Morte e Vida de Julieta escrita por Afrodite


Capítulo 13
Todo Amor


Notas iniciais do capítulo

Okay, galera, sinto lhes informar que esse é o penúltimo fucking capítulo dessa fanfic!!!
Boa leitura, paz de Jah (o título já diz tudo) ♥



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Depois de toda aquela emoção do encontro com nenhuma coincidência, eu, Jade e Marcus começamos a conversar como anjos normais (só ignorando o fato de que o Marcus ficava de tempo em tempo olhando pro relógio de pulso dele). O Marcus meio que contou a vida inteira dele com cupido:

—Pois é, como eu disse, logo que eu ouvi aquele lance de “vítimas” e aqueles sintomas bizarros, fiquei horrorizado e hesitante em lançar flechas. Acho que ninguém quer que um bebê fofinho sofra daquele jeito, e o Pedro era só um bebê fofinho naquela época, aí devido ao meu desespero, decidi que só ia lançar flechas no Pedro pra uma pessoa, que eu escolheria minuciosamente e só quando ele ficasse mais velho, foi aí que conheci a Jade e ela, aos poucos, foi me ensinando tudo sobre as flechas e coisas de cupidos, anjos…

—Não é muito recomendado, porque eles querem que os cupidos aprendam com os erros, e não que tenham aulas teóricas, mas cadê que eu ligo? — Jade ironizou.

—Pois é — Marcus riu — eu sabia que o Pedro ia ter que sofrer, mas pelo menos ia ser por uma pessoa só. A Jade me falou aquela parada do sentido de cupido, e ele nunca se manifestava com garota nenhuma que o Pedro tivesse algum relacionamento. Teve uma vez que ele ficou 6 meses com uma menina, mas eu não lancei flecha nenhuma, porque não senti nada…

—Uau! — exclamei.

—Até que a Bia apareceu — ele deu uma pausa e suspirou — era ela, sempre foi e sempre será. Senti logo de cara, e mesmo quando tudo pareceu dar errado eu ainda sentia, torcendo pro outro cupido ainda lançar flechas. Eu perdi meu colar de diamante rosa, por isso ficava nessa curiosidade desgraçada.

—Também perdi o meu… Na verdade eu joguei fora — confessei, encabulada.

—Que doida — Jade riu.

—Foi um momento de desequilíbrio.

—Eu acho que tudo bem. Sei lá, perfeição só Deus, anjo erra também — Marcus disse, solidário, olhando para o relógio — Tu devia contar umas histórias pra gente, Jade — ele virou pra mim — a Jade é uma cupido MUITO antiga, tu acredita que a primeira vítima dela era uma nativa brasileira, antes do país ter sido colonizado, antes de ser Brasil?!

Achei estranho o fato dela lembrar tão bem da primeira vítima, se a Lola, pra lembrar da última antes da Amanda, tinha sido uma dificuldade imensa, mas ignorei. Jade tinha uma certa malícia no olhar, eu sentia que ela era como eu, uma anjo que tinha lá seus segredinhos.

Papo vai, papo vem, Marcus levanta todo nervoso sem nem conseguir falar direito, olhando pro relógio:

—É agora, é agora, chegou o momento, o grande momento, o grande reencontro! Vamos, você vem comigo!

Ele pegou meu pulso, me puxou e saiu voando sem nem se despedir da Jade:

—O que é? É a Bia e o Pedro?

—Exatamente! Eu tava contando o tempo até chegar a hora que eles marcaram de se encontrar e a hora é agora!!! Ah, eu tô que não me aguento de emoção!

—Ai meu Deus!!! Tô muito nervosa, e tu?

—Eu tô com um monte de sentimentos misturados! Socorro, esse é o melhor momento da minha vida como cupido.

Chegamos a um apartamento muito pequeno, só uma sala junta com a cozinha e duas portas, uma para um quarto e a outra devia ser pro banheiro, o lugar tinha bem pouca mobília, mas era muito bem organizado e limpo. O Pedro estava lá, parecia meio ansioso, a porta estava aberta então presumi que estava esperando a Bia chegar. Eu e Marcus sentamos no chão e ficamos assistindo como se fosse um filme, havia um ar meio solene no ambiente. Não deu muito tempo e a Bia apareceu:

—Oi! — ela disse animada, dando um abraço no Pedro e sentando na cadeira ao lado dele — então esse que é o seu covil — ela falou, olhando ao redor.

—O ovo que eu chamo de lar. É o que temos por hora.

—Ah, eu gostei, é confortável.

—Ah, nossa, que maus modos — Pedro disse com tom meio irônico, levantando-se — você quer alguma coisa pra beber ou tomar, sei lá?

—Não, não, tô de boa.

—Ah, Bia… Já sei, vou te dar chá gelado.

—Nunca tomei isso.

—Como assim, lek? Tu precisa provar, vou pegar, pera.

Pedro se tacou na cozinha e foi pegar o chá.

—Ah, eles estão estranhos, o que tá acontecendo? — Marcus falou, triste.

—Calma, faz muito tempo que eles não se veem, por enquanto tá meio esquisito mas depois tu vai ver que vai esquentar.

—E é nessa hora que a gente sobe, né?

Rimos. Pedro voltou com o tal chá gelado.

—Ai… Eu não sei se vou gostar não — Bia disse hesitante — eu costumo ser muito enjoada pra essas coisas.

—Toma logo, depois tu julga, mané.

Bia tomou um gole rápido e passou uns segundos analisando o gosto, depois bebeu mais um pouco, e mais um pouco:

—Caraca, é muito bom!

—Ih, agora ferrou. Você está fadada a se viciar e a tomar isso aí pro resto da vida.

—Não creio.

—Pode crer.

Os dois seguiram com conversas que iam ficando mais interessantes na mesma medida em que um se aproximava mais do outro, até que Pedro viu a primeira brecha e beijou a Bia, exatamente do mesmo jeito que a beijou pela primeira vez:

—Eu acho que perdi — ele disse, olhando pro chão.

—Valha, que estranho... E eu achando que eu era quem tinha perdido, ó? — Bia brincou.

O olhar dele subiu e os dois ficaram se olhando, com aqueles olhos brilhantes, lindos, pareciam o sol, não diziam uma mísera palavra mas eu tinha a impressão de que estavam falando sobre tudo que há no universo.

—Será que eles não vão falar que se amam? — Marcus perguntou.

— Eu acho que eles estão. Ei, eles perderam o quê? — indaguei.

—É tipo um joguinho que eles inventaram na época em que ainda se falavam muito, disseram que quem “desapaixonasse” primeiro ia ganhar.

—Ah, esse dois… — ri. Nesse momento o nosso casal já estava entre vários beijos — vamos deixar eles aí, estão bem, nossa missão como cupidos foi e é um sucesso!

—Que bom que a gente se conhece, Ju, agora o Pedro e a Bia vão poder ficar juntos até não dar mais.

Nos abraçamos, aproveitamos pra lançar flechas (era um momento bem oportuno) e subimos para o céu novamente.

Na volta, fui logo adiantando pro Marcus que tinha umas coisa pra fazer lá no meu quarto, antes que ele me chamasse pra alguma outra atividade. Eu precisava voltar à minha missão, e agora poderia me dedicar inteiramente a ela, visto que a Bia estava ótima e eu só precisaria continuar a lançar flechas e nada mais, além disso, ela, naquele momento, devia ter flechas pra uns 10 anos, sinceramente. Estava tudo em ordem.

Me despedi do meu amigo, entrei no meu quarto, e, para a minha surpresa ele não estava vazio:

—Eu consegui — disse Mari, meio apressada.

Arregalei os olhos:

—Você… Voc… Você…

—Sim, exatamente, consegui achar os cupidos dos pais da Bia.

—O quê? Como? Quando? E… Tão rápido.

—Missão dada é missão cumprida, meu anjo, tá achando que eu sou fraca? Agora vem logo, eles tão esperando a gente pra contar tudo.

—Você não sabe a história ainda?

—Lógico que não! A gente tem que escutar junta, boba.

Mari me levou pela estrada de ouro até um bosque super bonitinho e florido (eu nem sabia que ele existia) que ficava entre a Festa dos Serafins e a Área dos Anjos da Guarda. Fomos até um espaço com uns banquinhos e vi, ao longe, Jasmim e Alec, acenei pra eles, simpática, mas eles reagiram de forma estranha, com olhares que pareciam meio impressionados com algo.

—Ué, tu conhece eles? — Mari me perguntou.

—Conheço, por quê?

—São eles!

Enfim chegamos ao encontro dos anjos:

—Você é cupido da filhote dos nossos humanos?! — Alec questionou estupefato.

—Minha nossa!

Mari deu um grito.

—Caraca, tava tudo conectado e a gente moscando — Jasmim comentou animada.

—Ah, se eu soubesse… Mari, a gente já tinha se conhecido lá no prédio de Fortaleza, vimos até uma série juntos — revelei.

—Ai, que céu pequeno… — Mari disse quase suspirando — mas agora vamos a o que interessa. A Jasmim é cupido do Eduardo e o Alec é cupido da Clara, e isso foi tudo que eu deixei eles me contarem — ela virou para os dois — agora é com vocês.

Eu e Mari sentamos na grama, enquanto os dois contavam a história sentados no banquinho.

—Certo, vou começar — Alec iniciou — quando a Clara era muito pequena, os pais dela se divorciaram e sua mãe decidiu morar em outro bairro pra começar tudo do 0 sem homem embuste na vida dela. Nesse bairro só tinha crianças do gênero masculino, e nenhuma delas deixava a Clara brincar…

Quase nenhuma — interrompeu Jasmim — porque o Edu deixava a Clara brincar quando ele era o dono da bola, e foi assim que os dois se tornaram melhores amigos. Quantos anos eles tinham, hein, Alec?

—Uns 7, por aí

—Mas, pera aí — interrompeu Mari — e vocês dois, já se conheciam?

—Sim, claro, ficamos amigos na Preparação dos Cupidos, sempre fomos melhores amigos, e quando a Clara e o Eduardo se conheceram, combinamos nossas flechas — respondeu Jasmim.

—Isso mesmo — Alec tomou a palavra — e foi quando eles tinham uns 13 anos que começamos com as flechas. Depois que eles se beijaram porque queriam saber como era. Nessa idade os amigos deles tinham começado a ficar com pessoas e tudo o mais, mas os dois ainda não, aí decidiram resolver isso logo, pra poderem começar a vida amorosa de cada um, que, a princípio não seriam juntas.

—Mas eles não contavam com a nossa astúcia — disse Jasmim — nossas flechas os acertaram exatamente no mesmo momento…

—Mas foi mesmo que nada — lamentou Alec — vocês sabem como os humanos são quando se apaixonam pelos melhores amigos?

—Ah, essa é conhecida — respondi.

—Exato — Jasmim falou — eles enrolaram e enrolaram com aquela besteira de não querer estragar amizade, até que lá pros 15 anos aceitaram as flechas, que não deixamos de lançar em momento nenhum, e começaram a namorar.

—Ai que fofura! — disse Mari.

—Fofura por um tempo, porque em 2 anos, mais ou menos, o idiota do humano dela estragou tudo! — Alec disse, furioso.

—Mas ele se arrependeu! Ele fez de tudo que pôde, a Clara perdoou mas ficou naquele orgulho idi… De novo essa briga, Alec? — Jasmim olhou pra mim e pra Mari — a gente sempre briga por isso, nos desculpem.

—É, desculpem, vocês não merecem ouvir isso.

—Tudo bem, gente, no final da história vocês brigam e a gente escolhe de que lado ficar — brinquei.

Jasmim riu e continuou:

—Pois é, o Alec pisou na bola… Tinha uma menina que gostava muito dele e queria porque queria ficar com ele, mesmo sabendo do namoro com a Clara. Edu a tratava com educação, mas não dava bola porque amava a Clara, lógico! Mas teve uma noite em uma festa que ele ficou muito bêbado…

—Ah, claro, a culpa é da bebida. Sempre! — Alec ironizou.

—Para, Alec, me deixa contar, você sabe que foi assim. Prosseguindo, ele bebeu muito e acabou ficando com a menina que chegou toda atirada e avançou nele. Sabe, naquela época não existia esse negócio de sororidade e as meninas achavam que tinham que competir e não sei o quê… Lamentável. No dia seguinte ele nem lembrava do que tinha feito, pelo menos não de cara, então nem tinha como contar pra namorada e implorar por perdão, mas uma amiga da Clara tinha visto tudo e contou pra ela…

—Que ficou com ódio e foi na casa dele tirar satisfação — Alec continuou — ela gritou e brigou com ele, e ele não lembrava e negou, mas depois de um tempo a memória dele começou a clarear e ele finalmente confessou. A Clara simplesmente disse que não queria mais ver a cara dele e saiu chorando de raiva.

—A gente brigou muito naquela época, né, Alec? E até hoje, na verdade… Sim, pois é, aí começou a palhaçada: o Edu ficava todo dia e toda hora se humilhando pra Clara perdoar e voltar com ele.

—Teve um tempo que eu deixei de lançar flechas na Clarinha até, mas a Jas acabou me convencendo a voltar, eu via o tanto que o Eduardo gostava da minha humana e minha intuição de anjo dizia que era ele, então eu voltei.

—É, mas mesmo assim a Clara continuou com aquele orgulho todo, até o Edu cansar e seguir com a vida dele, o que não durou muito tempo. Ele namorou uns 3 meses com uma menina, mas ela terminou com ele porque disse que ele ainda gostava da Clara e que não queria ficar no meio. Logo que os dois terminaram a Clara voltou e disse que o perdoava, que seriam amigos.

—A amizade pura durou pouquíssimo tempo, porque logo eles voltaram a namorar.

—Foi aí que a Clara fez AQUELA cena.

—Ai, nem foi, ela tinham uma ponta de razão…

—Alec, sem briga na frente das meninas! Bom, voltando, estavam ambos em uma festa, a Clara saiu pra fazer sei lá o que e pegou o Edu conversando com a Letícia

—Letícia era a ex, tá? — explicou, Alec.

—Sim, isso. Mas, gente eles estavam con-ver-san-do!

—Ah, não era só uma conversinha não, tinha uma linguagem corporal…

—Cala a boca, Alec, nada a ver! Aí a Clara fez uma cena, jogou um copo no chão e saiu correndo, o Edu correu atrás e foi quando ela disse que eles nunca iam dar certo, que ela não conseguia confiar nele e blá blá blá. Ai, me deu um ódio daquela menina!

—Mas, gente, ela perguntou pra ele se ele ia mudar e ele simplesmente disse que não tinha nada pra mudar, ridículo!

—MAS ELE NÃO TINHA MESMO!

—Opa, amigos, calma, sem briga — Mari apartou os dois.

Ambos respiraram fundo e Alec prosseguiu:

—Alguns dias depois, a Clara descobriu que tava grávida.

—Meu Deus! — exclamei.

—E vocês acham que ela contou pro Edu? — Jasmim falou —não! Ela não contou, quem contou foi a mãe dela e o Edu sempre teve que fazer o maior esforço do mundo pra estar perto da Clara e até da Bia! Por causa desse orgulho horroroso da Clara.

—No decorrer dos anos eles tinham até uns momentos, umas conversas… — prosseguiu Alec — até se beijaram uma vez, mas a Clara sempre se esquivava, ela foge do amor, gente. E os dois tentaram muito com outras pessoas, a Clara até ficou noiva uma época.

—Mas eu e meu melhor amigo Alec, apesar das brigas que temos, só queremos que eles fiquem juntos, não perdemos as esperanças e vamos fazer nossa parte, que é lançar as flechas, até o fim. Por mais que a Clara fuja e que o Eduardo tenha desistido, o amor ainda existe e vai vencer.

—Ah não! — Mari exclamou em meio a lágrimas — vocês são exemplos de cupido a serem seguidos, e você também, Ju — ela me abraçou — um dia quero ser como vocês.

 

—Sabe que às vezes eu acho que a Bia foi o jeito que Deus achou de fazer com que os dois ficassem ligados de alguma forma?  Jasmim falou, reflexiva e depois me perguntou  Ei, Ju, e a Bia, vai ficar com o Pedro?

—Ela já está!

Ficamos por mais tempo comentando sobre as histórias e remoendo o passado, eu e Mari decidimos ficar do lado da Jasmim na briga, afinal, por mais que o Eduardo tivesse errado no passado, era por culpa do orgulho da Clara que os dois não davam certo, mas, de qualquer forma, continuaríamos torcendo pra que ficassem juntos, e no fim pouco importaria o culpado disso ou daquilo. Os três me fizeram falar sobre a Bia e o Pedro, todos ficaram muito animados com tudo, mas eu só pensava na minha missão, era inacreditável que a missão dos pais da Bia tivesse concluído antes da missão da vida antiga, como eu podia ser tão lerda? Foi aí que eu percebi que só estava lenta assim porque eu queria fazer tudo sozinha, e se eu pedisse ajuda igual a como fiz com a Mari? Mas em quem eu poderia confiar? Eu estava indo contra as regras, podiam me entregar. Foi aí que lembrei dos olhos malicioso e de cores diferentes da Jade. Era dela que eu precisava.

Arranjei uma desculpa pra sair e me despedi dos meus amigos, que ficaram tristes e lamentaram eu ter de ir embora logo, já que a conversa estava tão boa, confesso que me senti meio mal por isso, mas era uma questão de prioridades.

Descobri onde era o quarto da Jade, peguei meu caderninho branco e fui determinada a acabar de vez com aquela missão, ou não me chamava Julieta. Quando a porta se abriu, Me deparei com a Jade sentada na cama, lendo uma ficha da vítima dela:

—Oi, Julieta, pode entrar.

Fui entrando devagar, meio envergonhada, eu nem sabia exatamente o que dizer, ou como, nem mesmo se ela era mesmo confiável.

—O que foi? Tá parecendo meio nervosa — ela disse.

Então tive a ideia de virar o jogo, ao invés de eu começar sendo a errada, iria fazer ela admitir que era errada, então teria certeza de que podia confiar.

—O que tem neste caderno? — ela perguntou.

—Ah… Nada não. Então, Jade…

—Eu.

—Sabe uma coisa que eu achei estranha? É que você lembra da sua primeira vítima.

—Como você sabe que isso é estranho?

—É que meus amigos nunca lembram das vítimas ou dos clientes anteriores deles.

Ela riu, e deu dois tapinhas na cama pedindo que eu sentasse. Depois tirou uma pilha de fichas debaixo da cama dela:

—Sabia que toda vez que a gente muda de vítima, ou que os anjos da guarda mudam de cliente, temos que devolver as filhas do antigos pros arcanjos?

—Sabia não. E essas fichas aí são de quem?

—Das minhas vítimas antigas. A regra é que devemos devolver as fichas que recebemos, não as que fazemos, olha — ela me entregou uma ficha com uma menina de pele meio amarelada e olhos tristes — eu só ponho informações básicas: onde nasceu, aparência física, algumas manias, de quê morreu, etc. Eu só não acho justo me obrigarem a esquecer quem me fez ser quem eu sou hoje.  Imagina você esquecendo a Bia.

—Que horrível!

—Exatamente. O céu tem umas regras que eu não entendo. Uma vez me disseram que tínhamos que esquecer pra poder nos dedicar inteiramente à nova vítima, sabe? Mas até agora eu tô indo bem se tratando de dedicação.

—Portanto não tem problema, né?

—Isso, Ju, toda regra tem exceção. Mas eu sei que esse não é o porquê de você ter vindo aqui, senão, não teria trazido isso — ela apontou pro meu caderninho (esperta) — mas antes de você dizer o real motivo, preciso te contar uma coisa. Eu sinto um bagulho muito estranho em relação a você.

—Como assim?

—Eu sinto a mesma coisa com o Marcus, mas contigo é ainda mais forte, eu acho que te conheci na outra vida.

—Pra falar a verdade é sobre isso que eu vim falar.

—Você sente isso também? — ela perguntou animada.

—É… Na verdade não. Quero falar sobre minha outra vida. Desde que eu acordei como anjo, soube que anteriormente tinha sido uma humana, o Gabriel deixou escapar.

—Nossa, isso é A CARA dele.

—Sim! Então, daí eu comecei a fazer várias pesquisas e tal, pra saber quem eu fui.

—É proibido isso, Ju…

—Eu sei que é — baixei os olhos, desapontada, achando que ela ia me entregar.

Ela pôs a mão direita no meu ombro:

—Pode ficar tranquila, eu não vou contar pra ninguém.

—Obrigada.

Abri meu caderno e comecei a mostrar todas as anotações que eu tinha feito desde as informações vazias do Gabriel até o desenho da Claire que a Lola me deu e o sonho. À medida que ia lendo, a respiração da Jade ia ficando mais pesada, os olhos mais arregalados e a expressão mais ansiosa. Quando enfim Jade terminou, seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela me abraçou muito, mas muito forte.

—O que foi? Do que você sabe?

—Meu Deus, é você mesmo, por isso é curioso assim, caraca, tu vai se ferrar demais, menino… Mas eu...

Ela começou a mexer nas fichas e entregou uma delas pra mim. Assim que olhei, me deparei com um menino loiro muito familiar, mais familiar que a Claire, o nome dele era Jack e assim que li o nome começaram a vir à minha memória várias informações, várias situações, minha mãe, meu pai, eu conhecendo a Claire no jardim de infância, os carnavais da minha cidade Nova Orleans, viagens, passeios, meus amigos, o dia que eu quebrei o braço, o primeiro beijo meu e da Claire, felicidades, tristezas, o dia que a Claire descobriu que estava com câncer, aqueles meses horríveis depois dela morrer, tantas cenas, tantas pessoas, tantas coisas, comecei a ficar tonta, a última coisa que veio à minha mente foi aquele monte de pílulas que eu tomei antes de virar Julieta, minha visão foi ficando cada vez mais turva até tudo escurecer de vez.

 


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Muita informação, né? Kkkkkkkkkkkkk desculpa!
De que lado vocês tão na treta Edu e Clara? O que vocês acham que aconteceu com a Ju? Hahaha bjão e até o próximo (e ultimo) capítulo



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