Apenas Uma Brincadeira escrita por Lua


Capítulo 1
Ciúmes, Acordo e Reviravolta




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— Por favor, por favor, por favor, Nina! – Vivian insistia, seguindo a amiga pelo pátio do colégio.

— Eu já disse que não! Eu não gosto de festas, você sabe disso. Por favor digo eu, não insista mais – Nina pediu, com o ar cansado de quem não aguentava mais recusar. Percebendo isso, a loira continuou com os pedidos.

— Mas o que é que custa? Vamos, eu nunca te pedi nada – questionou, enquanto segurava o braço da outra para fazê-la parar.

— Você quer a lista por ordem alfabética ou cronológica? – a morena retrucou, cruzando os braços e erguendo as sobrancelhas.

— Okay, eu já te pedi muitas coisas. Mas esse é um caso especial! Você vai deixar a sua pobre e inocente amiga ir sozinha à uma festa? – Vivian tentou uma chantagem emocional.

— Inocente, você? Faz-me rir – Nina disse, enquanto realmente dava risada. – Tudo bem, você venceu. Se eu aceitar, promete parar de me encher a paciência?

— Prometo! Obrigada, amiga – Vivian agradeceu, enquanto abraçava a garota.

— De nada – respondeu, sorrindo com a empolgação da outra.

Em seguida, soou o toque que anunciava o fim do intervalo e ambas voltaram para a sala de aula. Distraídas com a conversa, não perceberam que um olhar ciumento as observava, planejando tirar satisfações com uma delas assim que as aulas terminassem.

 

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As duas garotas caminhavam em direção à saída do colégio, rindo e planejando o que usariam na festa que ocorreria no final de semana. Nina já havia sido completamente contagiada pela alegria de Vivian, e estava ansiosa pelo evento. De fato, a morena estava tão absorta na conversa que não percebeu um rapaz parado no meio do caminho, acabando por esbarrar no mesmo. Virou-se imediatamente para pedir desculpas, quando percebeu que era Miguel, seu namorado.

— Hey! – ela cumprimentou, enquanto dava um selinho no garoto. – Estava nos esperando?

— Estava te esperando – ele retrucou, frisando o pronome e deixando claro seu desagrado com a presença de Vivian.

— Algum problema? Você está com uma cara péssima – Nina questionou, encarando o rapaz.

— Não, nenhum – Miguel desconversou. – Na verdade, vim te chamar para uma festa no sábado. Passo pra te buscar às 19h, pode ser?

— Então... – a garota começou a falar, pensando em como explicar ao seu namorado ciumento que não poderia sair com ele porque já havia marcado com sua amiga. Ela conhecia-o bem, e sabia que o rapaz não gostaria disso.

Vivian apenas observava a cena, pressentindo, assim como Nina, que o clima estava prestes a ficar muito pesado no local.

— Eu não posso ir – a morena falou de uma vez.

— E eu posso saber o porquê? – ele perguntou, com um quê de impaciência na voz.

— Eu e Vivian temos um compromisso no mesmo dia.

— É muito simples: desmarque – Miguel propôs, como se a loira nem estivesse presente.

— Não vou fazer isso. Ela me chamou primeiro, e eu me comprometi. Além disso, faz tempo que nós não saímos juntas, sinto falta disso – Nina respondeu, firme.

— Vocês podem sair juntas outro dia. Francamente, eu sou seu namorado! – ele exclamou, já perdendo a calma.

— E ela é minha melhor amiga! Os dois são importantes para mim, e eu serei justa. Depois marcamos algo, está bem? – ela se aproximou do rapaz, na intenção de beijar seu rosto em sinal de despedida, mas o mesmo se afastou.

— Não, nada está bem. Já que você prefere sua “adorada” Vivian, por que não namora com ela? Aliás, com essa sua amiga sapatão, eu não duvido que vocês duas tenham um caso, vai saber. Pra mim já chega: acabou, Nina.

— Você tem noção do que acabou de dizer? Se acha que eu vou ajoelhar e implorar que você fique, está muito enganado. Agora quem não quer mais esse namoro sou eu, seu homofóbico de merda. Vai pro inferno, Miguel.

Dito isso, ela puxou Vivian pela mão e saiu do local, sem olhar para trás.

 

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— Eu não acredito no que acabou de acontecer – a loira afirmou, assim que saíram do colégio – Você não precisava terminar o namoro por minha causa, eu entenderia caso preferisse sair com ele e relevar sua atitude.

— Você não entende, Vi. Eu não terminei com ele apenas por sua causa, mas também por mim. Já faz algum tempo que Miguel vem demonstrando esse lado extremamente possessivo, e o nosso relacionamento estava na corda bamba. Além disso, eu já desconfiava desse lado preconceituoso dele, e após isso vir à tona com uma ofensa a você, eu não podia mais continuar. Os acontecimentos de hoje foram apenas o estopim para que tudo desabasse de vez, não se culpe – Nina explicou.

— Tudo bem... se não quiser ir à festa depois disso tudo, eu entendo.

— Muito pelo contrário! Eu quero mais é me divertir, e melhor ainda: com você, a pessoa que mais me entende nesse mundo. Topa ir lá em casa para conversarmos mais sobre isso?

— Só se for agora! – respondeu Vivian, já deixando para trás os acontecimentos da escola.

 

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— Eu estava pensando... até que o Miguel não teve uma má ideia – afirmou Nina, perdida em pensamentos.

— Como assim?

— A ideia de nós duas namorarmos... não é tão absurda assim.

Diante da expressão atônita de Vivian, ela apressou-se em acrescentar:

— Claro, seria apenas fingimento. Como uma forma de dar uma lição nele, entende?

— Entendo... mas Nina, caso façamos isso, teremos que lidar com todas as consequências provenientes desse falso relacionamento. Você está pronta pra isso? – a loira questionou, preocupada com o que todos iriam pensar.

— Baby, eu nasci pronta – afirmou a morena, jogando os cabelos para o lado e fazendo a amiga rir. – Seria só por 1 mês, depois revelaríamos que tudo não passava de uma brincadeira para ensinar uma lição a um garoto ciumento, e tudo voltaria ao normal. O que me diz?

Vivian ficou em silêncio, com o queixo apoiado na mão e uma expressão pensativa no rosto. Depois, sorrindo marotamente, respondeu:

— Eu topo. Já faz algum tempo que não cometemos nenhuma loucura, não é mesmo?

 

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— Eu vou pegar uma bebida, você quer? – gritou Vivian, sobrepondo-se ao barulho que reinava no ambiente.

— Não, obrigada – Nina respondeu, no mesmo tom.

Elas já estavam há algum tempo na festa, que a cada instante ficava mais cheia. A escola praticamente toda estava lá, o que basicamente significava uma plateia gigantesca para o plano das garotas, algo que ambas já esperavam e influenciara na sua decisão em assumir o namoro ali, pois sabiam que essa era a melhor forma de espalhar a mentira. A morena estava nervosa, mas decidida. Enquanto aguardava o retorno da amiga, repassava tudo que haviam combinado: elas iriam à festa e se comportariam como de costume a maior parte do tempo, até que assumiriam a nova relação para todos.

— Acho que já está na hora – Vivian disse, assustando a amiga. Nina estivera tão perdida em seus pensamentos que não notara o retorno da loira.

— Sim, eu também acho. Vamos – concordou, entrelaçando os dedos com os da garota. Afinal de contas, precisavam fazer parecer que era verdade.

Dirigiram-se ao centro da pista de dança e pediram a atenção de todos ao redor. Quando o silêncio finalmente se fez presente, Nina comunicou:

— Temos uma notícia para dar a todos.

Em seguida, ela se aproximou de Vivian e a beijou delicadamente. Após se afastarem, ambas permaneceram com os rostos próximos, ainda atônitas pelo que haviam acabado de fazer. Ao ouvirem o som estrondoso dos aplausos e assovios de todos, levantaram a cabeça e sorriram, felizes pelo sucesso do plano. Ao erguerem os rostos, perceberam que algumas pessoas as encaravam com olhares de repreensão. Já estavam preparadas para aquilo, então apenas ignoraram.

— Acho melhor irmos – Vivian sussurrou no ouvido da amiga, que assentiu. Como um casal elas deixaram a festa, ainda escutando felicitações e (infelizmente) críticas de algumas pessoas pelo caminho.

 

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Os dias passaram e, aos poucos, toda a escola foi se acostumando com o namoro das garotas. Todos, exceto Miguel, que as fuzilava com o olhar cada vez que cruzava com ambas pelos corredores sem, contudo, proferir uma única palavra. O mês foi passando sem que elas se dessem conta, considerando que ambas estavam completamente concentradas em parecer um casal e agir como tal. Quando perceberam, já estavam na última semana da brincadeira e faltavam poucos dias para a revelação de todo o plano. Ao menos, esse era o combinado.

O que nenhuma delas imaginava era que nesse período de 30 dias, convivendo tão intimamente e agindo como namoradas, elas iriam acabar se apaixonando. Com a proximidade do fim de tudo isso, Nina e Vivian foram se entristecendo, ainda sem se darem conta do real motivo.

No instante em que a morena caiu em si e percebeu o que vinha crescendo em seu peito há dias, imediatamente ligou para sua melhor amiga e pediu que ela a visitasse. Nesse meio tempo, a loira também havia notado que o amor existente entre elas já não era fraternal, e estava extremamente confusa sobre o que deveria ser feito.

— Que bom te ver. Entre – Nina disse, assim que Vivian tocou sua campainha.

Dada a intimidade existente entre ambas, a garota apenas sorriu e seguiu direto para o quarto da amiga. Ela não era boba, e já imaginava sobre o que a outra queria falar. De fato, Vivian apenas não sabia como reagir a tudo aquilo. Sua mente e seu coração estavam em conflito, e a mesma não sabia a qual dos dois deveria dar ouvidos.

Ambas se deitaram na cama de Nina, deixando os cabelos penderem pela borda do móvel, e a morena puxou conversa.

— Vi, sei que não existem formalidades entre nós, então vou direto ao assunto. Tudo isso... esse namoro, as trocas de carinhos, os beijos... deveria ter sido apenas uma brincadeira, uma encenação. Achei que conseguiria controlar tudo friamente, incluindo meus sentimentos. Bem... eu estava errada – enquanto ia colocando tudo para fora, a garota virou-se de lado e encarou a amiga. - Não é mais uma brincadeira, Vi. Não para mim.

Vivian apenas encarava-a, atônita com as palavras de Nina, ainda que já esperasse por elas. Diante do silêncio da garota, a morena continuou.

— Eu não quero terminar nosso namoro... porque estou apaixonada por você. Você quer namorar comigo? – perguntou, olhando intensamente para a amiga.

— Mas nós já não estamos namorando? – a loira sorriu, numa tentativa de tornar o clima mais leve.

— Você entendeu o que eu quis dizer. Namorar de verdade, não apenas para dar uma lição no meu ex – apesar das palavras impacientes, um sorriso brincava nos lábios de Nina, feliz com a ideia de tornar tudo aquilo realidade.

Contudo, conforme a expressão no rosto de Vivian mudava de surpresa para dúvida, sua alegria foi diminuindo, até sumir em meio às feições sérias.

— Vivian? Você não vai dizer nada? Um “Sim”, talvez? Sem pressão, claro.

— Eu... eu não sei o que dizer. Preciso pensar melhor sobre isso, você entende?

— Claro que sim – Nina não conseguia esconder a decepção em seu olhar, fazendo com que um aperto tomasse o coração de sua amiga – Mas entenda... você tem até amanhã para decidir, pois é o dia em que a encenação terminará.

— Tudo bem. Nos vemos amanhã então, vou para casa – Vivian disse, enquanto abraçava a garota e saía do quarto.

— Até mais – a morena respondeu, sem emoção.

 

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— Caramba, estou horrível.

Nina estava em frente ao espelho do banheiro, encarando seu reflexo pálido, com olheiras e expressão apática. Ela não conseguira dormir à noite, pensando em qual seria a resposta que Vivian lhe daria, e o resultado da falta de sono era visível. A garota ajustou sua postura, visto que seus ombros estavam curvados pelo cansaço, mesclado ao peso das preocupações, e massageou as têmporas, lutando contra a dor de cabeça crescente. Após tomar um banho morno para relaxar, Nina se vestiu, tomou café da manhã e um remédio para a dor. Sentindo-se melhor, se obrigou a respirar fundo e controlar o nervosismo. Seus pensamentos estavam frenéticos, o que só piorava a dor de cabeça, mas ainda assim a garota conseguiu manter uma linha de raciocínio:

“Independente do que ela responder, continuaremos amigas. Não irei destruir nossa parceria por conta de uma confusão que eu mesma criei, isso não.” – Nina decidiu, suspirando novamente antes de pegar sua mochila e sair de casa, rumo à escola e à resposta que definiria o rumo de sua relação com Vivian.

 

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Ao chegar na sala de aula, ainda quase vazia, a morena percebeu que Vivian já chegara e a aguardava. A loira parecia ansiosa, olhando para um ponto fixo enquanto torcia as mãos. Nina interpretou isso como sendo um mau sinal, e decidiu conversar com a amiga logo, antes que a sala se enchesse de gente. Caminhando em direção à garota, ela tentou manter uma expressão neutra no rosto, pois não queria que Vivian se martirizasse por magoá-la.

— Bom dia – disse, tirando a outra de seus devaneios.

— Bom dia – a loira respondeu, sorrindo para ela e deixando-a confusa. – Você está bem? Parece ter tido uma péssima noite de sono.

— Estou sim, foi só insônia mesmo – afirmou, tentando parecer convincente e falhando miseravelmente. Afinal, ambas se conheciam profundamente, e sabiam quando uma delas estava mentindo.

— Não precisa mentir para mim – Vivian disse, suavemente. – Eu te devo desculpas, sei que não dormiu direito pensando no que eu responderia. Se ao menos eu não fosse tão lerda para perceber as coisas...

— Como assim? – Nina questionou, sem saber se havia realmente entendido bem o que a amiga queria dizer. Ela não queria criar muitas expectativas, mas a esperança de ser correspondida falou mais alto e a garota sorriu, inconscientemente.

— Eu quis dizer que fui lenta para perceber o óbvio: eu te amo, Nina. Amo mais do que já pensei que poderia amar alguém. Você sempre me entende, me apoia e faz de tudo para me ver feliz. Como eu poderia não me apaixonar? – enquanto falava, Vivian se levantou da cadeira e andou até a outra. – Eu aceito namorar com você. Isto é, se você ainda quiser.

O coração de Nina batia forte em seu peito, e ela não conseguia falar, a emoção a impedia de fazer isso. Sendo assim, usou uma linguagem mais simples, direta e precisa: uniu os lábios de ambas, transmitindo em um beijo o que não conseguia expressar em palavras.

— Claro que eu quero, sua boba. Eu também te amo, tanto que nem consigo explicar – ela disse, após se recuperar.

— Então não explique – Vivian retrucou, sorrindo e beijando sua namorada novamente.

Elas continuaram abraçadas, sorrindo e conversando, até que todos chegassem e a aula se iniciasse. Naquele dia, as garotas perceberam que uma simples brincadeira pode revelar sentimentos até então despercebidos, mas tão fortes que sempre encontram uma forma de vir à tona. Após tal epifania, Vivian e Nina reconheceram que só o que restava a ambas era aceitar a mudança de braços abertos e aproveitá-la, vivendo a alegria de amar e ser amada.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Não me deixem no vácuo õ/
Essa história me tirou totalmente da minha zona de conforto, pois não só é meu primeiro yuri, como também é minha primeira fic narrada em 3º pessoa. Por isso, estou aguardando seus elogios, críticas construtivas, opiniões e o que mais vocês quiserem expressar nos reviews ♥



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