Lacunas escrita por Petty Yume Chan


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que o capítulo ia sair essa semana =3
Na verdade eu programei esse capítulo no mesmo dia do capítulo passado. Anos de Spirit me fizeram esquecer que o Nyah tem essa função e--e no momento que vocês estão lendo isso eu provavelmente já devo ter esquecido de postar o capítulo, mas o Nyah não esquece ♡
Por que eu estou falando tudo isso? Não faço idéia kk'
Boa Leitura ^--^



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O céu tinha um tom azulado claro, as nuvens passavam depressa, como se alguém estivesse a acelerar um filme, o ar tinha um cheiro adocicado característico e o chão completamente branco por conta dos lírios. Era possível ver o sol, extremamente brilhante em seu ponto mais alto, entretanto, sob a sobra da grande árvore eu tinha a sensação de frescor.

No chão ao meu lado havia um livro de capa marrom, eu tentei ler seu título, mas as letras não se ajustaram a minha visão, estavam borradas e pareciam mover-se, como se dançassem em água. Do outro lado, um coelho branco comia um muffin, eu o observei por um momento, o modo como sua boquinha mordiscava o bolinho com ferocidade, ele parecia estar adorando sua refeição.

Cedendo a tentação eu o envolvi com as mãos, seu corpo era quente e os pêlos macios. Eu o ergui para que os nossos olhos se encontrassem, ele tinha olhos heterocromaticos assim como os meus, o nariz rosado farejava inquieto e a boca repleta de migalhas. Seus olhos brilhantes permitiam que eu visse o meu reflexo nos mesmos.

— Você tem medo do que as outras pessoas podem pensar?

Era a minha voz que ecoava pelo local, porém era o coelho quem falava, aquilo entretanto não me assustava, pelo contrário, me dava uma sensação de conforto. Ele prosseguiu.

— Os outros não me importam, só você é importante para mim.

Seus olhos exibiram um novo reflexo, tinha cabelos pretos e olhos amendoados, ostentava um enorme sorriso. Eu me tornei a garota, o coelho se tornou em mim.

— Eu quero que a nossa história fique só entre nós por enquanto.

Sua voz ecoou suave por todo o ambiente, como se não viesse apenas dela, mas de todos os lugares ao mesmo tempo. Sem saber direito o porque, eu pulei de seus braços e corri para longe.

— Ei coelhinho, espere!

Eu parei por um momento, equilibrado-me nas patas traseiras ergui meus olhos ao céu, esse agora era levemente nublado e o cheiro adocicado do ar era agora substituído pelo de chuva, e sangue.

Olhei para trás uma última vez, a garota corria em minha direção, as bochechas tinham traços molhados de lágrimas. O braço se esticou na minha direção enquanto eu via os seus lábios se moverem. Sua voz fora sufocada pelo som de um caminhão e minha visão se apagou.

— LYSANDRE!

· · • • • ✤ • • • · ·

— Lysandre?

Acordei assustado, a respiração ofegante, sentia alguns fios de cabelo grudados em meu rosto por conta do suor. O rosto da garota estava de frente para o meu e suas mãos seguravam meus ombros.

— Hey, tudo bem, foi só um pesadelo. Você está a salvo agora.

As palavras chegavam abafadas em meus ouvidos, minha mente completamente nublada. Não, aquilo não tinha sido apenas um pesadelo, aquilo eram memórias, e estavam completamente fora do lugar, mas havia uma em específica que mais me intrigava, e por algum motivo era a da qual eu menos me lembrava.

Por que ninguém havia me contado? Talvez estivesse enganado? Não, era impossível, eu sentia no profundo do meu ser que era real. Eu precisava esclarecer as coisas, precisava de respostas, precisava que me dissessem a verdade. Meus olhos se voltaram a garota na sala.

— Você… Eu… — Eu à encarei hesitante. Talvez aquela pergunta fosse muito repentina, mas algo dentro de mim gritava em expectativas de respostas. — Eu tenho uma noiva?

A garota me soltou rapidamente completamente desnorteada, seus pés recuaram alguns passos provavelmente sem o conhecimento da mesma, o que a fez esbarrar em alguns aparelhos médicos.

— Você se lembra?

— Vagamente…

Seu corpo estava rijo, completamente paralisado pela tensão, o queixo tremia levemente junto das mãos. Ela se moveu de forma quase robótica, sentando-se na cama de frente para mim. Seu estado de choque era nítido.

— Bem… Sim, você tem uma noiva.

Meu estômago revirou e eu queria vomitar, minha cabeça latejava a ponto de sentir que explodiria. As informações vindas como um soco, todas de uma vez, fazendo com que eu me sentisse tão perto da verdade, mas ao mesmo tempo tão longe. Eu apertava as minhas têmporas, a ponto de ter um surto nervoso.

— Mas como? Como eu poderia tê-la esquecido?

— Você se esqueceu de todos.

Ela mantinha a voz suave, na tentativa de me acalmar, porém o meu cérebro simplesmente não consigo aceitar a realidade.

— Sim, mas… Eu me lembrei deles… E se eu realmente tenho… Por que eu ainda não a vi?

A garota mordia os lábios com força, de modo que eles provavelmente sangrariam. Ela queria chorar, por que ela queria chorar? Por que eu queria chorar?

— Talvez ela esteja com medo.

— Com medo?

— É! — Ela respondeu de forma irrefutável, uma das mãos socando o colchão com força. — Uma das únicas certezas que ela tem é o quanto te ama! Tanto a ponto de renunciar isso, só para que você não se sinta obrigado amar alguém da qual sequer se lembra.

Sua voz já quase desaparecia ao final da frase, era possível perceber que segurava muita coisa pra si. Meus sentimentos estavam todos misturados, sentia um enorme aperto no coração. O que estava acontecendo?

A luz que entrava pela janela refletiu na minha aliança, chamando a minha atenção para a mesma. Era óbvio, estava ali, todas as respostas que eu procurava. Sem pensar duas vezes eu à puxei do meu dedo e a ergui na altura dos olhos, o que me permitiu ver o nome encravado.

"Eleonor"

Eleonor, do grego Heléne, que pode ser traduzido como "raio de sol". O nome me soava incrivelmente bem, me remetia a idéia de como ela deveria ser animada, iluminando os seus arredores enquanto ainda carregava consigo um toque clássico. Na minha mente se formou a imagem de um anjo, um ser banhado de luz brilhando como o próprio sol, filha do sol. Pensei Fedra.

Foi nesse momento que me dei conta do meu erro. Estava ali o tempo todo, na frente do meus olhos. Literalmente na frente dos meus olhos.

— Você… — Avancei sem pestanejar na direção da garota, envolvendo-lhe o rosto com as mãos. — Qual o seu nome?

Os olhos dela estavam arregalados, a respiração pareceu parar por um instante, a surpresa visível em seu semblante. Era como se ela finalmente se desse conta dos erros que havia cometido.

— É verdade que eu nunca me apresentei oficialmente… Bem, nesse caso…

Ela respirou fundo abrindo um sorriso em seguida, mas dessa vez era um sorriso diferente, um que brilhava como um raio de sol.

— Muito prazer, meu nome é Eleonor. Eu sou sua noiva.

Eu soltei o seu rosto, me afastando instantaneamente. Estava ali, a última peça que faltava. Sentia o meu corpo formigar, a adrenalina correndo em minhas veias, junto do sangue bombeado pelo meu coração inquieto. O muro estava cedendo.

A expressão de Eleonor se desfez, as lágrimas caindo ao mesmo tempo que um fardo saia de seus ombros. Seus lábios se moviam soltando frases em meio aos soluços.

— Me desculpe… Eu não sabia como te contar… Eu estava tão assustada.

Suas palavras não mais chegavam aos meus ouvidos. Minha mente nublada pelas memórias que passavam diante de mim, ali eu entendi o significado de "ver a vida passar diante dos próprios olhos".

"Você tem uma aura tão especial que eu sempre sei que você está por perto."

“Eu não estou com raiva de você, é que a simples idéia de te ver com outra pessoa me deixa muito triste.”

“— Talvez você se surpreenda com o que eu posso fazer.
— Talvez eu me sinta ainda mais atraída.”

“Você é insubstituível, você sabe.”

“Eu estou com muita de te beijar agora.”

“FANTASMA!”

— Fantasma?

Ela parou de falar e me olhou surpresa, os olhos já se encontravam inchados e os traços úmidos das lágrimas brilhavam em suas bochechas.

— Perdão, o que disse?

— “Fui eu quem assustou você e sua amiga naquela noite.”… Eu disse algo assim quando nos conhecemos, não?

Ela concordou com a cabeça, o olhar fixo no meu. Uma das minhas mãos envolveram-lhe a bochecha, permitindo a mim que sentisse o seu calor. Ela aninhou o rosto sob o meu toque, colocando a própria mão sobre a minha.

— Eleonor. — Seu aperto em minha mão intensificou-se. A feição mostrava-me que estava prestes a chorar de novo. — Eu sinto muito, eu não sei como fui capaz de te esquecer. Você sofreu calada por todo esse tempo... Eu vou fazer o possível para ser perdoado, eu prometo.

— Você não precisa se preocupar, a culpa não é sua.

Eu balancei a cabeça. Era necessário que eu perdoasse à mim.

Sem pensar duas vezes a puxei para um abraço, apertando-a forte. Eu me sentia feliz e gostaria de ficar naquele momento para sempre.

— Mas, apesar de tudo, eu estou feliz.

— Feliz?

— Sim. Quando eu te vi aqui a primeira vez eu pensei que você era a mulher mais linda que eu já vi. Saber que eu tenho a honra de tê-la ao meu lado me faz muito feliz.

Eu senti seus dedos se enrolando e apertando as costas da minha camisola hospitalar, eu à puxei mais para perto aconchegando-a. Ela chorou, chorou tudo o que tinha se impedido de chorar nos últimos dias, ali nos meus braços, ela chorou.

· · • • • ✤ • • • · ·

Finalmente havia chegado o dia da minha alta. A minha cabeça ainda não estava totalmente bem e, sinceramente, eu não sabia se algum dia ela voltaria totalmente, vez ou outra eu me deparava com espaços brancos entre as minhas memórias, não atrapalhavam realmente, porém eram um incomodo.

Meu irmão estava no quarto comigo, ele me ajudava a organizar tudo referente a minha alta, para que assim fôssemos encontrar com nossos pais. Eles acharam que seria uma boa idéia eu passar algum tempo no campo, longe de preocupações, eu aceitei com prazer, uma mudança de ares e estar perto da minha família era uma boa idéia para por a minha cabeça no lugar.

Quando chegamos a saída do hospital – para a minha surpresa – Não apenas os meus pais me esperavam, Rosa e Castiel também estavam lá. A minha saída do hospital não fez bem somente a mim, mas também as pessoas ao meu redor, todas pareciam mais alegres e menos abatidas.

Eu abracei cada um, feliz por estar com todos, sua presença e apoio eram cruciais para mim naquele momento. Entretanto, não pude deixar de olhar ao meu redor, na busca de alguém em especial. Minha intenção não passou despercebida para Castiel, o qual riu para mim.

— Não se preocupe, ela já está chegando.

Eu sorri timidamente, passando a mão pela nuca. Não tinha porque esconder, creio que já era óbvio para todos a minha ansiedade. Desde aquele dia minhas memórias se tornavam mais nítidas e eu tinha tantas coisas as quais queria conversar e perguntar, eu não via a hora de sair daquele hospital.

— Desculpe! Eu estou atrasada.

A voz características veio de trás de mim, o que fez com que o meu coração disparasse. Me virando eu pude contemplar a sua imagem correndo em minha direção, ela sorria, e isso tornava o dia – já ensolarado – mais brilhante. Ela era verdadeiramente um raio de sol.

Talvez seja irônico, e até um pouco nefasto o que eu vou dizer agora, mas quando ela chegou até mim e seus braços envolveram o meu pescoço em um abraço, eu me esqueci de tudo. Os meus arredores, as pessoas que ali estavam, tudo se esvaiu da minha mente e só nós dois importávamos.

Sem prévio aviso eu envolvi-lhe a cintura e juntei os nossos lábios, a princípio eu a senti recuar pelo fato de ser pega de surpresa, mas logo ela relaxou, suas mãos repousaram sobre o meu rosto enquanto nossos lábios se tocavam suavemente. 

Eu tive a sensação de ouvir algum tipo de comoção vinda das pessoas ao redor, mas a esse ponto eu já estava muito longe para me preocupar com qualquer coisa, naquele momento eu senti ter encontrado respostas.

A verdade é que, mesmo meu passado estando repleto de lacunas, tudo parecia estar em seu devido lugar. No fim eu conclui que, meu passado não fora realmente roubado de mim, eu quero dizer, não é porque você não pode ver algo que necessariamente não está ali.

O meu atual presente era consequência do meu passado, tudo ali só existia por conta dele, no final das contas eu nunca perdi a minha essência, eu não me tornei o tudo, da mesma forma que não me tornei o nada, eu era apenas eu.

Com isso em mente, eu deixei o passado para o Lysandre do passado. Mesmo que eu lembrasse de tudo, não seria possível alterar os fatos, o que estava feito não podia ser mudado. Eu confiei em mim mesmo e aceitei as consequências, sendo elas boas ou ruins.

Minha missão agora era outra, eu tinha que cuidar das coisas do futuro, das coisas as quais eu podia modificar, das coisas as quais eu tinha que conquistar. Meu passado já era meu, e o meu futuro me esperava. E ele estava ali, eu podia tocá-lo, eu podia senti-lo em meus braços.

O meu futuro tinha gosto de cereja.


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim dessa, não muito longa, jornada.
Obrigada a você que leu, comentou ou só deu uma chance para essa fanfic, ter um trabalho finalizado é sempre gratificante ^--^
Aos interessados, eu tenho planos para outros projetos, que se Deus quiser vão sair em breve, me faria muito feliz se vocês dessem uma chance para eles também. Enquanto isso não acontece, fico com um adeus...
Obrigada pelo comentário >—
Até de repente !!
Kissus da yume ♡



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