Morte e Vida de Julieta escrita por Afrodite


Capítulo 6
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 Decidida a não mais dar atenção à Bia, foquei todas as minhas energias na missão de lembrar da minha antiga vida, mas era difícil me concentrar com aquela pulseira rubi apitando toda hora, aquele barulho era irritante e ainda fazia eu me lembrar daquela chata da Bia. Arranquei a pulseira do pulso e joguei pela parede que se abriu.

Enfim silêncio, agora sim poderia me concentrar, mas eu não tinha muito o que fazer. O que eu tinha na cabeça quando acreditei que seria mais fácil encontrar meus anjos a me encontrar na vida anterior se havia bem mais anjos do que pessoas? Se bem que não eram todos os anjos que tinham pego clientes e vítimas exatamente naquela época. Pensei no Isaque... Ele podia ser meu anjo da guarda na vida anterior, mas será que não ia ser meio óbvio? E mesmo assim, quem garante que a Bia não tinha reencarnado e ele era o anjo da guarda dela na vida anterior?

Eu tinha tantas perguntas e a cada momento elas pareciam dobrar, triplicar... Quanto mais tempo eu pensava naquilo, mais longe eu estava de conseguir chegar a algum lugar. Eu tinha vontade de perguntar à Bela, mas depois do jeito que eu falei com ela seria estranho aparecer querendo sua ajuda, além de que ela podia querer me dar algum tipo de sermão sobre eu não desistir da Bia e blá blá blá.

Minha cabeça estava prestes a explodir e eu não estava chegando a lugar nenhum, eu precisava dar um tempo, me distrair um pouco. Olhei pra minha aljava "hm posso brincar de tiro ao alvo pra desopilar" pensei, e saí com minha aljava e meu arco.

Quando passei no saguão tinha dois cupidos jogando xadrez, uma garota com cabelos lisos e compridos de cor vermelha, e um garoto com olhos puxados e cabelo preto, eles estavam jogando e conversando:

 Pois é, parece que eles nunca vão ficar juntos, é um saco   a menina falou mexendo um peão.

 Ah mas eu não quero nem saber, vou continuar lançando flecha nela até morrer, como a gente combinou.

 E eu vou dar tiro atrás de tiro nele, a gente faz assim desde que eram crianças e não é agora que vai mudar. Se eles não querem se resolver, paciência.

 Ah, mas também é tudo culpa do seu, que traiu a minha.

 Nada a ver foi uma vez só!

 —Duas vezes! Ficar de conversinha também é trair.

 —Não, não, não! E mesmo que fosse, isso já faz muito tempo, ele já amadureceu. A culpa é da sua, aquela rancorosa e CHA-TA.

E os dois continuaram uma discussão (briga). Eu até pensei em cumprimentá-los, mas achei que estivessem ocupados gritando (além de que nem me ouviriam). De qualquer forma achei engraçado que os cupidos combinassem suas vítimas enquanto elas estavam lá em baixo na maior inocência.

Cheguei ao campo e vi que tinha um grupinho de cupidos treinando, mas só passei e acenei, não queria papo ou interação com ninguém. Fui até o último alvo e lancei uma flecha bem no meio (arrasei).

 —Uau!  — uma voz masculina exclamou atrás de mim.

Virei e me deparei com um anjo de aparência humana, mas não de adolescentes como nós cupidos e anjos da guarda, ele parecia ter uns 25 anos, e tinha asas como Gabriel e Miguel, mas as deles eram maiores e mais bonitas (porém igualmente bregas), e ele só vestia uma bermuda e chinelos, tinha olhos azuis, cabelos ruivos ondulados que caiam sobre seus ombros e muitas sardas.

 —Você não é cupido, né?  — perguntei impulsivamente, mas depois percebi que era uma pergunta extremamente idiota e de resposta óbvia. 

 —Claro que não  — ele riu e virou-se para mostrar as asas  — sou serafim.

 —Que legal! Mas o que você faz aqui no campo sendo que vocês têm aquela festa maravilhosa?

 —Adoro a festa e ser serafim, mas sou fascinado por vocês cupidos.

 —Por quê?

 —Ora "por quê"... Vocês são incríveis! Fazem as pessoas sofrerem mas as ajudam de alguma forma, anjos da paixão e do amor romântico com seus arcos e flechas, sem falar no cabelo colorido... Pago um pau pro cabelo colorido  — ele falou tocando minhas madeixas.

 —Não sabia que só cupidos tinham cabelo colorido... Não sei nada sobre nada...

 —Têm! São das cores de vocês, aquelas, cada uma com um significado  — ele falou apontando pros alvos de coração  — Outros anjos com forma humana só têm cabelos castanhos, pretos, ruivos como os meus, loiros, brancos e cinzas, mas vocês também podem ter azul, roxo, vermelho e rosa, é fantástico! E ainda tem uns que a cor vem da raiz, não é o seu caso...

 —Minha amiga Sarah tem o cabelo azul desde a raiz, é lindo!

 —Nossa! 

Pera... Que significados das cores são esses?

Como você não sabe? Ah, é, eles não gostam de dar todas as informações de graça... Tudo bem, eu falo. O azul significa 'crushar', isso é uma expressão nova pra o que vocês chamavam de "ter interesse", eu acho, é aquilo que faz a pulseira de vocês apitar  concordei com a cabeça  o roxo é gostar, o rosa é se apaixonar, e o vermelho é do amor romântico.

—Como assim, mano? Eu não sabia de nada disso! Mas por que essas coisas?

—São as fases que os cupidos mais sábios respeitam, as fases do amor romântico. Cupidos amadores costumam extrapolar e fazer tudo bagunçado.

Fiquei chocada com aquilo, talvez tivesse sido melhor ter estudado antes de sair lançando flechas ao léu... Mas àquela altura eu já não me importava mais.

Ignorando minha vida de cupido e dando atenção à minha antiga vida, considerei que aquele serafim parecia um anjo legal, e que poderia muito bem me ajudar por aparentar saber bastante coisa sobre anjos:

 —Posso te fazer uma pergunta? Não tem nada a ver com o assunto, mas...

 —Pode até duas.

Sorri e comecei:

 Você sabe se é possível um anjo da guarda ter um cliente e depois desse cliente reencarnar, ele ser seu anjo novamente? Deu pra entender?

 —Deu pra entender sim. E claro, óbvio! Na verdade isso é muito comum. 

 —Mas não fica muito na lata não?

 —Claro, e é pra ficar na lata. Deus tem mania de colocar as mesmas almas nas diversas vidas, sejam humanos, anjos, ou que forem. Tipo, se essa não for sua primeira vida, algum dos seus amigos cupidos pode ter sido seu cupido em vidas passadas, ou ainda vocês podiam ser amigos na terra e agora serem amigos no céu . Em um universo onde existe Deus, não existe coincidência.

"Então quer dizer que tinha chances do Isaque ter sido meu anjo da guarda na minha vida anterior, assim como pode ter sido da Bia?" pensei. Se eu descobrisse se essa era a primeira vida da Bia, eu provavelmente mataria a charada.

 —Legal... É... Tenho outra pergunta: como eu faço pra saber se uma pessoa lá da terra está na sua primeira vida.

 —Olha, se tem como, eu não faço ideia, acho até que é proibido isso, ou no mínimo não recomendado, mas sabe... Se tem alguém que pode deixar essa informação escapar, esse alguém é o Gabriel  — o Gabriel, claro, aquele bobão! Eu devia ter pensado naquilo. —Você tem umas perguntas meio... 

Antes que ele terminasse de falar, agradeci e saí voando o mais rápido que pude. Quanto mais perguntas eu fizesse pra cada pessoa, mais suspeita eu iria parecer, então era melhor tomar cuidado.

Fui até a Estrada de Ouro, onde havia placas indicando onde era cada canto do céu, pra saber aonde ir: A Área dos Arcanjos era meu destino. 

Era diferente da Área dos Cupidos (a única que eu conhecia e podia comparar), era muito menor e tinha apenas umas mini casinhas de um único cômodo. Procurei a do Gabriel (tinha o nome dele, por isso foi fácil achar) e me aproximei. Tinha uma porta (não era como a minha parede ridícula que subia) que abriu espontaneamente, mas só depois d'eu bater e esperar um pouco. Lá dentro era como um escritório, e a sala não era muito grande, dos lados havia prateleiras e mais prateleiras com nada mais que fichas, eu só não sabia se eram como as que recebi na preparação dos cupidos ou se se tratavam de outra coisa. E na parede à minha frente, estava Gabriel sentado lendo uma ficha, com várias outras espalhadas sobre mesa.

 —Julieta! A que devo a honra?  — ele falou, sem tirar os olhos da ficha em sua mão.

Perfeito, ele estava distraído. 

 —A uma pergunta: A Bia, minha vítima, está na primeira vida dela?

 —Sua vítima... Ah, Bia Dias de Oliveira, me recordo. Sim, sim, primeira vid...  — ele levantou o rosto com olhos arregalados  — ei! Essa é uma informação...

 —Sigilosa, sim. Relaxe, não vou contar a ninguém. Bye bye 

Acenei como uma garotinha de filmes antigos e saí voando o mais rápido que pude até a Área dos Anjos da Guarda (que era exatamente igual à dos cupidos, só mudava o lado, como se eu estivesse em um espelho) à procura de Isaque, se ele me desse informações sobre seu antigo cliente e ele realmente fosse eu, talvez eu me lembrasse.

Quando cheguei no prédio de Fortaleza, uns anjos me disseram que o Isaque tinha saído, então fui à Festa dos Serafins, mas ele também não estava lá. Devia estar lá em baixo com a Bia, mas aí eu não ia atrás mesmo! Disse pros anjos o avisarem que eu queria falar com ele e voltei pro meu quarto. 

Assim que a parede subiu, me deparei com o bendito Isaque com uma cara de aflição.

 —Eu tava te procurando mesmo  — falei.

 —A gente precisa conversar, Ju, é sobre a Bia.

 —Não quero saber nada sobre a Bia. Preciso que você me dê uma informação.

 —Beleza então. É o seguinte, só te dou a informação se você aceitar falar sobre a Bia.

Revirei os olhos:

 —Tá.

 —Ótimo. Pode falar primeiro.

 —Eu quero que você me diga quem foi seu cliente antes da Bia.

 —Vou falar o que me lembro, porque quando a gente muda de humano, as informações sobre o anterior vão sumindo aos poucos, sabe? Bom... Ele era um garoto, tinha cabelo loiro e se suicidou, eu não lembro a idade, mas era jovem.

 —Você não lembra nem o nome dele?! 

 —Não... Alguma coisa com J, eu acho...

 —Droga!

 —Agora que já dei as informações que você queria, vamos falar sobre a sua vítima.

Sentei na cama e cruzei os braços. Ele continuou:

 —Dizem as boas línguas que você não vai mais flechar a Bia. É verdade?

 —As boas línguas estão certas, e, nossa! Anjos são fofoqueiros, hein?

 —Fofoca não, isso me diz respeito. Você sabe o mal que você tá causando à Bia? Você sabe o que ela fez? 

 —Não sei e não quero saber. Pode se retirar. 

 —Eu não vou sair até falar tudo. Eu presumo que você não tenha lido as fichas dela nos últimos dias, mas eu vou te contar, ah se vou! A Bia tava bem e feliz assim que ela e o Caio terminaram, vivia nas festas, até com menina ela ficou, mas já passou muito tempo, ela já tem 17 anos e começou a ficar confusa com tudo, a Bia não é essa pessoa festeira "pega mas não se apega", ela gosta de estabilidade...

 —Tô nem aí!!!

 —Deixa eu terminar! Aí ela conheceu este garoto, o Arthur, eles têm muitas coisas em comum, se gostam e foram ficando, até aí tudo bem, só que agora ele a pediu em namoro com um buquê de flores e tudo...

 —Que idiota dar buquê, só pra matar as flores, melhor dar um vaso — falei com bastante desdém.

 —E ela aceitou! Julieta, isso não é bom! Ela diz que o ama, e faz ele pensar que é verdade, ele pode estar apaixonado por ela, ela quer estar por ele mas no fundo ela sabe que não está, mas era aquele desespero por conforto que a fez ficar assim, iludindo todo mundo e até a si mesma! Ela precisa de você, Ju, faz ela se apaixonar por ele.

 —Se você acha que eu vou fazer ela se apaixonar por esse Arthur aí, saiba que está redondamente enganado. Seu discursinho piegas de "ai ela precisa de você" só me fez ter mais raiva, ela acha que pode ficar forçando as coisas assim? Mas que otária. Que ela namore esse bobalhão, eu não ligo.

 —Julieta, por favor, eu não consigo ver a Bia daquele jeito, se iludindo, ela tá perdida, ela precisa de você nesse momento. Eu não tô sabendo lidar com isso, a Bia é parte de mim.

 —Qual foi a parte do "eu não ligo" que você não entendeu? O "eu", o "não, o "ligo", ou a sentença inteira? Quer que eu represente com gráfico, desenhe... O quê?

 —Enfia esse sarcasmo no teu rabo, sua idiota, imagina se a Bia passar o resto da vida se enganando assim? Sem felicidade real? Só fingindo, tentando... Eu vim aqui na humildade te pedir ajuda. 

 —Não a conseguiu, vaza.

—Você é uma egoísta sem consideração, sem amor... Não merece ser cupido. Se mudar de ideia, estarei aqui pra te apoiar   ele foi saindo pisando forte, a parede abriu, mas antes de sair, ele virou pra mim e falou com uma voz quase sussurrada   tô muito decepcionado com você.

Eu não respondi e nem fiz expressão alguma. Eu me sentia um pouco mal só pelo Isque, eu gostava dele. Mas aquilo era sobre a Bia, e eu não conseguia pensar nela sem lembrar do quanto ela tinha deixado de dar valor ao menino que eu demorei meses pra escolher, e agora ainda tinha piorado, ela estava namorando alguém sem estar apaixonada, pode-se dizer que sem autorização divina. A Bia não merecia o amor... E talvez nem eu o merecesse...

 

 


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Notas finais do capítulo

Sou eu quem tô escrevendo mas, bicho, tô com muito ranço da Julieta grr
kkkkkk e vocês?



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