Romance Irrestrito escrita por UmaEscritoraAí


Capítulo 1
Capítulo único (Oneshot)


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim ♥
Não sei se fiquei satisfeita com essa história, mas como Syndra x Zed é muito amorzinho, eu precisava escrever algo sobre eles! Não tem +18 nessa história (ao menos nada explícito, fica ai na cabecinha de vocês pra imaginarem)
Espero que agrade vocês :3 Obrigada por ler!



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O que definiria melhor Ionia senão a palavra “equilíbrio”? Sendo um dos mais belos locais de Runeterra, Ionia tinha como principal convicção a busca da harmonia interior e equilíbrio entre todas as coisas, e qualquer tipo de “peso” extra que fizesse a balança se mover era completamente repudiado e temido. Syndra era um dos pesos. Por possuir um enorme potencial para a magia desde seu nascimento, ela não se apegava à coisas como “limite” ou equilíbrio. Se importava apenas em exercitar seu poder e descobrir dia após dia a imensidão sem limites de sua magia. Imprudente e incapaz de aceitar ordens, Syndra tornou-se um perigo eminente para toda a população Ioniana que temia ao tê-la por perto, simplesmente pelo fato de ser muito poderosa. Apesar de tudo, era inocente e não possuía um coração envolto pelas trevas, até aquele dia...

Após abusar do uso de sua magia e estremecer toda a população anciã de Ionia que desconhecia o limite de seus poderes, Syndra fora enviada para uma escola de magia, aonde ela –inocentemente– pensava que seria auxiliada a expandir ainda mais seus horizontes e alcançar níveis ainda mais elevados de seu poder. Era tudo um plano para limitá-la e restringir aquilo que os amedrontava. Seu mestre não pretendia ajudá-la a tornar-se ainda mais forte, mas sim limitar o seu poder para que o equilíbrio não fosse perturbado graças à sua força irrestrita. Aquilo, para ela, era como traição. Uma onda de ódio a tomou por completo, e com medo de perder todos os seus poderes para aquela magia de restrição, Syndra aniquilou seu mentor, tornando aquele local seu território.

Após um ano escondendo-se nas sombras, sentiu que aquele era o momento de sua vingança contra os que ousaram traí-la. Não conseguiu livrar-se completamente da magia de restrição, mas seu poder era ilimitado, e apenas um ano de aperfeiçoamento já era o suficiente para simplesmente destruir Ionia por completo sem o mínimo de esforço, embora não fosse seu objetivo. Aquela restrição era o suficiente para irritá-la, mas não para contê-la.

—Quem é você? Diga seu nome. –Um dos guardas da fronteira a confrontava.

Aquela frase no imperativo a fazia rir, e sua risada despreocupada enquanto lanças encontravam-se tão próximas de seu pescoço amedrontava aqueles guardiões. Em um simples movimento com seu dedo, as esferas de poder que rodeavam seu corpo dirigiram-se entre os guardas, rasgando seus corpos ao meio, um à um. Uma visão nada agradável, porém necessária. A vingança deveria continuar.

—Coloquem-se em seus lugares. –Retrucou com zombaria para os cadáveres aos seus pés, e adentrou a fronteira.

À medida que caminhava em direção à cidade, colocava as esferas ao seu redor, arremessando-as em todos os que tentassem detê-la. Não pretendia manchar as mãos de sangue inocente, mas aquilo parecia impossível.

—Nunca pensei que precisaria lutar contra você. –Uma voz determinada chama sua atenção, fazendo-a virar-se para averiguar.

Era Karma, uma das forças aliadas de Ionia, conhecida como a reencarnação de uma guia espiritual. Detentora de um incrível poder capaz de destruir embarcações inteiras com apenas um golpe, e que apesar disso, não esconde seu desprezo por qualquer coisa que perturbe a paz. Evitando ao máximo utilizar seus poderes para as razões erradas, Karma agora se via sem outra opção, pois Syndra estaria perturbando a paz e segurança de todos os habitantes de Ionia.

—E você não precisa, Darha. Não pretendo destruir Ionia por inteiro, apenas me vingar daqueles que um dia ousaram me trair. –Syndra retruca.

—Matança gera um ciclo de ódio interminável. Eu não posso permitir que você quebre o balanço pacífico de Ionia ao disseminar todo esse ódio que carrega consigo. –Karma a observa cautelosamente e se afasta, colocando uma barreira ao seu redor quando percebe uma das esferas de Syndra próxima à seu corpo.

—Então você também deve sucumbir.

Syndra controlou suas esferas ao redor de Karma para quebrar a barreira, que fora facilmente destruída. O que ela não esperava era a armadilha que estaria por vir. Karma não estava sozinha, e por um segundo, e apenas por um segundo, Syndra perdeu seu equilíbrio perfeito ao surpreender-se com a legião que marchava em suas costas. Aquele único segundo fora o suficiente para que muitos morressem por suas mãos, mas também, para que Karma conseguisse prendê-la à uma conjuração de correntes mágicas, restringindo o poder de Syndra e nocauteando-a logo após.

Syndra não sabia que, naquele tempo que esteve fora treinando para sua vingança, Karma teria se tornado mais forte, sendo assim, párea para o seu poder restringido. Para completar sua vingança ela deveria se livrar daquele encantamento de uma vez por todas, e ao acordar na prisão que fora feita especialmente para ela, encontrou-se sem saída e com ainda mais sede de vingança. Ao tocar nas barras sua mão latejava com o feitiço anulador de magia que estava ali presente. Ela afastou-se das barras e sentou-se nas sombras daquele local úmido e escuro, procurando por uma resposta.

—Você não vai conseguir fugir daqui. Não nesse estado. –Uma voz grave ecoava nas sombras, fazendo com que Syndra se levantasse para averiguar.

—Quem é você?

—Um homem que ansiava para encontrá-la. –Aquela voz se aproximava, e após alguns segundos, um homem mascarado aparece na frente de Syndra, fazendo-a recuar.

—O que você quer?

—O mesmo que você. Vingança contra aqueles que não aceitam e temem o poder irrestrito.

Syndra o olhava de cima à baixo tentando reconhecê-lo, porém sem sucesso. Todo o corpo daquele homem era coberto, inclusive seu rosto, e as adagas pontiagudas que estavam prestes à sair de seus braceletes pareciam poder cortar até mesmo aquelas barras de aço. Apesar de tudo, ela não conseguia deixar de sentir uma certa semelhança entre os dois, embora não soubesse o motivo. Uma sensação familiar emanava daquela figura sombria, porém Syndra se recusava a acreditar que seu poder poderia sequer ser alcançado.

—Nós não somos iguais. –Ela retrucou.

—Somos muito mais parecidos do que imagina, Syndra. –Ele se aproximou para sussurrar no ouvido da moça. –Eu também fui obrigado a manchar minhas mãos com o sangue de meu mentor.

Surpresa, ela recuou ainda mais, até que não sobrasse espaço entre seu corpo e a parede. Aquela sensação de estranheza não desaparecia. Até mesmo após proferir tais palavras, aquela figura sombria e misteriosa era intrigante e passava conforto para Syndra, que ansiava pelo dia em que alguém admirasse seu poder ao invés de temê-lo.

—Qual o seu nome? –Syndra o afastou.

—Ah, sim, que grosseria a minha não me apresentar devidamente quando me perguntou da primeira vez. –Ele limpa a garganta e cruza os braços. –Meu nome é Zed.

—Me parece familiar. Já nos encontramos antes?

—Você provavelmente deve ter ouvido falar sobre meus incríveis feitos ao tomar o templo de treinamento ninja e transformá-lo em um templo de treinamento da arte das sombras.

—Foi você? –Indagou surpresa.

—Lhe disse que éramos ainda mais parecidos do que imaginava. –Ele riu.

—Eu nunca transformei aquele local, simplesmente o destruí.

—Nada mal, mas minha ideia é ainda mais interessante. Ensinando a arte das sombras terei uma garantia de que menos inúteis entrarão em meu caminho.

Syndra ri e cruza os braços, ansiando por uma resposta. Não uma resposta vinda daquele homem, mas sim de si mesma. Por que era tão confortável conversar com ele? Talvez era a simples sensação de ter alguém que finalmente a compreendesse? Não, não era algo tão simples assim. Sua confiança era valiosa demais para ser entregue tão facilmente e quebrada mais uma vez. Syndra jurou à si mesma que jamais confiaria em outra pessoa, porém lá estava ela lutando contra suas vontades para não cair novamente na ladainha de outro traidor que estivesse tentando controlá-la.

—Tudo bem, nós temos algumas coisas em comum aqui e ali, porém me dê um motivo para que eu confie em você.

Zed pensa por alguns segundos e se aproxima de Syndra.

—Vamos fazer o seguinte, então. –Ele segura a mão dela, colocando-a em seu peito. –Coloque uma esfera em meu coração, e se em algum momento você chegar a pensar que não sou digno de sua confiança simplesmente esmague-o. É o suficiente?

Syndra não sabia o que pensar naquele momento. Sua mente estava completamente em branco com a audácia daquele homem sombrio. Como poderia ser louco o suficiente à ponto de confiar sua própria vida à ela, simplesmente em troca de alguma ajuda incerta? Para ela aquilo era loucura. Loucura, porém nada desagradável.

—Não se arrependa quando matá-lo com minhas próprias mãos. –Ela retrucou, fazendo o que lhe fora requisitado.

Apesar da oferta irrecusável, Syndra pretendia aceitar sua ajuda de qualquer forma, porém não havia descartado a opção de simplesmente matá-lo quando fosse conveniente. Havia pensado em usá-lo para sair da prisão e depois tirar-lhe a vida, embora aquilo não parecesse mais necessário.

—Não se preocupe, já me livrei do medo da morte há muito tempo. –Ele estendeu a mão em direção à Syndra. –Devemos ir?

—Estamos encarcerados, para onde deveríamos ir?

Ele ri com a inocência de Syndra.

—Sabia que o lado de fora da prisão é construído apenas por uma simples parede sem feitiço algum? –Zed retruca, e em alguns instantes, alguns tijolos começam a cair, levantando poeira por todo o local.

Assim que a poeira se esvai, um enorme buraco na parece é revelado, e em seu final, Zed.

—Mas você... –Syndra não sabia o que pensar. Existiam dois homens iguais? Seriam gêmeos? –O que está acontecendo?

—É um clone. –Zed estala os dedos e uma fumaça aparece no local de seu sósia. –Uma das técnicas proibidas que eu provavelmente não deveria saber.

—Se não deveria, como sabe?

—Você já sabe sobre o meu mentor. O resto é apenas dedução.

Antes mesmo da resposta de Syndra, alguns guardas Ionianos amontoam-se em um círculo ao redor dos dois fugitivos, visando parar sua fuga.

—Esses inúteis... –Syndra se prepara para atacar, porém é impedida por Zed.

—Poupe esforços. –Ele retruca, e em alguns segundos, tudo o que se podia ouvir era o som da morte se aproximando. O tinir das lâminas ecoava ao redor de ambos, juntamente à chuva de sangue que jorrava após todos os soldados terem suas cabeças cortadas.

Para Syndra, Zed não teria se movido nem por um segundo. Foram movimentos tão rápidos que a única coisa realmente visível aos olhos humanos fora o final, aonde Zed limpava o sangue de seus braceletes.

—Nada mal. –Ela se recompõe, tentando manter a compostura.

—Eu me esforço. –Ele ri, e segura a mão de Syndra fortemente. –Já teve experiência com algum tipo de teleporte?

—Teleporte? Como assim? É claro que não.

—Nesse caso, segure-se bem. E não se preocupe com a tontura, você se acostuma.

Novamente sendo incapaz de completar sua resposta, Syndra encontrou-se nos braços de Zed em um local completamente desconhecido. Sua cabeça parecia não estar no local correto, e seus olhos doíam ao mínimo contato com qualquer iluminação. Tentou levantar-se para livrar-se daquela sensação de impotência, dependendo de Zed para mantê-la em pé, porém não obteve sucesso.

—O que está acontecendo? –Murmurou com voz fraca, enquanto lutava para manter seus olhos ao menos semicerrados.

Zed puxou-a para ainda mais perto e retirou os pés de Syndra do chão, segurando-a completamente em seus braços enquanto a carregava pelo local.

—Eu te avisei sobre a tontura, não? –Ele riu. –Mas não se preocupe, estamos em meu templo.

Syndra grunhiu e ajeitou-se no colo de Zed, visando manter-se confortável. Para ela, o cheiro de sangue vindo das vestimentas daquele homem era inebriante e, apesar de não sentir-se confortável nem ao menos com sua própria família enquanto criança, a sensação de estar nos braços de Zed estava longe de ser desagradável. Consumido pelas trevas, era óbvio para ela que Zed não era confiável, porém tornava-se cada vez mais difícil manter a compostura ao seu redor.

—Sinto-me observada aqui. –Ela sussurrou, sentindo-se melhor enquanto abria os olhos para encarar Zed, que ainda possuía seu rosto coberto por uma máscara.

—Digamos que meus aprendizes não estão acostumados a ver uma mulher em meus braços por aqui.

—Não é como se eu estivesse interessada em você. –Syndra retruca.

—Mas eu estou interessado em você. –Ele para de caminhar por um momento e a encara, colocando-a no chão logo após. –Chegamos.

Syndra percebeu que seu coração havia falhado uma batida com a frase de Zed. Ela sabia que não era um interesse romântico, porém ouvir aquelas palavras naquele contexto tornava tudo confuso, ainda mais para ela que não possuía experiência alguma com romances. Tocou no ombro de Zed para manter-se em pé, e afastou-se dando um passo para o lado. Averiguando aquele local inesperadamente sereno, Syndra sentiu-se confortável com o ruído do velho piso de madeira. Um cômodo espaçoso e pitoresco para permanecer em paz era tudo o que precisava, e naquele momento, confiar em Zed não parecia ter sido a pior das escolhas.

—Nada mal para um templo arcaico, apesar do excesso de poeira. –Ela arrasta os dedos pela pequena mesa de cedro posicionada ao canto do cômodo. –Mas nós dois sabemos que o aconchego do local não é o motivo de minha visita. –Termina, encarando Zed enquanto limpa suas mãos.

—Você é realmente interessante, Syndra. –Ele murmura em resposta, aproximando-se da porta.

—Não pretende sair sem me auxiliar em meu treinamento, não é? –Syndra retruca, colocando uma esfera à frente de Zed para evitar sua saída.  

Zed suspira e aproxima-se de Syndra, ficando a apenas alguns milímetros de distância desta. Levantou sua mão, colocando seu dedo indicador na testa de Syndra, que estava confusa com a situação. Aproximou-se de seu ouvido e sussurrou:

—Como espera treinar se não consegue nem ao menos manter-se de pé? –Ele empurra Syndra com seu dedo indicador que havia posicionado em sua testa anteriormente, fazendo-a cair deitada na enorme cama que havia providenciado para ela.

Zed sorriu com a expressão encabulada de Syndra, feliz com o fato de que ela jamais perceberia seu semblante satisfeito devido à máscara que utilizava constantemente, e então retirou-se do quarto, fechando a porta para dar-lhe privacidade.

Syndra estava ciente sobre sua condição. Estava com fome e ainda com dificuldades para manter-se em pé graças à dor que ainda latejava em sua cabeça. Não foi um dia fácil, e apesar de relutante, Syndra conformou-se de que dormir seria a melhor opção para seu corpo exausto.

Na manhã seguinte, inebriada com o delicioso cheiro que espalhava-se pelo cômodo, Syndra sentiu-se na obrigação de levantar-se de sua cama para averiguar. Com os olhos semicerrados e ainda sonolenta, sentou-se no colchão e esfregou o rosto com delicadeza, visando permanecer desperta. O grunhido de seu estômago entregou-lhe, fazendo-a perceber que estava realmente mais faminta do que poderia imaginar.

—Bom dia. –Uma voz grave fez o coração de Syndra falhar uma batida e se levantar rapidamente. –Não se preocupe, vim apenas trazer-lhe uma refeição. Já faz algum tempo desde que comeu algo, não?

—Zed? –Retrucou, afastando-se do intruso. –Não estou com fome.

O estômago de Syndra grunhiu novamente, entregando-a. Zed lutou para segurar o riso, porém era impossível não perceber sua risada abafada abaixo da máscara, e Syndra decidiu sentar-se ao lado dele, mesmo que à contragosto e com suas bochechas ruborizadas.

—O que é? –Ela questiona, averiguando louça por louça. –Está envenenado?

—Eu não seria tolo o suficiente para desperdiçar seu talento assim. –Ele se levanta, sentindo-se um pouco ofendido com a pergunta, apesar de compreendê-la completamente. –É chá verde.

—E os petiscos? São um pouco... Diferentes, não?

—Os petiscos são um segredo meu. –Zed retrucou, cruzando os braços e apoiando suas costas no batente da porta. –Eu entendo a sua desconfiança. Pessoas como nós não podem se dar ao luxo de confiar em qualquer pessoa.

Syndra encarou Zed por alguns momentos, perguntando-se qual seria a expressão por baixo daquela máscara e aquela voz entristecida. Talvez aquele coração cheio de ódio e rancor possuísse algum sentimento? Muitas questões se passavam por sua mente, porém ela não se atrevia a dizê-las em voz alta.

—As pessoas temem o que não conseguem entender... –Murmurou, cabisbaixa.

Zed surpreendeu-se ao ouvir as palavras que ecoavam em sua mente saírem diretamente dos lábios daquela mulher. Não conseguiu evitar de sorrir, embora Syndra não pudesse perceber a aura aconchegante que emanava daquele homem obscuro naquele momento.

—Estarei lhe esperando do lado de fora para o seu treinamento. –Ele abre a porta do quarto. –Alguns itens para sua higiene pessoal estão ao lado de sua cama, portanto não demore muito. –Se retira, antes mesmo de permitir quaisquer resposta de Syndra.

—Qual o problema dele? Sempre me cortando antes mesmo de respondê-lo. –Murmurou enquanto devorava os petiscos que Zed havia preparado.

Do lado de fora, Zed a aguardava, encostado na parede com seus braços cruzados. Encontrou-se pensando inúmeras vezes na expressão de Syndra ao vê-lo observando-a enquanto adormecida, e não conseguia evitar de sorrir. Ele não conseguia acreditar que uma figura tão frágil e inocente poderia conter tanto poder dentro de si, porém lá estava ela, a prova viva deste fato.

—Como pretende me ajudar? –Ele interrompe seus pensamentos ao ser surpreendido por Syndra.

—Hm... Sim, vamos ver. –Zed balança a cabeça, pensativo.

—Você não sabe?

—Eu consigo lidar com qualquer tipo de feitiço, porém você deve me mostrar o selo antes. –Ele se aproxima, retirando cuidadosamente os cabelos de Syndra para o lado, visando averiguar a marca em seu pescoço. –É um feitiço de limite controlado. –Completou.

—“Limite controlado”?

—Um feitiço de restrição criado para impor limites à pessoas como nós.

—E como eu faço para quebrá-lo?

—A primeira coisa que você deve fazer é possuir controle absoluto de todo o seu poder liberado no momento. A prioridade ao restringir seus poderes com este feitiço era a de garantir limitações para a sua magia, e para você também.

—Em outras palavras, eles queriam me manter em rédeas curtas, não é?

Zed assentiu afirmativamente.

—Tente caminhar sobre suas próprias esferas, colocando-as como uma ponte para atravessar até o outro lado.

—Mas tem um rio entre os caminhos...

—Exatamente. Tente não se molhar muito. –Ele ri.

—Quem você pensa que eu sou? Um truque nesse nível é fácil. –Ela retruca, movimentando suas mãos para mover as esferas à sua frente, formando uma espécie de caminho.

Ao colocar seus pés sobre a esfera, Syndra não conseguiu manter o equilíbrio ao perceber o estado do objeto. Não era algo sólido, e sim, muito semelhante à uma nuvem. Seu corpo atravessou diretamente pela esfera, fazendo-a cair no pequeno rio, envergonhada por sua façanha.

—Precisa de ajuda? –Zed estende sua mão para Syndra, auxiliando-a a levantar-se. –Eu lhe disse que não era algo fácil.

—Mas como? Quero dizer, minhas esferas são de poder sólido, como bolas de canhão capazes de derrubar construções inteiras. Como não sou capaz de me manter em pé acima delas?

—É algo bem simples, porém demanda algum tempo para aprender. –Ele apanha uma das esferas que estava ao redor de Syndra. –Neste momento, você está completamente concentrada em mantê-las ao seu redor. Mesmo que inconscientemente, todo o seu esforço atual está no manejo das esferas.

—Não preciso de muito esforço para criá-las. –Ela retruca.

—Com o nível de seu poder eu não duvido, porém já tentou utilizá-las para algo além de destruição?

Syndra pensou por alguns momentos e percebeu que nunca havia utilizado de seus poderes para outros fins. Permaneceu cabisbaixa até finalmente chegar à uma resposta concreta, embora não soubesse como executá-la.

—Como eu... Como eu consigo? –Ela questiona, com o olhar intrigado.

—Você emana muito poder desnecessário. Para aumentar a efetividade de sua magia você deve conseguir controlá-la por completo, inclusive a intensidade de suas esferas. Você deve ser capaz de definir o peso, o tamanho, a quantidade de poder e até mesmo o formato.

—Basicamente, eu deveria começar tentando diminuir o poder distribuído para cada uma delas?

—É um bom começo, porém não é o mais efetivo. –Ele cruza os braços, pensativo. –Que tal tentar fazê-las desaparecer?

—Desaparecer? Elas estão comigo desde sempre, como poderia fazê-las desaparecer? Você enlouqueceu?

—É claro que não seria algo definitivo. Syndra, você deve ser capaz de criá-las conforme sua vontade, e o simples fato de ser incapaz de fazê-las desaparecer é o suficiente para que eu tenha certeza da sua falta de controle sobre seus poderes.

Zed estava certo, e Syndra sabia disso. Ela nunca se importou em controlar sua magia conforme sua vontade, apenas em aumentar seu poder, esquecendo sobre as consequências. Pensou consigo mesma que, se tivesse total controle de seus poderes, talvez vidas inocentes que cruzaram seu caminho teriam sido poupadas. Enfileirou novamente as esferas sobre o rio, e tentou pisoteá-las, mais uma vez sem sucesso. Tentou uma outra vez e falhou novamente. Continuou com as inúmeras tentativas até o anoitecer, e até mesmo Zed já estava exausto.

—P-pode ir para a cama. –Syndra alertou ofegante, deixando clara sua intenção de continuar com suas tentativas desesperadas.

—Vamos para dentro, Syndra. Está escurecendo, e as montanhas de Ionia tornam-se gélidas ao anoitecer. –Ele retrucou, segurando o braço da moça para fazê-la parar com aquilo tudo.

—Não me toque! –Exclamou, afastando a mão de Zed em um tapa.

Zed decidiu afastar-se, deixando-a sozinha por um tempo. Adentrou o seu quarto deixando uma fresta da porta aberta para continuar a assisti-la mesmo de longe. Ele sabia que Syndra não seria capaz de completar aquela tarefa naquele estado, porém preferiu deixá-la descobrir por si mesma. Retirou suas vestimentas –inclusive a máscara- para banhar-se, e ao sair, surpreendeu-se ao perceber que Syndra continuava ali, mesmo após tanto tempo.

Continuou a observá-la até que caísse no sono, acordando somente após algumas horas, quando ouviu um estrondo do lado de fora de seu quarto. Levantou-se rapidamente para averiguar se seria algum invasor, porém ao invés disso, deparou-se com Syndra, completamente encharcada e ofegante, caída ao chão.

—Você realmente não tem limites, não é? –Ele sussurra, enfurecido com a atitude infantil da moça, e a segura em seus braços.

—Zed? –Ela murmura com a voz fraca, ofegante, e então se aproxima do peitoral do homem que a carregava, colocando o nariz em suas vestimentas. –É você, não é? Esse é o seu cheiro. –Ela continua, em meio à alguns espirros.

—Descanse um pouco. –Zed retruca, acomodando-a para ainda mais perto de seu corpo, enquanto a carregava pelos corredores.

Syndra passou a mão no rosto de Zed, percebendo a ausência da máscara. Lutou para abrir os olhos e decifrar o mistério de sua aparência, porém não obteve sucesso, sendo capaz apenas de manter os olhos semicerrados por um breve momento, possuindo uma visão embaçada e nada reveladora antes de desmaiar no calor de seus braços.

Na manhã seguinte, Syndra continuava a perguntar para si mesma se não estava tendo algum tipo de pesadelo com a visão que teve ao acordar. Ao abrir os olhos pela primeira vez nesta manhã, deparou-se com Zed abraçando-a enquanto adormecida e desnuda. Não conseguiu decidir se gritava pela situação ou se voltaria a dormir devido à febre que tomava conta de todo o seu corpo. Estava confusa e se perguntando o que teria acontecido na noite anterior para que estivesse no quarto de Zed, e ainda por cima, sem suas roupas.

Zed, por outro lado, parecia dormir confortavelmente, sem se importar com a presença da moça em seu colchão. A única coisa que parecia acalmar o coração confuso de Syndra naquele momento era o fato de que Zed estava completamente vestido com suas vestimentas usuais, incluindo aquela máscara que o tornava tão misterioso. Syndra decidiu tentar a sorte e retirar aquela máscara enquanto Zed dormia, porém falhou em sua missão ao perceber a mão do homem segurando seu pulso.

—Bom dia. –Ele murmurou, afastando a mão de Syndra. –Antes que você me incomode com o excesso de perguntas, nada aconteceu na noite anterior. Quer dizer, nada além de você me acordando depois de desmaiar na porta do meu quarto.

Syndra suspirou aliviada, cobrindo o seu corpo com a manta que Zed também utilizava. Embora não conseguisse ver sua expressão, Syndra estava certa de que Zed não estava contente, e o motivo era incerto. Recordava-se apenas de pequenos fragmentos sobre a noite anterior, porém nada o suficiente para fazê-lo se irritar.

—Minhas roupas? –Ela o questionou.

—Encharcadas. Providenciei algumas roupas novas para você e as deixei acima de minha cômoda. –Zed se levanta, retirando-se do quarto.

Ela levantou-se, com dificuldade devido à fraqueza causada pela febre, e vestiu-se rapidamente para ir atrás de Zed. Caminhou em passos lentos até a porta e foi surpreendida pelo homem que procurava assim que colocou os pés para fora do quarto.

—O que está fazendo parado aí? –Syndra indagou, observando-o cautelosamente.

—Vigiando a sua única rota de fuga para ter certeza de que não vai tentar fugir para treinar ou fazer algo estúpido novamente.

—Você não é capaz de me deter, Zed. Eu não sou sua prisioneira aqui. –Ela retruca, visivelmente incomodada com a atitude fria do homem.

—Talvez não seja minha prisioneira, mas eu preciso de você, e por este motivo... –Ele se aproxima, nocauteando Syndra ao dar-lhe um simples toque no pescoço. –Você deve descansar e ficar aqui até que melhore. –Termina, sussurrando enquanto a segura.

Zed normalmente não se incomodaria com seus discípulos treinando até caírem de exaustão, e toda aquela preocupação criava uma sensação nova dentro de si. Ele não sabia o motivo, porém ao vê-la desmaiada, uma chama se acendeu em seu coração, causando uma confusão em seus sentimentos. Raiva, insegurança, rancor, preocupação, empatia, tristeza, e para ele, o pior de todos... Medo. Zed não temia nem mesmo a morte, porém temia o que acontecia com sua cabeça à medida que se aproximava ainda mais de Syndra, não apenas como discípula, mas como uma pessoa que despertava seu interesse por completo. Seria o seu fascínio pelos poderes ilimitados de Syndra tão grande à ponto de fazê-lo se importar com sua portadora? Ele não sabia. Encontrou-se muitas vezes pensando em matá-la enquanto dormia inocentemente em sua presença, porém era incapaz de fazê-lo. Era incapaz de machucá-la, não importa o quanto tentasse.

—Mestre Zed? –Subitamente uma cabeça imerge da parede, fazendo com que Zed recuasse com o susto.

—Kayn? –Ele suspira desapontado com a atitude de seu discípulo. –Já lhe disse para bater na porta como uma pessoa comum.

Kayn adentra o quarto com todo o seu corpo, atravessando a parede por completo.

—Quem é sua amiga? –Ele indaga, ignorando o sermão de seu mestre.

—Minha nova aluna. –Zed se aproxima e cruza os braços enquanto a observa.

—Nova aluna? Pensei que não estivesse aceitando mais novos discípulos. –Kayn retruca.

—Ela é uma exceção. –Zed senta-se ao lado de Syndra novamente, cobrindo-a com ternura. –Preciso dela, portanto não tente nenhuma gracinha.

—É mesmo? –O aluno retruca de modo irônico.

—Sim, é mesmo, mas sei que você não veio aqui para me questionar sobre minha convidada. –Ele se levanta novamente, para ficar frente à frente com Kayn. –O que foi?

—Preciso me ausentar por uma semana. Tenho alguns assuntos para resolver.

—Volte com vida, pelo menos. –Zed dá um tapinha amigável no ombro de Kayn.

—Eu sempre volto. –Ele sorri em retorno e se vira para sair.

—Saia pela porta, Kayn.

—Certo. –Kayn sorri e se retira atravessando a parede, ignorando Zed completamente.

—Quem era aquele garoto? –Syndra se acomoda na cama, sentando-se.

—Está acordada? –Ele se aproxima, colocando a mão no rosto de Syndra. –Sua febre já está melhor. –Termina, afastando-se.

—Você poderia simplesmente me responder às vezes. –Ela retruca.

—Sobre o Kayn? É apenas um de meus discípulos.

—Parece que vocês se dão bem. –Ela sorri de canto.

—De fato, eu não o odeio. Ele é como aqueles cachorrinhos, você ensina um truque e eles te seguem por toda a vida. –Zed ri e levanta-se. –Fique aqui por um momento. –Ele se retira do quarto, voltando com uma tigela e um copo de leite logo após.

—O que é isso? –Syndra indaga.

—Presumo que esteja faminta, não? –Ele a entrega a tigela e uma colher. –Infelizmente para você, o cozinheiro de hoje não sou eu.

—É realmente uma pena. –Syndra ri com a colocação debochada de Zed.

—Apenas termine sua refeição e volte a dormir. Recomeçaremos o seu treinamento pela manhã.

Ela simplesmente assentiu e fez como lhe fora requisitado. Na manhã seguinte, Syndra banhou-se rapidamente e escovou os dentes no processo, apressada para voltar ao seu treinamento. Após vestir-se, encontrou-se com Zed do lado de fora, ao lado do rio em que teria começado seu treinamento há alguns dias.

Continuou com o exercício de tentar caminhar sobre suas esferas, porém sempre acabava falhando ao final do dia. Foram três dias de tentativas falhas após sua recuperação, e Syndra começava a desanimar consigo mesma. Aquela sensação de impotência era a pior coisa que já havia vivenciado, e não estava nada satisfeita com os resultados de seus esforços.

—Acho que estamos perdendo tempo aqui. –Zed se aproxima, estendendo sua mão para Syndra, visando auxiliá-la a retirar-se do rio.

—Só mais um pouco. Eu sei que vou conseguir, Zed... –Retrucou, segurando a mão de seu mentor.

—Eu não tenho dúvidas de que você vai conseguir. –Ele coloca a mão em seu peito esquerdo. –Mas você tem. Bem aqui.

—O que eu deveria fazer, então? –Syndra murmura, cabisbaixa.

Zed a observa por alguns segundos, pensativo, enquanto tentava chegar em uma conclusão. Ele queria fazê-la confiar, não apenas em si mesma, mas nele também. Para ele, o único jeito de gerar uma confiança pura e inquebrável seria entregar para Syndra a sua própria vida, e mesmo que estivesse convencido a não fazê-lo, seu desejo de ajudá-la falou mais alto.

—Me mate. –Disse com convicção, deixando-a com uma expressão assustada.

—O que você... –Ela se afasta, dando dois passos para trás, porém Zed a puxa pelo pulso, aproximando-a novamente.

—Se você não retirar a minha vida, tirarei a sua. –Retrucou, colocando uma lâmina no pescoço de Syndra.

Assustada, Syndra fechou os olhos e utilizou uma de suas esferas para afastar Zed de seu corpo, empurrando-o ao acertá-lo diretamente em seu abdômen. Abriu os olhos e deparou-se com Zed ajoelhado à uma distância considerável de si. Correu em direção à seu mentor, que levantou-se rapidamente com sua aproximação.

—Eu disse que conseguiria. –Ele riu.

—Você está... Vivo? –Syndra indaga, com a voz trêmula. –Por que fez isso?

—Foi uma aposta arriscada, mas você conseguiu. –Zed afaga os cabelos de Syndra, que o abraçava. –Você conseguiu utilizar sua esfera apenas para me afastar, sem atravessar meu corpo.

—Por que você é tão imprudente? Por que vai tão longe para me ajudar? –Ela murmura, com lágrimas em seus olhos.

—Eu já disse. Estou interessado em você, Syndra. –Zed se afasta do abraço caloroso de Syndra, visando manter sua sanidade mental. –De qualquer forma, não se esqueça dessa sensação. Continuaremos pela manhã. –Ele termina, retirando-se diretamente para o seu quarto.

Após alguns segundos para ter a certeza de que não seria seguido, Zed apoiou-se na cômoda de seu quarto, tossindo sangue. Retirou suas vestimentas e percebeu que duas de suas costelas estavam quebradas, causando-lhe uma dor insuportável. Pegou algumas ataduras em sua gaveta e preparou o curativo sozinho, enquanto pegou-se pensando na pergunta de Syndra. Qual era seu motivo para arriscar a própria vida por aquela mulher? Ele não sabia a resposta. Não... Ele sabia, porém jamais admitiria algo assim.

—Qual o seu problema? –Murmurou para si mesmo enquanto observava no espelho seus hematomas manchando as ataduras brancas com seu sangue.

Sentou-se cuidadosamente em sua cama e apoiou as costas na cabeceira, esticando uma de suas pernas. A dor não lhe permitia deitar, portanto apenas retirou sua máscara e permaneceu ali por toda a noite, com a respiração pesada enquanto suava frio. Pela manhã decidiu encarar Syndra normalmente, sem demonstrar sinal algum do ocorrido. O objetivo de tudo aquilo era fazê-la perceber que poderia controlar sua força, porém após a expressão amedrontada de Syndra ao vê-lo ajoelhado, decidiu que a melhor decisão seria não contar-lhe sobre seus ferimentos. Caminhou cautelosamente até a pia e, com um pano molhado, limpou os ferimentos e trocou as ataduras, vestindo-se novamente para cobrir tudo aquilo. Saiu em direção ao rio em que sempre treinavam, deparando-se com Syndra já encharcada pelas prováveis tentativas falhas.

—Bom dia, Zed. –Ela sorri ao encontrá-lo logo pela manhã.

—Há quanto tempo está acordada? –Zed retruca, tentando ao máximo manter sua voz a mesma de sempre.

—Talvez uma hora? Não sei dizer. Estive pensando na sensação de ontem e em como revivê-la.

—Creio que, à partir de agora, você não precisará mais de minha ajuda. Estarei em meu quarto, portanto venha me encontrar apenas quando finalizar o treinamento.

—Que tipo de mentor não observa sua aluna enquanto treina? –Ela o provoca, sorrindo.

—O tipo ocupado. Não se esqueça: Apenas quando finalizar o treinamento. –Zed se retira rapidamente, trancando-se em seu quarto para ficar desnudo.

Estava cansado visto que não conseguira dormir durante toda a noite, e portanto, decidiu deitar-se para dormir. Era impossível deitar-se de lado ou de bruços, e sabia que não conseguiria levantar-se tão cedo dali, porém estava certo de que Syndra não viria encontrá-lo até que concluísse o que lhe fora requisitado, então aproveitou a brecha para descansar.

Syndra estava focada em seu treinamento, e não se atrevia a incomodar Zed. Sabia que, se quisesse vê-lo, deveria finalizar sua tarefa, e estava mais dedicada do que nunca. Ela realmente desejava encontrá-lo, e isso era mais do que o suficiente como incentivo.

No dia seguinte, após o café da manhã, Syndra saiu para uma caminhada e deparou-se com o garoto que havia invadido o quarto de Zed há alguns dias. Aproximou-se para tentar conhecê-lo melhor, porém ele simplesmente desapareceu ao atravessar a parede do quarto de seu mestre. Pensou consigo mesma que jamais conseguiria se acostumar à esse tipo de “visita”, porém decidiu deixar para lá e voltou ao seu treinamento.

—Que cheiro é esse? Tem alguma coisa morta aqui? –Kayn se aproxima de Zed, tentando compreender o que estaria acontecendo.

—Kayn? Pensei que voltaria apenas amanhã. –Retrucou com a voz fraca, enquanto lutava para levantar-se de sua cama. –De qualquer forma, é bom que esteja aqui. Preciso de um favor.

—O que aconteceu com seu abdômen? –Indagou, observando as ataduras ensanguentadas de seu mentor.

—Nós podemos conversar, ou você pode ir atrás de algum mago especializado no uso de magias benéficas, como a de cura, por exemplo. –Ele se levanta, apoiando-se em sua cômoda enquanto respirava com dificuldade. –Eu prefiro a segunda opção.

O discípulo aproximou-se para auxiliar Zed a trocar os curativos e a deitar-se logo após. Encarou-o com preocupação, pensando que talvez seu mestre estivesse se desviando do caminho das sombras, porém decidiu acreditar no homem que admirava e deixou seus pensamentos tolos de lado.

—Isso pode demorar. Não é fácil achar alguém assim.

—Quanto mais rápido você sair daqui, mais rápido será. –Ele retruca, fechando os olhos para demonstrar à Kayn que era hora de deixá-lo sozinho.

Do lado de fora, Syndra deparou-se com Kayn partindo rapidamente do quarto de Zed e atravessando as muralhas do templo. Perguntou-se o que estaria acontecendo para tanta agitação, no entanto, apesar de curiosa, prosseguiu com seu treino. Estava quase conseguindo caminhar sobre suas esferas, apesar de possuir certa inconstância em seu manejo. Voltou toda sua atenção para seus afazeres, prosseguindo com sua falha constante até o anoitecer, quando decidiu passar pelo quarto de Zed.

—Zed? –Clamou por ele ao bater três vezes em sua porta, porém não obteve resposta. Chegou à conclusão de que provavelmente Zed estaria dormindo, visto que já estava tarde, portanto não insistiu mais e retirou-se em direção ao seu quarto.

No entanto, ele não estava adormecido. Zed ouvia a voz de Syndra em alto e bom som, embora não se atrevesse a respondê-la. Sabia dentro de si que se o fizesse, cederia ao seu desejo de revê-la, e isso jamais poderia acontecer enquanto não estivesse totalmente, ou ao menos parcialmente, curado. Aguardou por Kayn até o amanhecer, quando apareceu repentinamente em seu quarto para destrancar a porta e permitir a entrada de seu convidado.

—Não são muitas pessoas em Ionia que aceitariam lhe ajudar, sabe? –Kayn o provocou, auxiliando-o a sentar-se para receber seu tratamento.

—E também não é sempre que aceito ajuda. –Zed retruca, com um sorriso cansado.

O barulho dos passos do curandeiro assemelhava-se ao cavalgar de um potro, caminhando lentamente em duas patas. Estava utilizando um capuz que mantinha sua face escondida, e carregava consigo um enorme cajado de formato gracioso, semelhante à uma fruta em sua ponta. Aproximou-se de Zed e posicionou cautelosamente a mão no abdômen de seu paciente, concentrando uma forte energia na palma de sua mão, que emanava uma luz esverdeada. Zed conseguia sentir que suas dores se esvaiam lentamente, e seus hematomas fechavam-se à medida que aquela energia o atingia. Com alguns baixos gemidos de dor, Zed aguentava enquanto suas costelas voltavam à sua forma original.

Do lado de fora, Syndra estava pronta para voltar ao seu treinamento nessa bela manhã. Percebeu que a porta do quarto de Zed estava aberta, e sorriu ao perceber o quanto gostaria de vê-lo. Aquele homem era ousado, inconsequente, desinibido, valente, e acima de tudo... Apaixonante. O coração da inocente donzela palpitava enquanto o rosto de Zed vinha à tona em seus pensamentos, e a vontade de completar o seu treinamento não girava mais em torno de seu desejo por poder, mas sim, por anseio à seu reencontro. Alinhou as esferas novamente em uma ponte, com seus pensamentos em outro lugar, e para sua surpresa, ao colocar seus pés sobre o caminho, sentiu o chão firmar-se em algo sólido. Atravessou o rio, e contente, desalinhou o caminho, utilizando suas esferas para ir ao encontro de seu mentor.

—Fazer algo assim a um homem como você... Essa mulher é perigosa. Você deveria afastar-se dela. –Kayn afirmou.

—De fato, ela é. Não se preocupe, já pretendia me afastar assim que completássemos a missão. –Zed permaneceu cabisbaixo. –É uma sensação péssima. Estou com medo do que poderia acontecer.

—Medo? –Syndra murmurou, enquanto os observava conversar.

Havia corrido alegremente em direção à Zed para contar-lhe sobre seu treinamento concluído com sucesso, porém deparou-se com uma conversa nada agradável aos seus ouvidos. Observou bem e tirou suas próprias conclusões sobre a situação, compreendendo que Zed estaria com medo de seus poderes, visto o machucado em seu abdômen. Aquela sensação nada mais era do que... Traição. Zed teria se afastado um dia depois de ter sido atingido por Syndra, implicando que estava muito assustado para aproximar-se novamente. Senão por qual outro motivo sua atitude mudaria tão drasticamente de uma hora para outra? Aqueles trechos da conversa faziam todo sentido, e ela percebeu que seus sentimentos jamais seriam correspondidos, pois nas mãos de Zed, era apenas um fantoche que seria utilizado e depois descartado como sempre fizeram.

Recordou-se de seu passado, e em como os anciões de Ionia tentaram enganá-la do mesmo modo que Zed estaria fazendo agora. Ofereceram-lhe treinamento para, no fim, restringirem seus poderes tornando-a impotente e limitada. Todos aqueles sentimentos misturados tornaram-se uma grande onda de ódio que consumiu todo o seu corpo, fazendo com que esmagasse a esfera que havia colocado no coração de Zed.

—Mestre, você está bem? –Kayn indagou, preocupado com a reação de seu mentor.

—Uma de minhas sombras simplesmente desapareceu. –Ele retrucou.

“Uma sombra”? Syndra pensou. Percebeu que Zed jamais teria lhe entregado sua vida, e que tudo era uma mentira. Desde o dia de seu reencontro, quando intrigou-se pela ousadia do homem até a conversa que teria escutado há alguns minutos, era tudo uma grande mentira. A vida entregue por ele era a de uma mera sombra, e não a sua própria. Zed não era mais digno de confiança, e Syndra agora possuía um novo objetivo: Destruir à todos que ousassem traí-la, sem poupar os que entrassem em seu caminho. Dirigiu-se à Ionia, retirando a vida de cada discípulo de Zed que simplesmente caminhasse em sua frente. Ela já não se importava com aquele mundo podre e cheio de traidores. Nenhuma vida seria poupada, e seu primeiro alvo já estava marcado.

—Quanto tempo isso ainda vai demorar? Já faz uma hora desde que começamos. –Zed bufou, impaciente enquanto aguardava pelo tratamento interminável.

O curandeiro recusava-se a responder, e quando Zed estava prestes à retirar o capuz do indivíduo, fora interrompido por Kayn.

—Mestre Zed? –Ele indagou, observando o lado de fora do quarto.

—O que foi? –Recuou sua mão, intrigado.

—Acho que você vai querer ver isso. –Ele sinaliza para que Zed observe o jardim, afastando-se da porta.

Zed levantou-se com o auxílio do mago, que o acompanhou até a porta enquanto prosseguia com sua magia de cura, e então deparou-se com vários de seus discípulos mortos, sempre com um mesmo padrão: um buraco que atravessava todo o seu tronco.

—Syndra... –Murmurou, devastado em seu interior. Perguntava-se o motivo que Syndra teria para fazer algo assim, porém percebeu logo que observou o batente de sua porta mais atentamente. Um retalho da roupa de Syndra teria ficado preso na farpa solta da madeira, implicando que ela provavelmente teria ouvido algum trecho de sua conversa com Kayn. –Vamos, Kayn. –Terminou, retirando-se rapidamente, como um vulto, em direção à Ionia.

—Seus ferimentos ainda não estão completamente curados! –Uma voz feminina chamou-lhe a atenção, porém já estavam longe.

—O curandeiro era uma mulher? –Kayn o questionou, porém não obteve resposta. Seu mestre estava concentrado em corrigir a besteira que havia feito, e isso poderia custar não apenas sua vida, mas a de muitos outros.

Chegando nas fronteiras de Ionia, tudo o que se podia ver era o caos e destruição. Inúmeros soldados mortos na trilha de corpos que Syndra havia deixado, além das construções incendiadas e o rio de sangue que manchava todo o gramado puro e belo do local. No fim dessa trilha mórbida estava Syndra, frente à frente com Irelia, um dos maiores poderes Ionianos, conhecida como a dançarina das lâminas. Seu contra-ataque era gracioso e belo, porém não deixava de ser fatal.

—Tenho apenas uma vida para dar por Ionia, e farei valer à pena! –Exclamou enquanto direcionava suas lâminas à Syndra, que revidava com toda sua força, visando realmente retirar a vida de Irelia.

Por um descuido, uma das esferas de Syndra ultrapassa a barreira de lâminas de Irelia, porém não é a dançarina das lâminas que recebe o ataque em cheio, e sim Zed, que entra em sua frente para receber o ataque.

—Eu sei que não é assim que você quer fazer as coisas, Syndra. –Ele se levanta com o auxílio de Kayn, percebendo que seus ferimentos –apenas parcialmente curados- estavam ainda piores do que antes.

—O que você sabe sobre mim, Zed? Você é apenas mais um dos milhares de traidores existentes nesse universo podre.

Zed aproximou-se em passos lentos enquanto lutava para manter-se em pé. Ficou frente à frente com Syndra, que formou uma nova esfera em sua mão para atacá-lo, sendo impedida quando Zed segura seus braços e se aproxima de seu ouvido para sussurrar:

—Nós somos iguais, se lembra?

—Nós não somos iguais! Você me traiu. Você tinha medo de mim o tempo todo, eu ouvi! –Ela se afasta rapidamente, dando três passos para trás.

—Eu nunca tive medo de você, Syndra! –Exclamou, irritado. –Tive medo de mim mesmo enquanto me interessava mais ainda por você à medida que passava tempo ao seu lado. Não apenas por seus poderes, mas por você, por inteira. –Completou, já com a voz fraca.

—Você... O que? –Syndra perdeu completamente as forças com a fala inesperada de Zed. Jamais poderia prever algo assim, porém não era nada desagradável perceber que seus sentimentos eram recíprocos, embora ainda não o tivesse perdoado por enganá-la com aquela sombra.

Irelia aproveitou a brecha que Zed havia criado e apontou suas lâminas para Syndra, acertando-a de raspão em seu braço direito.

—Syndra! –Zed dirigiu-se em direção à ela, segurando-a em seus braços enquanto preparava-se para sair dali. Olhou para Kayn com um olhar questionador, e seu pupilo assentiu, sabendo exatamente o que Zed faria agora. –Vamos para casa. –Ele completou, teleportando-os de volta para o templo ao trocar de lugar com uma de suas sombras.

—Zed... –Syndra murmurou, observando-o com cautela.

Sem dizer mais nada, Zed levantou sua máscara para deixar apenas seus lábios à mostra e selou-os nos de Syndra, enquanto ainda a segurava em seus braços. Toda a adrenalina vivida o fez esquecer sobre sua dor, e naquele momento nada mais importava.

—Você está bem? –Ele indagou, afastando-se para observar o machucado que Irelia havia feito na moça. Caminhou até o seu quarto com ela em seus braços, posicionando-a carinhosamente em sua cama e deitando-se ao seu lado.

—O que você disse antes... Era verdade? –Ela sussurrou, com as bochechas ruborescidas enquanto encarava os lábios de Zed que estavam à mostra.

—Agora é você quem está ignorando minhas perguntas. –Ele sorriu.

—Apenas responda, Zed. –Syndra retrucou, revirando os olhos com a falta de tato daquele homem.

—Sim, é verdade. –Zed retrucou, aproximando-se ainda mais de Syndra, deixando seus lábios à apenas alguns centímetros de distância. –Eu nunca teria medo de você, Syndra. Eu quero você por completo, sem restrições. –Completou, beijando-a apaixonadamente sem permitir uma resposta.

—Você está sangrando... –Ela afastou-se ao perceber o hematoma no corpo de seu amado.

—Então é melhor corrermos antes que a adrenalina pare de fazer efeito. –Zed sorriu, encarando-a com desejo.

—Eu não consigo me mexer muito bem devido à tontura e alguns hematomas... –Ela sussurrou em resposta, encabulada.

—Melhor ainda. –Sorriu maliciosamente e selou os lábios nos de Syndra, que puxou-o para mais perto, com desejo.

Ambos ansiavam pelo dia em que encontrariam alguém que os compreendesse. Um indivíduo que carregasse o mesmo fardo de poder e vingança, com a alma coberta de remorso. Sem perceber, o interesse que possuíam um pelo outro transformou-se em algo à mais, tornando-se o início de um romance completo, em que podiam agir como si mesmos, sem restrições. Um romance... Irrestrito.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha aproveitado a sua leitura! Muito obrigada por ler minha história :3



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