Poder e Controle II escrita por Anne


Capítulo 3
''Ultraviolence''




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We could go back to New York
(Nós poderíamos voltar para Nova York)
Loving you was really hard
(Amar você foi muito difícil)
We could go back to Woodstock
(Nós poderíamos voltar para Woodstock)
Where they don't know who we are
(Onde eles não sabem quem somos nós)

 

O quarto de Draco era enorme.
Sua cama de dossel era de madeira preta assim como todos os seus móveis. Haviam grandes cortinas num tom verde escuro, tapetes pretos mesclados também com verde, um largo sofá de couro de frente para uma lareira e, atrás do sofá, sua cama. É claro que havia seu toque adolescente: Bandeira da Sonserina pregada na parede com algum feitiço, pôster de um time de quadribol com os jogadores voando velozmente em suas vassouras, pôster da banda As Esquisitonas, livros velhos da escola empilhados num canto esquecido, o malão de Hogwarts aberto com pedaços do uniforme caindo para fora. Annelise deu uma olhada geral e se sentou no sofá, esperando.
Quando todos saíram da sala de reunião, Draco e Bellatrix foram diretamente para o porão. Narcisa ficou um tempo imóvel em sua cadeira, mas quando o Lorde das Trevas desapareceu, ela subiu para seu quarto e trancou a porta. Annelise decidiu se esgueirar para o quarto de Draco e esperar por ele. Suas mãos suavam nervosamente, talvez por saber o que ele estava fazendo. Voldemort nunca lhe mandou matar ninguém. Sim, ela realmente fora junto em alguns momentos, assistiu torturas e assassinatos que jamais sairiam de sua cabeça, mas ela nunca matou ninguém. Se perguntava, com uma preocupação crescente no peito, o por que de Draco estar sendo levado à caminhos mais tortuosos do que ela.
Draco entrou no quarto de repente, trinta minutos depois, batendo a porta com força ao passar. Parecia não ter notado a presença dela ali enquanto andava de um lado para o outro, esfregando as mãos no rosto e nos cabelos.
— Draco — Ela chamou, baixo. Com um susto, ele se virou, os olhos arregalados e o peito arfando.
— Eu... — Engoliu em seco, caminhando até ela e a abraçando com uma força que jamais tinha usado antes. Annelise o abraçou de volta, acariciando suas costas e deitando o rosto na curva de seu pescoço.
— Eu sei. — Com um espanto, Annelise percebeu que ele começara a chorar. Era silencioso. Sentiu algumas lágrimas pingarem em sua pele, depois o corpo dele balançar com um soluço fraco. Era como se seu coração estivesse afundando. Sabia muito bem a sensação que ele tinha e, por entender tão bem, sentiu um nó se formar em sua garganta.
— Eu não consegui... — Murmurou ele, com a voz abafada.
— Não conseguiu? — Annelise se afastou um pouco, segurando o rosto dele entre as mãos. Era um pouco mais alto que ela. — Como assim?
— Não sei. Fiquei lá, com a mão tremendo. Me fizeram usar a varinha da minha tia. Eu... Ele começou a implorar, a chorar... — Draco engoliu em seco. — Então minha tia pegou a varinha e fez. Ela me fez jurar segredo...
Annelise assentiu, vendo os olhos azuis cinzentos se encherem de lágrimas outra vez.
— Está tudo bem. — Ela enxugou uma lágrima que rolou na pele do rosto dele. — Tudo bem. Vai dar tudo certo.
Draco encostou a testa na dela e beijou a ponta de seu nariz. As mãos dele ainda tremiam, mas parecia ter se acalmado um pouco. Annelise estava triste por ele, mas ao mesmo tempo, muitas lembranças se clarearam e fizeram sentido em sua mente, fazendo-a chegar numa conclusão que a deixou com raiva: Lord Voldemort era um covarde.

{...}


Quando chegou em casa encontrou a mesa na sala de jantar preparada para o chá da tarde. Krystal e o pai haviam acabado de se sentar quando ela cruzou o batente, sorrindo para os dois.
— E então? Descansaram bem? — Ela se sentou na ponta da mesa, começando a se servir de suco de abóbora.
— Ah, sim, querida. Uma excelente casa. — O Sr. Villewick olhava a comida com uma sobrancelha erguida, o que fez ela rir. As atenções se viraram para Loki, que entrava segurando um prato de bacon frito e omeletes, fazendo com que Krystal e o pai abrissem um largo sorriso.
— Obrigada, Loki. — Krystal agradeceu, começando a se servir. Annelise cortou um pedaço de bolo de laranja para si. Os três começaram a conversar sobre diversas coisas, até que, para desgosto de Annelise, chegaram na morte de seus pais.
— Se me permite, querida, o que houve com eles? Uma morte súbita assim...
— Meus pais... — As palavras se perderam, mas Annelise continuou. — Eles estavam no lugar errado e na hora errada. Aborreceram um grupo de Comensais da Morte. — Deu de ombros, mentindo tão bem que Krystal lhe deu um olhar de esguelha. O pai dela, no entanto, parecia horrorizado.
— Que pena, que pena! Vocês estarão seguras em Hogwarts? Digo, eu falei com Krystal... Você seria muito bem-vinda em nossa casa! Poderia voltar para Ilvermorny... Mas ela...
— Eu agradeço muito, senhor. Pensei nisso, na verdade, mas tem o Loki... E alguns bons amigos que fiz aqui. E claro, não posso deixar essa casa para trás. Como pode notar, está na minha família há gerações. Infelizmente sou apegada nessa tradição e pretendo levá-la adiante. Mas não vou mentir que realmente considerei voltar à Ilvermorny. — Annelise deu um gole longo em seu suco. — Mas estaremos perfeitamente seguras em Hogwarts. Dumbledore é talvez o único que o Lord- — Ela limpou a garganta, sentindo seu rosto esquentar. Apenas seus seguidores os chamavam assim. — Você-Sabe-Quem teme. A escola já é bem protegida no geral, mas esse ano estão reforçando a segurança. Acho que teremos aurores de guarda.
— Ah, bem. Fico mais tranquilo. — Ele pareceu não ter notado o erro. Olhava para seu relógio de bolso. — Bem, preciso ir, se não chegarei muito tarde. — O Sr. Villewick se levantou, num movimento que as duas meninas repetiram. Annelise saiu da sala para que eles se despedissem e então levou o homem até a porta, acenando alegremente. Quando ele e sua vassoura desapareceram no horizonte, ela se virou para a amiga.
— Bem, vamos arrumar suas coisas e preparar o malão para Hogwarts. Amanhã quero ir ao Beco Diagonal comprar os materiais, o que acha?
— Estou tão empolgada! — Krystal bateu palminhas, sorrindo. — Vai ser tão legal!
Elas conversaram por horas, como não faziam há tempos. Annelise notou, com um assombro, que provavelmente Krystal não entendia a gravidade da situação em que ela estava. Talvez ela não tivesse raciocinado direito sobre o fato da melhor amiga ter se tornado uma Comensal da Morte, pois estava se comportando como se não tivesse escutado uma palavra do que Annelise dissera. Não sabia dizer se Krystal estava sendo ingênua como podia ser às vezes ou se só estava ignorando a gravidade da situação para não assustar Annelise. Com um aperto no coração, Annelise entendeu que a reação de Krystal sobre isso viria, talvez mais tarde, mas viria. E ela não sabia se teria forças para encarar os olhos dela quando acontecesse.
Tentando disfarçar os pensamentos e focar no presente, Annelise e Krystal jantaram, jogaram inúmeras partidas de bexigas e xadrez de bruxo e finalmente foram se deitar, depois de um banho relaxante. O cérebro de Annelise, no entanto, decidiu pensar em mil e uma coisas diferentes quando ela repousou a cabeça no travesseiro. Tentando ignorar, ela girou o corpo e fechou os olhos com força. Segundos depois, Krystal pulou em cima dela.
— Bom dia! Vamos! Levanta!
— Argh, Krystal! — Resmungou ela, enfiando a cabeça de baixo do travesseiro e o segurando com a mão. — Acabei de deitar!
— O quê? Não, não! Já é quase meio-dia! Vamos, eu já esperei demais, acordei faz horas...
Annelise levantou, rabugenta, conferindo o relógio e vendo que a amiga não estava mentindo. Arrastou-se até os armários e os revirou, colocando uma calça preta, botas da mesma cor, um suéter comprido também preto e finalmente, a capa de Hogwarts com o símbolo da Sonserina estampado na lateral. O dia estava escuro, frio e chuvoso, diferente do que deveria ser num verão, fazendo Annelise se lembrar de que haviam diversos Dementadores soltos e livres para irem onde quisessem. Com o pensamento, enfiou a varinha no bolso interno da capa juntamente com seu saco de galeões e foi chamar Krystal. Ela, por sua vez, usava calça jeans azul clara, tênis all star vermelho de cano médio, suéter creme e um sobre-tudo preto.
— Pegou seu dinheiro? — Perguntou Annelise, sabendo que a amiga podia esquecer até a própria cabeça quando estava muito empolgada.
— Peguei! — Ela sorriu, descendo as escadas ao lado de Annelise. — Ai, que gracinha! Mal posso esperar para chegar e descobrir minha casa!
— É bom que seja Sonserina ou não seremos mais amigas.
— Que horror! Bem, não faço ideia de onde me encaixo... — Krystal deu de ombros.
As duas estavam na estradinha, na frente da casa. Annelise ergueu a varinha no meio-fio e empurrou Krystal levemente para trás. Demorando um pouco mais do que os segundos normais, o Nôitibus finalmente apareceu, derrapando ao parar. Ethan, o condutor, saiu de dentro do ônibus e se recostou no ferro de apoio, puxando o pergaminho do bolso.
— Bem-vindo ao Nôitibus, o transporte para...
— Bruxos e bruxas perdidas, eu sei. — Annelise puxou Krystal e as duas embarcaram, com um confuso Ethan atrás. Sentaram-se nos bancos, que eram substituídos por camas durante a noite.
— Para onde?
— Beco Diagonal.
— Beco Diagonal, Ernesto!
O Nôitibus arrancou abruptamente, fazendo Krystal dar um solavanco e escorregar para fora do banco. Annelise segurou a amiga e a puxou de volta.
— Nossa, que grosseria!
— Você se acostuma.
Não demorou muito para que chegassem na porta do Caldeirão Furado, em Londres. As duas desceram o mais rápido possível e Krystal parecia prestes a vomitar. Annelise abriu a porta do bar e elas passaram, olhando ao redor. Estava estranhamente vazio e escuro, o dono do local, Tom, enxugava os copos com um paninho com uma feição triste. Annelise o cumprimentou com um aceno de cabeça e então foram para os fundos. Puxando a varinha, ela deu os toques nos tijolos e eles se abriram, formando um arco.
— Nossa! — Exclamou Krystal.
Annelise entendia: o lugar parecia outro. Metade das lojas estavam fechadas e algumas tinham pedaços de madeira cobrindo as janelas e as portas. Não havia decoração colorida, tudo parecia uma grande mistura de preto e cinza, com diversos cartazes do Ministério da Magia pregados nas paredes, o rosto de conhecidos Comensais da Morte em cartazes de procurado. A maioria das pessoas que estavam por lá andavam em grupos e talvez Annelise e Krystal fossem as únicas em dupla. Havia também barracas montadas em frente das lojas fechadas, vendendo qualquer tipo de quinquilharia. Enquanto caminhavam mais para dentro do Beco Diagonal, um homem pulou de trás de uma das barracas.
— Quer um amuleto contra vampiros, senhorita? Para proteger esse lindo pescocinho? — O homem deu um largo sorriso, exibindo meia dúzia de dentes amarelos.
— Não, obrigada. — Annelise tentou contornar, mas o homem a impediu.
— Talvez um contra inferis? Lobisomens? — O velho agarrou o colarinho de Annelise e a puxou para perto.
Ela puxou a varinha e a encostou no rosto do homem, que deu outro largo sorriso.
— Eu disse não. Saia da minha frente.
O homem continuou sorrindo e olhou para um ponto atrás dela. Annelise virou a cabeça levemente, ainda com a varinha no alto. Krystal havia imitado o gesto da amiga, os olhos castanhos estreitos e a varinha apontada para o velho, que ainda não havia soltado Annelise.
— Está esperando uma terceira varinha ser apontada para seu rosto? Pois se eu tiver que puxar a minha das vestes você perderá a cabeça aqui mesmo! Não serei tão paciente!
Annelise sorriu com o canto dos lábios ao ver Draco sair de uma loja, o rosto fechado e olhando para o homem ameaçadoramente. Finalmente, o vendedor a soltou e voltou lentamente para trás de sua barraca suja, com as mãos erguidas.
— Homem só respeita homem. — Krystal resmungou, irritada.
Annelise guardou a varinha no bolso interno da capa preta da Sonserina e se aproximou da barraca, dando um tapa no tampão que se virou e derrubou os colares no chão.
— Nunca mais encoste em mim.
As duas meninas se voltaram para Draco, ouvindo o homem começar uma série de insultos direcionados à ninguém em específico, recolhendo seus pertences e, com um aceno da varinha, fazendo sua barraca sumir. O velhote subiu a pequena ladeira e sumiu numa esquina.
— Tudo bem, Morgerstern? — Perguntou Draco, analisando o rosto dela.
— Claro que sim. — Respondeu, passando as mãos no colarinho para inutilmente tentar se livrar das digitais do velho. — Está aqui sozinho?
— Minha mãe está na loja ali adiante. Vi você pela vidraça. — Respondeu, seus olhos se demorando nos dela. Se virou para Krystal. — E você é...?
— Krystal Villewick. — Ela estendeu a mão e Draco a apertou com um sorriso fechado.
— Draco Malfoy.
— É minha melhor amiga. De Ilvermorny.
O sorriso de Draco vacilou por um instante.
— E o que faz aqui, Krystal? Veio buscar Annelise?
— Praticamente, sim. — Ela riu. — Mas bem, não adiantou muito. Annelise quer ficar em Hogwarts, então pedi para que meu pai implorasse uma vaga para mim. Dumbledore disse que é difícil e que Annelise foi uma exceção, mas deu um jeito. Consegui uma também.
— Ah. — Ele sorriu. — Espero vê-la na Sonserina então. Vou voltar para a loja, não quero deixar minha mãe sozinha. — Draco se aproximou e beijou a bochecha de Annelise. — Até logo.
Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça preta e subiu a ruela, entrando dentro da loja de boticário.
— Uau! — Krystal sorriu, entrelaçando seu braço com o de Annelise. As duas subiram as ruas, seguindo para a Floreios e Borrões. — Que invocado! Agora sei porque gosta dele.
— Krystal! — Annelise riu, empurrando a amiga com o ombro.
As duas compraram os livros, depois compraram uniformes novos e vestes de festa, foram ao boticário para um novo estoque de Poções e Annelise comprou um novo caldeirão, até se depararem com a loja de animais.
— Ah, vamos entrar!
— Pra que?
As meninas entraram na loja, abarrotada de animais em grande variedade e com gaiolas até o teto.
— Preciso de uma coruja para me corresponder com papai.
— Temos um corujal em Hogwarts. Pode usar as corujas de lá. — Annelise olhava para um gato preto de olhos amarelos curiosos que a observava de volta.
— Isso é muito impessoal. Ah, olá, bonitinho! — Krystal enfiou o dedo pelo vão de uma das gaiolas, sorrindo docemente para uma coruja marrom.
A família Morgerstern tinha Gilly, mas desde que tudo acontecera Annelise não havia visto a coruja. Desconfiava que tinha sido morta em algum momento, mas preferia não pensar nisso. Haviam semanas que não sabia o paradeiro dela e toda vez que perguntava para Loki o elfo abria a boca num choro esgoelado.
Ela se aproximou da gaiola e acariciou o gato preto, que ronronou instantaneamente e deitou a cabeça em sua mão.
— Acho que vou ficar com você.

{...}

Krystal acabou comprando a coruja marrom e Annelise o gatinho preto. As duas saíram de lá agarradas à montes de sacolas com os materiais e abraçando a gaiola com os novos bichinhos, caminhando de volta para o Caldeirão Furado. Ao abrirem a porta e lutarem para passar com tantas coisas, no entanto, os olhos de Annelise encontraram alguém familiar.
— Blaze! — Arfou, dando um sorriso tão grande que suas bochechas doeram. Blásio estava sozinho numa mesa, bebendo cerveja amanteigada e lendo jornal. Ele ergueu os olhos e sorriu.
— Oi, Anne! Quanta coisa! — O menino levantou e rapidamente chegou até ela, parecendo alguns centímetros maior do que no ano passado. A abraçou e começou a puxar as sacolas da mão dela. — Vamos, eu te ajudo. — Estendendo a mão, Blásio alcançou uma sacola que tapava o rosto de Krystal e o agarrou.
— Ei! Meu cabelo!
Enquanto puxava a sacola, alguns fios do cabelo encaracolado de Krystal vieram junto. Blásio arregalou os olhos.
— Desculpe.
Os três sentaram-se na mesa onde ele estava e empilharam as compras em um canto, junto com os bichinhos. Blásio olhava para Krystal com um sorriso galanteador.
— E quem seria essa?
— Krystal Villewick. — Annelise falou, desconfiada. — É minha amiga de Ilvermorny. Se transferiu para Hogwarts.
— Que sorte a nossa, não? Blásio Zabini, ao seu dispor. — Krystal e Blásio sorriram largamente um para o outro enquanto Annelise bufava. O amigo se virou. — Como tem estado? Não soube de nada de você depois das aulas. Não te mandaram pra um orfanato pulguento ou algo assim? — O rosto de Blásio se fechou num risinho sarcástico.
— Orfanato? Por favor. — Ela riu. — Ah, não. Minha mãe deixou um documento que dava minha guarda pra Narcisa Malfoy, mas ela disse que eu poderia escolher entre morar com eles ou continuar em casa. De qualquer forma, é só uma coisa formal. — Discutir sobre como ficara orfã aos quinze anos de idade não lhe agradava, então olhou para Krystal buscando algum assunto para emendar na conversa. — Mas e você? Veio até aqui só para ler o Profeta Diário?
— Vim comprar meu material. Minha mãe inventou de trazer o novo namorado e ele é um porre, então dei a lista para ela e fiquei aqui enquanto eles foram comprar as coisas. — Blásio acenou para Tom, indicando seu próprio copo e erguendo dois dedos. — Vi Draco sozinho lá fora. — Comentou após o barman entender seu pedido.
— Também nos encontramos com ele. Pensei que Narcisa estava junto. — Annelise franziu o cenho.
— Ah, deve ter dado um jeito de escapar dela. — Ele riu, balançando os ombros. — Me disse que ia para a Travessa do Tranco.
— Sozinho? — Annelise arregalou os olhos. — Droga! — Ela escorregou para o lado, levantando do banco em seguida. — Blásio, não deixe a Krystal sozinha. Eu volto logo.
— Deixa comigo. — Ele piscou, paquerador.
Annelise saiu do Caldeirão Furado e subiu as ruas do Beco Diagonal, evitando contato com qualquer um que passasse em sua frente. Bateu a mão na capa, verificando se sua varinha continuava ali. Passou na frente da loja dos gêmeos Weasley, que era enorme, muito colorida e cheia de luzes, vendo Hagrid parado na porta de guarda. Imediatamente lhe ocorreu que Potter devia estar lá dentro e bufou, torcendo para que os dois não tivessem se encontrado. Subindo a rua com pressa, Annelise sentia o cabelo ricochetear em suas costas, quando com um susto pareceu ter esbarrado em alguma coisa. Ela se virou, puxando a varinha. A rua parecia estar vazia, somente ela ali no centro, olhando ao redor em pânico. Ao atestar que estava sozinha, se virou outra vez e entrou na Travessa do Tranco, que estava tão vazia quanto o Beco Diagonal. Olhou para as lojas, reconhecendo o cabelo louro de Draco dentro da Borgin & Burkes. Sem esperar, ela abriu a porta da loja que anunciou sua chegada com um sininho, atraindo a atenção do dono e de Draco.
— O que faz aqui? — Perguntou ele, rispidamente. Annelise revirou os olhos e parou ao lado dele, que suspirou e se voltou ao dono da loja outra vez. — O senhor sabe como consertar?
— É possível. — Respondeu o vendedor, com um tom inseguro. — Mas preciso vê-la. Por que não trás aqui?
— Não posso. — Draco argumentou. — Tem de ficar onde está. Só preciso que me diga como concertar.
Os olhos de Annelise passeavam pelas mercadorias, que lhe causavam leves arrepios. Virando-se um pouco e olhando para fora para se certificar de que ninguém os via, pensou ter visto um conjunto de apenas pés sozinhos na rua, mas quando esticou o pescoço eles haviam sumido. Franzindo o cenho, se voltou para os dois.
— Bom, sem ver, devo dizer que é uma tarefa muito difícil, quase impossível. Não posso garantir nada. — Borgin, o dono da loja, umedecia os lábios nervosamente.
— Ah, não? — Draco caminhou ao redor de um armário escuro, ficando fora da visão da rua. Puxou a manga do braço esquerdo e estendeu o braço, exibindo a Marca Negra. Annelise engoliu em seco, sentindo a sua própria por baixo da roupa. — Talvez isso lhe dê mais segurança.
— Draco! — Annelise arfou, em tom de aviso. Ele, no entanto, a ignorou.
— Comente isso com alguém e sofrerá o castigo merecido. — Ele saiu de trás do armário, a manga do blazer preto devolta no lugar. — O senhor conhece Fenrir Greyback? É um amigo da família e virá visitá-lo de vez em quando para verificar se o senhor está dedicando total atenção ao problema.
— Draco — Annelise chamou pela segunda vez.
— Tudo bem, Morgerstern. Nós já vamos. — Ele parou ao seu lado, seus dedos roçando levemente nos dela.
— Não há necessidade de... — Começou Borgin.
— Sou eu que decido. — Cortou Draco. — Nós vamos andando. Não se esqueça de guardar isso em um lugar seguro. Vou precisar dela.
— Talvez queira levá-la agora?
— Não, seu homenzinho burro! Como é que eu ficaria carregando isso pela rua?
— Não a venda. Deixe-a aqui. — Annelise interrompeu, num tom consideravelmente mais doce e paciente do que o de Draco.
— Como quiserem. — Borgin fez uma reverência para Draco.
— E nem uma palavra para ninguém, Borgin, nem mesmo a minha mãe, entendeu?
— Naturalmente, naturalmente.
Draco agarrou a mão de Annelise e a puxou para fora, andando tão rápido que ela sentiu algo esvoaçar perto de suas pernas. Quase na entrada da Travessa do Tranco, eles pararam.
— Como foi que me achou? — Draco perguntou, ainda com um tom ríspido.
— Que bom que te encontrei, você quer dizer? O que quer com aquele armário horroroso?
— É um armário sumidouro. — Ele murmurou tão baixo que ela mal o ouviu. — E você não precisa ser minha babá.
— Só quero te ajudar. — Annelise o encarou. Sabia bem que aquela atitude era resultado de um pânico crescente dentro dele, como se fosse um pequeno tumor, dia após dia ficando cada vez maior.
— Vai me ajudar se parar de se meter. Não quero que se coloque em risco. — Draco segurou seu rosto entre as mãos e beijou sua testa. — Por favor, Morgerstern. — Ela ergueu a cabeça e o beijou, se afastando no minuto em que ouviu saltos altos baterem na rua de pedras.
— Graças a Deus! — Narcisa vinha com sacolas nos braços, parecendo apavorada. — Ainda bem que está com Annelise. Pensei que estava por aí sozinho!
— Draco me viu passando e veio me cumprimentar. — Mentiu Annelise, sorrindo. — Acho que já vou indo. Krystal está esperando. Até logo! — Ela acenou para os dois e virou para a direção contrária, descendo a ruela enquanto cobria sua cabeça com a touca da capa.


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Notas finais do capítulo

Críticas, sugestões, elogios? São todos bem vindos! ♥
''Capítulo 3 - Ride'' só vai ser liberado com comentários :c
Gostaria de agradecer a todos que já estão acompanhando, fico muito entusiasmada e incentivada com vocês!
Até amores ♥



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