Todas as vezes em que ouvi a voz dele escrita por Maga Clari


Capítulo 5
A primeira vez que ouvi o Alex desafinado dizer que me amava


Notas iniciais do capítulo

Olá! Turubom? o/
Esse não é o último capítulo. Ainda tem o bônus que vai ser postado dia 28 e já está prontinho e fofinho.
Beijocas



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761715/chapter/5

Não é exatamente importante quem falou “eu te amo” primeiro.

O importante, na verdade, é saber quando foi a primeira vez.

Aconteceu duas semanas depois de Alex Denver ter se revelado. Estávamos sentados na borda do mirante, um pé para fora, outro pé apoiado no concreto.

— Desde quando?

— Desde quando o quê, Alicia?

— Desde quando essa coisa toda começou?

Alex hesitou por alguns instantes. Então abraçou as próprias pernas e seu olhar se perdeu pelo horizonte.

— Você entrou na loja outro dia. Estava sozinha. Sempre sozinha. Pelo menos, quando ia à loja. Daí então você passava alguns minutos escolhendo pilhas e mais pilhas de vinil. Ouvia alguns no aparelho de teste. Mas terminava não levando nenhum.

Um meio-sorriso se formou em seu rosto, quando ele tornou a olhar pra mim.

— Só que nesse dia, eu te vi contando umas moedas. Notei logo que estava esperando ter dinheiro suficiente. Na verdade, já tinha observado depois da quarta ou quinta vez que você apareceu...

— Tá, Alex, mas isso não quer dizer nada. O que eu quero saber é… Por quê? Por que eu?

O meio-sorriso tornou-se uma risadinha.

— Ah, Alicia. Gostei do seu estilo. Das botas, das saias e vestidos esvoaçantes. Do olhar perdido e curioso. Gostei de ter sido você a única a me dar “Oi” e “Bom Dia”, sempre a entrar na loja. E de você ter puxado papo. Ter perguntado se eu tinha alguma indicação de rock melódico.

— E aí você me deu o Alex — sorri, emocionada.

— E aí eu te dei o Alex — ele repetiu, emocionado.

— Por isso as fitas, não é? São mais fáceis de gravar.

— É claro — ele sorriu, entregando-se — E infinitamente mais baratas. Deu certo trabalho gravar aquele primeiro disco, sabe? Mas amar é fazer sacrifícios.

— Você me ama, Alex?

— É claro que amo você — respondeu-me ele, sem titubear. Então, tornando a citar músicas do outro Alex, completou: — Alicia, Como você pode ser tão cega?

É tudo novo pra mim — resolvi entrar no jogo.

— Pra mim também.

— Alex... — arrastei-me mais pra perto dele — Você não teve medo de ser processado?

— Processado?!

— É. Por ter se passado por ele.

— Eu não me passei por ele.

— Alex. Para de repetir tudo que eu digo.

— Não estou repetindo tudo o que você diz.

— Alex!

Não resisti. Gargalhamos, nós dois, e eu repousei minha cabeça nos ombros dele. Quando tornei a falar, minha voz saiu abafada.

— Você admitiu, naquele dia, era você nas gravações.

— Tudo bem. Mas não em todas. Só em algumas que queria que você me ouvisse.

— Devia ter cantado pra mim ao vivo desde o começo…

— Eu não tinha coragem — Alex admitiu, brincando com meu nariz — Você sempre foi tão distante...

—  É que eu estava muito ocupada, sabe? Concentrada em sua voz de veludo. Cheguei até a pensar que era tudo da minha cabeça.

— Foi tudo arquitetado, gata, pra te deixar caidinha por mim.

Sorri pra valer quando senti as mãos dele me fazendo cafuné.

— E você não se importa?

— De quê?

— De eu te chamar do nome dele.

— Ah, Alicia. Não te surpreende que, de tantos outros, tenha lhe apresentado logo ele? 

Meu sorriso alargou-se até o céu. Se é que isso era possível. Aconcheguei-me ainda mais nos braços dele, apressando-me em fechar os olhos.

— Cante pra mim agora, Alex.

— Mesmo um pouco desafinado?

— Eu amo você, Alex. Amo a sua voz.  

— Estou começando a achar que o amor também pode ser surdo...

— Cante logo de uma vez, Alex. Prove que você me ama de verdade. Cante pra mim.

Então, reunindo a coragem que não tinha, Alex Denver cantou Cornerstone.

Com aquela voz rouca e tímida que há tanto tempo havia me acostumado a ouvir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A música citada na fala de Alex foi Snap out of it, do Arctic Monkeys
Mas o capítulo no geral foi baseado levemente em Cornerstone, também do Arctic Monkeys.