Poder e Controle II escrita por Anne


Capítulo 10
''Bel Air''




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Idol of roses

(Ídolo das rosas)

Iconic soul

(Alma icônica)

I know your name

(Eu sei o seu nome)

Lead me to war with your brilliant direction

(Conduza-me para a guerra com seus comandos brilhantes)

 

 

 Tudo começou quando ela abriu os olhos por volta das sete da manhã.

Acordou arfando, molhada de suor. Sonhou a noite inteira com Madeleine e Joseph, um sonho realmente horrível em que revivia a morte deles sem parar. Quando ela gritava, tudo parecia voltar no tempo: seu pai voltava para a cadeira e sua mãe era novamente amarrada ao teto, então os dois morriam de novo, e de novo, e de novo... Enquanto seu coração batia com força no peito e ela limpava algumas lágrimas do rosto, se virou na cama e deu de cara com um sereiano feio com o rosto grudado na janela do quarto, a encarando. Foi aí que ela berrou de susto e acordou o restante das garotas no quarto, além de assustar Salém que miou com raiva e pulou pelo quarto com as unhas esticadas e o rabo franzido.

Tomou um banho depois disso e secou os cabelos com um feitiço, mas tinha a sensação de ter sido atropelada por uma manada de centauros: não sabia dizer se era culpa dos montes de hidromel que havia bebido - fora as duas garrafas que surrupiaram da festa e terminaram de beber no Salão Comunal - ou se foi por ter dormido tão pouco e tão mal, com pesadelo a noite inteira.

Annelise se encarou no espelho: estava com o rosto inchado, olheiras e parecia que não dormia há dez anos. Seu cabelo, por mais que tivesse lavado, estava escorrido e sem vida, então ela o amarrou num coque no alto da cabeça e puxou alguns fios para caírem em seu rosto. Ajeitando o uniforme e fazendo carinho num Salém mau humorado, ela colocou a mochila nos ombros e saiu em companhia de Pansy para o Salão Principal. As duas meninas se sentaram na mesa e começaram a se servir.

— Bom dia. — Resmungou Blásio, se sentando ao lado de Annelise com uma expressão tão fechada quanto a dela. Pansy ergueu os lábios em resposta enquanto Annelise continuou encarando o fundo do prato.

— Parece que vocês se divertiram ontem. — Comentou Pansy, cortando seus ovos cozidos.

— Bastante. — Zabini sorriu fechado. — Mas só de lembrar do gosto do hidromel...

Annelise gemeu.

— Nem me lembre.

Theodore Nott caminhou pelo corredor na companhia de Crabbe e Goyle, sentando-se junto com os outros e rapidamente se servindo de bacon.

— Slughorn sabe como dar uma festa. — Disse ele, parecendo absolutamente bem comparado à Annelise e Blásio. — Greg, me passe esse tomate grelhado.

Annelise e Blásio, principalmente, passaram o café da manhã todo no mais sofrível silêncio e comendo o dobro do que costumavam, falando o mínimo com os colegas na mesa. Quando acabou, ela se despediu de todos com a voz rouca e subiu as intermináveis escadas até a sala de Aritmância no sexto andar. Enquanto se afundava numa carteira no fundo da sala - diferente da usual terceira cadeira - e abria o livro ''Nova Teoria de Numerologia E Propriedades Mágicas: descobrindo o interior'' ela se pegou imaginando o que não daria para estar dormindo em sua cama macia nas masmorras. Quase imperceptivelmente, deitou a cabeça na mão e fechou os olhos por cinco minutos e só os abriu novamente quando a sineta tocou indicando o fim da aula.

Ela pulou assustada e encarou o livro aberto na mesa: uma marca de baba marcava a página 67. Com um aceno da varinha, Annelise se livrou da marca incriminatória e começou a guardar suas coisas torcendo para sair despercebida da sala.

— Senhorita Morgerstern. — Chamou a professora Vector, em pé ao lado da lousa lotada de números. A maioria dos alunos saia da sala e alguns poucos guardavam seus materiais. — Menos dez pontos para a Sonserina. Só não será mais pois a senhorita é minha melhor aluna e nunca cometeu esse tipo de desrespeito em minha sala. Mas esteja avisada que esse tipo de comportamento não será tolerado outra vez. — Sem esperar por resposta, a professora lhe deu as costas e retornou para sua própria mesa.

Annelise saiu da sala se sentindo ainda pior, extremamente cansada e agora estressada por ter dormido sem querer na aula. Cruzava o corredor para chegar até as escadas e ir para a aula de Feitiços quando viu Theodore Nott sair da sala de Runas Antigas com dois livros sob o braço. O garoto sorriu e esperou que ela o alcançasse.

— Tenho uma coisa pra você.

— É mesmo? — Annelise o encarou, curiosa.

Theodore olhou para os lados e liderou o caminho até um armário de vassouras, abrindo a porta e entrando dentro dele. Ela o seguiu ligeiramente desconfiada e fechou a porta. O armário de vassouras nada mais era do que um espaço escada circular que descia até dar num local pequeno onde estavam guardados produtos de limpeza. Tinha uma janela grande que deixava tudo iluminado e archotes que estavam apagados. Theodore abriu sua mochila e tirou um pequeno frasco com uma tampa de rolha e estendeu a ela.

— É uma poção revigorante. Pedi pro professor Slughorn.

— Por isso você está bem? — Ela riu, cheirando a poção e tomando-a em seguida. Os efeitos foram quase instantâneos: seus olhos pareciam mais abertos e concentrados, o corpo foi inundado por energia e bem estar e seu cérebro parecia pronto para ler todos os livros da biblioteca.

Theodore sorriu em resposta e os dois se encararam por uns dois minutos em silêncio.

— Então... Ahn, Feitiços? — Annelise quebrou o silêncio.

— É! É verdade... vamos!

Os dois abriram a porta e saíram juntos, correndo pelo corredor até a escada. Começaram a apostar corrida no quinto andar e riam alto pelos corredores já vazios - a sineta já havia tocado. Annelise alcançou o primeiro degrau da escada que levava ao quarto andar, mas antes que pudesse começar a descer, Theodore passou os braços por sua cintura e a levantou no ar, colocou-a para trás e desceu correndo. Annelise gritou e foi atrás dele, rindo tão alto que os quadros começaram a acompanhar os dois. Ainda corriam quando alcançaram o terceiro andar e Theodore bateu as mãos na porta da sala de Feitiços, fazendo toda a turma da Grifinória e da Sonserina se virarem para os dois. O professor Flitwick se interrompeu, em cima da pilha de livros, e olhou os dois.

Foi quando Annelise notou os olhares dos alunos e observou Theodore: sua gravata estava torta, os cabelos bagunçados, o rosto avermelhado e ligeiramente suado. E, considerando o calor em suas próprias bochechas, ela não devia estar diferente.

— Professor Flitwick, desculpe o atraso. — Começou Theodore, ainda parado na porta.

— Que isso não se repita, Nott e Morgerstern. Menos vinte pontos para a Sonserina. Entrem.

Os dois entraram e fecharam a porta da sala, procurando por lugares vagos: encontraram duas carteiras lado a lado no fundo da classe e se sentaram rapidamente. Blásio virou o rosto para eles e sorriu maliciosamente. Annelise correu os olhos pela sala.

— ... e é diferente de Lumos, pois Lumos acende somente a ponta de sua varinha e Claram Lucem conjura uma esfera poderosa de luz capaz de iluminar um local grande, como o Salão Principal, por exemplo. — O professor continuou como se nada tivesse acontecido.

Draco não olhava para os dois: mantinha os olhos fixos no pergaminho em sua mesa e corria sua pena por ele. Estava sentado sozinho.

Annelise mordeu o lábio e suspirou, tirando seus materiais da mochila.

 

 

Annelise adicionou uma carta no monte e fez careta, mas o baralho não explodiu.

— Aha! — Comemorou, rindo de Blásio. — Sua vez, Zabini.

Ela, Blásio e Crabbe jogavam Snap Explosivo, Pansy terminava uma redação de Transfiguração junto à janela, Theodore também fazia dever de casa numa mesa afastada e Goyle e Draco estavam desaparecidos.

Blásio gemeu e se encolheu ao colocar uma carta na torre, mas mais uma vez, nada aconteceu. Annelise e ele olharam para Crabbe com graça.

— Saco!

— Vamos, Vince... — Um sorriso maldoso se espalhou nos lábios de Blásio.

Crabbe colocou a carta e o castelo que estavam construindo explodiu em chamas, fazendo o garoto saltar para trás. Os outros dois gargalharam quando Crabbe apagava o fogo em suas sobrancelhas.

— Ora, não fique tão bravo! — Annelise acenou com a varinha, recuperando as sobrancelhas do garoto. — Podia acontecer com qualquer um de nós.

Mas ele só bufou.

— Que falta de espírito, Crabbe! — Zombou Pansy de longe.

— Ah, cala a boca! — Retrucou ele, batendo cinzas da camisa branca do uniforme.

Annelise e Blásio riram outra vez e viraram o rosto para as portas pesadas do Salão Comunal, que haviam acabado de se abrir. Draco passou por ela, parecendo ainda mais pálido do que o normal. Se jogou no sofá ao lado de Annelise e suspirou longamente.

— Annelise, precisamos conversar.

— Certo. — Respondeu ela, fitando-o.

— Já. — Draco se levantou outra vez e não a esperou.

Ela o seguiu: subiram os degraus que levava até as portas, passaram por elas e avançavam pelas masmorras até Draco abrir a porta de uma sala desativada. Parecia ser um antigo local de torturas e, quando eles entraram, o garoto fechou a porta e lançou um Abaffiato nela. Ele se virou e Annelise instintivamente deu um passo para trás.

Draco riu, descrente.

— O que você esperava? — Ela se defendeu. — Me trouxe para uma sala com correntes!

Ele se sentou num banco velho e torto de madeira e Annelise se sentou ao seu lado.

— Preciso te explicar uma coisa para você entender outra.

— Está bem. — Ela o analisou: as olheiras estavam arroxeadas e sua pele extremamente pálida. Se perguntou se ele andara dormindo.

— Quando eu estava no primeiro ano, o Lorde das Trevas encontrou meu pai. Ele estava... fraco. — Começou Draco, com a voz baixa. — Entregou a ele um diário, mas não havia nada escrito lá. Só o que disse foi que o diário tinha poder de abrir a Câmara Secreta. Conhece a lenda?

— Conheço. — Annelise assentiu, sem piscar.

— Bem,  o Lorde das Trevas disse que era tarefa do meu pai e do seu cuidarem do diário. Como ele desapareceu e não deu mais notícias, pensaram que ele estava morto, pois quando o viram realmente... era... menos que homem. — Ele limpou a garganta. — Então eles resolveram usar a informação que tinham sobre a Câmara Secreta e implantaram o diário numa aluna. Ela o trouxe para a escola.

— E deu certo, não é? Eu me lembro da minha mãe estar feliz por ter me mandado pra Ilvermorny. — Annelise respondeu pensativa.

— Deu certo por um tempo, até Potter encontrar o diário e destrui-lo. O que meu pai e o seu não sabiam era que... você sabe o que são horcruxes, Annelise?

— Sei — A voz dela saiu como um fio.

Soubera o que era uma Horcrux só naquele ano, durante as férias: com a morte de Joseph, Annelise estava livre para fuçar em seu escritório e se lembrava de ter lido sobre aquilo num livro de artes das trevas.

— Enfim, eles não sabiam que o diário era uma horcrux do Lorde das Trevas. — Draco já não olhava mais para ela: seus olhos estavam fixos num ponto da sala. A informação não chegou com surpresa, mas não impediu que ela arregalasse os olhos e começasse a entender tudo. — Se eles soubessem, teriam cuidado do diário. Teriam escondido. Mas não sabiam. — Ele suspirou. — E por um tempo, isso ficou sem ser conversado... até Milorde decidir perguntar à eles sobre o diário. Quando soube o que aconteceu... eles foram severamente castigados, mas o Lorde das Trevas deixou claro que aquela ainda não era a punição. Disse que, porque ele tinha perdido um pedaço dele, Joseph também iria perder. Então, ele mandou que o Sr. Morgerstern matasse você e sua mãe.

Ele parou de falar e ergueu os olhos para ela. Annelise não reagiu de outra forma a não ser assentir lentamente e engolir em seco.

— E ele não o fez.

— O Lorde das Trevas ficou furioso quando ele se recusou a matá-las, principalmente por não ter pensado duas vezes antes de erguer o rosto e dizer 'não'.  Então, mandou trazerem você aqui. Ele lhe daria uma missão e assistiria você tentar realizá-la...

— Mas eu não consegui. E ele esperava por isso.

— Sim. E enquanto você falhava, ele obrigava o seu pai a torturar a Sra. Morgerstern. Os seus pais sabiam que acabariam mortos. E Milorde também sabia que as chances de você conseguir eram improváveis. Eles tiveram meses de agonia, pois realmente teriam vivido se você conseguisse.

— Só que eu não tinha chance alguma. — Ela riu sem humor, sentindo lágrimas pingarem em sua pele.

Draco engoliu em seco e segurou o pulso dela gentilmente, puxando a manga da camisa branca e revelando a Marca Negra. Os dois fitaram o desenho por alguns segundos, então Draco puxou a própria camisa e revelou a dele.

— E quando tudo acabou, o Lorde das Trevas informou que era a vez do meu pai. Ele já estava furioso pelo diário e quando descobriu que meu pai havia te marcado sem ordens, ficou ainda mais furioso. Pra completar, papai foi preso. Então...

— Ele te deu a sua missão. — Draco assentiu, quieto. — Mas a sua... é imensamente mais difícil. Por que?

— Porque ele sempre esperou mais do meu pai. E quando as coisas começaram a dar errado nas mãos dele, o Lorde não ficou satisfeito. — Ele abaixou a cabeça, pensativo, mas logo a olhou outra vez. — Preciso matar Dumbledore e tudo o que faço dá errado. Então decidi seguir pelo meu último plano, mas estou falhando... — A voz dele ficou rouca. — Se Dumbledore não estiver morto até junho... eu vou morrer. E meus pais também.

Annelise se inclinou para a frente e deitou a cabeça no ombro dele.

— Me diz o que você precisa, Draco. Vou te ajudar.

— Eu não pediria se não estivesse... — A voz dele se perdeu num silêncio agoniado.

Desesperado, era a palavra que ele ia usar. Com medo. Profundamente aterrorizado. E Annelise entendia.

— Estou do seu lado. — Ela murmurou, sentindo-o a abraçar com força.

— Eu pensei... pensei em ficarmos no Natal. Vou falar com Blásio, Pansy e Nott. Crabbe e Goyle já sabem que preciso fazer uma coisa para o Lorde das Trevas. Não vou dizer o que é, mas pedirei ajuda.

— Eles vão te ajudar. Sei disso. Vai dar tudo certo.

E Draco e Annelise continuaram naquela masmorra por pelo menos uma hora. Mas essa hora se passou sem que eles dissessem mais nada: continuaram sentados, lado a lado, contemplando o vazio.


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Notas finais do capítulo

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