Era outono, o clima estava perfeito para mim, nem muito frio, nem muito calor. Eu ainda podia usar roupas mais estilosas — como aquela jaqueta que custou metade da minha mesada —, sem derreter de calor com elas, mas também não estava congelado.

— Meu fone quebrou. — Olhei para o lado, vendo meu amigo com uma expressão triste no rosto.

— Nossa, Edward, eu sinto muito — falei sinceramente.

Meu melhor amigo suspirou alto, olhando com pura tristeza para os fones de ouvido em suas mãos.

— É o segundo do mês — contou cabisbaixo. — Eu não dou sorte mesmo.

— Para de ser dramático, Edward. — Tirei um dos lados do meu fone, estendendo para ele que estava sentado junto de mim no banco do metrô. — Toma, escuta música comigo — ofereci, já que ainda tínhamos um bom tempo até chegarmos a nossa estação.

— Não dá, você só escuta esses carinhas de boy band.

— 5 Seconds of Summer não é uma boy band — me defendi do seu tom crítico. — Além do mais, para que fique claro, eles são muito bons!

— Seu gosto me assusta, Bells — acusou, com um sorrisinho no rosto.

— Vai querer ouvir música ou não?

— Vou, vou — ele topou, pegando o lado do fone que tinha estendido para ele. — Hey, isso não é a boy band, é Vance Joy! — exclamou orgulhoso.

— Pois é, se você fosse mais gentil e não me criticasse eu teria dito antes que estava escutando o álbum que você me indicou.

— Essas músicas são maravilhosas! — Edward exclamou, fechando os olhos, apreciando a música.

Também fechei os meus olhos, me concentrando nas músicas. Não era nada bom escutar música com só um lado dos fones de ouvido, mas eu podia fazer aquele esforço por Edward. Afinal, ele fazia vários esforços por mim, desde me ajudar a estudar para história — que eu era péssima — como fazer para mim a lasanha mais gostosa do mundo.

Mais tarde nós deixamos o metrô, Edward e eu éramos vizinhos. Já tínhamos dezessete anos, nos conhecíamos desde nossos catorze anos quando ele mudou para a casa ao lado da minha, nossa amizade começou quando seguíamos juntos todos os dias para a escola, e quando ele começou a ensinar meu irmãozinho a jogar basquete.

— Vai ser uma longa noite sem fones de ouvido — ele falou quando entramos na rua das nossas casas.

— Pois é, espero que você sobreviva a essa tragédia. — Sorri para ele, que sorriu de volta para mim.

— Você bem que podia me emprestar o seu por essa noite, não?

— Não! — Ele riu, eu pisquei para ele, correndo em direção à minha casa. — Boa noite sem música, Edward — gritei da porta.

— Bells?

— Sim?

Edward cruzou o jardim de sua casa, o que deixaria sua mãe louca se visse. Meu amigo parou diante de mim, ele colocou suas mãos no bolso da calça, inclinando seu corpo um pouco mais para frente.

— Que tal se amanhã você for comigo ao shopping comprar fones novos?

— Tudo bem por mim.

— E que tal se depois nós fossemos ao cinema?

— Parece ótimo, devíamos chamar todo o pessoal para assistirmos Halloween uma segunda vez.

— Na verdade — ele disse ansioso. — Queria que fosse só nós dois.

— Tudo bem...

— Queria que fosse só nós dois... Sabe... Como um encontro — sussurrou a última parte, me fazendo deixar cair o meu fone no chão.

Edward se abaixou rapidamente para pegá-lo.

— Cara, se o seu quebrar a gente tá ferrado no caminho para a escola amanhã, toma cuidado — aconselhou.

— Vo-Você me chamou para um en-encontro?

— É, chamei. — Ele corou. — Mas, eu juro que vou entender se você não quiser, mas... Sei lá, eu gosto bastante de você. Não sei se a gente daria certo nesse sentido, então, é, eu sei lá. Você gosta de mim?

— Eu dividi meus fones com você — respondi o óbvio.

Edward sorriu largamente.

— Isso é uma gigantesca prova de amor.

— É, pois é — eu ainda estava confusa com tudo aquilo. — Te vejo amanhã, o encontro está de pé — falei rapidamente, logo entrando em casa.

Parei por um minuto no lado de dentro, com as costas apoiadas na porta. Até que decidi ir ver Edward na casa dele, conversar melhor e quem sabe roubar um beijo antes do nosso encontro no dia seguinte.

Abri a porta, deparando-me com Edward ainda do lado de fora. Em suas mãos, meus fones.

— Acho que esqueceu isso.

Eu sorri, pegando da mão dele. Me aproximei de Edward e lhe beijei por um segundo, apenas o suficiente para meu coração acelerar.

— Até amanhã — sussurrei ao me afastar.

— Até amanhã — ele disse de volta, muito corado.

Eu entrei em casa, fechei a porta e soltei um gritinho. Enquanto plugava o fone em meu celular, já escolhendo uma música para chamar de minha e de Edward.

***

Ele beijou minha bochecha, fazendo com que eu sorrisse. Os lugares mais próximos da gente ficaram vagos, então nós dois sentamos neles. Automaticamente pegamos nossos celulares e fones de ouvido, para que pudéssemos ouvir música.

Eu Vance Joy. Ele 5 Seconds of Summer. As coisas tinham mudado, tínhamos até uma playlist conjunta no Spotify, nomeada Edward & Bells.

— Ah não — Edward reclamou.

— O que foi?

— Meus fones quebraram!

— Cara, você tem alguma maldição, só pode — eu falei rindo, já passando um lado do meu fone para ele. — Seus fones não duram nem dois meses.

— Ok, certo. Mas, ao menos eu tenho você para me salvar, namorada — falou com convencimento, beijando meus lábios.

— Eu sempre dividirei meus fones de ouvido com você, namorado.

Faria isso quantas vezes fosse necessário, pois sabia que ele sempre dividiria os deles comigo. Eu estava certa, nós dividimos um bocado de coisas ao longo da vida. Apartamentos, casas, contas, fraldas sujas, cafés da manhã, discussões e eu perdi a conta de quantos fones de Edward quebraram.