Antes De Ser Mulher Eu Era Uma Menina escrita por Alice Shalom


Capítulo 4
Vencendo as inimigas - A Máscara Caiu


Notas iniciais do capítulo

Aquele momento que você fica tão nervosa que esquece de manter as aparências.



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No fundamental, quando as garotas se reuniram para me humilhar, eu apenas abaixava a cabeça e esperava elas terminarem de gritar no meu ouvido. Sabia que elas eram daquela forma, porque eram infelizes. Se eu abrisse a boca poderia arrebentar seus corações, ou gaguejar, não iria arriscar. Sempre fui melhor para conversar com os punhos em conflitos que com palavras, eu ficava tão emotiva que não conseguia raciocinar e ofender as pessoas em palavras. Cresci com meninos e meninas valentes. Eu não sabia me defender de pessoas que só usavam palavras para agredir, então ficava quieta.

 Na escola, batia somente nos meninos, pois sabia que eles aguentariam meus socos e chutes. Se eu tocasse naquelas meninas magrelas elas iriam encher o saco. Fora que um conflito com aqueles meninos ocorria só no momento e depois éramos amigos de novo. Já conflito com aquelas meninas, é você querer os pais delas e toda a escola contra você. “Prefiro abaixar a cabeça”, eu pensava.

 Por isso eu jamais trocava insultos com meninas, porém quando fui a faculdade, e uma garota chamou um grupinho para brigar comigo (com palavras) debaixo de uma escada assim que terminamos de apresentar nosso trabalho. O semestre tinha acabado e dali eu já estaria de férias. Decidi acabar com esse karma de meninas me cercando e jogando insultos em minhas costas. Não iria enfrentá-las diretamente, pois sabia o que elas queriam. Fiz uma pergunta para confirmar o que eu pensava:

"Estamos aqui para comemorar que tiramos uma boa nota no trabalho ou para brigar?"

"Brigar!" falou em tom claro, mas percebendo o que ela disse, gaguejou - "não é, discutir sobre o que aconteceu"

O que aconteceu é que no meio do semestre eu e minha amiga chegamos atrasadas nas filmagens pro trabalho e tivemos que dispensar os atores sem conseguir ter feito nada. Mas era o final do semestre e a apresentação do nosso trabalho, que no caso foi a minha amiga (que chegou atrasada) apresentou, foi considerado uns das melhores apresentações da faculdade. Mas eu queria férias. 

Percebendo que a menina só queria brigar, e minha briga é com os punhos, infelizmente, para nós duas, tive que falar:

"Então vou embora, pois o trabalho foi um sucesso e não tem sentido brigar" - Claro, eu me lembrei que eu tinha 18 anos e que se fosse pega iria ficar em uma cela não privilegiada por pessoas graduadas.

Depois a avó dessa barraqueira chegou até eu, sem saber da nossa rixa e me parabenizou pelo nosso trabalho. Essa vovó, foi o maior motivo que me fez perdoar aquela garota. Vovós inocentes, fofas e pequenininhas são irresistíveis!

 

 

Antes do segundo ano do Ensino Médio, antes de entrar na Eitoku, me permitiram passar o olho nos meus futuros colegas, e assim fiz. Percebi que quando cheguei na porta da sala, eles se ajeitaram na cadeira para sentarem com mais respeito perto de mim, a novata, ou a supervisora, não sei. Sei que a sala tinha no máximo 15 alunos e todos num silêncio maravilhoso para estudar.

 

No ano seguinte troquei de escola, meu primo, grande amigo foi comigo também. Estaríamos na mesma sala se ele não estivesse dado uma crise de identidade e tomado bomba. Minha colega da primeira escola disse que eu a abandonei. Mentira, eu a chamei para a Eitoku, mas ela não veio comigo, e eu queria passar no vestibular de qualquer jeito. Nessa época o estudo estava acima das pessoas para mim.

 

Sabia que dentro de mim havia uma fera adormecida desde que saí do fundamental, alguém agressiva aos vilões do bullying, agressiva aos vilões da natureza e uma justiceira. Desisti de fazer faculdade de biologia por causa disto, me conhecendo bem, se eu tivesse mais conhecimento do que é certo ou errado para a natureza, eu ia pirar na rua ao ver um babaca jogando um papel de lixo na rua. Fora outras coisas que ainda bem que desconheço.

 

Primeiro dia de aula, usei a voz delicada, andava delicada, era toda meiga. Era dessa forma que era minha reputação, a garota meiga. Graças aos meus esforços de atuação consegui transmitir essa imagem aos meus colegas de sala. Por pouco tempo.

 

Eu passei por algumas perseguições no fundamental e isso me deixou um pouco neurótica. "Se estivessem cochichando, estavam falando de mim." No fundamental foi assim, mas na Eitoku passou a ser assim…

 

Meus novos colegas já tinham um alvo, e brincavam com essa garota sempre. Ela por sua vez, apenas ria, seu sorriso era seu escudo. Jamais reclamou.

Em um belo dia, ela sentou atrás de mim e meus colegas tiravam fotos dela e zombavam sem especificar que era dela que eles debochavam no momento. Eu e minha mente cheia de traumas de ser perseguida concluiu, "estão rindo de mim e tirando fotos de mim". Mostrei meu rosto, tirei a máscara.

"Heitor, deixe-me ver a foto."

"Não."

"Se estão tirando fotos de mim, posso processá-los." - ameacei.

"Me processa então."

 

Heitor gostava de política. Era um homosexual babaca o primeiro desses que conheci que era babaca. Ele era do tipo que te elogia e quando você virava as costas dava pra ouvi-lo xingando você. Sério, mesmo.

 

Não entendi na época, mas hoje eu entendo. Chorar de raiva, chorar de tristeza, chorar de culpa, susto e chorar que a partir daquele dia meu reinado como a garota meiga estava acabado. O professor de matemática ficou sem saber o que estava acontecendo, mas nem sequer me parou para saber o porque de minha lágrimas silenciosas e descontroladas em sua aula. De certa forma ele respeitava meu silêncio. Ele sabia que eu era ingênua, então provavelmente supôs o que podia ter acontecido.

 

Lembro-me de um episódio que passei com ele. Ouvi dos meus colegas que o professor de matemática sabia ler mentes. Bom eu queria aprender um dia a ler mentes e lá fui eu na sala dos professores:

"Professor."

"Sim."

"Ouvi dos meus colegas que você lê mente, é verdade."

"Alice," - ele cochichou. - "Não fica dando ouvidos aos que os seus colegas falam não."

E ainda fiquei pensando, será que ele tá escondendo seu poder e mantendo em segredo? Só para vocês entenderem, como funcionava minha cabeça, a creio que continuo assim até hoje, só que com um pouco mais de experiência na vida.


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Notas finais do capítulo

Fiquem ligados, pois em breve lançarei mais capítulos!



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