Provocações escrita por Artemis Stark


Capítulo 5
Capítulo 5




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Capítulo 05

Acordou sem saber onde estava. Sentia o corpo doendo. Sua cabeça latejava. Tentou se levantar, mas não conseguia.

— Melhor ficar deitado – um rosto preocupado surgiu sobre o dele. Jorge.

— Onde estou? – perguntou, confuso.

— St. Mungus. A guerra acabou. Harry conseguiu matar Voldemort. O que está sentindo? Onde dói?

— E Hermione? Onde está Hermione?

— Acalme-se, Fred. Primeiro vou chamar um medibruxo para ver como você está.

— Foda-se como estou, Jorge! Eu estou vivo! O que está escondendo de mim? – Nesse momento Molly e Arthur entraram no quarto.

— Oh, meu filhinho! Você finalmente acordou! – Molly disse. Arthur sorriu e saiu para chamar um medibruxo. A matriarca chorava, lágrimas de alívio.

— Alguém pode me explicar o que houve?            

— Do que você se lembra? Está sentindo alguma dor? – o medibruxo perguntou ao entrar no quarto.

— Minha cabeça dói e todo meu corpo...

— Tome essas poções – Fred sentou-se com a ajuda de Jorge.

— Eu não quero. Elas me farão dormir. Quero saber o que houve com Hermione. E Gina? Rony? E...

— Nossa família está bem – Arthur falou – Tivemos algumas perdas como Remus e Tonks. Muitos estudantes... – Fred jogou o vidro de poção contra a parede. O medibruxo afastou-se e saiu do quarto.

— Parem de enrolar! – Seu coração acelerado. Ele olhou para Jorge com firmeza – Me conte.

— Do que você se lembra? – O gêmeo perguntou. Fred fechou os olhos, puxando da memória suas últimas lembranças.

— Encontramos com Hermione em um dos corredores. Ela, Ron e Harry estavam bem. Então, houve uma explosão e tudo ficou escuro.

— Rony estava atrás de vocês. Ele lançou um feitiço para afastá-los, mas não foi suficiente. A parede de Hogwarts caiu sobre vocês.

Assim que saiu do seu estado de estupor, Rony começou a ajudar os irmãos e o amigo. O corpo de Fred estava virado para baixo, torcido de maneira estranha. Encontram Hermione sob o corpo dele. Jorge e Percy puxaram Fred, enquanto Rony e Harry pegaram Hermione.

— Eu não sinto o pulso dela, eu não sinto o pulso dela – Ron repetia em voz baixa – Fred? E Fred?

— O pulso está fraco – Percy falou. Jorge tinha os joelhos apoiados no chão e tinha a cabeça de Fred sobre seu colo.

— Malfoy... – Harry falou ao ver o loiro. O rapaz encarava o corpo machucado e desacordado de Hermione – Agora não é hora. Vá embora daqui!— Draco olhou ao redor e entendeu o que havia acontecido. Aproximou-se do grupo. Ron segurava Hermione, todas as varinhas apostadas para o sonserino. Em silêncio, ele ajoelhou-se.

— Malfoy... – o tom de Rony era ameaçador, apesar dos olhos lacrimejantes.

— Eu posso ajudar. É o pagamento da minha dívida – sua varinha foi para o peito da grifinória. O polegar de Rony esperando, procurando por algum sinal de pulso. Alguns segundos depois, ele disse com a voz fraca:

— Eu sinto o pulso... – antes que qualquer um pudesse agradecer, Draco Malfoy levantou-se e continuou seu caminho.

— Preciso vê-la.

— Fred... – Jorge falou – Você está desacordado há três dias. Hermione... Ela...

— Ela morreu? – Silêncio. Fred sentiu as lágrimas se formando – Respondam de uma vez!

— Fred, - Molly falou com a voz calma – Ela está viva, mas... – Ignorando a dor ele saiu de sua cama, sendo aparado por Jorge.

— Qual o quarto? – Perguntou, sentia dor, mas estava determinado a entender o que estava acontecendo.

— Eu te levo lá.

Rony e Harry estavam ao lado da cama dela, os dois abraçaram Fred que apenas seguiu seu caminho em direção à cama. Jorge ao seu lado.

— Oh, Merlin... O que houve com ela? – Perguntou, chocado.

— Precisaram fazer uma intervenção cirúrgica. Por isso o cabelo dela foi raspado. – Harry explicou.

— Cirurgia? – Apenas um fio de voz. O choque da realidade deixava-o sem palavras.

— Ela teve um traumatismo, Fred. Está em coma e não há previsão para acordar. – Jorge disse, colocando a mão sobre o ombro de seu gêmeo.

Com a voz embargada, Fred falou:

— Quero ficar sozinho com ela – Rony e Harry saíram.

— Fred, suas poções...

— Jorge, por favor... Saia.

Quando se viu sozinho com Hermione, ele deitou-se na cama. Entrelaçou seus dedos entre os dela e chorou.

—--

Fred acordou e espreguiçou-se. Andou pelo quarto repetindo a ação que fazia toda manhã: observar Hermione. A porta do quarto foi aberta e ele viu o seu gêmeo entrar.

— Já sabe minha resposta, Jorge.

— Não vou falar nada. Se você acha que ficar aqui é a melhor solução...

Fred soltou um riso irônico:

— Melhor solução? Não tem melhor solução nessa merda de situação! – Fred derrubou a bandeja com o café que havia para ele – Isso tudo é uma merda! Já tem mais de um ano. Um ano! Como vocês querem que eu continue minha vida? Que eu esqueça? Como continuar vivendo se parte da minha vida está aqui? Adormecida? - ele falou exasperado apontando para cama.

— Ninguém quer que você esqueça. Só que olhe para você. Pegue um maldito espelho e olhe para você – Jorge arrastou o irmão até o banheiro. Fred havia emagrecido. Seu rosto claro e sardento estava marcado por olheiras. A barba ruiva espalhada pelo rosto. Só seus cabelos não estavam tão longos. Ele havia os raspado, um gesto de amor e solidariedade por Hermione – É essa pessoa que você quer que Hermione veja quando acordar? Ela está lá, em algum lugar, lutando pela vida. E você desistiu. Sei que a ama – Jorge respirou fundo tentando se acalmar – mas, você tem amigos. Tem uma família. Você tem a mim – Jorge saiu do quarto deixando um Fred pensativo para trás.

Naquela noite, Fred aparatou em seu flat. Encontrou o gêmeo jantando.

— Tem um pouco para mim? – Fred disse, com um pequeno sorriso. Jorge, no entanto, sorriu abertamente.

— Claro, cara – os dois se abraçaram – Finalmente tirou aquela barba.  Não combinava nada com você.

— Quero continuar passando a noite com ela – Fred falou após alguns minutos em que ambos comiam em silêncio.

— Como preferir. Sabe aquele livro que ganhou de Hermione? Eu estava lendo. Realmente tem ideias boas, o que acha de criarmos algo amanhã à tarde?

— Por mim tudo bem. Podemos almoçar juntos?

— Vou almoçar na Toca amanhã. Mamãe ficará feliz se você aparecer.

Fred voltou para o quarto de Hermione, onde ela parecia dormir serenamente. Deitou-se ao lado dela.

— Acorde, Hermione, por favor, acorde. Quero sentir você retribuindo meus beijos. Você não quer isso? Quero ver seu sorriso. E quero ver você brava por causa do meu ciúme de Rony. Eu já te contei que ele está com Luna, não é? Por favor, acorde, meu amor.

—--

Fazia muito tempo que Fred não ria de forma sincera. E ele se permitiu algumas horas de distração ao passar a tarde com Jorge. Sabia que a chegada de Lino não era coincidência, mas não comentou nada. Concordou em jantar com o irmão e o amigo no Três Vassouras, porém começou a ficar angustiado. Desde o acidente, nunca ficara tanto tempo fora do hospital. Tanto tempo longe dela.

— Eu preciso voltar... Eu quero voltar – ele disse sabendo que estava sendo mal educado. Os dois ainda jantavam.

— Claro, Freddie. Amanhã nos vemos.

Ele despediu-se e aparatou diretamente para a entrada do St. Mungus. Foi até o quarto dela, abriu a porta e encontrou o quarto vazio. Tudo limpo e organizado. As flores que Hermione vinha recebendo, os presentes, os balões... Tudo havia sumido. Havia apenas o silêncio. E o vazio.

E Fred achou que poderia desmaiar. Segurou-se no batente da porta. A respiração fraca. Precisava de Jorge. Precisava de Hermione. Como ela poderia ter sumido? Ele apenas a retirariam do quarto se...

Não, ele não poderia pensar nisso. Não poderia ser verdade. Ela estava estável. Acompanhada por medicação bruxa e trouxa. Ela estava estável. Em coma, mas estável. Hermione não poderia piorar em algumas horas, poderia?

Não, não poderia. Era a única resposta que Fred poderia pensar. Que ele poderia aceitar.

Foi para recepção. O corpo pesado. Cada passo que dava o levava para uma conversa que ele queria ter, mas evitar. Afinal, onde estava Hermione?

— P-por favor... – olhou desesperado.

— Olá, senhor Weasley – uma jovem e simpática falou.

— H-Hermione, eu fui até lá e...

— Oh... Ninguém informou o senhor? – Ela disse e pegou uma pasta – A senhorita Granger precisou ser removida. Devido ao estado atual dela...

— Estado atual? Estado atual? O que isso quer dizer? – perguntou, atônito.

— Ela está agora... Hum... – e a bruxa consultou uma pasta – Ela foi transferida duas horas atrás para o quarto 301.

Fred não esperou por mais nada e saiu correndo. Duas horas. Duas horas que ele estava longe dela. Duas horas que ela poderia ter acordado e estava sozinha. Duas horas... O tempo pesava sobre seus ombros. Abriu a porta vagarosamente. O quarto estava escuro. Ele encontrou, novamente, Hermione deitada. Dormindo. Ele não cansava de vê-la, mas não queria mais vê-la dormindo. Queria ver seus olhos castanhos. Ouvir a risada dela. Senti-la retribuir os beijos que ele dava em seus lábios.

Fechou a porta. Hermione respirava vagarosamente. Ele voltou a deitar ao lado dela, entrelaçando seus dedos. Seus olhos fecharam e ele respirou fundo. Queria entender porque a mudaram de quarto, mas agora bastava isso: estar com ela. Senti-la, mesmo sem saber se ela também o sentia. Hermione.

— Por favor... Acorde – ele repetia esse mesmo mantra há 376 dias. Fechou seus olhos, apenas sentindo a pele de Hermione contra a sua. O cheiro dela... Os dedos dela apertando os seus. Os dedos dela apertando os seus. Seus olhos se abriram rapidamente e achou que seu coração fosse parar. E não segurou as lágrimas. Simplesmente chorou ao ver os castanhos olhando para si.

— Fred – Hermione falou em voz baixa. Ele a abraçou e sussurrou.

— Diga que não é um sonho. Diga que não é mais um sonho, Mione... – a outra mão dela foi de encontro aos fios ruivos. Ela sorriu.

— Eu acordei há algum tempo. Então me transferiram para cá.

Fred afastou-se para olha-la. Analisando cada detalhe do rosto antes impassível. Adormecido.

— Desculpe... Eu... Eu estava com minha família... Não acredito... Hermione... – ela colocou o indicador sobre os lábios dele.

— Eu soube que você esteve esse tempo todo aqui. – Fred passou a mão pelo rosto dela. Olhava profundamente para os olhos dela – Você esperou por mim? Esse tempo todo?

— O tempo que fosse necessário. Eu te amo – ele inclinou-se sobre ela. O coração acelerado. Quantas e quantas vezes beijou os lábios dela sem senti-la retribuir? Apegando-se apenas na memória do gosto e da língua dela?

Beijou-a. Ela retribuiu. Seu coração parou e acelerou. A língua dela em contato com a sua. Amava-a ainda mais. Era possível? Parecia que sim. As mãos dele percorreram o corpo dela e pararam nos seios. Parte que não ousara tocar com ela desacordada. Sentiu a mão de Hermione em seu peito.

— Preciso de um tempo... – Ela falou, um sorriso envergonhado no rosto.

— Claro, claro... Está sentindo alguma dor? – Fred perguntou, preocupado.

— Não, Fred – ela respondeu e desviou os olhos para o teto – Será que poderia chamar Harry e Ron?

— Claro – ele olhou o relógio – Ainda é cedo. Minha família ficará feliz ao saber que você acordou. Eu...  Volto logo – ele saiu da cama.

— Fred, chame um medibruxo? – Ela pediu, querendo entender o que estava acontecendo.

— Claro, Mione. Mais alguma coisa? – A bruxa passava a mão pelos dedos dele.

— Você emagreceu – ela disse após ficar em silêncio, apenas segurando a mão dele na sua – Mas, continua bonito – o ruivo sorriu e beijou-a novamente – Fred, eu te amo.

— Hermione, não precisa chorar... Tudo vai ficar bem – ele limpou as lágrimas do rosto dela – Vou chamar minha família. Volto dentro de alguns minutos.

—--

O quarto foi invadido por ruivos. Mais afastado, Harry. Hermione estava sentada, as costas apoiadas na cabeceira da cama. Abraçou e chorou com cada um dos Weasley. Harry a envolveu em um abraço mais longo, mais demorado. Estavam felizes. Eram como irmãos. Ela também era sua família.

— Hermione... Que bom ter você de volta – ela sorriu, mas ele viu que havia uma ponta de tristeza. Aceitou o lanche que Molly trouxera. Ouviu todas as novidades. Ficou feliz por Ron e Luna. Vibrou com Molly ao saber da filhinha de Gui e Fleur. Abraçou Gina e Harry novamente quando eles contaram do noivado. Engoliu as lágrimas quando Gina a convidou para madrinha.

Aos poucos todos foram se despedindo, saindo. O quarto voltando ao silêncio habitual. Apenas Fred e Hermione.

— Esse sofá parece melhor que o outro – Fred falou apontando o móvel com a cabeça.

— Você dormiu comigo todos esses dias? – ela perguntou mesmo já sabendo a resposta.

— Claro, quer dizer... Não na mesma cama... Por vezes eu deitei, mas não queria incomodá-la. – Fred passou a mão pelos cabelos dela – Eu tentei conversar com o medibruxo sobre você, porém ele disse que você pediu que nenhuma informação fosse revelada, apenas que não houve nenhum dano cerebral permanente – ela quebrou o contato com os olhos e encarou suas mãos.

— Eu ainda ficarei uns dias aqui para certificarem que estou bem – Hermione falou e respirou fundo – Você sabe sobre meus pais?

— Eles foram localizados na Austrália e estão sendo monitorados por alguns aurores. Não que corram qualquer perigo – Fred emendou ao ver a expressão dela – No entanto, eles ainda não tiveram sua memória revertida. Julgamos que seria melhor aguardar que você estivesse bem.

— Oh... Foi uma ótima ideia.

Um silêncio caiu entre eles. Um silêncio que Fred não gostou.

— O que você está escondendo de mim?

— Como? – Hermione perguntou surpresa. Encarou os olhos azuis. Via medo e dúvida nos olhos dele. Aquilo não seria nada fácil.

— O que você está escondendo de mim? Hermione, responda. – Ele pediu, ficando sério.

— Fred... Isso não é fácil para mim... Bem... eu sei que você passou um longo tempo aqui comigo, mas... – ela respirou fundo – Fred, eu quero terminar. Eu quero terminar nosso namoro. Não tem mais como dar certo...

E o tempo parou para Fred.

As palavras dela ecoando em seu cérebro: Fred, eu quero terminar. Eu quero terminar nosso namoro. Não tem mais como dar certo...

Ele levantou-se. Hermione continuava sentada. Ela olhava para sua mão.

— O que... – ele respirou – O que você está dizendo?

— Não há muito mistério em minhas palavras, Fred. Acredite em mim... O que proponho é melhor para você.  - Afirmou, tentava não piscar, seus olhos não podiam trair sua fala.

Ele soltou o ar com força. A respiração entrecortada, falha. Doída. Achou que fosse desmaiar.

— P-por quê?

Ela ajeitou o lençol que a cobria de forma automática. Não conseguia olhar para os olhos dele. Não conseguia responder “por que”.

— Por favor, Fred. Melhor você voltar para sua vida. Você tem uma loja para administrar. Uma vida toda pela frente. Não tem que ficar preso a mim.

— Hermione – ele sentou-se ao lado dela na cama, segurando as mãos que pareciam sempre tão pequenas entre as dele – Quando eu soube o que houve com você, que estava em coma, que ninguém sabia quando acordaria... Meu mundo parou. Uma parte minha morreu...

— Não torne as coisas mais difíceis – ela o interrompeu, mas Fred ignorou essa interrupção e continuou:

— Só que eu sabia que você acordaria. Que um dia eu voltaria a ver esses belos olhos castanhos e que sentiria você reagir a cada toque. – Hermione, mais uma vez, fugiu dos olhos do ruivo. – O tempo que for necessário esperar pela sua recuperação, eu vou esperar. Estarei com você em cada momento. Tem pouco mais de um ano que te vi deitada em uma cama similar a essa. Eles haviam cortado todos esses cachos – ele passou a mão pelos fios – E eu fiz o mesmo com os meus cabelos. Tudo que eu puder fazer para e por você eu farei. E farei agora, enquanto somos jovens. E farei quando formos velhinhos e estivermos cercados de filhos, netos e bisnetos.

Hermione permitiu-se passar os dedos pelo rosto dele. Fred fechou os olhos perante esse toque.

— Eu sinto muito, Fred. Simplesmente, não dá... Eu acordei e-

— Deixou de me amar? – O ruivo perguntou sem conter a raiva. Sem conter a incompreensão daquela escolha.

— Não é isso... – ele pegou o rosto dela e forçou que ela o encarasse. Viu os castanhos marejados.

— Então, o que é? Você sempre foi muito esperta para responder qualquer pergunta em Hogwarts. Explique agora: por quê?

— Eu acordei e percebi que, por mais que te ame, somos jovens e não é você que eu quero ao meu lado. Não é com você que quero... Seguir minha vida. – Cada palavra doía no coração de Fred. Ela o estava apunhalando.

Nervoso, ele saiu do quarto batendo a porta violentamente. Hermione deixou que as lágrimas escorressem. Chamou um medibruxo ao sentir a cabeça latejar.

—--

— Não é possível – Jorge dizia ao ver o irmão jogado no sofá. Uma garrafa de uísque entre seus dedos. – Não é possível.

— É possível. Ela terminou – ele deu um gole da bebida sem se preocupar em pegar um copo.

— Não, não – Jorge continuava negando – Deve ter algo que ela não nos contou. O acidente pode ter afeta-

— JORGE! Não houve danos no cérebro – Fred falou bebendo novamente – Ela apenas viu a verdade.

— Qual verdade? – O gêmeo perguntou encarando sua cópia quase idêntica.

— Que ela é boa demais para estar comigo.

— Do que você está falando, cara? – Jorge ajoelhou-se na frente do irmão.

— Eu sou apenas um piadista, um idiota que não terminou os estudos, um... – ele bebeu novamente – Não sou o suficiente para Hermione Granger.

—--

Quatro longos dias. Fred recebia notícias por Harry e Rony. Não voltara a pisar no hospital e ninguém entendia o rompimento.

Gina tentara conversar com Hermione, também não tivera qualquer sucesso.

No oitavo dia, Fred não aguentava mais. Era o dia que Hermione receberia alta. E Fred não podia conviver com a ausência. Ele não podia aceitar o término do namoro. Não sem entender, não sem ouvir de Hermione os motivos que ele acreditava serem a razão do fim do relacionamento deles.

Chegou ao hospital pouco depois do horário do café da manhã e foi diretamente para o quarto dela. Abriu a porta e a encontrou sentada, olhando pela janela. Ela apenas virou o rosto e ele viu a expressão de surpresa dela.

— Você voltou...

— Eu quero uma explicação clara, Hermione! Diga de uma vez!

Ele não escondia sua raiva ou sua frustração. Andava de um lado para o outro. Hermione o olhava.

— Não me olhe assim! Diga! Diga que não sou inteligente o suficiente! Que sou um idiota burro que não merece estar com você! É isso que você não pensa, não é? – Ele berrava nervoso. A mão bagunçando os cabelos. Novamente a barba por fazer.

— Sim, Fred! É isso que eu penso! Por que não vai embora e some da minha vida? – Ela gritou apontando para porta.

Fred olhou-a com raiva. Seu coração partido. Encarou os castanhos. Ela ainda sentada. Abriu a boca para falar algo, qualquer coisa... Mas, nada saía.

Virou-se e deu três passos em direção à porta. Então parou. Os pensamentos tornando-se claros em sua cabeça. Girou seu corpo e encontrou Hermione ainda sentada, encarando a janela. Chorando em silêncio.

— Vá embora, Fred.

— Me expulse daqui – ele pediu – Me faça ir embora. Me empurre para fora desse quarto e para fora de sua vida.

Ela olhou para Fred e não disse nada. O ruivo olhou para ela. Para toda ela. Seus olhos desceram dos olhos dela, para o peito arfante, para as mãos trêmulas sobre o colo e...

Andou novamente e ajoelhou-se diante dela.

— Por favor, Fred...

— O que você está escondendo? O que mais o medibruxo disse? – Hermione voltou a encarar a janela. Ele não queria que seu pensamento fosse verdade. Só que sabia que era. Apoiou-se no joelho dela e percebeu que ela não se mexeu. Não se virou. Ela não sentiu. E a verdade que não queria aceitar de segundos antes, caiu sobre ele. A verdade bateu em sua cabeça como um balaço errante. Hermione focou sua atenção nos olhos azuis. Fred havia percebido. E ela viu a mão dele em seu corpo. Ela via, mas não sentia nada.

— Você já percebeu. É por isso que não podemos ficar juntos.

— Eles não falaram nada... Eles não nos contaram isso antes.

— Os medibruxos não tinham certeza de nada. – Hermione disse – Acharam que muita coisa estava acontecendo, muita perda na guerra. Eu estava em coma, de que adiantaria contar que provavelmente eu não poderia andar? Que eu havia perdido o movimento da cintura para baixo? No que isso faria as coisas ficarem melhores para você? Ou para Harry? Para sua família?

— Hermione,...

— Não... Você não vai ficar com uma pessoa que possivelmente jamais vai andar. Ou gerar filhos. Siga sua vida, Fred.

Ele pegou as mãos dela entre as suas, mesmo que ela relutasse. Ele segurou-a com força.

— Escute, eu não vou desistir de você. Eu te amo, Hermione. Pare, não quero ouvir. Essa lógica sua não adianta de nada. Não levará a nada por que eu não vou embora. Nós enfrentaremos isso. Juntos.

Hermione viu que uma lágrima escorreu do rosto dele e a limpou com seu polegar.

— É tão injusto, tão...

E ela não sabia como continuar.

— Nós vamos superar isso. E como você mesma disse: você provavelmente não pode andar. E mesmo que não ande, eu te carrego para onde precisar. E, quando eu não tiver mais forças, crio uma cadeira muito melhor que aquelas cadeiras trouxas. E se você não puder gerar filhos, nós adotamos um... Ou Sete... Ou quantos quisermos. Só que eu não vou desistir de você. Não hoje. Nem nunca.

— Fred, eu... – Ela falou, a voz falhando, os pensamentos embaralhados.

— Você me ama? – Fred perguntou, sério.

— Sim, eu te amo – ela disse inclinando o corpo, fazendo com que a testa de ambos se encontrassem.

— Então nós vamos superar isso juntos. Entendeu?

Ela assentiu. Os lábios dele se encontraram. Um beijo apaixonado. Forte. Único.

—--

Mini Epílogo

Dois anos depois

Fred entrou na água carregando Hermione em seus braços. Ela o segurava com firmeza e ria das palhaçadas que ele fazia com seu gêmeo.

— A água está fria! – ela disse quando ele a afundou.

— Melhor assim... Só de sentir seu corpo perto do meu você sabe como fico – ele sussurrou de forma que apenas ela ouvisse. A algazarra no lago era enorme. O rosto dela corou violentamente.

— Fred... Está cheio de crianças por aqui! – Ela disse dando um leve tapa no ombro dele. Ele riu maroto e a beijou rapidamente.

— Mas, sério... Quando vai aceitar meu pedido de casamento. Até Carlinhos se casou!

— Você sabe quando...

— E você, que isso é besteira.

— Não para mim – ela disse com um pouco de mágoa na voz.

— Eu sei. Desculpe... Apenas não vejo a hora de deixar claro que você é minha.  - O ruivo falou, entendo a namorada, mas queria que desse um passo a mais na relação.

— Fred, acho que a população bruxa está bem ciente disso. – Ambos riram – Mas, sério... Estou com frio. Me ajude a sair – ele concordou. Quando chegaram na beirada da água, Harry trazia um par de muletas. Hermione apoiou-se nelas e deu alguns passos. Fred ao seu lado. Ela desequilibrou-se, ele rapidamente e pegou.

— Você já se esforçou bastante por hoje, Mione. – falou, pegando-a no colo e deixando as muletas temporariamente no chão.

—--

Mais dois anos...

— Você está realmente pronta, minha filha? – Jane Granger perguntou arrumando desnecessariamente os cachos do cabelo da sua filha. Gina ajeitava o buquê.

— Claro que estou, mãe! Você sabe que eu amo o Fred. – Hermione disse, um sorriso enorme.

— E você sabe que ela não está falando sobre isso – Gina disse encarando a amiga.

— Será minha surpresa para Fred. Ele ainda não sabe – Hermione falou ainda sentada – De qualquer forma, meu pai estará comigo. Qualquer coisa ele me segura.

Ela se levantou com a ajuda das duas mulheres. Os medibruxos tiveram um longo e difícil trabalho para reconstrução das vértebras atingidas. Hermione também foi encaminhada para uma fisioterapeuta no mundo trouxa.

Seria a primeira vez que andaria sem ajuda de cadeira, bengala, andador, muletas ou magia. Apenas suas próprias pernas. Fred não sabia. Ela vinha treinando escondido nos últimos meses, desde que aceitara finalmente o pedido dele.

O casamento seria realizado na Toca. O sol estava se pondo quando uma suave música começou a tocar. O tapete que se estendia tinha as cores da grifinória. Muitos ex-professores, ex-colegas e amigos, estavam presentes. Gina entrou acompanhada de Harry.

Fred torcia seus próprios dedos nervosamente. Sua mão suando. Hermione apareceu trazendo uma aura de paz e felicidade. Seu sorriso aumentou e seu coração disparou quando se deu conta que ela havia abandonado qualquer tipo de apoio. Apenas os braços dados em seu pai. Fred via que Hermione andava por conta própria.

Ele nunca fora de seguir regras ou seguir protocolos, por isso correu de encontro a ela. Mas parou no meio do caminho. Todos olhando e comentando. Ele queria abraça-la, parabeniza-la, queria beija-la, aparatar com ela e ama-la loucamente.

No entanto, ele se conteve.

Para Hermione era importante terminar aquele pequeno trajeto. Ele voltou, andando de costas.

Ela sorria para ele. Apenas para ele. E ele retribuía esse sorriso para ela. Apenas para ela.

E assim, Fred Weasley casou-se com Hermione Granger. Ao fundo, o sol se punha com a promessa de novos dias de felicidade e conquista e um amor que nada seria capaz que extinguir.

—--

 


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Notas finais do capítulo

N.B.: Provocações é uma das fics mais lindas que a srta Srtak já escreveu. Amo. Espero que tenham gostado, assim como eu.

Bjos,

Maris


Aiiii final supeeeeer clichê. Eu sei... Mas foi difícil terminar.

Claro que eu não mataria Hermione... Como uma grande amiga disse: eu sou uma romântica incorrigível.

Esse, como disse anteriormente, foi um presente pra Rê Malfoy. Espero que a história tenha agradado a todas, especialmente essa amiga que tem um lugar no meu coração.
Ártemis



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