grite comigo! — Krystal se enfiou num espaço vago no banco, sendo a única a trajar uma gravata diferente na mesa da Sonserina. Falava baixo agora.

— Ora, ora, ora... — Annelise murmurou, frisando os lábios. Ela voltou as cartas para a cesta e a colocou de baixo da mesa. — Você é uma teimosa, sabia? — Sorriu. — Mas obrigada. De coração.

Annelise passou o braço pelos ombros de Krystal e a abraçou com força.

Annelise levou as cartas para o Salão Comunal depois que todos estavam dormindo. Sentou-se no tapete e pegou a carta de Zack. Uma foto caiu de dentro dela e Annelise a pegou - Zack a abraçava por trás e tinha a cabeça encostada nela. Piscava para a foto, enquanto Annelise sorria: era dia da fogueira em Ilvermorny, quando todos os alunos se reuniam ao redor do fogo para cantar e contar lendas. Ela desenrolou o pergaminho da carta.

Annelise,

Talvez eu esteja com um pouco de medo de te enviar alguma coisa, já que eu me lembro claramente do dia em que pediu para que NÓS NÃO MANTIVÉSSEMOS CONTATO ALGUM POIS VOCÊ IA FAZER ALGO IMPORTANTE.

E NÃO QUERIA DISTRAÇÃO.

Bom, Krystal é muito difícil de ser vencida, então estou escrevendo.

Olha essa foto na fogueira! Sinto falta de Ilvermorny e de você também!

Me formei ano passado e abri uma loja de logros no Brooklyn. É divertido.

Venha visitar, por favor!! Era muito legal quando costumávamos ser amigos =)

Com amor,

Zack Williams.

(se ficar brava não envie um berrador)

Annelise riu. Zack não estava tentando ser malvado - ele era muito ingênuo para isso. Ele era alto demais e desengonçado, mas bonito, além de muito engraçado. E ficou feliz pela loja, já que era o sonho dele trabalhar com logros.

Colocando a carta de lado, ela alcançou outro masso de papel: duas fotos deslizaram para fora. Uma delas, em preto e branco, estavam Annelise, Amber e Liz. As três gargalhavam - e ela se lembrava de ter partipação de Zack nisso. Na segunda, Annelise e Liz tinham mechas dos cabelos presos em balões, no aniversário da própria Elizabeth. Os cabelos presos era arte de Jordan.

Linda Annelise,

Por favor não mande um berrador. Krystal nos obrigou.

Aqui está tudo bem - os exames foram enlouquecedores no ano passado e confesso que dei uma relaxada, então esse ano tenho focado para me sair bem no exame do ano que vem. Se eu quiser trabalhar no Congresso, preciso continuar assim.

Espero que seus amigos puro-sangue não fiquem furiosos por suas fotos trouxas não estarem se mexendo - e por estar recebendo a carta de uma ''mestiça imunda''. Não estou te julgando, é uma brincadeira: escute minha risada!

Você e Krystal estão fazendo falta aqui. Sinto saudade de quando ficávamos horas acordadas jogando snap explosivo.

Não se esqueça da gente e de que nós te amamos, independente da família louca e supremacista da qual você pertence. Espero que não estejam conseguindo fazer uma lavagem cerebral em você - e por favor, não se meta em nada e não faça mais do que sua consciência permite. Lembrem-se de sua essência. Você é boa, Anne.

Amo você.

Liz Savinón

Elizabeth Savinón era, provavelmente, a única que sabia mais ou menos do que envolviam os planos de Annelise ao ir para Hogwarts. Era surpreendentemente fácil conversar com ela. Annelise suspirou e partiu para a próxima carta.

Olá, Anne!

Como você está? Sentimos sua falta!
Devo admitir que fiquei feliz por Krystal nos mandar escrever e dizer que assumiria a responsabilidade caso você ficasse brava.

Sei que não vai ficar.

Você nos afastou para nos proteger e eu entendo, apesar de não gostar.

Agora Krystal também se foi - e apesar dela não ter falado absolutamente nada, eu sei que se ela foi pra Hogwarts significa que você precisa muito de ajuda. E da proteção de alguém que te ama verdadeiramente.

Mas não se esqueça: nós amamos você também. Eu, Liz, Zack e Jordan. E estamos aqui se você precisar.

Mesmo que com 'precisar' signifique que você precise de nós aí na Inglaterra/Escócia. Nós vamos. Atravessaríamos o mundo e você sabe.

Espero poder te ver logo!

Com amor,

Amber Ainsworth.

Amber. A doce e tranquila Amber. Na foto, Annelise ria para Amber na festa de Natal na casa de Krystal.

Ela suspirou, olhando as fotos mais uma vez e sorrindo com as lembranças que preenchiam sua mente. Krystal Villewick podia parecer boba, mas não era. Annelise estava perfeitamente ciente do objetivo daquelas cartas e fotos - e se sentia imensamente agradecida.

— Menina Annelise! — Ouviu um guincho conhecido em suas costas e se virou abruptamente.

— Loki, que susto!

Era apenas o elfo da família, segurando um pacotinho encardido nas mãos. Parecia ter sido embrulhado pelo próprio elfo com panos velhos.

— Loki pede desculpas, menina Annelise... Loki se lembrou do aniversário da menina Annelise... a última Morgerstern... — Os olhos grandes do elfo se encheram de lágrimas. — Loki trouxe um presente para a menina Annelise!

— Ah, Loki... — Começou incerta. — Muito... obrigada.

Annelise estendeu a mão e o elfo - que agora chorava - colocou o embrulhinho na palma dela. Era pequeno e leve. Puxando uma fita marrom que segurava os panos, revelou-se um anel de ouro dourado com um M gravado nele. Annelise sentiu o estômago afundar e uma súbita falta de ar atingiu seus pulmões: era o anel da família Morgerstern, passado de geração à geração e o mesmo que nunca saía do dedo de Joseph. Se lembrava de quando o pai lhe disse que o anel não pertenceria à ela pois tinha nascido mulher e ele só passaria para homens herdeiros.

— Loki, como conseguiu isso? — Murmurou, girando o anel nos dedos trêmulos.

— O senhor Morgerstern, menina Annelise... ele tirou o anel e deixou em sua caixa de madeira no escritório antes de... de sair de c-casa pela última v-vez... Loki acha que ele sabia o que ia acontecer, menina Annelise... — O elfo soluçava, esfregando o rosto enrugado com os punhos pequenos.

Annelise assentiu, enfiando o anel no dedo indicador. Estava largo. Ela puxou a varinha da mesa de centro e deu um toque no anel, que se ajustou, ficando firme.

— Loki, muito obrigada. — Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Eu gostei muito do presente!

O elfo se curvou numa reverência e, ainda chorando, desaparatou.

Annelise suspirou, olhando o anel em seu dedo. Talvez tivesse sido o seu aniversário mais significativo até ali.

No entanto, ainda faltava a carta assinada por Jordan Boyer. A assinatura dele queimava em seus olhos e ela mordeu o lábio, pegando a carta e decidindo não abrir. Voltou para o quarto e a enfiou de baixo do colchão, longe de seu campo de visão. Deixou as outras cartas guardadas em seu armário e colocou as fotos dentro do criado-mudo. Quando deitou para dormir, teve o melhor sonho em dias.

vocês podem conferir as fotos de Annelise clicando aqui! :)