Morte e Vida de Julieta escrita por Afrodite


Capítulo 5
Paixão Acaba




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 Em que lugar eu tinha vivido? Como eu ia descobrir aquilo? A terra podia ser menor que o céu, mas ia ser difícil me encontrar, até porque eu já tinha morrido... Fiquei um tempo olhando pro meu caderno tentando achar um jeito, mas eu simplesmente não conseguia pensar em nada, tinha um vazio na minha cabeça "será que anjos são todos burros ou sou só eu?" pensei.

Do nada comecei a viajar e sair do foco, ao invés de pensar numa forma de descobrir, comecei a imaginar como eu devia ser "será que eu era curiosa como sou sendo cupido? E quem será que era meu cupido? E meu anjo da guarda? Hm... MEU DEUS, É ISSO!!!" 

Virei a folha e escrevi:

—descobrir quem era meu cupido 

—descobrir quem era meu anjo da guarda 

Cara, era óbvio que meus anjos poderiam me levar a mim na minha vida anterior. Assim como eu e Isaque estivemos com a Bia desde que ela nasceu, meus anjos tinham feito o mesmo por mim.

Ah não, tu já voltou e nem veio atrás da gente?!  a vozinha infantil de Lola invadiu o quarto.

Levei novamente um susto. Maldita falta de porta! (estranho dizer que algo do céu é maldito...) fechei meu caderno subitamente e fiquei com a maior cara de quem "estava aprontando", tenho certeza.

Minhas três amigas foram entrando no quarto e Sarah observou:

 Você tá sempre com esse caderno, né?  ela provavelmente lembrou da outra vez em que esteve no meu quarto. 

É  respondi dando uma risadinha tensa. 

Tanto faz, vamo logo pra festa dos serafins antes que a Bela mude de ideia Lola falou me puxando pela mão e nós quatro saímos. 

Eu soube que tu lançou tua primeira flecha. Agora você é um assassina de corações também  Bela disse, dando tapinhas nos meu ombro com um sorriso irônico e sugestivo no rosto, e as outras começaram a rir. 

Quando chegamos à festa dos serafins, me encantei completamente: O chão era de grama como no campo em que treinamos tiro ao alvo, mas não era tudo branco e dourado como no resto do céu, era colorido e alegre, tinha tendas e bandeirinhas penduradas, uma música contagiante tocava, anjos com instrumentos musicais bem esquisitos, outros cantando e outros dançando, mas todos muito envolvidos àquilo. Era fantástico! 

Caraca, isso é incrível!  falei, animada.

Não é?! É a melhor parte do céu!!!  Lola falou gritado e rodopiando de braços abertos.

—Eu provavelmente enfiei uma flecha em mim mesma, porque sou apaixonada por esse lugar — Sarinha disse.

—Eu acho que é muita poluição visual, mas a musica é boa de ouvir... — Bela sempre chatinha. 

—Você por aqui, Ju? Seja bem-vinda! — Isaque surgiu, me abraçou e sorriu para as meninas  Então quer dizer que a Biazinha está apaixonada. Tô certo?  fiz que sim com a cabeça, com ar orgulhoso  Aí sim!!! Coitada ele riu, me abraçou de novo, se despediu de nós quatro e foi ficar com uns amigos dele.

—Quem é? — Bela perguntou. 

—É o Isaque, anjo da guarda da Bia. 

 —Ah, que fofinho! Mas por falar em Bia, conta aí como foi, sua doida! — Lola pediu. 

Contei às cupidos toda a minha saga pra encontrar o Caio. Lola e Sarah ouviram atentamente e de vez em quando davam comentários ou faziam perguntas, mas Bela só escutava sem expressão alguma olhando pra frente (pro nada). Achei estranho, mas era a Bela, nunca iria entendê-la. 

E a Lu, tu conheceu?  Sarah perguntou.

—Tem uma amiga Luísa sim, é um pouco menor que a Bia, tem o cabelo liso e loiro escuro, olhos cor de mel... E ela ajudou a Bia, parecia já ter se apaixonado antes.

—Ah, é a minha Luísa com certeza, é que eu fiz ela se apaixonar pelo melhor amigo, achei que era super sensato, na minha cabeça ele era a melhor pessoa  por quem a Lu poderia se apaixonar, mas ela fala sobre estragar a amizade ou sei lá... Humanos são tão complicados.

 —Ai, amiga, pois tu não sabe a merda que eu fiz com a Amanda. Ela se apaixonou por uma menina e tá toda confusa pensando que é lésbica, sendo que desde os 6 anos ela se interessa por ambos os gêneros... Vou ter que esperar o efeito passar, aí faço ela se apaixonar por um menino e talvez por um milagre de Deus ela se toque. É difícil porque eles ignoram que os bi existem... — Lola falou meio revoltada. 

 —E você, Bela? Como foi a primeira flecha da sua vítima?  perguntei querendo enturmar a Bela.

—O Alberto se apaixonou, mas não tinha saído do armário ainda, não aconteceu nada — ela riu (e continuava olhando pro nada) — agora ele saiu de Nárnia e não está mais apaixonado, vou deixar ele curtir um pouco antes de começar o sofrimento de novo... Eu dou graças a Deus por ser um anjo e não ter sexualidade, porque oh negócio complica.. Ju, o seu cordão.

Ela apontou calmamente pro meu cordão, olhei pra baixo e me deparei com o diamante nem com luz vermelha, nem com luz rosa, simplesmente apagado.

—O que aconteceu?! — perguntei assustada. 

—Você tá assim por quê? Ele apagou, o efeito da flecha passou, só isso — Sarah disse.

—Mas ele tinha ficado vermelho, era amor, efeito de amor não passa... Eu achava, pelo menos.

Comecei a ficar desnorteada. As meninas se olharam sem entender. Peguei meu relógio de bolso e vi que já fazia pouco mais de 1 ano desde que lancei a flecha na Bia. Desci pra terra o mais rápido que pude, não olhei pra trás, nem sei se alguma das cupidos veio atrás de mim, mas eu precisava ver o que tinha acontecido, precisava ver a Bia.

  Assim que cheguei na terra, me deparei com a Bia e o Caio sentados cada um de um lado do sofá da casa dela e ambos jogando videogame, rindo, se divertindo... Parecia tudo bem, eles não aparentavam estar estranhos um com o outro... Talvez meu cordão estivesse com defeito.

O celular da Bia tilintou, ela o olhou e falou pro Caio:

—Ah, meu pai chegou

—Tá, então eu já vou — ele levantou, deu um selinho nela, gritou "tchau" pra Clara, que respondeu com outro grito, e saiu.

Os olhos deles não brilhavam mais... 

A Bia começou a arrumar uma mochila e tempo depois Eduardo apareceu.

—Oi... — ele falou animado e Bia sorriu pra ele — Esbarrei com o Caio lá em baixo... Cadê sua mãe?

—Tá no quarto fazendo umas coisas do traba...

—Tô aqui — Clara disse séria.

Eles se cumprimentaram, tive a impressão de ter visto os pequenos olhos de Eduardo brilhando, como os de Caio e Bia antigamente, mas posso ter me enganado, na verdade eu nem prestei atenção nos pais, só olhava pra Bia, pensei em ir ao céu rapidinho e voltar com meu arco a fim de lançar uma flecha nela de novo ou sei lá... Eu não compreendia o que estava acontecendo "por que meu colar apagou se era amor? Será que amor acaba? Por que eu tinha tanta certeza de que amor é infinito? De onde e tirei essa informação?" pensei.

  Bia e o pai já estavam indo embora e eu os segui. Entraram no carro do Eduardo e começaram a conversar:

Como tá, Bibia?  ele disse carinhosamente.

Bem, e você?

Tudo na paz... E a escola?

Normal. 

E a UFRJ?  ele perguntou com um ar sugestivo. 

Bia deu um sorriso forçado seguido por um olhar triste:

Ai, pai, não sei, agora que eu já vou pro segundo ano isso parece tão real e tão difícil... Distante...

O Rio de Janeiro é logo ali  Eduardo falou com ar brincalhão.

Bia riu:

Ai pai, você entendeu.

As coisas se tornam mais difíceis quando você acredita que elas são  Bia deu de ombros e o namorado?

Bem.

Não senti firmeza nisso aí não...

Bia ficou olhando pro nada por um tempo e começou:

Pra ser sincera eu não acho que goste mais dele como antes. Eu não sei, tipo, eu gosto dele, adoro ficar com ele e tal, mas... Eu o amo, sabe? Só que parece que não tô mais apaixonada por ele...

Quando ela disse isso eu comecei a meio que entender o que tinha acontecido e já comecei a me indignar.

 Eu sei como é... Quando uma coisa vira rotina, ela fica sem emoção. E tu já falou com ele sobre? 

Eu não sei como falar. E se ele ficar mal?

Eu chamo isso de enrolação. É melhor falar com ele. Vocês podem resolver isso e dar um jeito de melhorar as coisas.

—Sei lá, acho que se eu for conversar sobre isso com ele a gente vai acabar terminando.

—Por que você acha isso?

—Acho que já deu o que tinha que dar.

Eles continuaram conversando mas eu nem ouvi, só conseguia sentir raiva da Bia. Por que ela não fazia questão deles ficarem juntos? Ela estava completamente nem aí pra nada. Eu tinha tido o maior trabalhão pra escolher aquele moleque, queria um menino bom e que fosse novidade, não aqueles gastos que a Bia ficava e largava, e era assim que ela me agradecia?  A Bia não merecia se apaixonar, era isso.

Saí do carro e voei pro céu, rápido de raiva e completamente determinada a nunca mais fazer a Bia se apaixonar, se ela não dava mínima, eu daria menos ainda. Eu só precisava fazer ela se apaixonar pelo menos uma vez pra não morrer na minha vida de cupido e estava pago, ninguém disse que era obrigado encontrar o amor das nossas vítimas, sem falar que na verdade a Bia não merecia o amor. 

—Uou uou, calma aí — Bela falou na minha frente, logo que entrei no prédio, me segurando pelos ombros pra me fazer parar. Nem tinha percebido que ela estava lá — vamos conversar.

—Conversar sobre o quê? Sobre como o amor é uma mentira?

—Não diga isso! 

—Mas é, Bela, você que é cupido há tanto tempo devia saber disso melhor que ninguém. 

—Você quem não sabe de nada aqui. Eu tava te esperando aqui pra te explicar uma coisa que acho que você não sabia...

—Acabei de aprender lá na terra vendo a Bia sendo uma idiota.

—Se acalma aí, garota, qual é? Como você achava que funcionavam as coisas? Que você ia lançar a flecha, o cordão ia ficar vermelho e todos iam viver felizes para sempre, era isso? — não respondi, só olhei pra baixo — você não sabe que o efeito da flecha passa?

—É lógico que eu sei, sua idiota, mas por algum motivo eu achava que amor era pra sempre, que não acabava, por isso eu relaxei.

—Olha o jeito que tu fala comigo aí. Mas você está certa, amor é pra sempre.

—Então por que meu cordão apagou? Por que os olhos deles não brilham mais? Eu não entendo!

—Porque existem várias formas de amor, e ele pode se transformar. Quando o diamante do seu cordão ficou vermelho, significava que os dois se amavam de forma romântica, eles estavam apaixonados e se amavam, um combo, mas o efeito da flecha da Bia passou, e pelo que você disse, o da do menino também, então agora eles devem se amar como amigos.

—O quê? Todo aquele trabalho pra achar alguém perfeito pra isso? É isso que eu ganho por dar tanto valor à Bia e querer o melhor pra ela? Pois agora eu quero é que se dane!

—Que é isso, Ju? Vai haver outros meninos, voc...

—Não vai, Bela, não vai.

Eu dei as costas a ela e saí andando pro meu quarto com passos firmes, furiosa, escutei ela chamar meu nome duas vezes mas não atendi, e ela não veio atrás de mim, graças a Deus, porque do jeito que eu estava, era capaz de eu dar uma voadora em quem surgisse na minha frente. Decidi então que de agora em diante só iria trabalhar na minha missão, em descobrir quem eu era na vida anterior. A Bia não fazia mais parte das minhas prioridades. 

 

 

 


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