Selena é pega de surpresa quando as mãos de Saulo voam para a sua cintura, e a puxam para um corredor afastado do castelo. Está clareando lá fora, uma mistura de laranja com amarelo que deixa qualquer pessoa que se preste um pouco emocionada com a magnitude daquele espetáculo. As costas da moça doem em todas as partes graças o seu cochilo no chão da noite passada, e seu cabelo, sempre impecável está bagunçado e lançado com as pontas em todos os lados.

“Que susto, Saulo.” Ela sussurra, encostando com as mãos no peito de Saulo. O rapaz apenas sorri para ela de canto, o maldito sorriso que sempre está lá para desafiar quem quer que seja. “Você não deveria perambular por ai uma hora dessas.” Selena chia, com a voz mais baixa e rouca que o normal. Seus poderes estão sugando a energia dela até o máximo de seus ossos, e tudo que ela quer naquele dia é fingir uma doença e ir para a cama fina de penas que ela tinha no pequeno quarto, enrolada com as cobertas até a cabeça.

“Ei, acordou de mau humor foi?” Saulo empurrou o corpo de Selena até que as costas da garota batessem na parede feita de tijolos vermelhos que cobria toda a parte inferior do castelo. Os poucos raios de sol iluminavam o cabelo do rapaz, fazendo quase se parecer como um brilho mágico de fogo. Selena quis levantar a mão, enrolar no cabelo preso por tranças do rapaz, e o puxar para a sua boca, apenas para que ela testasse a sua capacidade de sentir algo naquele dia. “Ou nem dormiu? Seu rosto não está dos melhores.”

O rapaz levantou as mãos, os calos dos dedos quentes roçando levemente na pele macia do rosto de Selena, enquanto os cabelos longos caiam pela face dela. Selena fechou os olhos com o movimento, tentando captar a humanidade da alma de Saulo, apenas para sentir algo diferente da própria magia, e a magia de Amália que a vem consumindo todos os dias.

“Eu posso dar um jeito nisso, Sel.” Os lábios do rapaz vão em direção ao pescoço magro da moça. Um leve arrepio percorre toda a sua coluna, parando no gemido contido e pequeno de seus lábios rosas entreabertos. “Apenas deixe-me te ajudar com isso.” As mãos grandes que antes estavam no seu cabelo caem para a sua cintura, desfiando todos os nós da roupa que Selena usava para treinar naquela manhã.

Ela quer se deixar envolver. Quer que o barulho que a sua cabeça e a magia que o seu corpo produz apenas deem espaço para a profunda necessidade que Saulo está criando em seu corpo. Selena quer arrancar as roupas ali mesmo, em um corredor abafado e quente do castelo, onde a qualquer momento alguém pode aparecer, e presenciar Selena e Saulo em um tipo de ação que faria as pessoas puritanas ficaram abismadas.

“Saulo, aqui não.” Ela se recompõe. O feixe de luz do sol se transformando em uma iluminação completa no rosto do rapaz. Selena o empurra com as mãos que ainda estavam em seu peito, e olha para os seus olhos, lendo ao mesmo tempo uma excitação e frustração neles. “Venha ao meu quarto hoje.”

“Não posso, tenho que ver Tiago hoje.” Saulo se afasta um pouco, as mãos ainda na cintura de Selena, preenchendo o corpo magro dela de calor a partir daquele ponto. “É a primeira noite livre dele no castelo desde que chegou.”

O segredo de Saulo e Tiago penetrava na pele quente de Selena, e a fazia imaginar coisas todas as vezes que ela se deitava na cama a noite. Ela gosta de pensar se Saulo beija Tiago na mesma voracidade que beija ela, e se os dois usam a raiva que contém dentro deles enquanto se enrolam na cama macia de Tiago.

Ela gosta de pensar como seria ter os dois juntos com ela. Se deitar em uma cama quente e grande o suficiente para ter tanto Saulo quanto Tiago junto dela, em ambos os seus braços, no meio de suas coxas, em suas pernas.

“Traga-o contigo.” Ela diz em um sopor de voz, abaixando a cabeça. Ela sabe que Saulo não a julga. Mas ela não sabe qual será a reação dele ao seu pedido. O coração da moça bate forte contra o peito, de uma maneira que ela tem que engolir seus poderes para baixo de sua garganta seca a fim de impedi-los de sair com a emoção.

“Para o seu quarto? Com você?” Saulo pisca algumas vezes, os olhos cheios de questionamentos. As mãos na cintura de Selena estão pesadas, quentes e a apertam suavemente em seu lugar. É uma reação do corpo que ela percebe que Saulo não está consciente daquilo. As pernas de Selena se afastam um pouco, e ela puxa – levemente – Saulo para o meio delas enquanto ele ainda a olha.

“Sim. Tenho pensado nisso por um tempo.” Seus lábios rachadas estão abertas, ansiosos para a resposta de Saulo. Seu corpo agora extremamente acordado, com a expectativa de qualquer que fosse o que o rapaz a frente dela tem a dizer. “Apenas pense no assunto.” Ela quer que Saulo pare de olhar para ela como uma aberração e comece a falar algo, mesmo que seja uma recusa para o seu convite inesperado.

O olhar no rosto do rapaz se transforma em uma questão de segundos. Em um momento ele está olhando para ela questionador, no outro, parece que sua mente se aquece com uma ideia, quase como se uma luz tivesse se acendido dentro dele.

“Tiago vai gostar disso.” Os dedos de Saulo viajam para o cabelo de Selena, enrolando eles nas pontas para depois soltar. Seus olhos estão ferozes agora, como quando ela está nua na sua frente, e ele está pronto para ela, para devorá-la por inteiro no momento que ela autorizar. “Estaremos no seu quarto essa noite.”

E Selena pode sentir as cores dentro de si explodirem em uma ansiedade que ela não quer conter. Ela quer pegar a magia com os dedos magros, envolver ao redor dela e de Saulo – talvez até mesmo de Tiago se ele for bom com ela – e deixar para esse mundo apenas a escuridão feia e imensurável que é a das pessoas que ainda caçam as bruxas.

Seu sorriso se forma de um jeito calmo, enquanto Saulo se despede, encostando seus lábios quentes na testa de Selena. O corpo da jovem ainda encostado na parede, mas seu humor totalmente diferente daquilo que estava a minutos atrás.

Atrás dela o Sol se abre por completo, lançando sobre todos um raio quente e amarelo.