Sombras na Lua escrita por allyhmarques


Capítulo 1
Era uma Vez...


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente! Depois de... sei lá... 6 anos? kkkk' Voltei com uma original. ♥



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Ao chegarem à cena, era uma carnificina generalizada, uma mulher baixinha de cabelos negros escorridos e um olhar mortal empunhava uma adaga cromada numa mão e um tipo de foice na outra, seus olhos eram negros como a noite e ela demonstrava certa maestria ao estripar vampiros. Os dedos de Ran se curvaram sobre o cabo da arma e seus olhos adotaram o vermelho vivo como um rio de lava correndo pelas íris. Seus tiros perfeitos derrubaram dois dos 8 vampiros que estavam atacando a garou. Louis também atirava enquanto chegaram à briga, Ran guardou rapidamente a arma e agarrou um dos vampiros restantes de pé, enquanto cravava uma faca em seu externo, uma lâmina encontrou seu caminho na lateral do pescoço dela, segundos antes da mulher cravar o estômago do não-morto com uma lâmina de arremesso. A luta ficava mais sangrenta a cada segundo, enquanto seis dos oponentes já haviam perecido, as garras de Ran encontraram uma garganta enquanto a mulher encontrava com  a foice o crânio do não-morto. Apenas um deles ainda de pé e quando olharam, Louis havia atingido uma de suas coxas e a princesa rapidamente plantou outra bala em seu joelho.

~~ * ~~

Era uma vez, nada! Essa coisa de "Era uma vez", já está batida e clichê, também não dá pra dizer que "Foi numa galáxia distante", porque foi alí... bem perto, quase tanto que dá pra se alcançar com os dedos... Ok, eu sei que vocês querem saber o que deu em mim começar a escrever essa história? Bem... sabe quando você sente que precisa passar algo em diante? Fazer as pessoas te lerem, se identificarem e passarem menos mal pelos problemas que tu passou? Ah... não é o meu caso, eu só senti vontade de escrever mesmo. Acho que foi ficar tanto tempo enclausurada dentro de mim mesma quando saímos à vontade maior, além de arrancar cabeças, é contar ao mundo o que tu és. Bem... antes de mais nada, eu sou uma lobisomem. E a minha história começa na data do meu nascimento.

Há algum tempo atrás, num lugar à meia distância, ok... é bem distante: o distrito de Beirão em Portugal... Lá é um lugar famoso e adivinha porque? Acertou quem disse que a cidadezinha é, de fato, um lugar extremamente propício para o que eu sou. Exatamente, Lobisomens. Estamos por toda parte e humanos normais nunca nos identificam. O porque disso eu não sei mas acho que vocês só podem ser cegos. Enfim... Um jovem casal teve uma filha, uma menina diferente de tudo o que já tinha se visto e seu nome era Ranielle, ela já nascera com os olhos vermelhos, injetados com sangue vivo que parecia fluir por baixo da íris, cabelos cacheados mel, pele morena clara e bochechas rosadas.

Isso aí, eu falo de mim em terceira pessoa e tenho alterações de consciência, alguém vai encarar?

A menina ao chegar ao terceiro ano, já não apresentava nem sombra dos olhos vermelhos em seu estado normal de espírito e vão por mim, vocês vão entender essa parte daqui a pouco, a única marca que perdeu, pois os cabelos ainda continuam claros e a pele também. Talvez as bochechas tenham deixado de ser rosadas mas isso não importa. A beleza dela era interessante, intrigante... Cresceu como uma garota normal, até o sétimo ano de idade, quando os membros mirins da família são 'iniciados' nas atividades familiares. Para um mero mortal, é complicado entender o que seria ser iniciado, pois bem... Uma das características marcantes de ser um lobisomem é a sede de sangue, é, sim e não... não sangue humano, essa sede na realidade é de exterminar as vidas, e, no caso dos hábitos da minha família, caçamos animais como Antas, Pacas, Coelhos, Tatus, Jacarés, Cotias e Lobos do Mato. É, caçar parentes era proibido mas o tio Herman mudou isso.

Os meus favoritos são antas e jacarés, pela dificuldade de matá-los. Nunca se consegue pegar uma anta se estiver sozinho, elas correm até setenta quilômetros por hora e tem a força de três homens, além de escoicear como cavalos. Jacarés são relativamente mais fáceis... Tu até consegue matá-lo só... o problema é carregar a carcaça pra fora d´água. Ficou curioso pra saber como se matam antas? Simples, tu tem de estar num grupo de três, farejá-la e seguir seu rastro montanha e mata dentro, sem dar um piu. Depois quando encontrada, tu tem de ficar em posições de ataque furtivo. Três de nós, derrubam uma anta em menos de vinte segundos. E... a pele dela, não se perfura nem com balas de revólver calibre 20 ou 38, acreditem eu já tentei. Tem de posicionar um no flanco esquerdo, dois no fronte, os do fronte, tem a responsabilidade de sagrá-la pela jugular, com faca ou facão bem amolado (Que provavelmente terá de ser novamente amolado depois do ataque), fazê-la perder a consciência é muito bom também, se for de montaria, peão treinado como meu primo, tu pode tentar asfixiá-la, pra depois fatiar, mas, como eu não sou, vou pelo básico. Um sangra a jugular, o outro de fronte, corta a junta das patas dianteiras... Aviso, nunca cace com o meu irmão, ele é perito em cortar uma só... e ela corre mancando. O do flanco traseiro, faz a vez de cortar a femural. Quanto mais sangue sái, mais rápido ela morre! A carne dela é muito saborosa, mas, nada supera jacaré ao molho de morango e uvas. Só a minha tia sabe preparar.

Aos setes anos, todo lupino já deve saber manusear uma faca ou no mínimo já ter feito o rito do sangue, que é a presunção da vila, de que ele está pronto para caçar, e, viver plenamente como deve ser feito. O ritual para mulheres é ligeiramente diferente mas vocês perceberão que eu to pouco aí, pra isso de ter nascido mulher, meus instintos me guiam de maneira descomunal e todos percebem isso. Ao menos meu avô percebeu, deixando claro que eu sempre faria o que desejasse. Quando fiz 16 anos, ele faleceu numa batalha contra um vampiro que até hoje é um grande mistério para todos nós. Ficamos uma matilha sem alfa e abalados pela perda de um dos maiores exemplos da nossa família.

Em menos de 48 horas após a morte dele, mamãe e papai decidiram se mudar para o Brasil. Afastar-se das lembranças dele em nossa terra natal deveria ter feito bem e curado mamãe da dor, mas, ao contrário... Ela sentia muita falta de tudo e todos que tínhamos deixado para trás. O que não me surpreende, já que eu também senti muita falta de todos. O tempo passou e meus pais estabeleceram um pequeno império no Brasil, entre empresas de pequeno e médio porte, à uma empresa voltada à engenharia civil, acabei me inteirando na Escola Italiana, Instituto Torino de Educação. É uma escola maravilhosa e eu sempre quis passear mais sozinha, como não era o costume quando se tem matilha. Sempre me disseram dos riscos de ser um lobo desgarrado mas eu jamais pensei que isso pudesse ser algo ruim, eu era diferente dos meus irmãos. Ah, sim... Esqueci de mencionar que sou uma Peregrina... E, eles são todos Galliard.

Vocês podem se perguntar que relevância tem isso e já que cada um nasce com características específicas, é como se fôssemos de signos diferentes. E eu sou da paz e amor, ok, bom... nem tanto, mas pelo menos não mato qualquer coisa que se mova, simplesmente porque se move diante dos meus olhos. Estou mais para ‘me deixe viver em paz, e eu te deixarei viver’, diferente deles, que por qualquer bobagem saem sangrando e atirando nas pessoas.

Nossos instintos são os mesmos, assim como nossa capacidade de matar, porém, diferente deles eu me importo (ou deveria me importar) de sair tirando vidas indiscriminadamente. É um hobby mau remunerado.

Hoje com 26 anos, acreditem a minha vida vai começar. Como lupina minha maioridade na matilha deveria ter sido concedida aos 16 anos, idade de começar a procurar um marido e montarmos nossa própria família feliz. HAHA, isso não vai acontecer tão cedo, primeiro porque ninguém me desperta desejos de constituir família e segundo eu quero ser livre para viver minha vida e minhas escolhas como desejar e não ficar batendo continência pra lobo velho. Mas, mamãe me prometeu que eu ia conseguir sair do ciclo vicioso de estar ligada a eles 24 horas por dia e poderia quem sabe, viajar. Eu sempre quis conhecer outros países, outras realidades e a minha condição me permite experimentar o mundo de maneira única, eu não poderia perder essa oportunidade, certo?

—Está pronta?

O sussurro provavelmente mais alto apenas que um gemido chamou minha atenção da porta, era mamãe, me chamando para a conferência. Meus três irmãos estavam sentados já à mesa, confabulando baixo à respeito de papai não dever me permitir sair dos ‘muros do castelo’, como era chamada nossa casa no Brasil. Tínhamos seguranças nos acompanhando para cada canto e guardando as guaritas da casa, apesar disso tínhamos liberdade. Entretanto, eu sempre esperei mais da vida e cá estamos.

—Sim. – respondi simplesmente, sem ter a vontade de iniciar uma conversa, que terminaria com mamãe me implorando para não deixar o castelo para ir pro mundo.

—Está certa da sua decisão, Ran?

—Sim, mamãe. Estou.

Os olhos lacrimejantes dela me lembraram que apenas dez anos atrás, perdemos vovô para um vampiro ainda não identificado. Mas, eu não podia me apegar a isso. É fácil ceder ao conforto e bem estar e se esquecer de sonhar seus próprios sonhos, quando se tem uma família super protetora como a minha. Acontece ainda, que eu não queria mais ficar esperando e olhando a vida passar pela janela. À despeito do que dizem nesses contos de fadas de hoje em dia, não somos eternos, o mundo muda muito rápido e não estou disposta a continuar presa. Ou pelo menos é isso o que eu quero que todos pensem a respeito do que eu realmente pretendo fazer.

Entrando na sala, parecia uma zona de um requintado conclave de guerra. Com a nova profissão de mamãe, a casa era mais que bem decorada, com uma mesa de 16 lugares, ainda que nossas visitas fossem esporádicas pela família de papai e mamãe, exclusivamente, a sala de jantar era um primor de sofisticação e beleza. Com candelabros e pendentes simples do teto, as cores neutras na maior parte das paredes e aquele piso de madeira de lei, era realmente uma visão de revista de decoração. Mas, o que mais chamava a atenção naquela sala, não era nada disso. Eram as 5 figuras (agora que mamãe sentou-se à mesa) me encarando de volta.

Começando por papai José (para todos os efeitos, só o meu nome é o real), um senhor já na casa dos 90 anos, com cabelos pretos e muita vitalidade para a idade. Moreno de pele escura com dentes brancos e afiados demais para o bem de qualquer presa. Mamãe Marieta, a delicadeza compacta e forte em pessoa, eu realmente acredito que ela possa dobrar ossos com as mãos, mas, ela raramente excede ou demonstra força desnecessária. Entre meus irmãos, Magnus, mais velho que eu por 15 anos, é bem loiro e de estatura assustadora, seus braços são praticamente da largura das minhas coxas e ele tem aqueles olhos castanhos penetrantes e vivos. James, 10 anos mais velho que eu, é moreno mais escuro, mais parecido com papai, e, vive de sorrisos mas possui os olhos mais cruéis e frios que já vi quando se trata dos seus objetivos. Rafaela por outro lado, nossa caçula com 5 anos de idade, ainda não compreende porque quero partir, e, ainda me acha louca o suficiente pois foi o que mamãe colocou na cabeça dela, os olhos amendoados mais doces do mundo e com aquele cabelo loiro escuro que deveria pertencer ao céu dos lupinos.

A minha família é esteticamente díspar e bonita. Pelo que eu saiba, papai teve outra esposa antes de se apaixonar por mamãe, mas nunca falamos disso, nunca falamos muito sobre o passado. Eu vejo nos olhos dela que ainda dói.

Já com as malas arrumadas próximas da porta de saída, meu passaporte na mão (porque somos lupinos, não foras da lei), e um sorriso clínico nos lábios, me despedi de um por um, menos da minha princesa, que foi saltitando comigo até a porta, me dizendo que iria querer presentes quando eu voltasse. Mal sabia ela que a minha intenção é não voltar mais. Mesmo com o coração apertado de mentir descaradamente, eu me abaixei e com toda a minha controlada força agarrei-a em meus braços, deixando meu amor e carinho por ela transparecer no gesto que para muitos é simples, mas, para nós é o máximo de confiança. Entendam, um lupino pode ser fiel à sua matilha mas, na escalada pelo poder, poderia esfaquear um irmão pelas costas, sem se doer por isso.

Rumei pro carro me sentindo nauseada de saudade dela, mesmo que ainda nem tenha saído. Mamãe veio pegá-la do meu colo e eu fui, sem olhar de novo pra trás. Estava já na porta do carro, quando coloquei meus óculos escuros e forcei meus olhos a se fecharem para não derramarem lágrimas. Eu estava indo para uma batalha totalmente nova, não convinha arrastar ninguém pra ela.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a leitura e espero que acompanhem essa aventura comigo. ♥



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