Figuring out; moments escrita por Anna Miranda


Capítulo 2
When you love someone


Notas iniciais do capítulo

Olha quem resolveu aparecer aqui com mais uma história. Como são OS, essa história não está relacionada com a primeira aqui postada, mas eu escrevi com todo meu amor e espero que vocês gostem! É isso.



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A inquietude da mente não transparecia no corpo, pelo contrário, a respiração controlada e os passos comedidos pelo corredor nunca seriam capazes de denunciar o vendaval de sentimentos que a dominava naquela noite. Parada diante da porta alta e pesada de madeira bruta, ela analisou em silêncio os detalhes talhados ali com quase perfeição, não é que os detalhes fossem novos, na verdade se fechasse os olhos, ela acreditava ser capaz de desenha-los em perfeição, no entanto, observá-los era adiar o que vinha torturando sua mente desde cedo. E naquele momento qualquer distração era muito bem vinda.

Uma respiração profunda e sonora lhe escapou enquanto a mão fechada em punho se mantinha em suspensão entre a covardia e a necessidade. Se censurando, ela gritou em sua mente para que se cala-se e um ato impulsivo bateu à porta duas vezes seguidas com mais força do que pretendia. Sem que percebesse, no poucos minutos entre o bater à porta e o ouvir passos vindo em sua direção, ela prendeu a respiração e o mundo a sua volta pareceu parar por um segundo completo.

A porta foi aberta e então ela o viu, cabelo despenteado, os olhos pesados pelo sono recém interrompido, e o semblante marcado pela confusão. Silenciosamente ela se recriminou quando percebeu que ele estava dormindo, e que se tivesse sido um pouco mais sensata poderia ter deixado a conversa para manhã seguinte. Mas a verdade é que ele meio aos sentimentos recém revividos, não havia espaço para sensatez.

"Julieta?" A confusão e a incerteza pintaram o tom de voz dele enquanto ele deixava os olhos correm pelo corpo dela em uma rápida e superficial investigação a fim de saber se algo havia acontecido com ela.

"Me perdoe, não queria acorda-lo. Posso voltar amanhã pela manhã." Com o olhar ela implorou para que ele não a fizesse esperar até a manhã seguinte.

"Está tudo bem, aconteceu algo? Em que posso lhe ajudar?" Ele disse agora mais desperto.

"Podemos conversar na privacidade do seu quarto? Não querem que nos escutem."

Não era como se alguém pudesse escuta-los, uma vez que a casa havia ido se deitar horas antes, mas ele preferiu não apontar tal detalhe. Com um aceno de cabeça ele concordou, e cedeu espaço entre seu corpo e a entrada para que ela pudesse adentrar ao ambiente que até então havia sido o refúgio dele em São Paulo.

O ambiente imerso em uma pseudo escuridão, ganhou nova vida quando ele caminhou até o criado mudo próximo a cama e ligou o abajur. Uma penumbra aconchegante se espalhou pelo ambiente enquanto ele observava parada no meio do quarto com o corpo tenso e sem saber o que fazer.

Ele caminhou calmamente até ela, e em um gesto de apoio segurou as mãos Dela entre as suas acariciando elas.

"O que lhe aflige?" Ele sussurrou chamando a atenção dela que até então estava no carinho feito por ele.

"Sinto que lhe devo uma explicação, sobre o que fiz a meu filho." Ela disse com a voz embargada pelo choro, ele pode notar algumas lágrimas de acumulando no canto dos olhos dela.

"Julieta..."

"Não! Por favor, permita-me dizer, permitam-me tirar esse peso do meu peito, que me aprisiona e aos poucos e sufoca." Com uma aceno de cabeça ele concordou e ela continuou.
"Camilo foi durante muitos anos a única fonte de amor e sentimentos positivos que tive em minha vida, vê-lo crescer, conhecendo a crueldade do mundo, como pude experimentar em minha própria pele em minha juventude, foi algo que sempre me aterrorizou. Decidida a não deixá-lo passar pelo mesmo, fiz de minha missão nessa terra proteje-lo. Sim, a proteção maternal é algo comum, mas com Camilo era algo a mais. E foi em nome desse sentimento, que fiz o que fiz. Cega pelas minhas verdades, que acreditava ser absolutas, não me dei conta que fui por muitas vezes a responsável pela dor de Camilo, dor essa que em seu nascimento, prometi a ele que ele nunca viveria."

Engolindo um soluço que ameaçava lhe escapar, a morena fechou os olhos respirando fundo, e então, as lágrimas acumuladas escorreram livremente pelo rosto dela. Ele que acompanhava tudo em silêncio, não conseguiu conter o impulso, e estendeu uma de suas mãos, limpando as lágrimas para fora do lindo e apaixonante rostos de Julieta. Não deixando é claro de acariciar a pele suave em um gesto de amor, mas acima de tudo apoio.

"Eu errei em nome do amor, mas hoje sei, graças a você, sua paciência, sua suavidade, e ao seu amor, que nunca desistiu de mim, mesmo nos momentos que lhe ataquei com palavras duras e ofensas absurdas, eu descobri que amor é benevolente, ele é sincero, ele é proteção, mas proteção de uma forma que permita apreender com os percalços da vida e não a evitá-los. É por isso que sei que hoje consigo olhar para meus atos e ver quanto errei. É por isso que peço perdão e que não me abandone, não agora que você derrubou minhas barreiras e reviveu sentimentos que nunca mais pensei poder sentir."

O desamparo e a dor não se limitavam as expressões faciais dela, estavam impressos na voz dela, e nas lágrimas que insistiam mesmo contra a vontade dela a caírem livremente de seus olhos. Ele sentiu algo em seu peito se apertar, nunca havia a visto fragilizada.

"Não cabe a mim perdoa-la, não é a mim que esse pedido de desculpa precisa ser feito. Não posso negar que fiquei surpreso, e até mesmo chocado ao ouvir as acusações de Camilo, mas tenho minha cota de erros com Ema, não estou na posição de julga-lá. Saber que se arrepende, e que consegue enxergar seu erro, é tudo o que eu preciso saber nesse momento para continuar ao seu lado sem trair minha essência." Dizendo isso de forma suave e com toda a sinceridade que podia, ele puxou o corpo miúdo, envolto pelo luto em sua direção, e a prendeu em seus braços, permitindo a ela que sentisse tudo o que ele acreditava não ser capaz de colocar em palavras.

"Camilo nunca vai me perdoar, carregarei para meu túmulo a dor de ter perdido em vida o único filho que tive."

"Camilo está machucado, e sentindo traído nesse momento, mas a razão se fará presente e ele buscará sua explicação, e a perdoará. Não se aflija agora, de tempo ao tempo." Ele disse acariciando o rosto Dela, que havia se afastado de seu peito, e permitia assim que as profundas orbes escuras lhe encarassem com esperança.

"Tenho medo de acordar um dia e perceber que você não está mais ao meu lado. Não acredito ser boa o suficiente para merecê-lo."

"Não se condene mais Julieta, você é uma das pessoas mais justas que conheci, é forte, e tem um coração enorme. É capaz de sentir mais do que se permite, é linda e completamente apaixonante."

Fitando-a firmemente enquanto listava os elogios, ele pode perceber quando a coloração avermelhada começou a lhe tomar as feições, e isso arrancou dele um sorriso. Delicadamente ele se inclinou na direção dela e depositou um beijo na bochecha esquerda da morena.

O beijo era pra ser pueril e breve, mas Julieta tinha outros planos, e em um movimento determinado ela inclinou o rosto da direção dele, fazendo com que os lábios dele se movimentassem e assim tocassem os Dela. O encontro entre os lábios foi suave, quase cuidadosos. Mas por dentro dela, ela podia sentir a chama que ardia levemente começar a ganhar força.

Ela entreabriu os lábios puxando a parte inferior do lábio dele para dentro de sua boca. No segundo seguinte ela sentiu a mão dele circundando sua cintura e puxando-a para si. O beijo se aprofundou e em questão de pouco tempo ambos já estavam ofegantes.

As mãos de Julieta se perdiam entre os fios negros que mesclavam com alguns fios brancos, enquanto a boca dele explorava a pele de seu pescoço, e em atitudes cada vez mais ousadas, as mãos dele exploravam partes do corpo dela que pareciam se incendiar sobre o toque dele.

Aurélio interrompeu o beijo, e em uma pergunta silenciosa levou as mãos ao cabelo dela soltando-os. Os fios negros caíram em cachos bagunçados e quase desfeitos sobre os ombros dela. E ali, como em um estalar de dedos, vestida apenas com uma camisola preta, sem qualquer traço de maquiagem e com os cabelos soltos, ele viu uma mulher anos mais nova, uma mulher disposta a esquecer um passado que havia a machucado profundamente.

A timidez tomou conta de Julieta e ela quis de alguma forma de tampar, mesmo antes de tudo o que havia vivido com Osório, nunca havia se exposto tanto assim a uma pessoa. Nunca havia entregado daquela forma a ninguém seu corpo e sua alma.

"Você é a mulher mais linda e incrível que eu já conheci" Aurélio disse ao ler as emoções que corriam pelos olhos Dela. Um sorriso tímido tomou as feições de Julieta e ela desviou o olhar.

Carinhosamente Aurélio a puxou novamente para seus braços, e a beijou, com carinho sim, mas predominante com desejo. O corpo de Julieta reagia à todos os estímulos, e ela nunca havia se sentindo tão viva como naquele momento.

Frustração dominou o corpo da morena quando ela sentiu seu corpo travar quando Aurélio começou a guia-lá por caminhos que sua mente não permitia seu corpo navegar. Ela se desculpou com palavras e com olhar, com Aurélio, queria seguir adiante, mas o medo de se forçar a algo que poderia acarreta lhe mais trauma a deteve. Como sempre, Aurelio a cobriu com carinho e compreensão e propôs que fossem se deitar, afinal havia sido um dia exaustivo para ambos em todos os sentidos.

Nos braços de Aurélio, naquela noite, Julieta se sentiu amada e protegida de forma como nunca havia se sentido antes. E ali ela soube que da mesma forma como o perdão de Camilo viria, a hora de se entregar à Aurélio completamente curada de seus traumas, também chegaria.

—x-


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Notas finais do capítulo

Escrevi e postei. Então não revisei, se tiver algo errado me perdoem.