Ondulações escrita por Meury


Capítulo 1
Um


Notas iniciais do capítulo

Alguém aqui curte Gruvia? Eu sinceramente amo esses dois!
Boa leitura!



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CAPÍTULO UM

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Em algum momento, ele perdeu sua própria noção de tempo. Gray não sabia ao certo quantos dias, semanas ou meses faziam em que estava afogado em seu próprio luto, navegando nas marés de sua tristeza implacável. Mas não era como se importasse para ele, no fim. Poderia ficar ali, isolado, por quanto tempo achasse necessário.

No entanto, estava ciente de que algumas pessoas não compartilhavam desse pensamento.

Se dependesse de sua madrasta e de sua quase irmã, ele jamais teria subido aquele pico para morar sozinho. Poderia estar na casa que tinham na cidade, desfrutando da companhia terna delas e se recuperando em meio a risadas e afagos, escutando as fofocas de sua irmã e as recordações doces da madrasta sobre a época em que seu pai ainda estava vivo.

Mas ele nunca fora assim – e na verdade, passou-se o tempo em que se culpava por este seu aspecto – sempre foi dado ao seu isolamento, a enfrentar suas dores em sua própria solidão, e continuaria assim, pois aquela ferida ainda latejava viva em seu peito, e sentia que ela ainda poderia devorá-lo a qualquer momento.

Então faria questão de continuar esquecido, pelo menos por enquanto, descarregando todos aqueles sentimentos em suas telas. Usando sua mente enevoada de conflitos e suas tintas cremosas para cuspir tudo o que ainda o corroía por dentro, para curar aquela parte dele que parecia um pouco perdida, talvez ainda em busca daquela que a muito tempo se fora.

Naquele dia, por sinal, Gray se deparou mais uma vez com sua irmã batendo a sua porta. Pelo menos uma vez por semana ela fazia questão de aparecer, era quase um ritual. Como sempre, puxava sua orelha e reclamava horrores de suas atitudes, indignada por ainda permanecer naquele lugar que julgava inóspito, mesmo que carregasse a memória de seu falecido pai.

Como o mais velho – ainda que eles não compartilhassem completamente do mesmo sangue – ele achava no mínimo curiosa que a mulher agisse como uma primogênita responsável que, obviamente, não era. Ultear, por muito tempo, chegou a dar bastante trabalho a sua mãe, visto que seu gênio forte era quase indomável, e ele se viu livrando a cara dela de encrencas mais vezes do que podia contar.

Ainda assim, toda empertigada e mandona, ela saiu vasculhando todos os seus armários e sua simplória geladeira, chegando a constatação de que Gray praticamente não andava ingerindo comida de verdade, exigindo com ares de comando que ele tratasse de fazer uma feira descente e que, pelo amor de sua própria saúde, parasse de fumar como uma maldita chaminé.

Gray obviamente a olhou muito feio quando ela arrancou o cigarro que este prendia nos lábios e o amassou entre os dedos, berrando que algum dia aquilo ainda o mataria. E que matasse, ele pensou, pois não se importava de verdade com esse fato. Por isso que, assim que Ultear saiu por aquela porta, ele voltou a acender um novo fumo.

Durante toda a tarde, a única coisa que Gray fez foi pintar, dando uma boa carga de sua preciosa atenção a isto. Ele também refletiu sobre as broncas de sua irmã, e pensou outra vez que, talvez, Ur estivesse muito magoada por ele recusar a estádia na casa onde cresceu. Mais do que ele imaginava, refletiu.

Por fim, faminto e ainda expelindo a fumaça que todos pareciam detestar, resolveu que deveria ir até a cidade e fazer as tais compras que sua irmã tanto exigiu. Suspirando, e até mesmo um pouco preguiçoso, Gray caçou pelas vestimentas que lhe protegeriam do frio que reinava do lado de fora, e por fim jogou sua jaqueta de couro marrom nos ombros.

Trancando a única casa ali, ele entrou em sua caminhonete azul escura e deu partida. O tempo exato da casa que pertenceu ao seu pai até a cidade de fato, era, no mínimo, de uma hora. A estrada até lá era praticamente deserta, com extensos bosques que agora estavam tingidos de branco pela neve que se tornava cada vez mais frequente.

Kaltes era uma formosa cidade do interior. Cercada por montanhas, era conhecida por abrigar temperaturas extremamente frias. Árvores enormes e lagos congelados eram avistados por todos os lados, e os poucos habitantes eram estupidamente pacíficos. Gray o sabia porque cresceu entre eles, e com tamanho orgulho que não cabia em seu peito.

Era a terra de seu pai. Aquele homem destemido e muito sábio, que o ensinou a ver beleza em quase tudo que ali habitava, que o mostrou tudo o que estava a seu alcance. Lembrava-se de correr entre aquelas ruas, de brincar com a neve que quase sempre estava caindo e de se aventurar perto dos lagos congelados e perigosamente fundos. Lembrava-se de incontáveis momentos felizes e belos, onde pensou que nada pudesse o atingir ou o derrubar, quando a inocência reinava tão serena em seu ser.

Mesmo em toda aquela glória, certamente o que lhe fazia mais bem ainda era a formosa casa da montanha. Era uma lembrança constante de seu pai que, apesar de dolorosa em certos momentos, o fazia muito bem. Por isso continuava lá, naquele cubículo afastado do mundo, mais alto que qualquer coisa que pudesse ver num raio de vários quilômetros. Um lugar onde só parecia existir ele e nada mais.

Quando adentrou a pequena Kaltes, o sol que já era fraco tinha por fim se despedido. Pequenos flocos brancos rodopiavam pelo ar quando ele desceu do carro, usando luvas grossas e sentindo o calor do cigarro quase aquecer seu nariz, para finalmente entrar no único supermercado em toda a cidade, com a clara intenção de comprar comidas que ele julgava descentes.

Nada do que Ultear tenha berrado, obviamente.

Bastou trinta minutos para que Gray tivesse se abastecido com tudo o que achava necessário, inclusive mais algumas carteiras do seu cigarro favorito. Ele sabia que Ultear provavelmente teria um ataque se o visse carregando aquilo, e diante esse súbito pensamento, se viu soltando uma leve risada. Ele jogou as três sacolas no banco do passageiro e preparou-se para o seu caminho de volta.

Com o aquecedor ligado, ele batucava os dedos ao ritmo de uma música qualquer contra o volante, ainda que não a conhecesse. A estrada estava mortalmente escura, iluminada apenas pelos seus faróis alto, e a neve que caia parecia consideravelmente mais forte, então preocupou-se em fazer o seu percurso com bastante calma, ainda que chegasse um pouco mais tarde, concentrado durante longos minutos.

Gray soltava a fumaça em seus pulmões quando um carro em alta velocidade se aproximou rapidamente pela sua mão, quase que desgovernado pela pista traiçoeiramente escorregadia. Ele puxou seu veículo para a esquerda, o coração quase vindo na boca, invadindo o acostamento e empurrando o pé no freio; e como estava a uma baixa velocidade, não teve grandes dificuldades para o controlar.

O outro carro, no entanto, puxou com força para a direita. Invadiu a mão na qual deveria estar e chegou ao acostamento, mas o solavanco fora tão forte que a cabine virou, quase lentamente aos olhos de Gray, e o carro capotou três vezes até cair com relativa brusquidão sobre as águas congeladas do lago Nema, que delimitava toda a lateral direita da estrada.

Ele escutou quando a camada de gelo se rompeu e o carro começou a afundar naquele breu, e atingido por algo que o fez despertar, Gray saltou de sua caminhonete, e enquanto corria até o lago de águas profundas, a única iluminação com a qual contava eram os faróis do carro que afundava e a do seu próprio.

― Merda! ― Ele xingou alto, sentindo o vento gélido bater contra sua pele, largando a jaqueta e as luvas em sua corrida desenfreada com a intenção de melhorar sua própria movimentação. E quando pulou naquelas águas mortalmente geladas sentiu um frio insuportável inundar cada canto de suas roupas e alcançar sua pele, e jurava que o frio chegou até seus ossos.

― Socorro! ― Uma voz desesperada e abafada chegou aos seus ouvidos, e o carro ainda afundava gradativamente quando ele bateu a palma da mão contra a janela, avistando apenas um par de grandes olhos azul-escuro arregalados do outro lado. ― Eu não sei nadar!

Sentindo seus dedos quase dormentes, ele indicou com as mãos que a moça abaixasse a janela usando a manivela, sabendo que a água entraria com toda sua pressão quando ela assim o fizesse. Apesar do vidro abafar sua voz, ele falou:

― Retire o cinto de segurança e abra a janela.

Ela o observou temerosa, a água gelada já chegava até suas cochas à medida que o carro era sugado cada vez mais para baixo. Com as mãos trêmulas – e sentindo pontadas em sua própria cabeça – ela retirou o cinto de segurança após consideráveis tentativas e finalmente começou a girar a manivela.

Quando uma forte carga de água irrompeu para dentro do carro, ela prendeu a respiração com força, sentindo mãos grandes entrarem pelo buraco e tentarem puxá-la para fora. Em algum momento de desespero, lutando contra a força da água, ela acabou perdendo o próprio fôlego, entrando em um estado de agonia que a fez se debater em busca de algo que a levasse até a superfície.

Felizmente, Gray a prendeu fortemente e por fim conseguiu puxá-la para fora, para então a impulsionar para cima. A mulher quase se engasgou quando o ar chegou até os seus pulmões, respirando fortemente e se debatendo em busca de apoio, balbuciando coisas que ele não era capaz de compreender no momento.

― Calma! ― Gray alertou, certo de que talvez ela também o levasse para o fundo. Apoiando-a, ele começou a nadar para a borda, sentindo que ela tremia ruidosamente em seus braços, completamente ensopada e amedrontada. Quando chegaram em terra firme, no entanto, ele percebeu que a mulher não era capaz de se mover, os espasmos de seu corpo gélido e necessitado de calor eram violentos, e sangue começou a brotar de um corte marcado no lado esquerdo de sua testa, escorrendo por sua têmpora e chegando até o queixo trêmulo.

Xingando pela trigésima vez naquela noite, ele catou sua jaqueta largada no chão que, apesar de úmida, não estava encharcada, e a colocou sobre os ombros dela, a apertando firme entre seus braços, procurando o próprio celular nos bolsos das calças. Quando o achou, no entanto, chegou a infeliz constatação de que o perdera, julgando pela água presa dentro da tela escura que suava, e percebeu que, de qualquer forma, ele não tinha certeza se ao menos pegava sinal naquele caminho já tão próximo das montanhas.

― Que droga! ― Ele arfou, a névoa esbranquiçada que saiu de seus lábios dançando junto aos flocos de neve, e finalmente tomou ciência dos espasmos de seu próprio corpo. Refletindo, ele percebeu que estava bem mais próximo de sua casa do que qualquer local da pequena cidade que, naquele ponto, parecia um pouco mais distante.

Preso naquele limbo inabitado, Gray passou os braços pelas pernas da mulher desconhecida e a levantou, vendo que ela mal podia sustentar a própria cabeça e que o observava com os olhos nevoados, como se não o enxergasse de fato. Ele, no entanto, não sabia se aquilo se devia ao frio extremo ou ao choque do próprio acidente, e suspeitou que talvez fossem ambos.

Sem olhar para o carro que agora já se encontrava submerso, Gray depositou o corpo feminino no banco do passageiro, empurrando como podia as sacolas para o chão da caminhonete. O estofado sugou a água fria que se encontrava em sua pele, cabelos e roupas, e a mulher encostou a cabeça meio grogue contra a janela.

Ligando o aquecedor do carro e dando continuidade ao caminho que anteriormente fazia, Gray tentou mantê-la acordada.  

 ― Algo mais dói? ― Ele praticamente berrou, atraindo a atenção de seus grandes olhos azulados e escuros. Ela suspirou, e seus lábios levemente roxos tremiam ruidosamente junto a cada músculo de sua face, e todos os outros de seu corpo. ― Além da testa... ― Ele acrescentou incerto, observando-a pelo canto dos olhos e fazendo tudo o que podia para se manter focado na estrada e avançar o mais rápido possível naquele caminho traiçoeiro.

A mulher não sabia dizer se algo mais estava errado além do frio mórbido que atravessava cada camada de sua pele e as pontadas constantes que sentia em sua cabeça. Ela levou os dedos até o próprio rosto quando percebeu as gotas de sangue que se acumulavam em sua blusa azulada, e quando os afastou, fitou fixamente o líquido carmim que lhe manchava as pontas dos dedos trêmulos.

― Aguente firme. ― Gray falou, apertando os próprios dedos contra o volante com tamanha força que os nós ficaram brancos. ― Estamos quase chegando, então poderei aquecê-la. Só aguente.

Ela o observou outra vez e estremeceu um sim para fora dos lábios, sem a certeza de que ele a tinha compreendido. Agarrando os próprios braços, ela sentiu seu corpo em um colapso interrupto, o frio a cercava por todos os lados, e nem mesmo a presença do aquecedor era capaz de evitar que seus dedos ficassem dormentes.

Quando finalmente chegaram a singela e pequena casa solitária que ocupava o topo de uma montanha, o homem de cabelos negros pulou de sua caminhonete, abrindo a porta completamente afobado ao agarrá-la em seus braços, ainda que cada centímetro de seu corpo tremesse igualmente.

― Chegamos... ― Ele murmurou com os lábios trêmulos, pele gélida em contato com pele gélida. Com uma manobra que nem mesmo ele achava possível, girou a chave e abriu a porta, irrompendo para dentro da sala e a colocando sobre seu sofá creme e relativamente antigo. Mais uma vez, a espuma sugou a umidade que ainda prevalecia no corpo da moça, e não se preocupando com qualquer pudor naquele momento, ele começou a puxar as peças de roupa encharcadas.

Aquecê-la era o mais importante, acima de qualquer traço de vergonha. A mulher de longos cabelos azuis ainda tremia quando ele jogou a jaqueta de couro que previamente a aqueceu para longe; puxando as botas cheias de água, Gray também lhe arrancou a blusa e as calças, deixando-a apenas com o conjunto de roupas íntimas de uma cor branca levemente azulada.

Sem pensar em mais nada, e agindo rapidamente, ele correu até o seu quarto – o único da casa – e voltou com vários edredons apoiados nos braços fortes, o mais importante é que estavam todos secos. E talvez, se estivesse ciente o suficiente, ela teria gemido em satisfação quando Gray a enrolou em um casulo formado pelos tecidos, apertando-a bem firme; e aproveitando daquele breve calor, ele se voltou para a chaminé e jogou várias lascas de madeira na intenção de reviver o fogo.

Satisfeito pelas ondas de calor que as chamas os proporcionava, Gray a tirou do sofá molhado e a colocou mais próxima da chaminé, ainda a sentindo muito trêmula. Então ele retirou suas próprias roupas, sentindo os espasmos em cada músculo seu, e agarrou a mulher fortemente em seus braços, passando um outro edredom ao redor dos corpos abraçados e apreciando o calor que os dois tentavam doar um ao outro.

Aninhados naquele emaranhado de calor, sentados ao chão e sentindo o tecido aquecer suas peles frias, Gray percebeu o momento em que os espasmos trêmulos cessaram. Seus músculos relaxaram e ele se permitiu suspirar aliviado, a cabeça cheia de fios azulados escondida em seu peito, como se buscasse aquecer o nariz e as bochechas.

― Então... — ele murmurou, a voz soando rouca e pesada. O corpo dela se retesou, como se já soubesse as próximas palavras. — Qual o seu nome?

Ela soltou o ar dos pulmões, o rosto ainda escondido, e Gray jurou que ela não falaria nada até que sussurrou:

— Juvia.

Era um nome pequeno e que soava de uma maneira muito misteriosa para Gray. E ela não especificou seu sobrenome, ele percebeu. Pensou também que existia a possibilidade de ao menos Juvia ser seu real primeiro nome; e ela parecia tão atordoada e calada, que não fez questão de lhe fazer a mesma pergunta até que ele mesmo respondeu.

— Sou Gray Fullbuster.

— Gray... — ela murmurou meio grogue, como se testasse como a palavra soava. — Muito obrigada, Gray. Não sei o que teria feito se.… se você não estivesse lá.

Ele não pôde deixar de pensar que, se ele não estivesse lá – ou pelo menos se ela estivesse andando em sua mão – nada daquilo ao menos teria acontecido. Mas Gray não expressou tais palavras, e limitou-se a dizer:

— Não existe isso de me agradecer. — À censurou. — Que tipo de pessoa eu seria se não tivesse ajudado?

Juvia sabia que se tratava de uma pergunta retórica, mas ainda assim levantou a cabeça e o observou com seus grandes olhos azul-escuro, quase balbuciando algo quando uma dor aguda apontou em sua têmpora. Diante a careta que se instalou em sua face, Gray chiou:

— Merda, o corte.

Afoito, e para protesto dela, que perdeu uma de suas fontes de calor, Gray se levantou e foi até o quarto novamente – nenhum pouco constrangido por usar apenas uma cueca box molhada – e Juvia apenas apoiou a cabeça na mesinha de centro, apertando os olhos diante as pontadas e ainda sentindo um calor gostoso irradiar em sua direção.

Quando Gray voltou, usava uma calça escura de moletom, ainda que permanecesse sem camisa; trazia consigo uma caixa de primeiros socorros, provavelmente sua real intenção quando sumiu pelo cômodo tão apressado. Ele se sentou, e sussurrando um “ei” muito baixinho, lhe tocou a bochecha para ganhar sua atenção.

Juvia abriu os olhos, e meio mole, se endireitou para que ele limpasse o corte em sua testa. Ela crispou os lábios com força quando um líquido em especial fez sua pele ferida arder horrivelmente, mas aguentou cada procedimento com os olhos fixos ao singelo cordão de prata que pendia no peito musculoso e desnudo, a cruz balando-se sutilmente a cada movimento de Gray.

No fim, o corte não era tão assustador quanto aparentava.

— Acredito que não vai precisar de pontos. — Ele comentou complacente, e só então Juvia percebeu que tudo já tinha acabado e que um curativo descansava sobre seu corte. Ela levou os dedos até o local, ainda temerosa.

— Espero que não... — murmurou simplesmente, ainda atordoada e deslocada, como se nada realmente fizesse sentido em sua cabeça.

Por um momento, Juvia se sentiu em um sonho. Não reconhecia nada presente naquela casa, e aquele homem sentado à sua frente era um completo estranho; o acidente em si parecia uma névoa de terror quase irreal. Com os olhos presos ao rosto de Gray, ela estudou seu rosto anguloso, os olhos profundamente negros a fitando com preocupação, e ainda assim, ela parecia fora de órbita.

Quando Gray afastou-se outra vez, ela não se deu ao trabalho de acompanhá-lo com os olhos. Só percebeu que este tinha voltado quando lhe estendeu a palma aberta, um comprimido pequeno e pálido descansando ali, e diante a expressão confusa que ela lhe entregava, apenas disse:

— Para a dor.

Juvia piscou, e muito lentamente colocou o remédio que poderia amenizar suas pontadas na língua. O moreno lhe ofereceu um copo de água, e ela limitou-se a dar apenas um gole e devolver o recipiente praticamente intocado.

— Obrigada... Ainda não sei como.... Te agradecer. — Ela suspirou e fechou os olhos com força, como se as poucas palavras tivessem lhe roubado uma energia essencial. Gray, gentilmente, fechou os edredons mais fortemente ao redor do corpo feminino, e a pegou nos braços. Imediatamente, Juvia abriu os olhos cheios de confusão.

Mas ele apenas disse:

— Pode dormir tranquila, amanhã podemos ir até a cidade resolver toda essa confusão.

Juvia poderia protestar, na verdade, deveria. Mas mentir ao dizer que tamanha atenção não era necessária pareceu ridículo, afinal, não possuía nada naquele momento. E apesar da ação mais coerente fosse a de duvidar de toda aquela gentileza vinda de um completo estranho, e certamente negar dormir debaixo de seu teto, em uma casa perigosamente isolada do resto da cidade, ela apenas desabou.

Quando suas costas tocaram o colchão macio, seus olhos se fecharam e ela não sentia que era capaz de abri-los novamente, render-se ao mundo dos sonhos pareceu mais importante.


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Notas finais do capítulo

Ondulações estava rondando a minha cabeça durante um tempo, então resolvi dar vida a ela, espero que tenham gostado tanto quanto gostei de escrevê-la! Como disse, não sei quantos capítulos terá exatamente, mas não será algo longo, disso tenho certeza!
No mais, até uma próxima ♥