SIM – PARTE NOVE

Estou sempre me perguntando, se isso um dia vai acabar. Será que corremos riscos demais? Será que deixamos muitas chances passarem por nós? Será que desperdiçamos tudo? Nós caminhamos através do fogo. Existe alguma saída? Eu tento entender como estamos aqui novamente, no meio da tempestade. Não há caminho a percorrer. Só em linha reta através da fumaça, em linha reta através da fumaça e a luta é tudo que sabemos.

(Walk Through the Fire – Ruelle feat Zayde Wolf)

Marinette sabia o que tinha visto. Mas não conseguia acreditar.

“O que pensa que está fazendo?” ela falou. “Eu disse para não me contar quem era!” falou, fazendo Adrien ficar confuso.

Certo. Ele realmente achava que se lembraria se Marinette o dissesse um dia para não revelar sua identidade secreta. E fora ela quem perguntara se ele sabia quem era Chat Noir. Ela queria saber, não?

Marinette se xingou mentalmente. Adrien nunca ia entender o que ela falara, porque ela o dissera isso como Ladybug. Ela ia parecer uma louca. O que talvez fosse bom porque ela se sentia assim nesse momento.

No fundo, ela tinha considerado a possibilidade de Adrien ser Chat, mas o único momento que ela levara isso a sério foi naquele dia que ele estava escutando música e depois ela descartara rapidamente qualquer pensamento sobre isso. Eles eram muitos diferentes na personalidade, não tinham como ser a mesma pessoa.

Ainda assim, ela tinha acabado de ver Adrien se transformar em Chat.

Sem saber o que fazer, ela deu um gole no seu chocolate quente.

“Você não vai dizer nada?” questionou Chat inseguro, numa atitude muito mais Adrien.

“Bem, eu suponho...” ela parou e respirou fundo uma última vez. Adeus, vida normal e segura. “Tikki, transformar!”

Foi desta forma que Adrien aprendeu qual era a verdadeira identidade de Ladybug, após abrir mão de um futuro com ela, para tentar ter um com Marinette. A ironia foi a primeira coisa que passou na sua cabeça, estranhamente.

A segunda é que agora muita coisa mais fazia sentido. Ladybug sempre parecia ter tido um ponto fraco por Adrien enquanto ignorava Chat Noir. Marinette sempre sumia quando tinha um ataque de Akuma. E as duas – ou uma só, no caso – tinham o mesmo tipo físico. Parando para pensar, ele não sabia como não tinha percebido antes.

“Ah. Okay” falou abobalhado.

“Você não vai dizer nada?” questionou Ladybug, imitando as palavras do parceiro de segundos atrás.

“Somos dois idiotas” ele resumiu a série dos pensamentos que estava passando pela sua cabeça. “Como não percebemos antes quem éramos?” questionou.

“Nós ficamos diferentes nas personalidades comuns” observou Ladybug. “Aposto que você nunca esperava que a Ladybug fosse ser a tímida Marinette”.

“É verdade, que a Ladybug não parece com a Marinette que eu passei a maior parte do meu tempo, mas ela é igualzinha à que eu passei o resto do tempo” ele falou. “Deus, eu me apaixonei duas vezes pela mesma pessoa. E fui rejeitado duas vezes” murmurou, envergonhado, só agora a realidade se abatendo sob ele.

“Quem disse que foi?” ela falou desafiadora.

“O que você quer dizer?” ele perguntou esperançoso. Será que depois de toda essa confusão Marinette ainda conseguiria o dar uma chance?

“Agora eu estou confusa, então eu não posso prometer nada. Mas... Adrien, você não tem noção do quanto eu gosto de você. Passei mais de um ano esperando que você fosse me dar uma chance. Queria ficar com você porque vi como é uma pessoa boa e sabia que seria muito feliz ao seu lado. E quando você me falou que gostava de mim, como Chat, eu fiquei tão louca quando paramos de nos falar. Arrasada. Parecia que uma parte de mim tinha sumido” ela falou emocionada, derrubando algumas lágrimas. Tudo ainda era muito recente para ela não se emocionar e o medo de perdê-lo de novo era muito real. E agora seria pior ainda, porque perderia Chat e Adrien de uma vez só. “Mas também tem o Luka. Eu gosto dele também” disse um pouco culpada. “Não como eu gosto de você, Adrien. Mas de uma maneira mais simples, descomplicada. É menos intenso. Tenho curiosidade se conseguiríamos dar certo. Não quero magoá-lo.” Ela parou, perdida no que ela mesma queria dizer. “Acho que o quê eu estou pedindo é um tempo. Não da nossa amizade. Mas de qualquer coisa mais. Não estou pronta para um romance agora, preciso entender se o que sinto por Luka é algo sério ou não e aprender quem é o real você” ela disse.

“Você já sabe quem eu sou” ele protestou. Como ela podia pensar que não? Como Chat, Ladybug era a pessoa que melhor o conhecia. Como Adrien, Marinette.

“Não, Adrien... ou Chat. Eu não sei nem como te chamar. Eu não sei quem você é e você não sabe quem que sou” disse ela. “E isso é minha culpa porque eu fiz nos escondermos o tempo todo dentro dessas máscaras”.

“Você sabe que pode me chamar do que quiser” disse com o sorriso sugestivo. Ela revirou os olhos, mas sorriu. Isso era tão Chat.

“Então, vamos ser o quê? Amigos?” perguntou Chat, ele ainda tinha que entender a lógica daquilo tudo.

“Amigos” ela concordou e estendeu a mão. Ele aceitou, mas a puxou para um abraço, quase a derrubando no processo. Surpresa, ela notou que era um dos primeiros abraços que compartilhavam em qualquer uma das formas (Chat/Adrien, Marinette/Ladybug). Isso parecia uma promessa de uma nova era.

***

A segunda-feira chegou rápido demais para Marinette. Pela primeira vez em semanas, ela chegou atrasada, porque não queria acordar de tão cansada que estava.

Pelo menos desta forma conseguiu ignorar os olhares de Nathaniel, Nino e Adrien sob si na primeira aula. Alya foi um caso mais difícil, porque ela ficava mandando notas, mas Marinette disse que precisava de nota em Biologia.

Mas quando tocou, sinalizando que tinha acabado a aula, Alya a levou para as escadas por onde ninguém passava.

“Você tem que me contar tudo que aconteceu! Como você está?” falou preocupada. Marinette sorriu. Ela era muito grata de ter uma amiga como Alya.

Ela contou resumidamente da confusão com Luka e Adrien, depois hesitou. O que deveria falar sobre a conversa que tivera com Adrien na sua casa? Não podia falar nada sobre Chat, claro, mas como explicar sem entrar nisso.

“Adrien me pediu desculpas” Marinette falou.

Alya a encarou, esperando que dissesse mais.

“Você o perdoou? Ele explicou por que ele fez isso?” ela perguntou quando a outra ficou calada.

“Sim, o perdoei. Ele me contou que estava afetado pela bebida e sentia muito por tudo” falou vagamente. Não era mentira, mas era longe da verdade.

Alya franziu a testa. Isso não parecia razão o suficiente para perdoar Adrien depois do que ele fizera, mas ela achava que algo mais tinha acontecido que a amiga não queria contar, porque ela estava muito irritada com ele antes para aceitar só isso. Tudo bem, Alya não falava de tudo que acontecia entre ela e Nino mesmo.

“Mas e Luka? Ele falou com você?” perguntou Alya ansiosa.

Com toda a confusão que acontecera, Marinette não tivera tempo para notar que Luka não tinha a contatado ainda desde a festa. Somente com essa pergunta lembrou que normalmente estaria surtando, esperando o próximo contato dele.

Ela balançou a cabeça. Não conseguia entender por que Luka não tentara entrar em contato com ela, as coisas tinham sido ótimas quando eles se despediram. Uma parte de si estava desapontada com o comportamento dele e outra estava desesperada pensando se ela tinha feito de algo errado. Talvez ele não tivesse gostado de ficar com ela, afinal.

“Vai ficar tudo certo, garota” disse Alya e Marinette fechou os olhos, apoiando a cabeça no ombro dela. Deus, como ela esperava que a amiga estivesse certa.

***

Adrien observava de longe como Marinette e Alya conversavam. Ele imaginava se elas estavam falando dele e dizendo o quanto ele era idiota. Ele ainda não tinha certeza de como estava as coisas entre ele e Marinette; tudo pareceu quase normal quando os dois começaram a jogar vídeo-game depois do abraço de ontem, mas hoje a estranheza voltou.

Ele imaginou por quanto tempo mais se sentiria assim, sempre parecia haver algum tipo de conflito entre ele e Marinette, ou ele e Ladybug. Tudo valia a pena, porque ela era incrível como ninguém mais que ele conhecia, mas ainda assim, ele estava cansado. Será que um dia acertaria as coisas ou sua má sorte sempre o levaria para situações desse tipo?

Nino não o perguntara nada sobre Marinette e ele estava grato por isso. Não tinha a mínima ideia do que diria.

“Eu vou ali um instante, ok?” falou o loiro, fazendo o amigo dar de ombros.

Adrien respirou fundo uma vez e reuniu forças para ir onde Marinette e Alya estavam. Ele não deixou de notar como a ruiva colocou seus braços em volta de Marinette, como se a protegendo da ameaça que devia ser ele. Isso o magoou.

“Princesa? Como você está?” ele perguntou.

Marinette levantou a cabeça dos ombros de Alya e sorriu quando o olhar encontrou o dele. O coração de Adrien bateu mais rápido, enquanto ele se sentia aliviado que aparentemente ela não estava com raiva e estava cumprindo sua promessa de amizade. Ele não sabia o que faria se perdesse Marinette e Ladybug.

“Eu estou bem. Um pouco cansada” ela falou, o fazendo ficar preocupado. “Muita coisa para pensar, sabe”.

Um silêncio constrangedor se estendeu entre eles e Adrien debatia se era bom pedir desculpas mais uma vez ou ira só a irritar mais lembrar de tudo.

“Ontem eu vi Jean Blanche. Ele me perguntou de você” ele disse. Parecia que tanto tempo tinha se passado desde aquele dia, mas na verdade só tinha sido algumas semanas.

Marinette se animou, sorrindo para ele enquanto se lembrava do último encontro deles.

“Jean é um amor” disse, fazendo Adrien sorrir. Só ela mesmo para descrever ele dessa forma. “As fotos já ficaram prontas?” ela perguntou interessada.

Ele começou a contar sobre a reunião que tivera no dia anterior, no qual ajudara a escolher as fotos que ficaram melhor para sair na L’Officiel, divulgando o mais novo trabalho de Gabriel Agreste.

Essa sessão de foto tinha acabado por se tornar tão importante que o pai de Adrien voltara mais cedo, chegando hoje, da viagem que estava fazendo no exterior para resolver alguns assuntos oficiais da linha nova e como seria o seu lançamento. Não que isso fizesse alguma diferença para Adrien; ele via o pai tanto agora quando estava no exterior.  

Apesar de Marinette ter relaxado e passado a agir como normalmente quando a conversa fluiu, Adrien não deixou de reparar em como Alya o olhava com irritação. Parecia que ele ainda teria que ganhar o perdão dela.

***

Marinette estava ajudando os pais na padaria de tarde, completamente relaxada. A ida a escola tinha sido muito mais tranquila que esperava e sentia que logo as coisas voltariam ao normal (seja lá qual isso fosse) com Adrien.

Ela estava sorrindo enquanto um dos clientes usais, o senhor Dufour, contava uma história para ela sobre a sua filha. Seu sorriso sumiu quando viu o novo “cliente” entrando na loja.

Luka Couffaine sorria para ela e parecia totalmente relaxado, como se entrasse todo dia no local que os pais de Marinette (e às vezes ela) trabalhavam. Pelo visto, ele não parecia achar que tinha alguma coisa errada com o fato que não dera notícias para ela desde o sábado.

Ele sentou-se numa mesa e acenou para ela, que resolveu ir até ele assim que conseguiu sair de perto do senhor Dufour. Ela não tinha ideia de como tinha conseguido andar sem cair de tão nervosa que estava.

“Oi Marinette” ele cumprimentou. “Já estava com saudade de te ver” falou, nem um pouco preocupado em se pareceria estranho, já que só tinham se visto duas vezes. Ele tinha uma política de ser o mais sincero que podia.

Ela franziu a testa. Certamente não parecia isso quando ele não tinha mandado nem uma mensagem de texto ou ligado. Até mesmo um sinal de fumaça teria sido legal.

“Mas não sabia se você ia querer falar comigo” ele continuou honestamente, a deixando confusa. “Você parecia ter muita coisa para se preocupar e eu não queria atrapalhar” ele disse.

Ela demorou para entender que ele estava falando de Adrien. Ele quis dar um tempo para ela se resolver, para não pressionar.  

“Tinha a sensação que Adrien iria passar para te ver depois que ele foi na minha casa” ele continuou a falar, vendo a expressão dela.

“Você o perdoou?” Marinette perguntou apreensiva. Ela tinha o perdoado, mas não tinha sido ela quem tinha recebido o golpe e de alguma forma saber o que Luka pensava do que Adrien fizera era importante para ela.

“Claro” ele falou sem uma sombra de dúvida. “Ele bebeu um pouco demais e fez besteira, acontece. Não o conheço bem, mas até eu sei que ele não é assim normalmente” disse.

“Ele te bateu” ela falou, porque estava surpresa demais com o quão bem Luka estava lidando com isso.

“Não vou julgar ele por uma ação ruim, Mari” ele disse.

Marinette sorriu, não entendia porque a resposta de Luka parecia tão perfeita, mas era. Combinava com o que ela achava dele, de como ele não julgaria nada no mundo se pudesse evitar.

“De qualquer jeito, eu achei que era melhor deixar para te ver hoje” ele disse. “Fiquei torcendo para que você não se incomodasse comigo passando por aqui”.

“Não, eu não me incomodo nem um pouco” ela disse feliz. A presença de Luka ali a deixava tranquila. “Mas não quero mais falar de Adrien”.

Ele sorriu. Isso era exatamente o que ele queria ouvir. Ele adorava Marinette, mas parecia que a sombra de Adrien os seguia para onde quer que fossem e ele só queria aproveitar um momento com uma garota adorável sem pensar em um outro cara.

Ele perguntou como ela estava e ouviu com interesses as histórias que ela compartilhou das suas aulas e dos seus amigos. Ela aproveitou então para fazer perguntas a ele sobre o seu dia e ali eles ficaram conversando tranquilamente por um tempo.

O único contato físico que eles compartilharam foi quando Luka se despediu dela, dizendo que não queria atrapalhar ainda mais o trabalho dela, e deu um beijo na bochecha dela.

Marinette o observou ir embora com um sorriso pequeno.

***

Aparentemente, a paz que tinham tido até agora não ia durar, porque Marinette tinha a pequena suspeita que a mulher de pele vermelha era um Akuma. Ela xingou silenciosamente e mandou uma mensagem de texto para Adrien, o avisando da situação.

Ela já estava transformada quando Chat chegou, também transformado. Não deu tempo para eles falarem nada, porque a situação já estava grave demais para eles perderem tempo, com a Akuma fazendo uma mulher de refém enquanto tentava conseguir algo que eles ainda não sabiam o que era.

“Você vai me dar o que eu quero” ela ameaçava a outra mulher, que parecia desesperada até que viu o par de super-heróis e soltou um suspiro de alívio.

Chat e Ladybug trocaram uma rápida conversa silenciosa, elaborando como iriam agir.

“Sinto em dizer, mas essa cor não está na moda” gritou Chat, atraindo a atenção da Akumatizada. Ela gritou em resposta.

Ladybug balançou a cabeça. Os akumas eram tão sensíveis. Hora de lutar.