Sombras na Lua escrita por allyhmarques


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Eu acho... Que a Ran vai ter algum trabalho daqui pra frente. Mas, só a história vai dizer neh?
Mwuahaha!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762709/chapter/4

Louis não era como eu. Ok, isso pode não ser ruim, mas, quando se tem um outro peregrino por perto a intenção de assassinarem um ao outro é incrível. Então, porque estamos nos dando ‘relativamente bem’, sem nem mesmo trocar palavras durante o dia? É uma pergunta que eu me faço sempre. Dois meses depois do nosso encontro no trem e eu sei tanto sobre ele quanto no início. Era um amigo próximo do meu avô, sem muitas raízes em lugar nenhum, mas, conhece gente por todo canto, vive sempre se mudando, é um dos observadores que foi enviado para nos manter sempre informados do que anda acontecendo em todo o mundo. Na real, eu adoraria enfiar uma bala na cabeça dele,  antes que ele pudesse bocejar quando acorda. Mas, preciso dele, foi uma das condições de vir ‘sozinha’ caçar a bruxa má do meu conto de fadas.

Enquanto me preparo psicologicamente para mais um encontro com não mortos, penso em tudo o que já passei antes de chegar aqui. De dormir em galpões abandonados a matar vampiros de tanto torturar, não sinto muita falta da segunda parte. Pacifista no entanto, nem sempre quer dizer imune à necessidade de violência. E, no meu caso, eu queria muito arrebentar com o máximo de vampiros possível antes de cumprir meu objetivo. Isso reforça em mim a idéia de Maquiavel, de que é mais prático escolher ser temido, ele era um cara que eu amaria ter como ‘amigo’.

Depois de descobrirmos que a rainha má estava fora do reino, não nos restou outra opção além de sair caçando a vadia pelo mundo. Depois de uma rápida passada pela Ásia, incluindo a Mongólia, acabamos nos deparando com uma pequena mudança do percurso. Deveriamos voltar para a Europa, pois era para lá que ela tinha ido, e, como voar não é a melhor das opções para nós, de trem e carros partimos de volta ao continente mais velho e infestado de todo o mundo. Isso seria com certeza uma aventura aterrorizante e muito emocionante para mim.

—-

Caminhamos por uma rua iluminada no centro de Paris enquanto de um pub chegava à nós uma balada dos anos 80, Gun’s and Roses tocando à todo volume, pelo vocalista era um cover bem ruim, mas, pelo menos era música de qualidade e pelo que ouviram, estavam numa área controlada quase exclusivamente por vampiros. Não havia divisão de poderes ali, e, nenhuma coroa valia. Era uma pena, ela poderia usar de uma coroa para conseguir algumas respostas. Na falta delas, torturas e batalhas sempre funcionam.

—Antes de entrarmos, queria deixar claro que esse plano não me agrada. - Louis precavido como sempre, um anjo da morte disfarçado em suas roupas de humano comum. O disfarce dele era praticamente perfeito, não fosse o lugar. Camisas sociais não fazem muito o estilo dos roqueiros que estavam à nossa frente. Acredito que depois de passarmos meses congelando o rabo em trens e carros, eis que seria um momento para relaxar, o início da noite fria de outono em Paris só me lembrava sobre as nossas fraquezas e quão debilitantes elas podem ser. Meus dedos tocaram a gola do meu casaco preto e foram aos cachos ajeitando os caracóis em volta do rosto, quem me olhasse poderia dizer que era apenas uma transeunte em busca de bebidas e diversão e isso era excelente. - E, não gosto de te ter exposta dessa forma, vamos apenas entrar fazer a varredura do perímetro e voltar para o galpão.

—Ah, claro! E eu deixei de responder à uma rainha, pra responder ao seu subordinado. Qual seria a graça disso, Louis?

Matteo que nunca nos abandonava, parecia estar fazendo amizade com um mendigo próximo que nos encarava com demasiada curiosidade. Éramos um grupo interessante e distoante em vários sentidos. Ainda que parecêssemos uma engrenagem de relógio bem lubrificada marcando precisamente as horas ainda discordávamos em alguns pontos cruciais de tática, me peguei sentindo falta dos tempos em que tinha que discutir apenas com Matteo sobre o que fazer e ele me seguia cegamente.

—Só estou dizendo que não é o melhor ambiente para uma princesa, afora o fato de que podemos nos encontrar com personagens bastante desagradáveis nessa cruzada. Não custa ser precavido.

—Alteza. - A reverência veio do mendigo que estava sentado do lado de fora do pub, possivelmente havia ouvido parte do assunto sem se dar conta da importância de suas palavras. Meus olhos brilharam em advertência e antes que ele pudesse reagir propriamente, Matteo se colocou estrategicamente entre nós bloqueando a visão da pobre alma.

—Ranielle, ele não sabe nem o que diz, deixe o bêbado em paz e vamos prosseguir com o plano. Com sorte encontraremos o tenente.

—Sim… Vamos.

Sim e fomos mesmo. Na toca do não-morto o cheiro de cigarros, bebida barata e vômito preenchiam o lugar com densidade. Nesse ponto, nossos sentidos aguçados não são nenhuma dádiva. Contrário à isso as náuseas estavam me fazendo suar frio dentro do casaco pesado. O meu desconforto foi replicado nos meus companheiros que estavam também começando a ficar verdes, seria cômico se não fosse trágico.

Indo para os fundos do pub, tomamos uma mesa vazia e observamos os movimentos dos transeuntes. Meus olhos pousaram numa mulher semi nua que estava com um short preto de couro e uma blusa de renda vermelha, a coleira em seu pescoço indicaria que ela era servente de sangue ou uma prostituta com benefícios por se deitar com o chefe da casa. Estava me acostumando a ver esse tipo de cenário sempre que entrávamos num covil, a prostituta mais nova geralmente era a escolha para o imbecil que comandava a casa.

—Certo, nada do não-morto ainda. Talvez ele não venha esta noite. Mais meia hora para conseguirmos alguma informação ou darmos o fora daqui.

—Três cervejas e dois shots de tequila por favor, doçura. - A voz melosa de Matteo nos assustou e foi quando percebi que Louis estava cochichando no meu ouvido as instruções e a garçonete se aproximava. Para qualquer pessoa, era como se estivesse dando um beijo discreto no meu pescoço.

—É pra já chefe.

Com uma piscadela exagerada para meu companheiro de viagem, ela se virou e voltou ao balcão, o cheiro de feromônios que ela exalava, fazia meu estômago embrulhar mais que o cheiro do vômito.

—Você come qualquer coisa que se move, deveria ter cuidado idiota.

—Ora, me considero mais um apreciador de mulheres, chefe.

Um sorriso pouco sincero brotou nos meus lábios. Eu não costumava sorrir depois que saí de casa, ou antes da minha irmã nascer. Eu costumava ser mais apática e taciturna, porém o humor fácil de Matteo me deixa mais leve ainda que com as toneladas nas costas.

—Porque pediu os shots de tequila?

—Vamos lá… Lembre-se de Vegas, baby.

Num futuro próximo, Matteo vai se tornar apenas o fanfarrão que curte festas e mulheres, atualmente, se é que posso considerar assim… ele vai continuar sendo meu segundo em comando com Louis atrás dele.

—Ok, vamos agitar então. - Dou de ombros com cara de poucos amigos, porque manter a pose faz toda a diferença quando você tem outros à comandar. Anotem isso crianças.

—Sabendo as responsabilidades que a aguardam, você devia cuidar mais da sua saúde, Ranielle. Não adoecemos com facilidade mas podemos padecer se não tivermos cuidado.

—Ora, seja mais humano pelo menos um dia da sua miserável vida. Ser idiota às vezes pode ser divertido.

—E, pode nos levar a ser mortos.

Com a chegada da garçonete nossos ânimos esfriaram e a discussão que nem havia se iniciado morreu antes mesmo de tomarmos o primeiro gole de nossas cervejas. A banda agora tocava Crazy Train de Ozzy, uma das minhas favoritas. Me levantei jogando o casaco negro no encosto da cadeira e puxando um resistente Matteo, fomos dançar. Parecíamos humanos se divertindo normalmente e enquanto sorrimos, pude ver pela periférica a desaprovação inundando nosso caro amigo que permanecia sentado como uma estátua. Ele não sabe se divertir enquanto trabalha.

Foi quase no final dos graves que comecei a sentir o cheiro de sangue podre. Aquela essência me preenchendo como um veneno e correndo à toda velocidade ao meu coração. Meu primeiro instinto foi puxar a minha arma que estava no bolso, do casaco, é claro. Eu estava apenas com uma faca na altura das costelas coberta pela blusa de seda verde escura. Não era muito prático num bar lotado enfiar as mãos dentro da roupa para tirar uma faca quando estava cercada de humanos, então fiz o melhor que pude para manter a compostura e aguardar o fim da música torcendo para que minha vítima se mantivesse dentro do bar. Matteo também sentiu a presença podre do não-morto e enquanto trocávamos olhares indagadores, Louis saiu de seu assento e foi até a porta. Ótima tática, vamos encurralá-lo. No pior dos casos começarei a atirar para cima até ter todos fora do lugar.

Cabelos lisos e curtos num tom de loiro escuro entraram no meu campo de visão enquanto eu ainda dançava. Um sorriso com presas brancas e perfeitas se fez naqueles lábios podres enquanto os olhos negros como a boca da onça me fitavam de cima a baixo. Eu poderia ser um pedaço de filé no prato dele no dia seguinte, caso não estivesse mais que preparada para essa conversa.

—Nos fundos.

Aquele sussurro me gelou até os ossos enquanto a banda dava os acordes finais do solo de guitarra. Rumando para a mesa e fazendo um aceno para Louis que foi por fora até o local em que deveríamos encontrar com a nossa suposta vítima, peguei meu casaco onde estava minha arma e minha lâmina negra e fui para fora enquanto Matteo pagava a conta.

—Tome cuidado. - Foi seu aviso quando me deu as costas. O loiro já havia saído do meu campo de visão novamente mas, suspeitava que ele estaria lá fora esperando por mim.

—Tomarei.

Porta a fora, a escuridão se abateu sobre a cidade de forma aterradora, enquanto segurava firmemente o punho da arma e ia em direção ao beco nos fundos do bar, visualizei Louis conversando com o loiro. OK, isso não é nada próximo do que eu esperava, e, pior ainda o aperto de mãos fez meu estômago embrulhar instantaneamente. Meu atordoamento foi percebido, quando um Matteo chegou como se tivesse sido perseguido pelos cavaleiros do apocalipse até ali.

—Que porra está acontecendo aqui? - Falei com calma enquanto empunhava a arma direcionada para as cabeças à minha frente. - É bom alguém se explicar ou eu vou começar a matar até os meus.

O gatilho da arma fez um barulho que para nós era ensurdecedor, mas, não passou de um clique prático da bala na agulha.

—Ranielle, eu te disse que meu trabalho era viajar. Conhecer vampiros também fazia parte do meu trabalho. Raoul é uma fonte importante de informações sobre os não-mortos. Agora abaixe essa arma e vamos conversar com ele. Tem coisas que você precisa saber.

—Ran… Eu não sei se podemos confiar nele. Com a debilidade da sua avó, ele seria um espião sem precisar se esforçar muito pra isso.

—Obrigada pela óbvia explicação do que estou pensando nesse momento, Matteo. Você está brilhando em entendimento.

—Quando concordei em falar com vocês, ninguém me disse que eu ia ter uma arma apontada pra cabeça, Louis.

Meus olhos fervilharam de ódio. Ele sabia que vínhamos. O que mais eu não estava sabendo dessa história maldita? Devo dizer que desapontamento não passa nem perto do que eu sinto nessa merda de momento.

—Então, vamos começar do básico, seu lixo podre. Comece em ‘Motivos pelos quais não devo morrer em dez segundos…’

—Ranielle, seu avô estaria desapontado.

—Oito… Sete…

—Ran… Vamos ouví-lo.

—Cinco… Quatro… Três…

—Ok, eu falo. A Encantadora não está em Paris.

Como um balde de água fria, meu corpo todo se sentiu entorpecido. Esse demônio parecia água, a cada vez que eu achava que ia poder finalmente estrangulá-la, ela me escapava por entre os dedos.

—Certo… Mas, isso ainda não é motivo suficiente para que eu não acabe com a sua vida e com a desse traidor de merda.

—Seria se eu pudesse dizer os planos dela para o futuro próximo?

Aquilo me interessou. Eu poderia estar ficando louca, mas, estava bastante interessada em ouvir o que ele tinha a dizer. Sem baixar a arma, parei a contagem mental de segundos que se passaram, eu dera o ultimato à um não-morto totalmente diferente daquele que estava diante de mim revelando segredos para poupar sua vida.

—Em primeiro lugar, princesa. Devo dizer que é uma honra. - O forte sotaque francês me fez perceber que talvez ele tenha passado a semi vida miserável naquele lugar desde sempre. A vantagem de nos mudar sempre era essa, eu não mantinha muitas raízes e me sentia livre num mundo louco. - E que não esperava menos da senhorita. - A reverência me confundiu bastante. Que raios estava acontecendo? Desde que entrei nessa caçada, me sinto perdida em 80% do tempo e só o foco no meu objetivo me permite manter a sanidade. Mas, isso era demais até pra mim.

—Ok, chega dessas firulas. E, não me chame de princesa novamente.

—Como desejar, Alteza. - Aquela porra de reverência de novo. Eu vou matar esse cara!

—Corta o papo e fala logo.

—Ranielle, ele deseja nos ajudar Raoul é fiel à uma causa que você não entenderia nem se desenhássemos.

A mira da arma foi para o peito de Louis, o aço cromado e dourado brilhando nas luzes enquanto seus olhos se abriram levemente, eu sabia que era um movimento bastante arriscado mas tinha certeza de que ele prestaria mais atenção se estivesse sob ameaça.

—Quer começar por exemplo, pela sua traição iminente? Não precisaria nem mesmo me explicar.

—Ah, precisaria sim. - Aqueles olhos castanhos como os de vovó costumavam ser, me encararam com uma firmeza assustadora para um Peregrino. Costumamos assim como nossos destinos e objetivos, termos olhares mais incertos que aquele. Mas, nem mesmo isso me demoveria do meu aguardado interrogatório.

—Então, comecem logo, porque eu já estou querendo atirar em alguém.

—Raoul luta, bom.. lutava ao lado do seu avô. Por mais paz entre nós. É um bom informante e toma doses consistentes de verbena antes de nos passar informações e pequenas doses diárias. Aquilo que aconteceu em Berlim, não foi uma coincidência ou um acidente. Você entende relativamente pouco sobre os que caça.

—Se queriam minha atenção, ela está totalmente voltada para vocês agora. - Tomando a palavra voluntariamente pela primeira vez, Raoul olhou para mim com seus perfurantes olhos negros.

—A Rainha da região de Cerras, é a Lady Encantadora. Uma das mais velhas entre os vampiros. Ela tem governado por mais de 400 anos, se tornando uma potência e muito habilidosa quando se trata de monitorar os seus sobre o que dizem para vocês ou sobre o que falam sobre ela. Pelas ordens dela, qualquer vampiro que for pego dando informações aos garou, são condenados à morte. Geralmente ocorre durante os próprios interrogatórios, como você presenciou mais de uma vez. Nós os dirigentes, somos encarregados de, por meio de nossas conexões mentais, exterminar qualquer um que ousar dar informações sobre ela.

O estalo da arma sendo desarmada foi como um grito que reverberava na minha mente. As coisas fazem um pouco mais de sentido agora. Todos os que pegamos não falavam sobre ela. A única coisa que tínhamos e com muito custo, era um nome e uma ‘possível’ localização.

—Não precisávamos sair do bar para que nos dissesse isso.

—Não, mas, imagine o que ocorreria se os humanos que são nossas bolsas de sangue, ficam sabendo que estou me encontrando com garou sem uma briga sangrenta por trás? Seria a minha cabeça numa bandeja na mesa dela mais rápido que um estalar de dedos.  - OK, eu entendia o ponto dele. Só não estava muito animada para descobrir mais coisas que poderiam ser o fim de crenças. - Ela tem te observado, Ranielle. Através dos olhos das suas vítimas, ela sabe que que você está indo por ela. E se acha que pode pegar a vadia desprevenida, precisa tomar mais cuidado com que sair matando vampiros inocentes.

—Inocentes? - Um sorriso cruel brotando nos meus lábios vermelhos e eu era a que quase iniciava uma gargalhada. - Inocentes? Vocês? Que usam humanos para se alimentar como se fosse um playground gratuito? Sério? Acredito que não.

—Não é tão diferente das suas práticas de caça. A diferença é que as nossas ‘vítimas’, ficam vivas quando finalizamos.

Era um bom ponto mas eu não estava ali para discutir pontos. Queria respostas e se possível antes de fazer 100 anos. E eu só obteria isso se ele deixasse de me dar explicações filosóficas sobre nossos hábitos de vida. Com o meu sorriso mais brilhante e o cenho relaxado, abri meus lábios cantando para ele a minha pergunta como se minha vida e jornada dependessem disso. E de fato dependiam, mas, ele não precisava saber disso.

—Então, Raoul. Eu gostaria de algumas informações se puder me fornecer te agradeço. Vamos começar com o motivo pelo qual não devo empunhar novamente a minha arma e fazer um buraco redondo na sua testa.

O alerta no olhar de Louis veio de forma automática. Talvez eu realmente não quisesse lidar com um não-morto. Ou com um peregrino irritado.

—Ora, Lou… Vamos lá. Estou apenas estabelecendo nossas prioridades. E tendo a certeza de que ele sabe bem com quem está lidando.

—Eu sei, Alteza. - Sua voz veio cortante aos meus ouvidos, enquanto pensava provavelmente como poderia escapar de mim por ter dito aquela palavra novamente. - A verdade, é que a minha causa vai além do que você pode supor. Estou vagando por esta terra a quase 300 anos, sem rumo enquanto procurava algo a que me agarrar, seu avô trouxe uma paz que merecia ser mantida. Minha revolta é contra a Rainha que causou a desavença entre nós.

Aquela era uma revelação que eu não esperava. Se ele realmente lutou com meu avô e de fato parece ter lutado, poderia ser uma fonte de informações importante. A verdade, é que eu queria mais informações sobre meu avô e sua vida, vindas de uma fonte mais próxima do inimigo. A maneira como ele diria o que eu queria ouvir, poderia contar bastante à seu próprio respeito.

—Entendo, então sua revolta de um homem está diretamente ligada ao fato de que ela fodeu com um sistema que estava funcionando entre nós. - Começo a bater palmas sarcásticas enquanto os encaro. - É, com certeza, uma bela história. Porém, não passa disso.

—Ficaria feliz em saber, princesa, que não sou o único que pensa desta forma com relação à ela? E que nos últimos tempos, temos nos reunido para minar as forças dela por dentro? Temos aliados em todo o mundo, inclusive outros Lordes e Ladies que estarão felizes em juntar forças contigo para que essa matança sem sentido termine. Somos inimigos naturais, porém somos racionais o suficiente para entender que não precisamos mais viver desta forma. Era algo que seu avô entendia, mas, perigosamente, algo que seus tios não querem nem pensar.

Ok, ele compreendia alguns dos meus medos… A frase de Louis fazendo à cada dia mais sentido. Eu precisava pensar melhor no que fazer naquele momento, era muito para ser digerido de uma vez.

—Certo, onde ela vai estar nos próximos meses?

—Ranielle, não funciona assim. Você nem mesmo consegue se controlar corretamente e para poder vencê-la vai precisar de todo o controle sobre o lupus em ti.

Minha mente girou por um segundo enquanto olhos vidrados de Matteo e Louis vinham ao meu encontro. Eu sabia que não era boa ainda em controlar a minha transformação. Mas, ouvir isso do não-morto só me deixou puta. Eu precisava contornar e virar o jogo.

—Se for atrás da Encantadora agora, vai apenas perder e desperdiçar essa linda teimosia e determinação em uma derrota vergonhosa. Não a subestime. Este foi o erro do seu avô.

—Como sugere que eu faça algo para melhorar minhas habilidades na transformação?

—Vamos chegar lá… Nos encontramos amanhã às 18 horas, agora tenho que ir. Louis, meu amigo. Cuide-se. Matteo, foi um prazer finalmente conhecê-lo.

Com um sorriso de canto, o não-morto foi-se. Ótimo, não pude matar ninguém. Bom, pelo menos tive algumas respostas e possível um novo aliado.

—Temos que ir, não é seguro para ti ficar aqui fora.

—Vá à merda, Louis.

—Sim… Vá à merda, Louis. - O mendigo bêbado da entrada do bar parecia estar nos observando por mais tempo que o necessário. - Alteza…

Meus olhos fervilharam em vermelho enquanto pensava nas frustrações dos últimos dias, e, minhas unhas cresceram ao ponto de criar garras, meus sentidos injetados de adrenalina carregavam ódio e mágoa sobre tudo o que perdi nos últimos tempos e o que ainda parecia destinada a perder. Essa vida era uma merda atrás da outra. Os pêlos da minha face foram se pronunciando e minhas orelhas ficaram pontudas enquanto meus caninos cresciam. Eu não podia me transformar, dois fôlegos curtos para dentro… Um fôlego longo para fora.

—Ora, vamos lá, doçura, não é todo o tempo que vejo uma mulher tão linda assim na minha frente…  

Antes que pudesse notar, saltei na direção do humano com a destreza da minha raça, pulei nele, derrubando-o no chão e com as garras rasguei sua camisa esfarrapada. Matteo sabiamente se afastou da cena, enquanto Louis ia junto de mim. Ódio, uma neblina vermelha de puro ódio penetrava minha mente e corpo. Minhas presas deformavam meu rosto que ainda não tinha todas as características lupus. Eu não me transformava, nunca tinha tido tantos elementos da transformação de uma vez, na verdade, eu quase não os tinha.

Minhas garras começaram a cavar a carne enquanto minhas presas prenderam o nariz do bêbado, sua mandíbula foi deslocada e estilhaçada pela força da minha e meu corpo o prendia ao chão. Ele berrava em agonia demonstrando a dor que eu queria tanto infligir, mas não era o suficiente, nada seria. Eu queria o corpo podre inerte na minha frente, juntamente com uma poça de sangue. Com muito custo, Louis conseguiu me afastar o mínimo e após o choque Matteo foi em seu auxilío e me puxou para longe do homem que em seu desespero tentava se afastar. Agora não tinha mais volta, ele precisaria morrer e ser queimado para que os ferimentos não denunciassem o tipo de ataque.

—Leve-a daqui. Antes que ela faça algo mais hediondo.

—Eu vou matá-lo!

Meus pulmões inchavam pelo esforço de continuar trabalhando enquanto eu lutava contra Matteo que em meu momento de desespero era mais forte que eu. Eu tinha o ódio ao meu lado mas, nem isso foi capaz de tirar meu amigo do meu encalço. Enquanto saíamos pelo outro lado do beco, pude ouvir Louis atirar no homem por duas vezes, tirou o pobre coitado de sua miséria. O que ele faria com o corpo posteriormente não era da minha conta. Eu ainda podia sentir a adrenalina correndo nas minhas veias enquanto entramos no armazém em que estávamos. Quase uma hora depois, Louis entrou com cara de poucos amigos, meu descontrole poderia ter nos custado a vida, eu sabia disso mas jamais admitiria.

—Então, te chamar de princesa desencadeia essa fúria estúpida e cega? Queira ou não, você É uma princesa. A herdeira de uma matilha poderosa e antiga. Engula essa merda e siga em frente. Ou diga à sua avó pra ir se danar. Não podemos mais ter esses descontroles, Ranielle. Você não é idiota à esse ponto, é ridículo até pra você.

Duas respirações pra dentro, uma pra fora. Duas pra dentro, uma pra fora. Duas pra dentro, uma pra fora.

—Não vai acontecer novamente.

—Não… Não vai, conversei com Raoul, ele disse que vai começar a treinar contigo, como treinou com seu avô. Você vai ter um não-morto de estimação a partir de amanhã à noite.

Frustração desce com um gosto forte na garganta, ainda mais quando esperamos matar alguma coisa. Mas, eu não admitiria que precisava desse treinamento de jeito nenhum. Poderiam me torturar e eu jamais admitira nada a eles.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A senhora Sanidade mandou um abraço pra nossa heroína ♥
Ah!!! Não se esqueçam dos meus recadinhos do coração ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sombras na Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.