Redenção - Dramione - (Desafio Surprise) escrita por Vênnice, QG Dramione


Capítulo 1
Redenção


Notas iniciais do capítulo

É sempre bom fazer parte de algo, principalmente, quando é algo que você gosta...

O meu desafio era escrever sobre uma situação: Aniversário de um acontecimento - Aniversário do fim da guerra.

Enfim, espero que gostem da história que escrevi especialmente para a comemoração de um ano do QG Dramione.
Esta história foi escrita para o desafio do QG Dramione.

A co-autoria com o QG Dramione é somente para criar um acervo de busca.

Boa leitura!



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Redenção

 

Ato ou efeito de redimir ou remir, que significa libertação, reabilitação, reparo, salvação.

É o ato de adquirir de novo.

É livrar-se de um passo arriscado.

É livrar-se das penas do inferno.

 

***

 

Vinte anos.

O tempo havia passado de maneira assustadora, mas ali, naquele trem, a sensação era de que tudo estava parado no tempo: as cabines, os bancos, as cores desbotadas de sempre... Até a fumaça que anunciava a sua partida era a mesma de sua infância.

Chegou antes porque não queria ser alvo dos olhares curiosos. Em suas mãos, o convite inusitado que havia recebido meses antes. Durante algum tempo pensou em recusar, afinal, como poderia participar de um evento como aquele? Um evento que lembrava a destruição; destruição esta, com a qualele havia contribuído.

Passou a mão por entre os cabelos, hoje, muito mais rebeldes que naquela época. Olhou pela janela e percebeu que as primeiras estrelas começavam a aparecer no céu. Lembrou-se do quanto gostava de observá-las da torre de astronomia e do quanto sentia falta daquele lugar.

A paisagem o distraiu. Assustou-se quando o apito anunciou a chegada do expresso ao seu destino. Esperou que todos descessem. Respirou fundo, olhou para o seu reflexo no vidro da janela. Será que  havia sobrado algo daquele jovem que queria conquistar o mundo? Provavelmente não.

Ao descer, foi surpreendido pela única pessoa que não esperava encontrar à sua espera: Hermione Granger.

—Seja bem-vindo! – Ela tentou esboçar um sorriso. Estava tão nervosa quanto ele.

—Obrigado. – Ele respondeu de maneira educada.

—Vou conduzi-lo ao auditório. – Ela o olhou nos olhos pela primeira vez. – Muitos bruxos vieram especialmente para ouvi-lo.

Draco estava surpreso com a postura de Hermione diante dele, muito distante do que era quando frequentaram Hogwarts. Há muitos anos não se encontrava com ela pessoalmente, mas a acompanhava pelas notícias do jornal. Como sempre, ela estava linda. Segura. Atraente.

Hermione percebeu o olhar dele sobre ela. Franziu o nariz, sorrindo internamente. Gostou.

—Antes de irmos, posso lhe fazer uma pergunta? – Ele disse sério, tirando-a de seus devaneios.

—Claro! – Ela respondeu com um pouco de medo.

—Com tantos heróis e heroínas, por que convidar a mim para falar sobre os acontecimentos daquele dia?

—Você saberá no momento certo. – Hermione sorriu tímida.

Ela tocou levemente na mão dele.

Aparataram.

Draco percebeu que Hermione o havia conduzido para a sala que era de Dumbledore e agora pertencia a ela.

—Diretora de Hogwarts. Você conquistou uma ótima posição. – Ele constatou enquanto olhava para os quadros da antiga sala, mas desviou o olhar quando encontrou o quadro que pertencia a Dumbledore.

Enquanto ele observava os retratos, ela percebeu que não existia mais nenhuma aliança em seu dedo.

“Ele se separou também...”

—Posso dizer o mesmo de você, Malfoy. Afinal, muitos concorriam ao cargo de chefe dos Aurores do Ministério da Magia. – Ela rebateu, sorrindo de forma encorajadora

Ele sorriu. Ela, então, percebeu que o tempo havia feito muito bem para ele. Draco tornara-se um homem bonito e inteligente.

Malfoy olhou sobre a mesa e encontrou vários retratos de Hermione com os filhos, mas percebeu que Rony não estava em nenhuma.

“Os boatos seriam verdadeiros?”

—Vamos? – Ela apontou a porta da sala.

Ela o guiou pelos corredores que há muito tempo ele não frequentava. Percebeu que, perto de uma estátua de javali, seu filho o esperava. Draco parou em frente a ele e foi arrebatado por um forte abraço correspondido no mesmo instante.

—Pensei que você não viesse. – Scorpius confessou.

—Eu disse que viria. Por você, eu vim. – Draco deu um leve beijo na testa do filho e passou a mão pelos cabelos loiros dele. – Está na hora, preciso ir.

—Estarei lá para te ouvir! – Scorpius afirmou. Sentia-se muito feliz com a presença do pai em sua escola.

Hermione observava a cena com ternura nos olhos. Estava mais certa de sua decisão do que nunca. Malfoy havia sido uma ótima escolha. Ele havia mudado e era importante que todos soubessem.

Entraram no salão que estava mais lotado do que o costume em datas comemorativas. Todos se voltaram para eles e um silêncio invadiu o local. Esperavam por Draco. Hermione o conduziu para um palco construído especialmente para o evento. Especialmente para ele.

—Gostaria de agradecer a presença de todos. – Hermione estava um pouco nervosa diante dos olhares dos visitantes daquela noite. -Como sabem, hoje, dois de maio, comemoramos a vitória de Hogwarts contra Voldemort. Não é novidade para ninguém que eu, ao lado de meus amigos, Harry Potter e Ronald Weasley, lutei para que o mundo bruxo se livrasse das trevas. – Ela apertou os próprios dedos – Muitos fatos sobre aquela batalha se eternizaram. Atos de bravura. Bruxos e bruxas que deram a própria vida por um bem maior.

Enquanto Hermione falava, imagens de bruxos que perderam a vida eram projetadas acima do auditório. Todos se emocionaram. Molly Weasley não conteve as lágrimas quando a imagem de Fred, seu filho, apareceu. Ted Lupin desviou o olhar quando a fotografia de seus pais apareceu. Mesmo depois de tanto tempo ainda era muito doloroso.

—Todos os anos, neste dia, relembramos de todos que nos ajudaram. Que ajudaram a libertar o mundo bruxo de um verdadeiro inferno. – A voz de Hermione estava um pouco trêmula. – Quando fomos raptados na floresta e levados à mansão Malfoy, em um ato de desespero, eu desfigurei o rosto de Harry, na tentativa que ele não fosse reconhecido. – Ela engoliu seco. O único problema era que havia uma pessoa dentro daquela casa que poderia nos identificar, Draco Malfoy. – Ela o olhou.

Castanhos nos azuis.

Como sempre, sentiu um fio elétrico entre os dois, algo que Hermione acreditava somente ela sentir. Mas não era bem assim.

—Embora ele tenha nos reconhecido. – Ela prosseguiu. – Não nos denunciou. Conseguimos fugir. – Hermione encontrava dificuldades para encontrar as palavras certas, mas não existiam palavra certas para o que queria dizer. – Nunca o agradecemos. Nunca nos pronunciamos sobre a atitude de Narcisa Malfoy no dia da batalha. – Ela olhou para uma plateia emudecida. Que ainda processava as últimas palavras dela. – Narcisa arriscou a própria vida ao mentir para Voldemort. Ela disse a ele que Harry estava morto, o que o fez retornar à Hogwarts. Todos sabemos o que veio a seguir. A nossa redenção. Vencemos. Graças a Harry, mas graças a Narcisa Malfoy – Hermione não conteve as lágrimas. – O amor de uma mãe por seu filho deu um outro desfecho à história.

Draco emocionou-se ao ver a fotografia da mãe ser projetada. Naquele instante, ele percebeu que nenhuma palavra de seu discurso, que trazia no papel em suas mãos, seria o suficiente para explicar o que desejavam ouvir dele. Optou por ser sincero, assim como Hermione Granger estava sendo sincera naquele momento. Amassou o discurso. A sinceridade era, ainda, algo assustador para ele.

—Como Narcisa, infelizmente, não está mais entre nós, decidi convidar seu filho, Draco Malfoy, para receber esta singela homenagem. Um reconhecimento de toda a comunidade bruxa por sua atitude corajosa e, ao mesmo tempo, difícil, afinal, a vida de sua família estava em risco. - Ela olhou para Draco que estava claramente abalado com a menção do nome da mãe. – Draco Malfoy, queremos ouvi-lo.

O salão estava completamente intacto, ninguém ousava fazer um barulho sequer. Todos aguardavam as palavras dele.

—Às vezes, a ausência de luz faz parte da vida. – Foram as primeiras palavras dele. – Meu pai me falou isso quando eu estava prestes a me tornar um Comensal da Morte. – Ele fechou os olhos por segundos. – Ele dizia isso porque queria me consolar por todo o mal que estava fazendo a mim por um erro do passado. – Ele respirou pausadamente na tentativa de se acalmar. – Naquele dia eu percebi, quando as primeiras lágrimas de minha mãe escorreram pelo seu rosto, que não tínhamos alternativas. – Ele olhou para os antigos colegas que estavam na primeira fila de cadeiras. – Se meus pais não me entregassem para o sacrifício, eu morreria. Se eu negasse fazer parte dos planos de Voldemort, meus pais morreriam. Se alguém tentasse nos defender, morreria junto com a minha família.

Draco sentiu o coração acelerar. Nunca havia falado sobre aquele momento para ninguém e, agora, contava a história para centenas de pessoas que provavelmente o julgavam muito mal pelo papel que desempenhou na guerra.

—“Você não é um assassino, Draco.” Dumbledore me disse isso.  Não, realmente eu não era até aquele momento.  Como sabem, não o matei, não consegui matar o único homem que sempre havia me tratado com respeito e distinção. – Ele olhou para Hermione e só percebeu, naquele momento, que Harry Potter encontrava-se ali, sentado ao lado dela. -  Snape o matou em meu lugar porque minha tia, Belatrix Lestrange, o obrigou a fazer um voto perpétuo. – Draco deu um sorriso nervoso. – Vocês conseguem imaginar o que era viver na mesma casa que Belatrix? Devota de Voldemort. Ela sempre me dizia que eu deveria ter orgulho por ter sido escolhido pelo “Lorde das Trevas”. – Ele cerrou os olhos e fez sinal de aspas com os dedos. – Orgulho? Pensei na morte muitas vezes, provavelmente o mundo seria melhor sem mim...

Hermione ouvia todas aquelas palavras com um profundo pesar. Draco pagou caro por todos os erros da família. Ele não era isento de culpa, mas não teve muitas escolhas. Para não ter a família massacrada, aceitou as ordens de Voldemort.

—Minha tia me obrigava a torturar bruxos e bruxas que eram raptados e levados para a minha casa durante o período sombrio em que Voldemort se hospedou lá. Ele me obrigava a usar as maldições imperdoáveis. – Ele olhou para Scorpius que já conhecia toda a sua história. - Foi assim que eu me tornei um assassino. Torturei. Matei. Me condenei para não perder a minha mãe. – Ele olhou para os seus ouvintes que estavam em uma espécie de transe provocado por sua história. – Todos os dias eu era torturado por não obedecer prontamente as ordens de outros comensais. Até hoje eu tenho as marcas em meu corpo. Até hoje eu sou obrigado a carregar a lembrança de que eu estava do lado errado naquela guerra. – Ele ergueu a manga da camisa e levantou o seu braço esquerdo. Nele, a marca de Voldemort.

Mesmo depois de vinte anos ela estava ali, intacta, e ainda causava reações de medo e angústia em quem a olhava.

—Muitos condenam a passividade dos sonserinos durante a guerra. – ele prosseguiu. – Mas eu devo dizer que nossas famílias eram ameaçadas, coagidas, torturadas, vivíamos com medo. Nunca sabíamos se poderíamos voltar à Hogwarts. Nosso lar. – Draco olhou para Blásio, que concordava com cada palavra dele. – Sim. Lar. Hogwarts era o único lugar que ainda podíamos fingir que estava tudo bem. Sem medo. Sem gritos. Sem tortura. Sem mortes...

Draco abaixou a cabeça. Engoliu seco. Falar sobre o seu pior erro para tantas pessoas não era fácil.

—Durante a minha estada em Hogwarts eu sempre tratei mal todos que se aproximavam de mim. Os humilhava. Usava palavras ruins para denegrir a imagem de cada um. No topo da minha lista de desrespeito estavam Harry Potter, Ronald Weasley e Hermione Granger. – Ele percebeu que Rony não estava no local. – Hoje, eu não ouso pronunciar, muito menos pensar, nenhuma ofensa a respeito deles. Eles salvaram a minha vida. – Pausa. - Mesmo em meio a todo aquele tumulto da Batalha de Hogwarts, eles não me deixaram para trás. – Ele mordeu os lábios. – Eu perdi um amigo naquele dia. Perdi alguém tão ferrado na vida quanto eu, Vincent Crabbe. – Outra pausa. – Fogomaldito. Ele morreu queimado pelo próprio feitiço. – Malfoy olhou para a plateia. – Sabem o porquê? O pai dele, também um comensal da morte, disse que se ele não recuperasse o Diadema de Rowena Ravenclaw, ele próprio o mataria... – Draco passou as mãos pelos cabelos em um gesto nervoso. – Ele conseguiu. Condenou o próprio filho, por obediência a Voldemort.

Hermione sentia uma profunda tristeza em seu coração. Sentia-se conectada a Draco naquele momento. Harry percebeu. Todos perceberam.

—O que mais me enfurece? Ele não aparece em nenhum tipo de lembrança sobre a batalha. – Ele elevou a voz e apontou para o local onde as imagens eram projetadas. – Ele foi tão vítima quanto nós e, como ele, muitos sonserinos perderam a vida naquele dia, mortos por comensais, acusados de traição. Ninguém sabe quem são. Seus rostos não aparecem em homenagens, porém, perderam a vida justamente por questionar a ordem e desobedecer  Voldemort quando este os enviava para a morte. Quando ele os mandava matar inocentes. – Ele abaixou a cabeça por alguns instantes. – Quantos sonserinos voltaram para Hogwarts quando a guerra acabou? Poucos, a maioria não conseguiu voltar e muitos desapareceram.

Ele percebeu que muitos na plateia se assustaram com a suas palavras, nem todos sabiam sobre o ocorrido.

—Hermione Granger contou sobre o que aconteceu em minha casa. Sim. Eu fingi não reconhecer Harry Potter. Eu realmente o fiz. – Ele respirou fundo. – Mas não foi um ato de bravura e sim de cansaço. Eu estava cansado de tudo aquilo. Não suportava mais ameaças, assassinatos e torturas. – Ele olhou para Harry Potter, que o ouvia atentamente. – Percebi que se Potter escapasse, ele poderia conseguir, junto de seus amigos, lutar contra Voldemort. Por isso menti ao dizer que não o havia reconhecido.

Draco percebeu que algumas pessoas estavam impactadas com suas palavras.

—Naquele dia eu perdi o meu único amigo de infância. O único que cuidava de mim quando os meus pais estavam ocupados demais em ostentar o nome da família. Dobby. – Draco engoliu seco. – Eu vi o punhal sendo arremessado por minha tia. Ainda pude ouvir o grito dele no momento em que libertava o trio de amigos da minha casa.

Scorpius olhava com profunda admiração para o pai. Sabia que falar sobre tudo aquilo para tantas pessoas não deveria estar sendo fácil para ele.

—Depois que fugiram, Voldemort chegou em minha casa. Fui torturado por ele. – Draco ainda sentia dores por causa da tortura que havia recebido. Tomava remédios diariamente. – Meu pai, a essa altura, já tinha perdido a pouca sanidade que tinha. Minha mãe chorava desesperada. Voldemort só parou de me castigar no momento em que perdi os sentidos. Minha consciência voltou três dias depois.

Hermione sentiu vontade de abraça-lo, de dizer que sentia muito, de cuidar dele. Assustou-se com os próprios pensamentos.

—Quando eu entrei em Hogwarts atrás do diadema de Rowena Ravenclaw, a minha intenção não era entrega-lo a Voldemort. – Ele revelou. – Eu queria destruí-lo. Foi por isso que eu voltei ao castelo, deixando minha mãe angustiada. Foi assim que ela, Narcisa Malfoy, teve a atitude mais corajosa de sua vida: ela mentiu para poder voltar ao castelo e me salvar. – Draco emocionou-se – No dia dois de maio de mil novecentos e noventa e oito, não foi só a mim que ela salvou. – Silêncio. – Ela salvou o nosso mundo, ela salvou a nossa dignidade, salvou o pouco que restava de humanidade em mim. – Draco encarou as pessoas à sua frente. – Há vinte anos, minha mãe provou que sempre existe uma opção, mesmo quando não conseguimos enxergar nenhuma; ela nos ensinou que não podemos corrigir os erros do passado, mas que podemos nos tornar melhores no presente.

Draco estava com dificuldades para finalizar as suas palavras.

—Meu pai foi executado em Azkaban. – Malfoy não costumava falar muito sobre Lucius. – Um pouco antes de receber o Beijo do Dementador, porém, ele permitiu a minha visita. Quando lamentei o seu destino, ele me falou que estava feliz por eu estar livre e era isso o que importava. Ele me abraçou e seguiu para o seu fim. A morte. – A lembrança daquele momento era forte demais para Draco. – Eu assisti a execução dele. Eu o vi morrer. – Uma lágrima escorreu por seus olhos. – Sei que vocês acreditam que ele teve o que merecia, afinal, ele foi capaz das maiores atrocidades por uma causa ruim. Porém, vocês conseguem imaginar o que é ver o próprio pai perder a vida em sua frente e você não poder fazer nada? – A respiração de Draco estava descompassada, assim como o seu coração. – É uma dor insuportável, mesmo ele sendo o homem que fez a maioria das escolhas erradas em sua vida. – A voz de Draco estava embargada. Os olhos marejados. – Se existe algo que aprendi duramente na vida é que respeito e empatia devem fazer parte dos princípios de qualquer pessoa. Meu pai errou. Pagou caro por isso. Nossa família pagou muito caro por isso.

Hermione chorou. Chorou pelas vezes que o julgou. Chorou por entender de onde vinha toda a amargura de Draco. Sentiu um desejo incontrolável de ir ao encontro dele e dizer que agora estava tudo bem.

De onde estava, Malfoy percebeu que ela chorava. Percebeu que os bruxos esperavam por suas últimas palavras. Ele prosseguiu.

—Minha mãe morreu porque, devido às torturas, seu corpo ficou debilitado e doente. As dores tiraram a força dela aos poucos. Minha mãe sentia-se culpada por tudo o que eu havia passado. Sentia-se culpada pela morte de meu pai. – Lágrimas escorreram por seu rosto. – Narcisa Malfoy foi uma pessoa incrível, mas passou grande parte de sua vida com medo. Após a guerra, ela mergulhou em uma depressão que tirou dela a vontade de viver. Ela não tinha mais forças para lutar, entregou-se. – Pausa. – Eu estava lá quando a vida abandonou o seu corpo. Estávamos de mãos dadas como sempre ficávamos. As últimas palavras dela? Seja feliz meu filho. Você está livre...

Draco fechou os olhos. Respirou profundamente.

—Meu corpo é marcado pelas feridas deixadas por Voldemort. Tão profundas que nenhuma Magia de Cura foi capaz de curá-las. Mais que na pele, elas permanecem aqui. Sempre vão estar aqui. – Ele colocou a mão sobre o coração. Draco percebeu que os olhares antes duros e desconfiados pareciam mudados, não era pena, era empatia. Enfim, eles haviam conhecido o seu lado da história. – As escolhas da minha família afetaram a minha vida e minhas escolhas nunca foram minhas realmente. Eu nunca tive liberdade para ser quem realmente queria, para amar quem eu realmente queria. – Ele olhou para Hermione rapidamente. – Hoje, vivo com o pouco que me foi permitido e, depois de tudo o que me aconteceu, eu tenho apenas uma certeza. – Ele olhou para o menino, tão parecido com ele. – Meu filho, Scorpius, jamais será obrigado a fazer o que não quer e os meus interesses nunca serão impostos sobre os dele. – Draco sorriu. – Se existe algo que aprendi com tudo o que vivi é que não podemos apagar o que fizemos de errado no passado e o arrependimento é o preço que pagamos quando não lutamos por aquilo que realmente queremos. Por aquilo que consideramos o nosso caminho. – Ele finalizou.

Hermione levantou-se e, sem se importar com os olhares de uma plateia atônita pelas palavras que haviam acabado de escutar, foi em direção a Draco e o abraçou. Ele retribuiu. Sentiu o calor do corpo dela pela primeira vez, sentiu o perfume. Não sentiu vontade de deixá-la sair de seus braços, mas precisava. O seu filho o esperava.

—Pai...

—Não precisa dizer nada...

Abraçaram-se.

As palmas começaram tímidas, mas foram tomando o salão. A sensação de redenção era maior que tudo para Draco Malfoy.

Harry Potter aproximou-se dele. Se olharam. Sem palavras. Apenas um aperto de mão. Depois de tudo, havia respeito entre os dois.

 

***

 

Em comemoração aos vinte anos da Batalha de Hogwarts, um grande banquete era servido no Salão Principal. Abraçado ao filho, Draco seguia para lá, quando ouviu a voz de Hermione lhe chamar.

—Malfoy, eu poderia conversar com você em particular? – Hermione mal conseguia controlar a ansiedade.

—Claro! – Ele respondeu, um pouco surpreso com o pedido dela.

Alguns amigos de Scorpius passaram e o garoto se juntou a eles.

Draco aproximou-se de Hermione. Sorriu. Ela se distraiu com o sorriso dele.

“Foco, Hermione”

—Eu gostaria de lhe mostrar algo. Está em minha sala. – Mais uma vez ela tocou na mão dele.

Aparataram.

Ela aproximou-se da mesa, abriu a gaveta e retirou uma caixa; dentro, havia um pequeno frasco.

—Quero que você veja essa memória. – Ela pediu. – É muito importante para mim que você a veja.

—De quem é? – Ele perguntou com receio.

—É minha. – Ela mordeu os lábios, foi a vez dele se distrair com o gesto dela. Estava difícil disfarçar o que o seu corpo sentia.

Ela apontou para a penseira que estava no canto direito da sala. Delicadamente abriu o frasco e colocou o seu conteúdo no objeto mágico. Draco mergulhou nas lembranças de Hermione.

Hermione tinha urgência. O chamado inesperado a deixou preocupada. Ao chegar no quarto do hospital, deparou-se com a imagem debilitada de Narcisa Malfoy.

 

—Entre minha querida. – Ela disse quando viu Hermione parada à porta do lugar.

—A senhora gostaria de conversar comigo? Posso ajudar em algo?

—Sempre tão educada e preocupada com os outros. Não me surpreendo por Draco admirá-la tanto. – Revelou narcisa.

 

Hermione a olhou com estranhamento. Draco Malfoy a detestava, ela sabia disso. Teve certeza de que Narcisa estava delirando.

 

—Querida, eu não estou louca. – Narcisa disse, adivinhando o que Hermione estava pensando. – Foi por isso que a chamei. – Ela apresentava dificuldade para falar. – Preciso lhe contar.

 

A castanha aproximou-se mais e sentou-se em uma cadeira que estava ao lado da cama, provavelmente, onde Draco sentava-se todos os dias.

 

—Hermione... – Narcisa tinha dificuldades para falar. – Vou ser direta porque eu não tenho muito tempo de vida.

 

Hermione sentiu pena de Narcisa, uma mulher tão linda, agora presa a uma cama.

 

—Meu filho é infeliz. – Ela disse com lágrimas nos olhos. – Mesmo depois de tudo, ele continua errando. Talvez você seja a única, a única certeza que ele tem. – Narcisa percebeu o olhar confuso da bruxa à sua frente. - O que quero dizer é que eu sei sobre vocês. Sei que vocês se gostam.

—Narcisa... – Hermione teve realmente certeza que ela estava delirando. Draco havia acabado de se casar com Astória e ela, com Rony – A senhora está cansada. Não se esforce.

—Querida, você não precisa mentir para mim. – Ela passou as costas da mão no rosto de Hermione. – Vocês só precisam se acertar. Eu sei...

—Seu filho está feliz. Tem uma esposa linda e...

—Ele não está feliz, apenas está se permitindo viver, pois quem ele realmente gosta não pode estar com ele. – Os olhos azuis a fitaram. Eram tempestuosos, como os de Draco. – Eu nunca o encorajei a ir até você porque soube que iria se casar, mas naquele dia em que a encontrei na Floreio e Borrões... você se lembra? – Hermione assentiu com a cabeça. – Eu tive certeza que você gostava dele.

—Eu sou casada, Narcisa. Amo meu marido...

—Não como você ama Draco...

—A senhora está enganada. – Hermione tentava não parecer grosseira, mas a conversa a estava aborrecendo.

—Não estou. Olhe para mim minha querida. Eu sei.

—Como disse, eu tenho um marido e o amo.

—Não fique nervosa... eu apenas quero que você perceba a chance que você tem de ser feliz, meu filho a ama e você o ama também. Desde o início, sempre se amaram.

—Narcisa. Me escute. Draco não está em meus planos. Eu não posso mentir para você.

—Não, você não pode mentir para mim, mas está fazendo algo pior, mentindo para si mesma.

 

Hermione soltou um suspiro. Precisava contestá-la de alguma forma.

 

—Como você pode ter tanta certeza disso? Que eu amo o seu filho?

—Querida... – Narcisa sorriu e aquele sorriso iluminou a alma de Hermione. A mulher a sua frente realmente era especial. – Eu sou legilimente...

 

Quando Draco retornou, encontrou Hermione à espera do que ele tinha a dizer a respeito do que a sua mãe lhe falara. Ele tinha uma pergunta:

—Por que você me mostrou esta lembrança somente agora? – Ele perguntou sério. O que a assustou.

—Durante estes anos, eu sempre pensei em lhe mostrar, mas à medida que eu fui vendo o seu filho crescer, sua relação com sua esposa. Achei que eu não tinha o direito de lhe mostrar. Você parecia bem... Feliz.

—Eu não estava... Eu e Astória fizemos um acordo. Nos separaríamos assim que Scorpius viesse para Hogwarts.

—Eu e Rony também nos separamos. – Ela mordeu os lábios novamente. – Divergência de opiniões.

Draco aproximou-se dela. Sentiu vontade de tocá-la.

—Minha mãe era legilimente. Um dom difícil de controlar. Por isso, ela me obrigou a ter aulas particulares com a minha tia de Oclumência. – Ele olhou para Hermione. – Tem ideia do quanto isso foi torturante para mim? – Ele tocou a ponta do dedo indicador na cabeça. – Há vinte anos, quando Voldemort perguntou à minha mãe se Potter estava morto, ela não conseguiu ler a mente dele e, por isso, teve que se aproximar o suficiente para perguntar se eu estava vivo. Mais tarde, descobri que ele também dominava a arte da Oclumência, como eu.

Ele segurou as mãos de Hermione com carinho. Ela gostou do gesto.

—Quero lhe dar algo...

Draco tirou a varinha do bolso, puxou uma lembrança de sua mente e a colocou na penseira.

—Essa lembrança sempre ficou escondida em meus pensamentos. Embora eu tenha dito a verdade hoje, eu omiti algo, a real razão de não ter identificado Harry Potter em minha casa. O motivo pelo qual eu arrisquei a minha vida e de minha família.

Foi a vez de Hermione mergulhar nos pensamentos dele.

—Quantos dias eu fiquei apagado? – Draco perguntou à mãe enquanto caminhavam até o banheiro.

—Três dias, meu filho. – Narcisa estava desconsolada. – Entre na banheira, a água está morna e fiz vários encantamentos para que as suas feridas se cicatrizem mais rápido. – Ela deu um beijo no rosto do filho. – Vou pegar as compressas que fiz com antídotos que lhe ajudarão a ter mais força.

 

Assim que a mãe saiu, Draco tirou a roupa. O corpo queimava por dentro. Estava completamente machucado. Dos pés à cabeça. Ele entrou na banheira e não conteve o choro dolorido. O choro de alguém que não aguentava mais a vida que era obrigado a viver.

As pernas estavam roxas. As mãos tremiam involuntariamente. O nariz quebrado. Seu olho esquerdo estava muito inchado e ainda sentia o gosto do sangue no canto de sua boca. As feridas das costas estavam abertas. Eram profundas, provavelmente jamais sairiam dali.

Narcisa voltou, ela mal conseguia olhar para o filho. A dor dele era a dela também.

Ela sentou-se ao lado da banheira e começou a passar a compressa nas costas dele.

—Há quanto tempo você a ama?

—Do que você está falando? – Ele perguntou, confuso.

—Estou falando de Hermione Granger.

 

Ele fez cara de desentendido.

 

—Meu filho, eu percebi o seu sofrimento ao vê-la ser torturada por sua tia.Foi por ela que você fingiu não reconhecer Potter? Para salvá-la?

—O que você quer que eu diga? Qual a importância do meu sentimento em um momento como esse?

—Seu sentimento fez toda a diferença. – Narcisa respondeu direta ao filho. – Se não fosse por ele, provavelmente Hermione estaria morta.

—Sim, mas isso não quer dizer que a amo.

 

Narcisa pegou um espelho de mão e o direcionou para o filho.

 

—Olhe-se bem! – Ela ordenou. – Somente um sentimento tão forte quanto o amor faz com que uma pessoa se entregue em sacrifício pela outra. Você foi torturado por Voldemort. Você se entregou para salvá-la...

 

A lembrança se desfez.

A respiração de Hermione estava descompassada. Sentia-se sem chão.

Olhou para o lado à procura de Draco, ele não estava mais na sala.

Em sua mesa, um bilhete: “estou na torre de astronomia”

Hermione decidiu aparatar, não suportaria ser interrompida por conversas superficiais nos corredores. Precisava encontrá-lo.

Ao chegar, ela percebeu que Malfoy estava debruçado no parapeito da torre, olhava para o céu. A lua, em sua fase mais plena iluminava o céu. Ele percebeu a presença dela. Virou-se.

—Hermione...

—Draco...

Ela tocou delicadamente os dedos nos lábios dele.

Fechou os olhos.

Sentiu as mãos dele envolverem o seu corpo.

Sentiu a boca dele na sua.

Perfume. Corpo. Êxtase.

Não eram necessárias palavras, ali era o lugar em que realmente deveriam estar.

Sempre.

As cicatrizes não doíam mais.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Confesso que ao escrever esta história, em diversos momentos parei para respirar e me acalmar. Me emocionei muito ao escrevê-la. Agradeço à Rê Malfoy que com tanto carinho e dedicação aceitou betar os meus devaneios. Rê, você é especial. Já te falei e repito, sou fã da sua escrita! Enfim, ficaria muito feliz em saber o que vocês acharam da história!

Vênnice

***

​N/B: Que história! Drama do início ao fim, em vários trechos fiquei com apertos no peito. Draco, tadinho, sofredor. Creio poucas pessoas exploraram o outro lado da história como você belamente fez. Simplesmente linda e tocante. E, claro, dramione, como não amar a união dos dois ao final? Uma das minhas shorts favoritas. Foi uma honra betar essa história magnífica.

Rê Malfoy



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