Todas as vezes em que ouvi a voz dele escrita por Maga Clari


Capítulo 4
A primeira vez que beijei a voz dele


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, amiguinhos, tudo bem com vocês?
Fantasminhas, por que não aparecem? Não precisam ter medo de mim, porque eu não tenho de vocês hahaha
Sei que os capítulos estão crescendo, mas enxuguei ao máximo
Beijocas



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Para ser sincera, eu não imaginei que haveria uma primeira vez de beijo entre Alex e eu. Na verdade, nunca imaginei vê-lo algum dia na minha vida. Isso não estava nos planos, não estava programado, não parecia sequer real.

No entanto, no decorrer dos próximos parágrafos, você vai entender o porquê desse dia ser tão importante.

Só pra esclarecer o contexto, é preciso deixar claro uma coisa: embora pareça, eu nunca fui uma isolada completa, apaixonada por alguém que não existe. No tempo livre, vez e outra, tomava um café com um ou dois amigos. Frequentava shows de rock. Tinha uma vida, você sabe. Mas algo sempre estava faltando. Era como se nada pudesse substituir aquela sensação de embriaguez ao escutar a voz de Alex.

Uma vez, ele me disse:

Por que você só me liga quando está alta?

— Não estou alta, Alex, é você que me deixa assim.

Mas o dito cujo nunca parecia entender. E também, como entenderia?!

Chegou um momento em que passei a me irritar. A me aborrecer por não poder falar com ele. Por não ter uma oportunidadezinha sequer. Por não poder tocá-lo, olhá-lo, esperá-lo diante de respostas reais.

Na véspera do meu aniversário de dezenove anos, tomei uma decisão. Iria dispensá-lo. Por mais doloroso que pudesse parecer. Eu não aguentava mais tanta tortura. Por isso, criei coragem para colocar os fones de ouvido.

— Alex… — comecei, procurando uma calma que não tinha. Estávamos no café de minha loja de música favorita, e eu simplesmente sussurrava — Tenho guardado um segredo…

Quantos segredos você consegue guardar? respondeu-me ele, rispidamente.

— Alex, eu… Eu…

Então, comecei a chorar. Não aguentei. Tive que abandonar os fones por alguns instantes. E foi justamente nesses instantes que tudo aconteceu. Como mágica, a voz de Alex intrometeu-se na minha vida real:

Há essa sintonia, que de algum modo me faz pensar em você, no modo repeat…

— Alex?! — meus sentidos me fizeram levantar.

E se esse sentimento fluir pelos dois lados? É triste vê-la ir… Mais ou menos na esperança de que você fosse ficar

— Alex, você está aqui?!

Foi então que tive a maior das surpresas da minha vida.

Havia um garoto.

Não, não o Turner, do topetinho preto. Não o Turner da jaqueta de couro.

Era só um garoto, com uniforme da loja, que exibia um sorriso tímido e tomava um lugar à mesa onde eu estivera sentada, minutos antes.

Gata — ele começou, parecendo decidir se continuaria com aquela loucura — , nós dois sabemos que as noites foram feitas principalmente para dizer o que não pode ser dito amanhã…

Meus olhos se escancararam em pânico.

Meu sangue bombeava de modo alucinado.

Sinto muito interromper — ele apontou para o café sobre a mesa — É só que… estou o tempo todo no limite…

Alex era capaz de sorrir até mesmo com os olhos. Sua voz, de repente, me lembrou do primeiro disco que ouvi. O único, diante de tantos, que parecia levemente desafinado, ou, talvez, vacilante. A descoberta me fez entrar no jogo:

— Limite de quê, exatamente?

— De tentar beijar você.

Lembro-me de tê-lo olhado vagarosamente; de ter retomado meu lugar à mesa; de perguntar, por fim:

— Era você? Diga a verdade, Alex. Era você, não era?

Alex Denver, o garoto que costumava me atender na minha loja de fitas favorita, finalmente havia parado de cantarolar.

— Isso não importa agora, Alicia.

— Você me deve uma resposta.

— Olha… — ele hesitou,  segurando meus dedos — Há muito tempo tento criar coragem.... Mas o outro Alex parecia ter sempre as melhores palavras...

— Só continue falando — sorri, enquanto voltava ao ritual de fechar os olhos  — Não pare de falar.

Alex riu.

Tive a certeza, naquela hora, de que as risadas na fita eram totalmente reais. Mais do que isso: sabia que Alex havia perdido a coragem de me beijar.

Aí eu o beijei primeiro, é claro. Apelando pro Santo Milagroso me dar uma forcinha.


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Notas finais do capítulo

As músicas utilizada não somente nas falas de Alex, mas em todo o contexto do capítulos são: "Why'd you only call me when you are high?" e "Do I Wanna Know", ambas pertencem ao grupo Arctic Monkeys