Mudança de Hábito escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 3
Tudo que é bom começa com lamen!


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, pessoal, no ponto de vista do Naruto. Espero que gostem! :D



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Uzumaki Naruto era uma pessoa hiperativa, de hábitos duvidosos e com uma péssima alimentação. Não era difícil agradá-lo, é claro, bastava lhe convidar para comer lamen e beber um pouco de sakê, que ele havia aprendido a beber aos treze e apreciar após os dezesseis por conta de Jiraya.

Ele possuía uma rotina bastante agitada desde que havia se tornado um herói após a Guerra, o que tornava a sua agenda lotada, com compromissos que muitas vezes preferiria evitar. Como, por exemplo, reuniões diplomáticas onde ele precisava apertar as mãos de daimyous que sequer faziam ideia do que se passava em vilas pequenas. Pois Konoha era próspera apesar de todas as baixas que havia sofrido. Mas existiam pequenas vilas como a do algodão que sequer possuíam subsídios. E ele odiava ter que bancar o herói sorridente para eles, mas Kakashi insistia que aquilo era necessário.

Por um futuro melhor, insistia o sensei.

E Naruto acatava, porque começava a ver com outros olhos o que significava aquela realidade sofrida. Viajando de vila em vila como emissor ao lado de Shikamaru, enxergando um mundo que antes achava conhecer, mas tudo o que havia passado na infância era apenas a ponta do iceberg que podia muito bem ter sido o responsável por afundar o navio. Como naquele filme que havia assistido certa vez na companhia de Sakura e Ino e no qual havia dormido menos de vinte minutos depois.

Mas foi também com aquelas duas – e sobretudo com Ino – que aprendeu o prazer de criar flores. Porque sua mãe, Kushina, adorava isso. E ter algo em comum com ela fazia com que Naruto se sentisse mais próximo a ela, mesmo que nunca tivesse, de fato, a conhecido. Exceto por aqueles poucos momentos.

Então, quando precisava fazer viagens muito longas ou saía em missões muito extensas costumava deixar alguém cuidando de seu canteiro. Mas saíra de última hora e com Ino realizando uma temporada em Suna para guiar as frentes médicas e montar uma escola de medicina por lá, e com Sakura viajando pelo mundo com Tsunade, não havia muitas pessoas que pudessem fazer isso por ele. Pois não imaginava Kiba e Akamaru fazendo nada se não destruir seu canteiro. E Shikamaru achava problemático demais lidar com plantas. Teve que arriscar a sorte.

E qual não foi sua surpresa quando, ao chegar de mais uma missão exaustiva e cheia de dialéticas tão complexas que não conseguia acompanhar a metade do que era dito, encontrar alguém mexendo em seu jardim. Não um qualquer-alguém, mas aquela alguém.

Encarou com certa confusão as costas de Hyuuga Hinata, os cabelos azulados caindo pelos ombros, um pouco mais longos do que da última vez do que havia visto, fugindo de seu quintal quando gritou achando se tratar de um ladrão.

Mas a pergunta que o atingiu como um raio quando deu-se conta de sua situação – e que ela estava mesmo afanando suas flores! – era: o que Hinata estava fazendo ali?

Demorou um tempo, é claro, para conseguir fazer luz aos próprios pensamentos a respeito daquilo. Sabia que Shino e Kiba moravam nos subúrbios, próximos à sua casa. O casal de amigos havia se mudado há pouco tempo e Naruto inclusive os ajudara a escolher um local com quarto extra visto que pensavam em adotar uma criança no futuro, ponto que Kiba segredou para Naruto fazendo ele jurar de dedinho que não contaria a ninguém!

E, bem, ele cumpriu a promessa. Já seus kage bushins...

Mas ela havia corrido para a casa vizinha, desocupada há algum tempo por um casal que havia se mudado para o País do Vento. Somente então Naruto notou que o quintal estava bem cuidado, limpo e que a entrada da casa continha um tapete de boas-vindas além de a casa possuir uma coloração diferente da anterior.

Naruto por vezes era lerdo, não percebia quando as pessoas expressavam seus sentimentos – ainda que abertamente – e agia como um tapado. Mas até ele era capaz de somar dois com dois e descobrir que Hinata estava morando ali! Fato que não foi muito difícil ao visitar a casa Inuzuka-Aburame e concluir, através das fofocas de Kiba, que ela havia mesmo se mudado para o seu lado!

Não quis saber muito mais que isso, embora sua curiosidade estivesse aguçada. Se Hinata quisesse, lhe contaria ela mesma. Aliás, sentiu-se extremamente encabulado lembrando-se de todos os encontros e desencontros que haviam sofrido após a guerra.

A morte de Neji instalara-se entre eles como uma pedra e sinceramente a única coisa que os unia era aquilo. Pois sempre encontravam-se no túmulo dele para deixar flores – as de Naruto, trazidas do próprio canteiro. As de Hinata compradas na floricultura Yamanaka.

Nunca conversavam muito, as palavras sempre pareciam faltar para eles. Mas tinham a companhia um do outro. E relembravam os momentos de Neji em suas vidas, o jeito sério que foi se tornando ameno. Falavam sobre os próprios times. Evitavam o assunto Sasuke após ele partir, mas falavam do atualmente. De como ele parecia estar se redimindo ao viajar pelo mundo enquanto deixava sua assinatura por onde quer que passasse, a própria Hinata revelando sobre certa vez que ele salvara seu pai.

Mas agora ela estava ali, ao lado de sua porta, e Naruto havia permitido que um momento de constrangimento estragasse tudo! Como poderia? Não! Hinata sempre fora bondosa e gentil consigo. A primeira pessoa a acreditar nele quando todos zombavam de seus sonhos. Sonhos estes que pareciam mais próximos do que nunca já que, aos poucos, Kakashi vinha delegando funções a ele e pedindo que Shikamaru lhe acompanhasse no processo. Mas nada era certo.

Pequenos passos, Kakashi dizia muito sabiamente. E, por incrível que parecesse, Naruto vinha aprendendo a respeito da paciência desde que havia começado a treinar com Jiraya.

Mesmo que na maioria das vezes, ainda fosse impulso mal pensado.

Mas ele sabia que no passado, de alguma forma, havia falhado com Hinata. Em não dar-lhe ao menos uma satisfação que fosse, por mais tapado que pudesse ser. O que sua mãe lhe diria se estivesse ali?

‘Provavelmente puxaria a sua orelha e diria o quanto você é bunda-mole, moleque.’, Kurama riu de sua cara. Ele, Uzumaki Naruto, o ninja mais hiperativo de Konoha. Herói da Guerra. Motivo de chacota.

− O-oe, Kurama! – Trincou os dentes. – E o que eu devo fazer?!

Sentiu o estômago roncar. Não havia nada na despensa que prestasse além de um leite que parecia estragado e de uma carne que, bem, estava verde.

‘Comece pelo estômago, Naruto-baka.’

A princípio, Naruto não entendeu. Então fez sentido para ele.

X

Hinata havia começado a separar os vegetais para fazer o jantar daquela noite. Ainda se sentia atordoada em saber que Naruto era o seu vizinho misterioso! Desde quando ele gostava de flores? Ela não fazia a menor ideia. Mas era um lindo canteiro. Talvez não tivesse morrido mesmo com os dias de descuido, mas Hinata sentiu-se especialmente feliz por ter cuidado daquelas flores.

Ainda assim, sentia-se embaraçada e envergonhada demais! Como poderia encará-lo agora? Depois de ter afanado suas flores sem motivo aparente?

Deveria chegar e pedir desculpas pelo ocorrido? Talvez preparar-lhe um bolo como pedido de desculpas?

Não sabia bem como a política da boa vizinhança funcionava nesses casos, mas ainda não estava preparada para encará-lo daquela maneira. O máximo de interação que haviam tido ao decorrer desses três anos após a guerra se resumiam aos encontros furtivos no túmulo de Neji, sempre no aniversário de sua morte.

Mas nada sobre sua declaração fora dito ou citada. Ele claramente não lhe correspondia.

Deveria seguir em frente, é claro, mas as obrigações do clã a privaram de tentar ter um relacionamento saudável. Até que as abdicou, esperando apenas o momento oportuno que seria próximo ao aniversário de dezoito anos de Hanabi.

Agora a sua prioridade era outra: ingressar na ANBU e seguir a vida como kunoichi. Deixar o resto acontecer em um momento oportuno. A presença de Naruto como uma pessoa próxima havia sido uma revirada e tanto do destino! Não sabia o que fazer!

Por fim, decidiu-se que não poderia ficar ali para sempre. Talvez oferecesse um obento como forma de trégua. Depois, poderia fazer um bolo.

Estava prestes a começar com os preparativos quando ouviu a campainha tocar. Tomou um susto! Nem precisou ir até a porta para saber que aquele chakra intenso pertencia à Naruto. Através do byakugan podia ver o chakra da Kyuubi que corria em seu corpo junto com o próprio.

− Oe, Hinata-chan, sei que está aí. – disse ele, do outro lado da porta. – Não a vi saindo desde a noite anterior e não tenho motivos para crer que foi a lugar algum. Se não quiser falar comigo... se não quiser falar comigo, apenas me escute, tá bom?

Hinata aproximou-se da porta. Ciente da própria respiração. Ciente de que Naruto talvez pudesse ouvi-la.

− Eu... obrigado por ter cuidado do meu jardim na minha ausência. – Começou a conversa. Céus, era realmente péssimo naquilo! – Tudo bem ter pego algumas flores, ‘te bayo. Pode pegá-las sempre que quiser.

Hinata remexeu os dedos. Uma péssima mania que possuía sempre que ficava nervosa. O coração no peito batia a mil. Imaginou se ele diria mais alguma coisa.

− Não fui um homem com você. – Cortou o silêncio após alguns minutos, como se dizer aquelas palavras fosse difícil demais. – Fugi da sua declaração como um covarde, pois não sabia o que fazer com ela. Era mais fácil me esconder do que encarar essa verdade. Porra, Hinata. – Ele coçou a nuca, um pouco sem jeito. Hinata abafou um risinho. – Eu não sei fazer essas coisas, nunca fui romântico. Nunca tive alguém pra me ensinar isso e... Ero-sennin e Kakashi-sensei não são bons exemplos.

Hinata sentiu a tristeza na voz de Naruto ao citar Jiraya. Sabia como o sennin havia sido importante na vida dele. E perdê-lo havia sido um golpe difícil para Naruto superar. Estava prestes a abrir a porta quando o ouviu prosseguir:

− Eu quero fazer as coisas direito dessa vez. Com direito a encontros idiotas e filmes românticos. – Virou de costas. Hinata, o byakugan ainda ativo, captava cada pequena alteração em seu chakra. – Não sei se sei fazer essas coisas, então vai depender muito de você. Mas quero fazer certo. Porque demorei muito tempo refletindo e o Kurama me chamou de idiota, mas ele tem razão. Já faz um tempão que tento criar coragem e encarar o clã, porra! Mas seu pai é assustador pra um senhor caralho!

Hinata abriu a porta, encarando-o agora. Naruto estava corado! Adoravelmente corado!

− Saia comigo, Hinata-chan.

− Como em um encontro? – perguntou, apenas para ter certeza de que não vivia um sonho. De que aquilo era real.

− Como em um encontro. – Naruto estendeu a ela uma de suas mãos. – Sei que demorei tempo demais. Sou um tapado. E vou entender se tiver seguido em frente ou se não me quiser como nada além de um amigo. Mas te vi no meu jardim e me lembrei de todas as vezes em que nos encontramos no túmulo de Neji. E em todas as oportunidades que perdi em dizer como realmente me sentia. Por tudo o que você fez por mim. Por você ter acreditado em mim.

Parecia bom demais para ser verdade. Hinata beliscou a si mesma, ato que fez o Uzumaki se sobressaltar quando ela repetiu o mesmo consigo.

− Itte! Por que fez isso?! – exclamou.

− Queria saber se era real. Se não era um sonho ou se você não era um bushin do Kiba-kun me pregando uma peça.

Naruto deu uma gargalhada gostosa. E Hinata pensou que ele era como o sol.

− Seu byakugan estava ativo!

− Quis ter certeza.

A mão dele ainda estava estendida em sua direção. Hinata a segurou.

− Eu estava começando o jantar.

Naruto negou com a cabeça.

− Se vamos começar, faremos isso direito. Como meus pais fizeram.

Hinata arqueou as sobrancelhas, sentindo os dedos de Naruto se fecharem sobre os seus. Sua mão era morna como o chakra que emanava. E cheia de calos. Hinata gostou de como se encaixava perfeitamente com a sua. E da sensação correta que aquilo lhe trazia.

− E como foi? – perguntou, um tanto curiosa. Naruto fechou a porta da casa, Hinata não se preocupou em trancar com chaves pois a vizinhança era tranquila e os insetos de Shino estavam sempre por perto para garantir sua segurança. Ela sabia.

− Oras, Hinata-chan, da melhor maneira que pode ser! – Ele abriu um largo sorriso para ela como se fosse óbvio. – Com lamen!

Um sorriso suave tomou conta de suas feições enquanto caminhavam.

Hyuuga Hinata costumava ser a herdeira do clã Hyuuga. Havia desistido de sua posição para seguir sua própria vida, caminhar para os próprios sonhos. Havia sido aprovada para a ANBU e agora ia a um encontro com o ninja mais hiperativo de Konoha e o amor de sua infância.

É, para alguém que havia saído de sua casa com o pé direito, parecia que as coisas iam bem. E, segundo Uzumaki Naruto, tudo o que é bom se inicia com lamen.

Hinata acreditava nisso.

E, acima de tudo, acreditava nele. E no amor que florescia em canteiros de jardins onde certas garotas roubavam flores para prensá-las.


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim, infelizmente! Essa fic foi uma delícia de escrever, tão simples e fácil que eu me sentia alegre ao digitar seus capítulos! Foi curtinha, mas ela foi feita de coração e eu espero que cada leitor sinta isso!

A verdade é que enquanto escrevia, me deu esse desejo de escrever mais e mais, mas como estou com muitas fics em aberto, eu decidi concluir essa por agora e deixar aqui uma pergunta para vocês: o que achariam de uma continuação com Hinata ANBU e Naruto se encaminhando em seus primeiros passos como Hokage? Confesso, não esperava essa recepção maravilhosa nessa fic e me deixou muito feliz! Também gosto de trabalhar uma Hinata independente, mas que ao mesmo tempo pode correr atrás do amor dela sem que a vida gire em torno disso.

Espero que vocês curtam esse final fofinho e cheio de doce e lamen!

Vejo vocês nos comentários!