A Lígia, a garota desajeitada, continuava a me seguir junto com o grupinho de excluídos. Tinha medo de ficar muito com eles, pois só pioraria minha reputação, mas depois que deixei a máscara de meiga cair, já não fazia tanta diferença para mim.

Essas pessoas não eram excluídas atoa. Arrisco dizer que éramos muito burros. A Raissa que não conhecia o limite de distância para conversar e quase nos beijava, só falava de como sua vida estava ruim. A Lígia que caia com qualquer vento, um pouco feminista, magra e desajeitada, não reconhecia quando alguém zombava dela ou queria a amizade dela, intrometida. E o Guilherme, conhecido como lesmu, excluído por ser extremamente feito, sério, era nojento, mas quem liga é um ser humano não é? Até você conhecer sua personalidade, nojento, desleal, e faz qualquer coisa que os outros quiserem, até magoar seus amigos, só para conseguir atenção. A Lígia e a Raissa eram pessoas puras afinal, mas inexperientes. Igual eu.

Quando tive aquela discussão com Heitor e chorei, Lígia me viu dessa forma e me abraçou firme até eu me acalmar.

Quando tive aquela briga com meus primos, ela achou inacreditável como minhas primas me desconsideravam e ficou do meu lado.

Lígia se dizia minha amiga, mas eu neguei sua amizade durante o segundo ano do Ensino Médio inteiro, e mesmo assim ela permaneceu ao meu lado, sempre dizendo ser minha amiga.

Lígia me fazia companhia quando eu queria mergulhar na solidão. Gosto de brincar que ela invadiu minha vida. Pois eu queria me isolar e ela queria minha amizade.

Lígia era fraca por ser magrinha, mas sua mente sempre foi poderosa, ao ponto de que ela poderia ser até mais forte que eu se o caso fosse defender seus amigos.

Lígia sempre falou da importância da amizade:

Que se ela é minha amiga, ela é e pronto!

Que ela não sabe guardar segredo, ao menos que seja o segredo de sua amiga.

Que sua regra principal com namorados das amigas é nunca namorar o ex delas.

Que se um rapaz me ofender, ele já era.

Muitas outras coisas ela me ensinou. Foi através dela que eu descobri o amor da amizade. Apesar dela ser desajeitada e me perseguia, eu gostava dela e comecei a ignorar o que me incomodava nela e passei a admirar tudo nela.

Percebi o quão ela era bonita e ninguém notava.

Percebi que seu modo intrometido de ser, era porque ela considerava todos iguais a ela, e não tinha muitas cerimônias de aproximação as pessoas.

E mais importante ela me ensinou a paciência do amor.

Mesmo depois de um ano eu negando ser sua amiga, ela continuou do meu lado sendo minha amiga. Até que um dia, sem perceber eu falei algo no meio de nossa conversa:

“Você que é minha amiga...”

Na hora parei de falar e gelei.

“Que foi Alice?”“Lígia, eu falei sem perceber que você é minha amiga…”

Ela me abraçou tão feliz. Tão feliz. Um ano ao meu lado sendo negada amizade, e agora eu sem perceber tinha me tornado amiga dela.

Essa pessoa sim, é amiga.

Sempre esteve presente nos momentos mais importantes da minha vida.

No dia que minha vó morreu, eu a considerava como mãe. Lígia foi no velório apenas para me dar forças, quando a vi eu chorei, não de tristeza pela minha avó, mas de saber que eu tinha essa pessoa maravilhosa em minha vida.

A amizade da Lígia eu ganhei na loteria!

Mas ainda assim, não me considero boa amiga. As vezes nego sair com ela, nego viajar com ela para Raposos, nego muitas coisas. Adio muitas coisas, mas ela sempre está ali, do meu lado, sempre.

Agora eu posso falar, meus primos nunca foram meus amigos.

A Lígia, poxa, nem sei mais o que falar para vocês sobre essa garota. Mais, uma coisa eu sei, eu evito de ser mãe dela, kkkkkkk.

Ela me ensinou o amor da amizade. O verdadeiro amor.