Liora era uma bruxa.
O último rebento de uma extensa família de bruxas. Elas sobreviviam isoladas no fundo da floresta que cercava o reino de Wynnsbur, após perceberem, há muito tempo, que não eram bem-vindas entre as pessoas comuns.
Algo mudou quando sua avó; a única parente restante, veio a falecer há alguns anos, abandonando-a adolescente, assustada, e o que era pior – desorientada. Pois embora a magia esteja em seu sangue, jovens bruxas têm muito a aprender e aperfeiçoar dentro da antiga prática.
Desta forma, para Liora, não sobrava nada além de velhos livros e de recomendações que ela tinha medo de esquecer. Em meio aos esquilos e às frutas silvestres, ela levava a difícil vida de uma bruxa iniciante. E solitária.
Certo dia, a moça estava atirando raiz de camomila, essência de papoula e névoa de luar em um caldeirão cheio, no fogo baixo, sendo mexido lentamente. O livro de poções estava escancarado ali ao lado, e ela o consultava a cada minuto, insegura.
Mas Liora tinha um traço distraído que não a ajudava muito. Então, quando chegou em uma parte do feitiço que era só mexer, mexer, mexer, ela olhou por uma janela. Era fim de tarde e os passarinhos piavam em coro, anunciando a chegada da noite. Com grandes olhos cor de mel, a bruxinha os observava.
“Pássaros são legais, mas às vezes seria bom ter alguns amigos”, pensou ela, em um relance melancólico.
Mal percebia como sua poção começava a borbulhar, bem mais do que deveria estar borbulhando. De repente… O líquido explodiu inteiro em cima dela.
Liora cambaleou para trás e caiu sentada no chão, completamente encharcada. Limpando o rosto com a manga do vestido e piscando algumas vezes, ela voltou a enxergar. Lá se fora seu sonífero e relaxante muscular caseiro.