A primeira vez que falei com ele já tem quase um século.

Mas parece que foi ontem, sabe? Às vezes me pego recordando desse tempo. Em que eu me sentava de frente para o toca-vinil e tentava imaginar como seria o dono daquela voz.

Alto? Baixo?

Teria ele olhos pretos ou castanho-escuros?

Ficava a imaginar, inclusive, se aquela voz era verdadeira. Ou se era truque de edição.

Seria Alex Turner desafinado?

Não podia ser. Eu não podia deixar que a imagem criada por mim, ao ouvi-lo, fosse quebrada. Na minha imaginação, a voz de Alex era a mais bonita de todas que já tinha escutado.

— Quem é você, senhor Turner? — foi a primeira vez que falei com ele, enquanto punha a agulha no disco — Quem você pensa que é, pra deixar tanta gente tão encantada?

Em resposta, ele me disse:

— Eu sou uma marionete nas cordas...

Mas eu não acreditava muito nele. Não acreditava que ele fosse uma marionete. Na verdade, Alex poderia continuar dizendo isso todas as vezes, mesmo depois de ter acabado com seu projeto Last Shadow Puppets naquela época. Não ia mudar nada. Porque eu sabia que, em algum lugar, o Alex dos meus sonhos existia. Não uma marionete, como ele dizia. Apenas um garoto, com uma voz hipnotizante e bonita.

— Não consigo me conter... — ele continuou.

— Eu também não, Alex. Eu também não.

Deixei que meus olhos se fechassem e voassem para outro mundo. O vinil rodando perto de mim. A música me embalando pouco a pouco.

— Então... — ele continuou — Em caso de eu estar errado... Eu só quero te ouvir dizendo que você me tem, gata. Você é minha?

Tive que pensar por um instante. Questionei-me, a princípio, o tamanho da loucura de estar falando com uma voz aprisionada pelo tempo. Mas não havia por que negar o inegável. Eu estava perdidamente apaixonada. Então sorri, ainda de olhos fechados.

— Sou toda sua, Alex. Nem se preocupe.