A primeira vez que cozinhei com Alex Turner foi bem engraçada.

Eu estava com os headphones enquanto dançava ao redor do fogão. O cardápio daquele dia era Omelete à moda da casa, ou melhor, à minha moda, que significava: apenas ovo. Porque era o que tinha na despensa. Ah, mas não estava tão ruim assim, sabe? Eu coloquei tempero, molho de tomate e ainda fiz uma sobremesa deliciosa que tenho certeza que me faria ganhar o ¹Masterchef.

Mas acontece que eu não estava me importando se estava bom ou ruim. Eu só queria cozinhar para o Alex porque sentia que, de certo modo, aquilo me faria mais perto dele. Pra ser sincera, ele já havia começado a fazer parte da minha rotina. Então, quando apertei o play, puxei conversa:

— Olá, Alex! Tenho novidades... Dá uma olhada nisso — encarei, aos sorrisos, a frigideira estalando com meu almoço — Tenho tentado conhecer outros mundos agora, sabe como é...

— E o que está acontecendo no seu mundo? — ele apressou-se em perguntar.

— Ah, não muita coisa...

— O que você tem feito?

— Ah, Alex, essa história de novo? — suspirei, tirando a omelete do fogo para por imediatamente em meu prato — Além de aprender a cozinhar, tenho feito pouca coisa. Você sabe...

— Ouvi dizer que se apaixonou.

Fiquei muda. Pálida de nervoso. Pigarreei e brinquei um pouco com os palitinhos de dente. Alex tentou outra vez:

— Ou quase isso. 

Continuei sem dizer nada. Sem conseguir dizer nada. Ignorei-o totalmente, sabe? Preferi me concentrar na minha obra prima em forma de comida a ter que prosseguir com aquela conversa.

— Eu tenho que te dizer a verdade...

— Olha, Alex — terminei falando, sem ao menos perceber o que proferia — Não precisa dizer nada. Sei que tem namorada.

— Saia dessa...

— Sair?! Eu?! Alex, fale então a verdade! Mas a verdadeira, Alex! Pelo menos uma vez!

— Para sempre não é para todos...

— É claro que não é. Mas o que o Senhor Marionete quer dizer com isso? Terminou com ela?

— Para sempre é pra você? — Alex continuou, como se nem houvesse me escutado mudar de assunto. Confesso ter tomado um ou dois minutos pra pensar — Isso soa como se acomodar ou desistir...

— Tem certeza disso, Alex? Terminaria comigo assim tão facilmente quanto terminou com ela?

À essa altura, já havia devorado a omelete de tanto nervoso. Já estava mais uma vez em pé, abocanhando o brigadeiro de panela e tentando, inutilmente, fazer-me ouvida mesmo de boca cheia. Então veio o prenúncio do fim:

— Querida, como você pode ser tão cega?

Nessa hora, sorri. Da maneira mais infantil que uma criança melada de chocolate sorriria. Se Alex pudesse me ver, acho que teria rido também. 

Sou capaz de jurar ter ouvido algumas risadinhas do outro lado da fita. Ou talvez fosse coisa da minha cabeça. Ou alguma gravação antiga, não-oficial, com erros de edição. O que sei é que pelo menos eu ri.

Voltei então a dançar, como o fazia desde o começo da brincadeira de Masterchef. Enquanto dançava, tomava o que sobrara de um espumante de maçã. E ainda ria, feliz da vida, fechando meus olhos. O famoso hábito adquirido desde a primeira vez que tive contato com tamanha beleza de voz pela qual pus-me a direito de chamar de Alex Turner.

Quando o dito cujo tornou a dizer algo, pareceu-me até fora de hora. Tudo estava indo muitíssimo bem, mas o bendito resolveu que devia completar toda aquela "não verdade" dita desde o princípio, com sua cartada final. Bem no meio de meu acorde preferido, Alex me disse:

— Eu estarei aqui te esperando pacientemente.

Foi nesse exato instante que tropecei e caí com tudo no chão, rendendo-me não somente uma explicação torpe aos meus pais, mas uma ida ao pronto-socorro.