Encontros Proibidos escrita por Eli DivaEscritora


Capítulo 6
Prestando socorro




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Alguns dias depois.

Faltavam duas semanas para o meu aniversário e eu contava todos os dias desesperada por não saber o que poderia acontecer na data da festa. Eu queria parecer tranquila, mas por dentro eu estava surtando, eu não conseguia entender essas atitudes do meu pai, se ele queria o melhor para mim por que complicava o meu lado? O que será que ele acha que eu sou? Uma mercadoria que pode “vender” para outra pessoa? Pois era isso que parecia. Desde quando recebi a notícia, eu não descansei direito. Eu até tentei colocar minhas energias em outras coisas, mas estava difícil. No momento eu pretendia relaxar, pensando em coisas boas e estava funcionando por agora. Para a minha sorte, hoje era o dia que eu dedicaria a minha energia em alguma atividade. Longe de casa, para a minha alegria.

 

Eu e a Lú iríamos ser voluntárias em uma instituição que ajuda os necessitados. Nós fazíamos isso pelo menos uma vez ao mês. Mas na verdade eu tentava ficar por dentro no que a cidade precisava, fosse doação de roupas, ajudar os cachorrinhos de rua, qualquer movimento desse eu buscava ajudar. Eram essas horas que me socorriam do que eu passava em casa. Olhei a tela do celular para saber se a Lú não havia me mandado mensagem, já que eu estava na sala de casa esperando ela para irmos juntas. Um instante depois, o meu celular vibrou mostrando uma nova mensagem da minha amiga.

Lú: Já estou aqui fora :)

Elisa: Ok, loira.

Levantei do sofá rapidamente e segui até a porta.

― Mãe, estou saindo. ― Não quis esperar pela aprovação dela, eu só estava comunicando, por isso girei a maçaneta, caminhei para fora de casa e antes que eu atravessasse o jardim, pude escutar ela falando:

― Vai aonde, Elisabeta? Ai, seu pai não vai gostar nada disso. ― Cassandra suspirou.

Encontrei com a Lú do lado de fora da casa, nos cumprimentamos e fomos em direção ao centro.

― Hey Elisa, você não esqueceu que amanhã nós vamos atrás de decoração e outras coisas do meu noivado, né?

― Claro que não, depois do serviço eu passo na sua casa e já vamos de lá.

― Ótimo! Eu quero a sua opinião em algumas coisas. ― Ela piscou para mim, repetidamente.

― Hum, eu bem que poderia dizer que não vou. Aí queria ver como você ia sobreviver sem mim. ― Eu sorri para ela.

― Sua boba, eu sei que você não vai fazer isso. ― Ela me mostrou a língua e eu retribuí.

― Então, qual é a nossa missão hoje? ― a loira perguntou após a gente passar pela pracinha.

― Bem, eu li no grupo que seria entrega de alimentos. Lembra que arrecadamos no mês passado?

― Sim, sim. Só não sabia se seria isso ou a entrega de roupas que arrecadamos também.

― A entrega de roupas vai ser mais perto do inverno ― expliquei tranquilamente enquanto subíamos o morrinho para chegar na instituição.

A casa onde ficava a instituição era duas ruas depois da pracinha e a gente precisava subir um morrinho para chegar lá. Quando chegamos nós cumprimentamos os outros participantes e depois fomos encaminhadas para algumas tarefas. A melhor parte desse trabalho voluntário era ver a alegria dos que não tinham nada recebendo “socorro”. Isso era muito gratificante. Depois que o pessoal arrumou tudo para receber as pessoas, cada um foi designado para outras atividades. Alguns recebiam os necessitados, outros cuidavam em distribuir os alimentos e os que sobraram iam trazendo os mantimentos para fora, com o objetivo de sempre repor o que estava faltando.

― Oi Elisabeta, tudo bem? Eu soube da festa do seu aniversário. O seu pai convidou a minha família ― disse a Sara, uma moça de cabelos pretos e olhos castanhos.

Ela tinha a mesma idade que eu, inclusive estudamos juntas, seu pai era um comerciante importante na cidade. Dono de algumas lojas comerciais. Imagino que seja por isso que o meu pai tenha convidado a família dela. Status era tudo o que ele prezava.

― Oi Mai, tudo bem. Pois é, sabe como são nossos pais ―, Eu sorri sem graça ― querem inventar um monte de coisa. ― Eu peguei um alimento para colocar em uma cesta.

― Ai, pior que eu sei, sim. ― Ela riu sem graça também e me ajudou a colocar os mantimentos na cesta. ― E as novidades? Está vendo alguém em especial? ― Sara me encarou.

― Não, no momento não. E você?

― Bem, eu conheci alguém. Estamos nos conhecendo.

― Que bom ― eu disse contente. ― Felicidades para vocês.

― Obrigada ― ela falou alegre. ― E eu sinto muito por você e pelo Téo ― ela pronunciou tristemente.

A Sara havia estudado com a gente e naquela época eu e o Téo namorávamos na escola. Apesar do meu pai já ter seus contatos, ele sempre conheceu muita gente, o colégio era meu único lugar de sossego. E também, eu e o Teodoro sempre tentamos ser discretos, somente o pessoal da nossa sala sabia. Eu retornei a minha atenção para o que estava fazendo, dessa vez um pouco mais triste, esse pequeno lembrete me fez ficar desanimada. Só que logo depois um senhor de meia idade me chamou, desviando meus pensamentos disso.

― Moça, será que você poderia colocar no lixo esse vidro quebrado que eu achei? ― Ele mostrou uma sacola plástica com os vidros quebrados.

― Claro, vou colocar no lixo reciclado, senhor. ― Eu peguei a sacola e fui em direção à casa.


A instituição cuidava de vários projetos também, havia gente que recolhia tampinhas para reciclar, garrafas pets e separavam o lixo. Os moradores vinham colaborar com os projetos de vez em quando. No caminho até o lixo reciclado, eu acabei tropeçando em um móvel da casa e acabei caindo, cortando a minha mão.

― Ai, minha nossa, Elisabeta! ― Lú correu ao meu encontro para me socorrer.

― Elisa, está tudo bem? ― A Mai também se aproximou junto com outras pessoas.

― Eu só machuquei a minha mão. ― Balancei ela para um lado e para o outro. ― Ai droga! Está doendo!    

― Também, você se cortou, está sangrando ― Lú disse preocupada. ― Vamos para o hospital.

― Não quero ir. ― Eu fiz um beicinho e depois balancei a cabeça. ― Vai doer mais.

― Parece criança, Elisa. Mas vai melhorar. ― Ela me ajudou a levantar do chão.

― Tá bom ― respondi convencida com a explicação dela.

― E mesmo se não quisesse ir, eu pedia ao Bruno para te carregar.

― Nossa, quanta grosseria. ― Eu acabei rindo do jeito dela.

― É, é. Vamos logo. ― A Lú preocupada é muito diferente da “normal”, ela assumia uma postura firme.

A minha mão estava doendo muito, uma dor latejante e que pulsava insistentemente. Eu tentei me manter calma, mas a verdade é que eu estava com medo. A Lú conseguiu com um dos voluntários que possuía carro para nos levar até o hospital, já que o mesmo ficava um pouco mais distante de onde a gente estava. Apesar da cidade ser pequena, nós tínhamos um único hospital que se encarregava de toda a população de Caldas da Imperatriz e também oferecia seus serviços a municípios vizinhos, possuía uma ala de emergência, departamento de clínicas e até uma maternidade. Ao chegarmos na ala da emergência, eu tive que preencher uma ficha com os meus dados e depois aguardei um tempo para ser atendida.

  ― Elisa, já liguei para os seus pais e eles estão vindo para cá ― a Lú disse assim que chegou na sala onde eu estava sendo socorrida.

― Tudo bem ― respondi fazendo careta, já que o médico mexia no meu ferimento.

― Eu vou precisar dar pontos ― ele explicou tranquilamente.

Olhei apreensiva para a Lú e ela segurou a minha outra mão, a boa, para me dar força. Após alguns minutos, o médico terminou o procedimento, receitou uns remédios para dor e disse que após dez dias os pontos iriam cair. Enquanto nós saíamos da sala do médico, os meus pais apareceram no corredor.

― Você está bem, filha? ― a minha mãe perguntou preocupada.

― Sim, só estou com um pouco de dor ― fiz uma careta ao mesmo tempo em que falei.

― Eu sabia que isso iria acontecer mais ou cedo ou mais tarde ― meu pai começou a se expressar. ― Você não precisa ficar fazendo esse tipo de coisa, Elisabeta. Nós já ajudamos eles na prefeitura.

― Como se fosse o suficiente ― eu resmunguei e ele não notou, pois continuou a discursar.

― E se essas pessoas te passarem doenças? ― Ele balançou a cabeça.

A Lú encarou o meu pai perplexa com as palavras dele e ameaçou abrir a boca para respondê-lo, porém eu mexi com a cabeça indicando para ela não falar nada.

― Eu vou continuar ajudando essas pessoas, mesmo o senhor não aprovando. ― Eu olhei séria para ele. ― Vai querer me expulsar de casa por causa disso também? ― Arquei uma sobrancelha.

― Em casa a gente conversa. ― Ele voltou a andar pelo corredor, indicando que a conversa havia finalizado.

Eu esbocei um pequeno sorriso, pois eu sabia que ele não iria discutir mais sobre esse tema. Meu pai não gosta muito de ser contrariado, então quando ele não quer mais falar do assunto apenas desconversa. A Lú caminhou ao meu lado sem dizer uma palavra, provavelmente estava preocupada que eu não iria mais fazer o trabalho de voluntária, porém depois eu explicaria tudo para ela.

No outro dia, após o serviço eu fui direto para a casa da Lú para a gente ir atrás das coisas do noivado dela. Nós saímos pela cidade inteira atrás de decoração, passamos em uma loja na qual a loira achou algumas coisas interessantes. Ela queria capa para cadeira na cor rosa bebê com branco e uma toalha pequena na cor branca para deixar nas mesas que estariam espalhadas pela sala. O noivado seria na casa dela mesmo, mas a Lú já tinha alugado pela internet as mesas decorativas para o resto do cômodo. Na loja também havia as bandejas de docinhos, salgados e do bolo que seriam tudo na cor rosa clarinho, quase salmão. Além daquelas letras grandes com as iniciais do nome dos noivos: dois As, na cor branca. Depois fomos na floricultura para os arranjos das flores, nós escolhemos rosas brancas e rosas de vários tons.

― Ai, eu estou morta de cansada já ― comentei para a Lú quando saímos da floricultura. ― O que mais tem na sua lista?

― Tem os salgados, doces e bolos que preciso encomendar e a minha roupa. Mas a comida eu vou pedir pelo telefone.

― Será que a gente pode resolver a sua roupa amanhã?

― Claro Elisa, já está um pouco tarde mesmo e eu preciso ver umas coisas sozinha. ― Ela esboçou um pequeno sorriso.

― Hum, o que você está aprontando? ― disse em um tom curioso.

― É segredo. ― ela passou a mão pela boca, como se fechasse com um zíper.

― Quanto mistério, mas tudo bem. Acho que uma hora eu saberei do que se trata ― respondi determinada e ela só deu de ombros.

Nós nos despedimos e eu segui o meu rumo para casa. Quando cheguei eu escutei um monte do papai que ele não queria que filha dele andasse tão tarde na rua, eu apenas revirei os olhos, estava muito cansada para discutir hoje, eu segui para o meu quarto quando ele parou com o sermão dele. Tomei um banho rápido e me arrumei para dormir, mas ao pegar o celular na mão para colocar no meu bidê do lado da cama, percebi que havia uma mensagem do Téo. Hoje eu mal toquei no celular durante o dia, estava uma correria na prefeitura. Abri a conversa dele no aplicativo.

Rosa: Eu soube do que aconteceu, está tudo bem?

Elisa: Mais ou menos, a minha mão ainda está dolorida. Mas estou sobrevivendo.

Rosa: Queria poder estar aí com você.

Elisa: Eu também queria que você estivesse aqui :(


Alguns minutos depois, após eu notar que ele estava digitando, a mensagem apareceu na tela.

Rosa: Será que amanhã a gente consegue se ver? Quero ver como a “doentinha” está.    

Elisa: Vamos fazer o possível, pois eu já estou com saudades ♥

Rosa: Sim, vamos nos falando. Eu preciso ir agora, mas eu também estou com saudades. Bjs.

 


Encarei a tela do celular por mais uns segundos, refletindo no quanto eu queria estar com o Téo nesse momento. Eu não sabia se aguentaria ficar mais tempo nessa casa, suspirei cansada. Era difícil me manter aqui sem enlouquecer, mas eu não tinha para onde ir. Meu pai tem muita influência na cidade, ele não deixaria eu ser contratada em outro lugar e muito menos que alguém alugasse um local para eu ficar. Deitei na cama e fechei os olhos tentando me acalmar para dormir, pelo menos amanhã eu veria o Téo. Eu me esforcei para me concentrar em coisas boas e funcionou, eu dormi instantes depois.  






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Notas finais do capítulo

Aí gente, está complicado para a Elisa :( só nos resta esperar para ver o que esse encontro entre Elisa e Téo nos reserva. Espero vocês no próximo, beijos



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