Adele escrita por Camélia Bardon


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Oioi, tudo bem com vocês?
Depois de uns três anos, resolvi voltar para o mundo de autores do Nyah. É minha primeira história de época, então se notarem algo absurdo podem avisar. Espero que gostem tanto de Adele quanto eu gostei de criá-la.
Tentarei atualizá-la semanalmente, mas caso haja atrasos, peço perdão antecipadamente.



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Há muitos anos, quando meus cabelos ainda eram castanhos como uma avelã, a torre Eiffel recém-erguida no auge do que hoje chamamos de Revolução Industrial e antes das duas Grandes Guerras que devastaram meu amado país, e eu era tão-somente uma camareira sob serviço de uma família rica e influente, apaixonei-me.

Não um amor exagerado como as fantasias shakespearianas, não melancólicas como as poesias de Lord Byron; na medida ideal para deleite e decepção que apenas o amor unilateral consegue reproduzir. Amor como uma pequena chama que alimenta uma fogueira, breve e intenso. Este amor permitiu que eu viesse a presentear você com singelas e honestas palavras.

Amei também meu finado esposo. Tivemos lindos filhos, que nos geraram netos e, mais tarde, bisnetos. Ao contrário do que irão lhe dizer os mais velhos, não há apenas um amor. Temos inúmeros amores que passam por nosso caminho. E cada um deles, para uma situação ou necessidade. Cada amor é único, e não menos especial que o próximo ou o anterior.

Quando eu ainda era Adele D’Avignon e o romantismo era o perfume preferido dos franceses, apaixonei-me. Amor este, intenso como uma chuva de verão. Imagine: uma camareira enamorada do filho de seu patrão. Não é surpresa que eu tenha sido mandada embora, por mais que minha ama tenha insistido para que eu permanecesse. Mudei-me então para Bordeaux, entretanto este é um assunto que trataremos em breve.

Eu tinha 25 anos e, para a sociedade francesa, já velha para casar. Não possuía dotes – meus vestidos eram mandados todos de Avignon, usados – e era órfã. Meu destino era casar com outro criado, se este assim capturasse minha afeição, coisa que não aconteceu, por brincadeira cruel da vida. Se um filho de lordes ousasse casar-se com uma pobre solteirona, poderia considerar-se exilado da família. Sua reputação ruiria.

Sempre achei que o amor viria com familiaridade. Que seria tão pouco instruído como eu fora, que teria uma bela pele morena, mãos machucadas de trabalho e sorriso gentil. No entanto, o amor sorriu-me com cabelos loiros e reluzentes olhos azuis, uma máquina de escrever e intelecto suficiente para lecionar. Andava sempre com a cabeça presa em seus livros, pouco falava e muito ouvia.

Diferente da irmã, Sienna, extrovertida e feita sob medida para Paris, Thierry, como seu próprio nome revela – “príncipe do povo” –  tinha outros modos de conectar-se à Paris: participava das loucas feiras científicas de tempos em tempos e repudiava casamentos arranjados, por mais que tenha sido obrigado a embarcar em um.

Bons tempos, antes de a humanidade corromper-se em ganância e violência. A sétima arte, o cinema, surgiu como válvula de escape para nós, os sonhadores. Os que lutavam em nome do amor. Os bailarinos, poetas, leitores e camareiras.

Hoje meus cabelos já estão brancos e a França para mim é como uma velha amiga. Mantenho suas melhores lembranças numa bolsa, chamada coração, que levo à tiracolo. Não sei seu paradeiro, e nem ela sabe o meu, e, no entanto, mantemos a relação afetuosa ao longo dos tempos que apenas perdeu um pouco de sua intensidade. Pensamos em mandar cartas uma para outra, eu e a França – e Sienna também – mas não sabemos mais nossas identidades e endereços. Assim, ficamos na eterna expectativa.

Se eu, Adele, a velha Adele, possuísse apenas um pedido concedido pelo tempo, voltaria para Montpellier no intuito de ouvir meu amado Thierry tocar piano e encher o salão da Casa Chevalier com notas tão lindas quanto seu coração puro. Ouviria seu coração bater descompassado junto ao meu. Ouvi-lo-ia lendo o jornal e leria todos os livros de sua biblioteca.

Contudo, o tempo não concede pedidos. Como um amigo querido meu proferiu uma vez, com anos de experiências em seu olhar gentil, memórias tornam-se histórias quando nos esquecemos delas. O que se passa a seguir é a história de minha juventude como a vivi. Ou como a recordo. Admito que possa haver enganos, pois uma cabeça de 82 anos já não funciona mais normalmente.

Então, presenteio você com minhas memórias-histórias, e com meus olhos para enxergares Montpellier com os mais coloridos olhos. Bem-vindo à 1889. Aproveite a estadia.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Comentem aqui para eu saber a opinião de vocês ♥
Um beijão, e até a semana que vem ♥