SIM - PARTE QUATORZE

Eu encontrei uma garota, linda e doce. Oh, eu nunca soube que era você quem estava esperando por mim, porque éramos apenas crianças quando nos apaixonamos, não sabíamos o que era.

Eu não vou desistir de você dessa vez, mas, querida, apenas me beije devagar. Querida, você está perfeita essa noite. Bem, eu encontrei uma mulher mais forte que qualquer uma que eu conheça, ela compartilha meus sonhos. Lutando contra todas as possibilidades, eu sei que ficaremos bem desta vez

(Perfect - Ed Sheeran)

Alguns dias tinham se passado desde que Ladybug e Chat Noir assumiram o namoro. Eles estavam ansiosos para contar aos amigos sobre o relacionamento deles como Adrien e Marinette, porém ela ainda não se sentia confortável com isso. Estava com medo que o tempo tivesse sido curto demais ou mesmo que Luka fosse ficar magoado quando soubesse.

Portanto foi muita sorte ou azar quando Marinette estava voltando para casa e viu o Couffaine. Ele estava perto da vitrine de uma loja de instrumentos musicais e parecia concentrado ao observar uma guitarra. Ela sorriu levemente. A loja toda parecia ser a cara dele.

Ela o observou por alguns instantes, tentando criar coragem de ir lá falar com ele. Sabia que algum dia precisaria conversar com ele novamente, porém estava com um medo esquisito de machucá-lo ou de sair machucada, mesmo sabendo que provavelmente nada aconteceria. Ele já sabia que ela gostava de outra pessoa.

“Luka?” ela chamou quando por fim conseguiu se convencer a entrar na loja. Ele virou, parecendo surpreso de ouvir seu nome e sorriu quando a viu. Isso a acalmou um pouco.

“Olá, Marinette. Tudo bem?” ele perguntou.

“Estou bem, e você?” perguntou educadamente. A verdade é que ela estava ótima e não conseguia acreditar em como as coisas estavam dando certo para ela, porém não queria falar isso para ele.

“Bem também. Estou escolhendo minha nova guitarra, porque…” ele falou e começou a contar a história de como outra que tinha quebrara. Ela ouviu e pouco tempo depois não se sentia mais tensa. Parecia que as coisas estavam verdadeiramente bem entre eles.

Ele terminou de comprar e a chamou para um café. Ela fez uma cara de pânico. Não queria ser chata e recusar o pedido de Luka, mas e se ele achasse que era um encontro? E será que Adrien ficaria irritado em ver os dois juntos? Talvez fosse melhor simplesmente ir para casa.

“Relaxe, Marinette. Eu sei que você está com outra pessoa. Com o Adrien, provavelmente. Estou chamando como amigo” falou ele, sinceramente. Odiava perder as pessoas por situações como essa e não deixaria Marinette se afastar dele só porque ele tinha se interessado um pouco nela. Agora ele realmente só a via como amiga.

“Como você sabe disso?” ela perguntou espantada. Nem Alya tinha comentado nada com ela, então duvidava que Juleka soubesse que eles estavam juntos.

Luka deu de ombros.

“Eu lembro dele dizendo que gostava de você, e você dele. E, bem, dava para sentir que tinha alguma coisa ali desde antes. E quando você me falou que gostava de outra pessoa, achei que tinha que ser ele” falou tranquilamente.

Ela corou. O dia em que Adrien ficara completamente alterado não tinha sido há muito tempo, mas parecia eras diante das coisas que aconteceram.

“Ahn, me desculpe novamente por… er… gostar de outra pessoa” falou incerta.

“Sem problemas, Marinette. Isso já é passado” ele afirmou. “O Adrien também parece ser uma boa pessoa” comentou.

“Ele é” ela concordou.

Eles ficaram em um silêncio constrangedor por alguns segundos, nenhum deles sabendo o que falar.

“Você ouviu o novo remix que fizeram da música de Jagged Stone?” Luka perguntou subitamente e ela rapidamente aceitou a mudança de assunto.

Depois disso, a conversa fluiu normalmente e após passar uma hora Marinette falou que tinha que ir para casa. Eles se despediram somente trocando palavras e logo ela já estava em casa. Ela sentia-se mais tranquila agora; a única coisa que a deixava sentindo-se culpada no seu relacionamento com Adrien era como Luka poderia se sentir e agora estava claro que ele realmente estava bem.

***

Adrien recebeu a mensagem de Marinette sobre como ela tinha encontrado Luka. Ele tinha que admitir que tinha ficado tenso por um momento, porém depois relaxou ao lembrar de como ela disse que não sentia nada e ela o assegurara que não tinha acontecido nada entre eles.

Ele ainda não estava exatamente feliz com a ideia de Marinette e Luka passando um tempo juntos, mas ele confiava nela. Se ela disse que nada aconteceu, nada aconteceu. Ele não agiria de forma tão babaca quanto na festa. Não queria ser o tipo de cara que diria a Marinette quem ela deveria ser amiga.

Além disso, ele gostava de Luka. Tinha simpatizado com ele quando o conhecera e eles trocaram conversas interessantes - ainda que viajadas -, tanto que até ver ele ficando com Marinette, Adrien tinha visto nele um potencial amigo.

Então ele simplesmente respondeu a Marinette dizendo que tudo bem e que se ela quisesse que eles saíssem com Luka juntos um dia, ele aceitaria. Ele acrescentou depois que chamaria mais gente para não ficar esquisito, imaginando a cena dos três juntos andando por Paris. Adrien não se sentiria confortável com isso de jeito nenhum.

Ela respondeu o agradecendo pela oferta, mas dizendo que agora só queria passar um tempo com ele (Adrien). Isso o fez sorrir como um idiota e sentiu como se todos os seus esforços em ser um cara legal fossem recompensados.  

***

Marinette se deu conta de uma coisa depois de mandar uma mensagem para o Adrien. Eles nunca tinham tido um encontro de verdade. Tinham passado bastante tempo juntos só, mas nunca realmente um encontro.

Essa seria a sua oportunidade de se redimir com Adrien, decidiu lembrando da conversa que tiveram no parque. Ainda sentia como se toda a parte difícil do relacionamento tivesse sobrado para ele, então podia pelo menos fazer isso. Ela planejaria um primeiro encontro para os dois.

O único problema era que ela não tinha a menor ideia de como se fazer um primeiro encontro. Quer dizer, ela sabia que tinha a clássico ida ao cinema (coisa que já tinha feito com Adrien). Porém, não achava que isso fosse o suficiente. Adrien jamais reclamaria, mas ele merecia mais, eles mereciam mais. Ela tinha que pensar em algo criativo, ou algo que tivesse significado para eles… ou os dois.

A pior parte é que ela não poderia pedir ajuda a Alya, porque a amiga ainda não sabia sobre os dois (só de Chat e Ladybug). Mesmo que contasse que queria chamar Adrien para um encontro, ela não saberia a história toda dos dois e não saberia o que tinha sido importante para eles.

“Tikki, você tem alguma ideia do que fazer num encontro?” perguntou desesperada para a kwami.

Tikki fez uma leve careta. Esse era um costume tão humano e do qual ela não gostava muito.

“Desculpe, Marinette, eu não sou boa nessas coisas” falou.

“Não se preocupe, tenho certeza que vamos pensar em algo” garantiu Marinette, rezando para isso ser verdade. Ela estava cheia de energia para planejar isso, só precisava descobrir como.

***

Não era fácil assistir aulas com Adrien e estar namorando com ele, mas não poder demonstrar. Tinha ficado melhor do que nos dias iniciais que estavam saindo (porque ele deixou de provocá-la e eles ficaram melhor em esconder), mas ainda assim era um tipo de tortura para Marinette.

Claro que ele também sentia-se assim e tinha que admitir que ficava extremamente irritado quando não podia defender a própria namorada porque pareceria estranho que ele estivesse disposto a entrar em brigas bobas por ela, quando tecnicamente não tinham nada. Ele se perguntou se Chloe sempre fora tão ruim assim com ela e ele nunca tinha notado ou se ela estava pior ainda (como ele tinha conseguido suportá-la estava além da compreensão dele).

Ainda assim, naquele momento em específico, eles estavam felizes. Estavam sentados juntos na mesa com Alya e Nino, aproveitando o intervalo para conversarem. A sorte é que eram melhores amigos do - outro - casal de namorados, então ninguém acharia estranho o fato que eles estavam sempre juntos no intervalo. E era divertido estar com suas pessoas preferidas, tão relaxados assim.

Marinette estava sentada do lado de Adrien e aproveitou a distração de Alya e Nino, que discutiam alguma coisa sobre física, para falar com o namorado.

“Você quer ir num encontro comigo hoje?” sussurrou, com medo de detalhar mais e os outros notarem em como eles estavam perto.

“Seria meu prazer, my… Marinette” falou, resmungando mentalmente. O fato dele sempre falar os apelidos de Marinette no momento errado já criara confusão para ele uma vez e ele não podia se permitir sair por aí chamando ela publicamente do mesmo jeito que Chat Noir chamava Ladybug, por mais que quisesse. Por sorte, ele tinha um grande variedade de apelidos para ela (Princesa, Mari, my lady, Bugaboo)...

Ela sorriu e ele se viu ansioso para onde eles iriam. Já era hora de terem um encontro de verdade, embora ele tenha feito uma nota mental que também deveria programar algo para ela depois.

***

Chat Noir aterrissou com tudo na varanda da casa de Marinette. Ela se perguntou se ele estava fazendo barulho de propósito para avisar os pais dela que ele estava lá ou se realmente só fora um acidente.  

Adrien desfez a transformação e foi beijar a namorada. Ela respondeu alegremente, mas depois os separou, não querendo deixar o encontro para lá e ficar ali. Não, ela tinha tido trabalho demais pensando nisso.

Ela não o contara para onde iriam e somente dissera que qualquer roupa estava boa, quando Adrien perguntara se deveria ir arrumado. Ele achou a resposta estranha, mas optou por uma roupa simples, só uma bermuda, blusa e tênis.  

“Você está pronto?” Marinette perguntou, nervosa. Ela estivera tão certa que fizera a escolha certa para o encontro deles, mas agora se perguntara se não tinha sido uma ideia idiota. Será que Adrien iria gostar?

“Nasci pronto” respondeu ele, como se estivesse prestes a cometer uma missão impossível. Ela revirou os olhos. Como tinha se apaixonado por alguém com um senso de humor tão ruim?

“Okay, é melhor se transformar em Chat Noir de novo, porque vou ter que te levar como Ladybug até o lugar” Marinette avisou. A última coisa que eles precisavam é que rumores surgissem que Adrien estava saindo com Ladybug, que estaria traindo Chat Noir.

Plagg resmungou alguma coisa sobre como o amor adolescente era idiota e ele não era um escravo, mas mesmo assim em poucos segundos Ladybug estava segurando um Chat Noir enquanto eles atravessavam alguns prédios de Paris.

Adrien se perguntava para Marinette estava o levando. Ela não queria dizer de maneira alguma para onde eles estavam indo e o forçara a fechar os olhos, ameaçando o deixar cair. Ele sentiu quando eles aterrissaram em algum lugar alto.

“Pronto, pode olhar de novo” ela disse.

Ele não sabia o que esperava ver quando abrisse os olhos, talvez um restaurante, mas certamente ficou surpreso em ver o topo de um terraço iluminado romanticamente com várias luzes e pétalas no chão. Ele achou o cenário estranhamente familiar.

“Você lembra desse lugar?” Ladybug suspirou.

Quando ouviu a pergunta dela, Chat recordou. Era o mesmo lugar que ele uma vez arrumara e tentara se declarar para Ladybug, mas acabara levando Marinette. Era engraçado o quanto mais a vida parecia o levar para Marinette quando tentava algo com Ladybug e ele nunca tinha notado, talvez se tivesse prestado atenção teria notado que eram a mesma pessoa. Mas no primeiro dia que estivera ali, não tinha a menor ideia da identidade dela. Ele lembrava de como tinha se sentido desolado, mas as coisas tinham ficado melhores quando viu Marinette aparentemente tão triste quanto ele.

“Uma vez, eu perdi uma oportunidade incrível de estar aqui com você, de valorizar todo o esforço que você fez para arrumar o lugar para mim. Eu não tinha a mínima ideia do que você sentia por mim” ela falou e ele acreditou nele, lembrando de como ela tinha ficado confusa com a noção de que ele realmente gostava dela. “Eu te machuquei naquele dia e eu sinto muito por isso. Eu fui egoísta, vindo aqui como Marinette, sem te contar quem eu era de verdade. Mas você me ajudou a tirar a minha cabeça de Adrien naquele dia” ela disse e ele riu. “Certo, reconheço que isso é um pouco irônico agora, mas na época… Eu fiquei feliz de estar aqui com você, Chat. E eu quis voltar com você de novo para aqui. Desta vez, quero que saiba quem eu sou e que eu te amo de qualquer jeito” disse e arregalou os olhos, percebendo o que tinha falado. Não tinha planejado dizer eu te amo tão cedo, mas simplesmente era como ela se sentia e notou que não se arrependia. Ela confiava sua vida a ele e eles se conheciam melhor que ninguém. Era só natural que ela o amasse e ele soubesse disso.

Pura felicidade. Era tudo que Adrien era capaz de sentir agora. Ele estava realmente tocado com todo o esforço que Marinette fizera para organizar o encontro, dava para ver que ela realmente tinha pensado nisso e ela tinha acertado em escolher o lugar. Era como se estar ali corrigisse algum dos erros que eles tinham feito, era como se ela demonstrasse que realmente o aceitava completamente e não ia mais fugir disso.

O melhor de tudo é que ela dissera que o amava. Ele não esperava ouvir essa frase nem tão cedo, sabia que as pessoas podiam ser bem guardadas nesse quesito e ela não tinha sido exatamente corajosa na hora de falar de sentimentos. Mas ouvi-lá dizer isso em voz alta o fazia feliz de uma forma que nunca tinha sentido antes. Ele já sabia que a amava fazia tempo (só demorou para perceber que amava Marinette e Ladybug de forma igual) e saber que era correspondido parecia algo tão impossível, tão perfeito. Ele nunca tinha se sentido amado desde que sua mãe morrera, mas percebeu que com Marinette, ele sentia-se assim. Era por isso que confiava tanto nela. Ele sabia que ela sempre estaria ali para ele.

“Obrigado” ele sussurrou, como se tivesse medo que as palavras fossem ser roubadas se falasse alto demais. Ele estava agradecendo por tudo, por cada momento que passaram juntos, por cada momento que ela não desistiu dele. Por ela insistir nele mesmo quando as coisas estavam difíceis. “Eu também te amo” disse, fazendo com que um sorriso tão grande quanto o seu aparecesse no rosto dela.

Ela se aproximou dele e o beijou calmamente, sem pressa alguma. Aquela noite parecia ser forte demais para acabar, eles não iriam a lugar nenhum. Naquele momento, eles se sentiam vivos de uma forma muito mais intensa que o normal. A melhor maneira de explicar isso é que nesse momento eles juravam ser infinitos.² Sabiam que não eram eternos, mas aquele momento parecia ter uma intensidade que iria ecoar eternamente, ressoando pelo universo.