Pov. Duncan

Acordei e Percy não estava mais ali. Me virei e dei de cara com Nico sentado em uma cadeira.

— Boa tarde – saudou.

— Boa... Tarde? – perguntei – Que horas são?

— Quatro da tarde. – respondeu – Fiquei sabendo do que aconteceu e queria falar contigo. Eu acho que como sou seu meio-irmão, eu deveria te dar uma forcinha.

Sentei-me na cama e fiz um gesto para que prossiga.

— Bem, eu meio que sei como é esse lance de perder alguém. Minha irmã morreu faz três anos, numa missão. Quando aconteceu eu fiquei louco. Ela era a única família que eu tinha. Tentei invocar o espírito dela várias vezes, mas não tive muito sucesso. Faz um tempinho que eu descobri uma maneira de falar com ela. Funciona com qualquer semideus morto que foi para o Elísio.

— Então você poderia falar com meus pais? – indaguei

— Você, como filho de Hades, pode falar com eles. Qualquer dia nós vamos ao Mundo Inferior só pra isso. – disse sorrindo – Mas queria falar outra coisa com você. Quíron autorizou eu te dar algumas aulas para você aprender a controlar seus poderes pela parte de Hades. Assim como Percy vai dar aulas para você também. Estava pensando em intercalar os dias, que tal? Um dia eu, outro dia o Percy...

— Não pode ser os dois juntos? Vou ter que aprender os dois mesmo. Fora que numa batalha vou usar os dois poderes juntos. – propus.

— Tudo bem. Só pergunte para Percy. – respondeu ele corando.

— Perguntar o quê para mim? – questionou Percy entrando no chalé. – Ah! A Bela Adormecida já acordou! – Ele parou ao lado de Nico que corou mais ainda.

— Muito engraçado Peixinho. – respondi – A gente estava falando das aulas que vocês vão me dar. Pra aprender a controlar os poderes e tals.

— Ah, sim. Quíron acabou de falar comigo. Como vai ser o esquema? – indagou.

— Estávamos pensando em vocês dois se juntarem, pois numa batalha vou ter de mesclar os poderes. – falei

— Está bom pra você assim Nico? – o garoto assentiu – Perfeito. Começamos na semana que vem então. Meu maninho precisa digerir os acontecimentos.

— Tudo bem – disse Nico – Tchau Duncan. Percy. – com essa deixa, saiu rapidamente do chalé.

— E aí cara, está melhor? – perguntou sentando-se na cama.

— Eu acho que melhor não é a palavra certa. – respondi – Digamos que meu emocional foi atropelado por um tanque de guerra e depois metralhado. E se isso quer dizer melhor, eu estou muito melhor.

— Deixa de ser irônico. – falou dando um soquinho em minha perna. – Eu sei que você nunca vai esquecer deles, mas você irá superar. E tenho certeza que eles não gostariam de ver você assim. Sem vontade de viver. Demora, mas cicatriza.

Ouvimos batidas de palmas e logo em seguida Annabeth adentrou o recinto, batendo as benditas palmas.

— Quem diria que Percy Jackson falaria coisas tão sábias e bonitas alguma vez na vida? – disse rindo – Achei que eu teria que vir aqui e falar isso.

— Bem engraçadinha você ein. Não sei como aguento namorar com você. – falou Percy com um bico.

— Você me ama Cabeça de Alga, não se iluda. – disse e deu um selinho em Percy.

— Amo mesmo. – falou Percy com um sorriso de lado.

— E como vai o nosso garotinho? – perguntou me dando um beijo na testa.

— Nosso garotinho?— perguntei elevando uma sobrancelha.

— É. – respondeu Annabeth – Você é como se fosse um bebê. Só chora e não faz nada direito sozinho. E nosso, porque estamos cuidando de você.

— Sério mesmo isso? – perguntamos eu e Percy ao mesmo tempo rindo.

Eu sabia que ela só estava fazendo isso para me distrair e dar risada. E eu agradecia a ela por isso. Precisava de alguma distração. Apesar de não gostar de ser chamado de garotinho.

— Nossa mãe queria falar com você. Ela vai embora hoje à noite e quer se despedir. – disse Percy.

— Ela não pode vir aqui? – perguntei preguiçoso – Quero ficar nessa cama o resto da minha vida. – disse enfiando a cara no travesseiro.

— Não. Você vai lá. – ordenou Percy.

— Não.

— Você vai lá e ponto. – disse Annabeth impassível

— Então me obrigue a levantar a bunda desta cama. – desafiei

— Se eu fosse você eu não faria isso. – Murmurou Percy.

— Por q... – Não tive tempo de terminar minha pergunta, pois alguém, vulgo Annabeth, puxou meu pé e me derrubou no chão.

Logo em seguida, ela me virou, montou em mim e chegou perigosamente perto.

— Nunca me contrarie, entendeu? – ameaçou

— Sim senhora. – respondi sorrindo.

— Vamos? – perguntou Percy.

— Não. – disse Annabeth – Você está fedendo.

E pra comprovar isso ela levantou meu braço, cheirou uma de minhas axilas e fez uma careta em seguida.

— Há quanto tempo você não toma banho? – perguntou a loira saindo de cima de mim.

— Desde que eu cheguei aqui no Acampamento. – respondi

— Meus deuses! Vá tomar banho agora! – ordenou.

— Não. Pode ser depois? – perguntei manhoso.

Annabeth nada respondeu, em vez disso, ela agarrou minhas canelas e me arrastou até o banheiro.

— Vou ter que tirar sua roupa também? – questionou levantando uma sobrancelha.

— Não será necessário. – respondi levantando.

Pov. Percy

— Se eu fosse ele, não desobedeceria você nunca mais. – falei me deitando na cama

— Eu discordo. – disse Annabeth se aninhando em meu peito.

— Por quê?

— Porque eu o conheço.

— Qual é Annie, ele chegou faz o quê? Dois dias? E você já conhece tanto assim dele? – questionei

— Nós conversamos bastante, porque alguém aqui estava de TPM e não estava se socializando. – respondeu ela – Então fui conversar com ele e descobri várias coisas.

— Tipo o... – fui interrompido com a mão de Annabeth em minha boca.

— Shhhhh. Escuta – sussurrou ela. – Ele está cantando.

And if you have to leave

(E se você tiver que ir)

I wish that you would just leave

(Eu desejo que vá logo)

'Cause your presence still lingers here

(Porque sua presença ainda permanece aqui)

And it won't leave me alone

(E isso não vai me deixar sozinho)

These wounds won't seem to heal

(Essas feridas parecem não cicatrizar)

This pain is just too real

(Essa dor é tão real)

There's just too much that time cannot erase

(Há tantas coisas que o tempo não pode apagar)

— Ele canta sobre os sentimentos dele... – murmurou Annabeth – Ele me contou. E essa era uma música que ele me mostrou, parece que ele terminou...

Ficamos em silêncio apenas ouvindo a cantoria baixa de Duncan. Até que o chuveiro é desligado e a cabeça de Duncan aparece na porta.

— Dá pra me alcançarem uma roupa? – perguntou – Está dentro dessa mochila.

— Só se você cantar na fogueira hoje. – falou Annabeth.

— Eu não estou pronto pra cantar essa música ainda. – respondeu ele.

— Quanto antes você botar pra fora melhor. – pôs Annabeth – E eu sei que cantar faz muito bem pra você.

— Está bem. Eu canto. – concordou Duncan – Agora me dá a roupa.

Annabeth entregou a roupa para Duncan e bateu palminhas a seguir. Após alguns minutos, Duncan saiu do banheiro vestido todo de branco, exceto nos pés, já que estava com seus coturnos.

— Virou médico? – perguntei

— Estou de luto – respondeu.

— Não devia estar de preto?

— Digamos que eu gosto de quebrar um pouco as regras. Fora que eu gosto de preto. Então seria uma cor de roupa “normal”. – explicou – Quase nunca uso calças brancas. Na verdade nunca usei calças brancas.

Pov. Duncan

Saímos do chalé e nos dirigimos para a Casa Grande. Sally já estava esperando na varanda.

— Nós já falamos com ela. Vai lá. – disse Percy.

Subi as escadas e logo dei um abraço bem apertado em Sally. Permiti-me chorar em seu ombro por longos minutos. Até que ela interrompe nosso abraço e segura meu rosto com suas mãos.

— Eu sei que é difícil querido. – começou ela – E qualquer coisa que você precisar, pode me procurar. Mandar uma Mensagem de Íris, uma carta, uma mensagem no celular, ir até meu apartamento em Nova York. Qualquer coisa que precisar eu ajudarei, porque eu sou sua mãe, entendeu? Não quero, jamais, tentar substituir o Leon e a Mary. Jamais vou fazer isso. Porque também nunca iria conseguir. Mas vou tentar quando você se sentir preparado, para tapar esse buraco que a perda deles fez. Tudo bem?

Eu apenas balancei a cabeça afirmativamente e continuei a chorar em seu ombro.

Não sei qual o tempo exato em que ficamos abraçados, poderiam ser segundos, minutos, horas, dias, anos... Não sei dizer. Mas já havia parado de chorar compulsivamente fazia um tempinho.

— Querido, eu tenho que ir. – disse Sally enxugando minhas lágrimas – Infelizmente, tenho que ir. Não posso ficar mais tempo. Já sabe né? Se precisar de qualquer coisa, pode me procurar. Adeus querido. – concluiu me abraçando.

— Adeus Sally. – respondi

[...]

Pov. Percy

Após o jantar os campistas já começaram a se reunir na fogueira. Annabeth e eu fomos até a Casa Grande para buscar Duncan. Chegamos lá e ele estava sentado na escada, olhando para o nada. Estava com os olhos inchados, provavelmente tinha chorado.

— Pronto para cantar? – perguntou Annabeth o tirando do transe.

— Não. – respondeu – Pode parecer irônico mas... Não mesmo.

— Lembra do que eu disse, - começou Annie – sobre não deixar as coisas para dentro? Quanto antes você liberar os seus sentimentos, mais rápido você vai se sentir melhor.

— Vamos lá cara! – incentivei

— Está bem, eu vou. – resmungou

Entrelacei minha mão na de Annabeth e caminhamos até a fogueira. Escolhemos um lugar e Annabeth foi falar alguma coisa com os filhos de Apolo que sempre organizam as cantorias. Provavelmente foi falar sobre Duncan. Sentei-me e logo em seguida Duncan e Annabeth se sentaram ao meu lado.

— Hoje nós faremos uma coisa diferente. – começou Will Solace – Annabeth falou comigo e parece que um campista quer cantar pra gente. Pode vir Duncan.

Antes de se levantar, Duncan deu um longo suspiro e balançou levemente a cabeça. Depois de se posicionar num lugar que todos o vejam, falou:

— Hãã... Annabeth me encorajou a cantar hoje. Mas o motivo de eu estar aqui hoje não é o pedido dela. A música que vou cantar é pros meus pais. Não sei se muita gente ficou sabendo, pois faz bem pouco tempo, mas meus pais acabaram de ser assassinados pelo Minotauro no caminho para cá. É um momento muito difícil para mim, e essa música representa tudo o que estou sentindo.

Pov. Duncan

— Tem como vocês arrumarem instrumentos e tocarem? – perguntei para o filho de Apolo do meu lado.

— Claro – respondeu. E em seguida alguns instrumentos apareceram com um pó dourado. Milagre de Apolo, só pode ser.

Dê o play agora

As pessoas que iriam tocar se posicionaram em suas respectivas posições e começaram a tocar. Quando a introdução instrumental terminou, comecei a cantar:

I'm so tired of being here

(Estou tão cansado de estar aqui)

Suppressed by all my childish fears

(Reprimido por todos os meus medos infantis)

And if you have to leave

(E se você tiver que ir)

I wish that you would just leave

(Eu desejo que vá logo)

'Cause your presence still lingers here

(Porque sua presença ainda permanece aqui)

And it won't leave me alone

(E isso não vai me deixar sozinho)

These wounds won't seem to heal

(Essas feridas parecem não cicatrizar)

This pain is just too real

(Essa dor é tão real)

There's just too much that time cannot erase

(Há tantas coisas que o tempo não pode apagar)

When you cried, I'd wipe away all of your tears

(Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas)

When you'd scream, I'd fight away all of your fears

(Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos)

And I held your hand through all of these years

(E eu segurei sua mão por todos estes anos)

But you still have all of me

(Mas você ainda tem tudo de mim)

Parecia que não havia ninguém há minha volta. Estava liberando tudo o que sentia. Annabeth estava certa, por tudo pra fora estava ajudando.

You used to captivate me

(Você costumava me cativar)

By your resonating light

(Com a sua luz ressonante)

Now, I'm bound by the life you've left behind

(Agora sou limitado pela vida que você deixou para trás)

Your face it haunts my once pleasant dreams

(Seu rosto assombra todos os meus sonhos que já foram agradáveis)

Your voice it chased away all the sanity in me

(Sua voz expulsou toda a sanidade em mim)

These wounds won't seem to heal

(Essas feridas parecem não cicatrizar)

This pain is just too real

(Essa dor é tão real)

There's just too much that time cannot erase

(Há tantas coisas que o tempo não pode apagar)

When you cried, I'd wipe away all of your tears

(Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas)

When you'd scream, I'd fight away all of your fears

(Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos)

And I held your hand through all of these years

(E eu segurei sua mão por todos estes anos)

But you still have all of me

(Mas você ainda tem tudo de mim)

I've tried so hard to tell myself that you're gone

(Eu tentei tanto dizer à mim mesmo que você se foi)

But though you're still with me

(E embora você ainda esteja comigo)

I've been alone all along

(Eu tenho estado sozinho por todo esse tempo)

Nesse momento eu já havia começado a chorar e continuava a derramar rios de lágrimas. Um flashback com todas as memórias de meus pais passou pela minha cabeça e mais lágrimas se escorreram.

When you cried, I'd wipe away all of your tears

(Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas)

When you'd scream, I'd fight away all of your fears

(Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos)

And I held your hand through all of these years

(E eu segurei sua mão por todos estes anos)

But you still have all of me

(Mas você ainda tem tudo de mim)

Quando acabei de cantar a última nota, todos se levantaram e bateram palmas, vi que alguns campistas choraram durante minha apresentação.

Enxuguei meu rosto e murmurei um obrigado. Em seguida fui até o chalé de Poseidon e me deitei na cama. E antes de apagar olhei para a foto dos meus pais na minha carteira.