Crisálida escrita por valentinaLB


Capítulo 7
Capítulo 7 - PERDIDO EM SEU OLHAR




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CAPÍTULO 7 – PERDIDO EM SEU OLHAR




POV EDWARD


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A primeira vez que vi Isabella ela tinha quinze anos. Estava sentada em um sofá, compondo um grupo de mulheres sorridentes que posava para um retrato. Ela não sorria, na verdade parecia que ela nem estava ali.

Impressionei-me com a profundidade daquele olhar perdido, mesmo tratando-se de apenas uma fotografia. Eram os olhos mais lindos e enigmáticos que já tinha visto. Eram castanhos, cor de chocolate.

– Quem é essa, vó? – Perguntei, não querendo deixar transparecer o meu interesse.

– É Bella, querido, a filha de Renée. Já lhe falei dela muitas vezes, não lembra?

Não me lembrava. Sempre que vinha me visitar em Londres, Berta me contava muitas histórias de suas amigas, mas nem todas eu processava.

– Bella é uma garota tão triste - ela continuou. - Vive afastada de todos e quase não fala muito, mas é adorável e doce. Tem quinze anos, mas parece que tem mais. Na verdade seu nome é Isabella, mas não gosta que a chamem assim. Renée já a levou a vários médicos, pensando até que podia ser autista, mas todos disseram que ela não tem nada.

Foi nesse dia que minha vida se cruzou com a de Isabella. Sem que Berta percebesse, fiquei com sua foto para mim e passei os anos seguinte tentando decifrar aqueles olhos.

Em poucos dias eu me mudaria para Boston, cidade onde nasci. Ainda me perguntava qual o real motivo de estar fazendo isso, mas antes de chegar à verdadeira resposta, abandonava o pensamento, receoso da conclusão a que chegaria. Para todos os efeitos estava indo fazer meu mestrado. Esse era um motivo aceitável para meus amigos e parentes... E até por mim.

Ia fazer uma surpresa para Berta. Ela nem desconfiava que eu chegaria no dia de seu aniversário. Já sabia que ela estaria na casa de Renée, sua melhor amiga e mãe de Isabella. Era pra lá que iria assim que desembarcasse.

Meu coração estava acelerado quando apertei o interfone. Finalmente ira encontrar os olhos que me enfeitiçaram por tanto tempo.

Berta não acreditava que estava me vendo. Emocionei-me com sua reação. Minha avó tinha compensado todo o amor que não pude receber de minha mãe, morta quando nasci.

Apresentou-me a todas suas amigas e era inegável o orgulho que sentia fazendo isso. Percebi, decepcionado, que Isabella não esta na festa.

– Oh, querido, não sei se agüento tanta felicidade de ter você aqui comigo, no meu aniversário! – Seus olhos estavam molhados pelas lágrimas.

Beijei sua testa e abracei-a ternamente.

– Também estou muito feliz, vó.

A festa, apesar de pequena, estava linda. Uma tenda criava um ambiente árabe. Parecia saída de uma fábula.

– Edward, querido, acho que vou ter problemas. - Berta falou preocupada. - Isabella vai dançar para mim, mas não sabe que haverá homem aqui. Ela é tão tímida! Assim que te ver vai sair correndo.

– Se quiser posso ficar em outro lugar, vó. Não quero deixá-la embaraçada. – Não sei como consegui falar, pois assim que soube que veria Isabella dançando meu coração disparou de uma forma inexplicável.

– Embaraçada ela vai ficar de qualquer jeito, querido. Bella nunca dançou pra ninguém. Só está fazendo isso porque insisti muito e até fiz uma chantagenzinha emocional – falou rindo. - Depois eu me entendo com ela.

Me compadeci ao imaginar o tamanho do esforço que ela teria de fazer para se apresentar. Era psiquiatra e conhecia os temores que pessoas como Isabella carregavam dentro de si.

Sentei-me no sofá esperando sua entrada. Percebi que não respirava de tão ansioso que estava.

Berta foi chamá-la e uma música instrumental começou a tocar.

Meus olhos se arregalaram quando vi um estonteante corpo de mulher, vestido numa sensual roupa de dançarina do ventre, entrar naquela sala. Suas curvas eram de tirar o fôlego. A menina da foto não era mais uma menina, pelo menos não fisicamente. Me senti mais à vontade com meus sentimentos. Sempre me incomodou nutrir aquele amor platônico por alguém tão nova.

Isabella olhava para o chão e dava para perceber a tensão em seu corpo. Ela não tinha a menor noção de quem eram as pessoas que estavam na sala, sequer nos olhava.

Então levantou a cabeça, com os olhos fechados e começou a dançar.

Nunca, em toda a minha vida, vi uma explosão de sensualidade como a que estava diante de meus olhos. Cruzei as pernas para não dar bandeira. Sua dança era um convite aos prazeres da carne. Uma parte dos mistérios daqueles olhos eu acabara de desvendar. Dentro de Isabella vivia uma mulher apaixonada, pois só a paixão afloraria uma perfeição daquela.

Meus olhos estavam hipnotizados pelos movimentos do seu corpo. Quando ela acabou, sem ter aberto os olhos sequer uma vez, explodimos em palmas, reverenciando o magnífico espetáculo que havíamos assistido.

Ela se assustou e foi então que nossos olhos de encontraram pela primeira vez. Nenhum ser humano deveria ser privado de uma sensação tão mágica como a que senti. Enfim eu mergulhava nas profundezas daquele olhar.

Não sei por quanto tempo ficamos nos encarando, mas de repente Isabella virou-se e correu, subindo as escadas da sala apressadamente. Não desceu mais. Minha vontade era ir atrás dela e dizer-lhe que eu não era um estranho, que eu a conhecia há muito tempo, que ela sempre estava em meus sonhos... Meus dias... Minhas noites...

Berta subiu para conversar com ela. Voltou chateada. Sabia que tinha deixado Isabella muito envergonhada e estava triste por isso.

Soube naquele dia que meus sentimentos eram reais, e não fruto da minha imaginação. Só não previ quão fortes eram os laços que nos ligariam.

Fui embora triste por não tê-la visto mais.

Hospedei-me na casa de Berta, pois meu apartamento não estava pronto, afinal tinha chegado antes do combinado.

Não consegui dormir naquela noite. As imagens de Isabella dançando invadiam minha mente, fazendo-me viajar em fantasias libidinosas .

Minhas aulas começariam só no mês seguinte, mas a decoração do meu apartamento me deixou ocupado por alguns dias. Acompanhava Berta e Renée nas arrumações, me divertindo com as brincadeiras das duas.

A todo instante pensava em Isabella. Alimentava a esperança de que ela aparecesse por lá, mas os dias se passavam e nem sinal dela. Tinha até ido almoçar em sua casa, a convite de sua mãe, mas ela sequer saiu de seu quarto.

Não contendo minha curiosidade, resolvi entrar no assunto.

– Isabella não te acompanha quando está trabalhando, Renée? – Perguntei.

– Ah, Edward, eu não entendo Bella, não sei o que se passa com minha filha. É tão isolada, tão triste, tão retraída. Já procurei vários médicos, mas todos dizem que não há nada errado com ela. Chego a pensar que a errada sou eu. Devo ter feito algo muito ruim para transformar minha filha num ser tão atormentado. – Renée desabafou.

– Não tive a oportunidade de conversar com Isabella, mas não me pareceu uma menina triste, apenas tímida – falei.

Menti. Eu a conhecia sim. Em minhas conversas com Berta, nos últimos três anos, sempre falávamos dela. Eu perguntava sobre seu jeito, seus gostos, suas manias, mas sem deixar aparente meu excessivo interesse. Disfarçava bem e acho que minha avó nunca desconfiou de nada. Pensei algumas vezes em vir vê-la, mas ela era só uma menina ainda. Não era certo.

– Você poderia se aproximar mais dela, Edward – Berta falou, entrando na conversa. – Vocês são jovens, falam a mesma língua e além de tudo você é um psiquiatra, terá mais chance de fazê-la se abrir com você.

– Vó, Isabella não precisa de um médico, precisa apenas de alguém que a respeite e a aceite como ela é. - Defendê-la me pareceu quase uma obrigação.

Fiquei meio sem graça por ter dito aquilo na frente da Renée. Soou como uma indireta... O que na verdade foi.

– Que seja, querido. Faça então o papel desse amigo.

Eu não queria fazer o papel de um amigo, eu queria ser realmente seu melhor amigo. Queria desvendar aquela cabecinha intrigante e conhecer realmente a verdadeira dona daqueles olhos que me encantaram mesmo eu uma fotografia... Queria amá-la como ela merecia.

– Tá Berta, vou ver o que posso fazer – falei, tentando esconder a alegria por ter um motivo para me aproximar de Isabella.

– Você pode fazer o que quiser, meu neto. Um homem bonito e educado como você consegue tudo o que desejar na vida - falou toda orgulhosa.

Desde que eu não desejasse o impossível, pensei.

– Edward, poderia ir lá em casa buscar uma luminária que esqueci em casa? – Renée perguntou.

– Iria com todo prazer, Renée, mas não estou acostumado a dirigir com os carros de vocês. Iria causar uma confusão se trafegasse pela mão que estou acostumado – brinquei, me desculpando por não poder ir.

– Ah, é mesmo, tinha me esquecido deste detalhe. Deixa então que vou ligar para Isabella trazer.

Fui invadido por uma alegria quase infantil.

– Deixa que eu ligo, você está ocupada. – Tive medo que percebessem minha ansiedade.

– Obrigado, Edward. É bom que assim vocês já vão se conhecendo melhor.

Peguei seu número com ela e disquei. Sentia um frio na barriga que não condizia com a minha idade.

– Alô. – Era a primeira vez que ouvia sua voz.

– Isabella? – Perguntei.

– Sim. – Ela era tão econômica com as palavras. Não sei por que, mas achei aquilo encantador e engraçado. Tentei segurar o riso.

– Quem está falando é Edward, neto da Berta. Tudo bem?

– Tudo. – Realmente ela era de poucas palavras.

Contive o riso de novo.

– Sua mãe está muito ocupada e pediu-me para te ligar. Ela quer que você traga uma caixa que está no quarto dela. Eu poderia ir buscá-la, para não te dar trabalho, mas não sei dirigir na mão de vocês – falei rindo.

– Tudo bem, eu levo. – Ela não riu comigo. Sequer deu importância ao que falei. Isabella era única...

– Então anota o endereço - falei, ditando em seguida o nome da rua, número e bairro.

Esperei por um tempo que ela dissesse alguma coisa, mas nem uma única palavra foi pronunciada por ela.

– Então tchau. Foi um prazer falar com você. - E tinha sido mesmo. Na verdade nossa primeira conversa pareceu mais um monólogo meu, claro, mais ainda assim eu estava radiante.

– Tchau.

Sua voz era tão doce.

Esperei ansiosamente sua chegada. Não sei como Renée e Berta não perceberam meu nervosismo. Estava difícil disfarçar.

Quando o porteiro interfonou anunciando sua subida, meu coração começou a bater descompassado.

Abri a porta e me deparei com aquele par de olhos castanhos que conhecia tão bem e que exerciam em mim um fascínio inexplicável. Mais uma vez me perdi neles.

Isabella vestia-se como um menino, mas nem assim deixava de estar linda. Não ostentava mais a sensualidade da dançarina do aniversário de Berta, mas ainda emanava charme e mistério.

– Entre, Isabella. – Disse, abandonando meus pensamentos e me prontificando a pegar a caixa que carregava.

Nossas mãos se tocaram levemente e pude sentir a maciez de sua pele.

Aquele breve toque foi mais excitante do que muitas noites inteiras de sexo que tive com algumas mulheres que passaram por minha vida.

– Oi, querida. Desculpe-nos fazê-la vir aqui, mas estávamos tão ocupadas. – Berta veio recebê-la, abraçando-a carinhosamente. - Ainda não apresentei vocês formalmente. Bella, este é Edward, meu neto lindo.

Se não estivesse tão nervoso poderia afirmar que Berta estava bancando a cupido.

– É um prazer conhecê-la, Isabella. Berta fala muito de você. - Queria abraçá-la, mas achei melhor respeitar seu jeito arredio e me mantive distante.

Ela me devolveu um sorriso tímido que quase me nocauteou.

– Prazer – falou simplesmente.

– Venha ver, querida, como o apartamento está lindo!

Berta a puxou pelo braço, levando-a para dentro. Acompanhei as duas.

Era difícil decifrar a expressão do rosto de Isabella, mas parecia que estava gostando.

– Este é meu cômodo preferido . É o quarto do Edward. Sua mãe caprichou, não foi, querida? – Fiquei incrivelmente interessado em saber se ela tinha gostado do meu quarto. Agradeci silenciosamente por Berta ter perguntado.

Ela apenas balançou a cabeça afirmativamente, mesmo assim fiquei feliz.

– Só quero saber quem será a afortunada que compartilhará essa bela e confortável cama como meu neto gostoso – A doida da minha avó disse rindo.

Isabella corou na hora, constrangida com o comentário de Berta.

– Vó, está deixando Isabella sem graça – falei, não contendo o sorriso ao imaginar que se aquela garota tímida que estava do meu lado quisesse, poderia ser ela.

Na cozinha encontramos Renée.

– Oi, filha. Obrigado por me fazer esse favorzão – ela disse, beijando a filha.

– Tudo bem, mãe.

– Querida, – Berta falou – sei que já abusamos da sua boa vontade, mas será que podia levar Edward ao supermercado? Precisamos abastecer esta dispensa.

Tudo bem que tinha prometido a elas me aproximar mais de Isabella, mas aquela forçação de barra me deixava constrangido. Era como se tivéssemos enganando Isabella, e isso me incomodava muito.

– Se não puder posso ir de taxi, não quero te atrapalhar - falei, dando a ela a oportunidade de se livrar de “nossa” armadilha.

– Não tem problema, eu levo. – Me surpreendi com sua resposta.

Não era a primeira nem seria a última vez que Isabella me surpreenderia.

Descemos o elevador em silêncio. Isabella evitava olhar pra mim. Parecia envergonhada, provavelmente por causa da dança.

Quando o elevador parou num andar abaixo do nosso, algumas crianças entraram correndo, empurrando-a para cima de mim. Segurei-a entes que caísse, desequilibrada. Assim que minhas mãos tocaram aquela cintura fina, mesmo que coberta pelo tecido da roupa, senti meu corpo tremer. Isabella era tão delicada e se não bastasse, ainda exalava um perfume inebriante. O que mais me impressionava naquela menina era o desconhecimento que ela tinha de sua sensualidade natural. A forma como se vestia, possivelmente tentando esconder seu corpo, lhe dava mais charme ainda, criando nos homens o desejo da descoberta, despertando neles a fantasia de descobrir o que aquelas roupas largas escondiam. Eu já tinha tido o prazer de apreciá-lo e posso garantir era o corpo mais lindo que já tinha visto.

Suas costas estavam coladas em meu peito. Podia sentir suas nádegas tocando minhas pernas e a pressão de seu corpo sobre meu sexo. Isabella tinha o poder de me enlouquecer, isto era um fato do qual não podia fugir.

– Você se machucou, Isabella? – Perguntei. Minha boca estava próxima de seu ouvido, e percebi que aquilo fez seus ombros se encolherem. Eu poderia dar tanto prazer a Isabella...

– Não – disse, afastando-se rapidamente, sem olhar pra mim.

O elevador parou. Isabella deixou as crianças saírem primeiro, mas mesmo assim a segurei pelos ombros, com medo que algum deles a derrubassem. Protegê-la era algo que estava se mostrando automático em mim.

Entramos no carro. Eu ainda estranhava os carros americanos.

– Acho estranho sentar deste lado e não dirigir – falei sorrindo.

Isabella me olhou e sorriu também, sem dizer nada. Com um sorriso daqueles, quem precisaria usar palavras?

Não conversamos até chegar no supermercado. Fui observando-a dirigir, me deliciando com seus movimentos lentos e delicados. O tempo dela era outro. Cheguei a pensar que vivia em outra dimensão.

Paramos no estacionamento. Ela não fez sinal que sairia do carro. Ficou apenas esperando que eu descesse.

– Você não vai entrar? – Perguntei surpreso.

– Te espero aqui - falou com toda naturalidade.

Não, de forma nenhuma eu me privaria de sua companhia. Se ela não descesse daquele carro, eu também não desceria.

– Venha comigo, acho que preciso de ajuda. Compras não são meu forte. - E não eram mesmo, mas o que me interessava no momento era tê-la ao meu lado.

Isabella mordeu os lábios de um jeito tão sexy que tive de me controlar para não ser irresponsável.

– Tá, eu vou.

Peguei um carrinho e começamos a andar pelos corredores do supermercado.

Mal conseguia me concentrar nas compras. Isabella estava ao meu lado e isso era tudo o que desejei nos últimos três anos. Curti cada segundo de sua companhia.

Fiz várias perguntas a ela, umas porque precisava de ajuda mesmo e outras só para ouvir sua voz.

Recebi apenas respostas monossilábicas: sim, não e talvez, mas ainda assim, se vinham de Isabella, me alegravam imensamente.

Ela me deixou na porta do condomínio. Um dos porteiros veio ajudar-me, levando as compras para cima.

– Então, tchau – falou timidamente.

– Tchau, Isabella. Obrigado pela ajuda. Foi uma tarde interessante. Assim que minha cozinha estiver pronta, vou convidá-la pra jantar, para retribuir o favor. - Talvez estivesse sendo muito rápido e ousado, mas precisava garantir que a veria novamente.

Sem conseguir me controlar, dei um beijo no rosto, saindo logo em seguida do carro.

Por um longo tempo ainda podia sentir a maciez de sua pele em meus lábios.

Isabella era mais linda ainda do que na foto... E eu estava mais apaixonado do que tinha imaginado...



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