Bohemian Rhapsody escrita por Phoenix


Capítulo 1
Easy come, easy go


Notas iniciais do capítulo

Leia a história ouvindo a música. É imprescindível.



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Bohemian Rhapsody - Queen

Isso é a vida real? Isso é só fantasia? Não consigo enxergar nitidamente o que está a minha volta, o que está acontecendo ao meu redor. Vejo uma luz num funil e minha alma deseja segui-la, mas meu corpo está paralisado e não consigo comandá-lo. Pouco a pouco recordo-me do que aconteceu. Estou desmoronando como uma avalanche, ela não pode ser cessada e agora não posso mais fugir da minha realidade.

— Abra seus olhos! -  Escutei. Mesmo sem perceber parece que atingi o objetivo. – Está conseguindo ver esse céu azul.

Eu o vejo. Essa imensidão só me traz à memória que sou pequeno. Me sinto como aquele podre garoto amedrontado de anos atrás, mas não preciso da compaixão de ninguém. Não preciso da piedade de ninguém, porque eu vou e volto a hora que eu quiser, mesmo com altos e baixos, vou tão facilmente como o vento sopra. E não me importa para onde ele vai, nada mais me importa agora. Tudo acabou. Para mim.

~

— Mama, acabei de matar um homem. Coloquei uma arma contra sua cabeça... eu... puxei o gatilho e... agora ele está morto. – Disse-lhe desesperado, meus olhos arregalados mexiam-se rapidamente, e lágrimas escorriam pelo meu rosto desesperado. Ajoelhei-me, agarrei sua longa saia, abraçando suas pernas, era uma criança novamente. – Mama, minha vida começou agora, mas eu joguei tudo isso fora.

Minha mãe chorava e seus gemidos de tristeza terminaram de arrasar meu coração. Coração que mesmo destruíra. Eu tinha que ir embora, fugir, não podia ser um peso, me dirigi até a porta e por vê-la naquele estado, voltei e disse:

— Mama, não foi minha intenção te fazer chorar. – O olhar daquela italiana sobre mim era surreal. Como uma mãe consegue amar um monstro como eu? – Se eu não estiver de volta, a essa mesma hora, amanhã, continue... continue como se nada realmente importasse.

Fechei a porta da casa de mama, casa essa que me abrigou por tantos anos e escutei o som de sua voz. Um Pietro abafado se fez audível, mas algo ensurdecedor me atingiu em cheio.

Tarde demais. Havia chegado a minha hora. Vieram cobrar meu erro. Ao pensar em passar para o outro lado, um forte arrepio percorreu minha espinha, meu corpo dói o tempo todo. Quero despedir-me, dizer adeus a todos, mas existe apenas poucas pessoas. Ainda assim, eu tenho que deixar vocês todos para trás e encarar a verdade. Ela está bem a minha frente. Vários homens apontando suas armas para mim e o mais irritado é o irmão do cara que matei.

Vejo uma luz num funil e minha alma deseja segui-la, mas meu corpo está paralisado e não consigo comandá-lo.

— Abra seus olhos! -  Escutei, mesmo sem perceber parece que atingi o objetivo. – Está conseguindo ver esse céu azul.

— Mama. – Digo gemendo de dor. – Eu não quero morrer, mas às vezes eu não queria nem ter nascido. Perdoe-me.

Conforme minha visão escurece, passa-se um filme inteiro de minha vida, vejo claramente meus erros, meus acertos. Toda a infantilidade que não consegui abandonar, todas as lágrimas que fiz minha mão derramar. Sinto medo. Muito medo. Não posso fazer nada por mim, nada está no meu alcance agora. O arrependimento dói mais que o tiro que levei, a agonia de saber que dependo da sorte apenas, é enlouquecedora, queria voltar atrás e fazer tudo diferente, mas eu tenho que aceitar, aceitar a minha dura condenação. Aceitar que eu plantei coisas muito ruins durante toda a minha vida e agora chegou a hora da colheita. A maldição já está grande e madura.

Ainda que de forma sombria, percebo a silhueta do meu algoz.

— Palhaço, palhaço. Agora você vai dançar.

Conforme minha mente divaga entre o real e fantasia, vou lembrando de meus momentos de infância na Itália.

 Raios e relâmpagos, estou muito assustado! Minha mãe abafa seus sons escutando ópera: “Galileo, Galileo Figaro, Magnifico

Escuto a voz de minha mãe chorando ao meu lado, implorando para alguém. Ela diz que eu sou um pobre garoto, sem amor.

— Ele só é um pobre garoto de uma família pobre, poupe sua vida dessa monstruosidade! Ele sofrerá o suficiente com essa vida infeliz!

— Cale-se senhora, ou o problema dele se tornará seu também!

Sinto como se estivesse indo embora. Fácil foi para vir a este mundo e fácil será ir dele. Mas me deixarão ir?

— Em nome de Deus, deixem meu filho ir embora.

— Não o deixaremos.

— Por favor! Em nome de Deus, deixe-o

— Jamais deixaremos senhora, acalme-se ou sofrerá as consequências.

— Deixem-o, deixem-o ir, por favor.

— Não o deixaremos, ele matou nosso irmão! Não o deixaremos.

Não, não, não, não, não, não. Olha o que estou fazendo com a minha mãe. Mamma Mia, mamma mia. Porque não posso simplesmente morrer logo? Eu sinto como se precisasse me arrepender de meus pecados ou então Belzebu teria um diabo reservado para mim.

Para mim?

Junto o resto de forças que me sobraram, sou italiano e se é para morrer, será com orgulho! Não deixarei que violem meu corpo, tirem minha integridade até mesmo na morte, atirando-me pedras, cuspindo em meu olho. Eles acham que vão me foder sem me beijar? Eles não podem fazer isso comigo, meu amor. Eles não poderão me matar a seu bel prazer. Comigo não! Meu amor eu vou provar para você que fui homem até nos últimos segundos. Vou te provar que todas as nossas fodas valeram a pena. Sim baby, elas valeram até a minha morte.

Eu só tenho que sair daqui, me levantar daqui! Sim, sim, eu farei isso com o resto de minhas forças. Espere e verás do que sou capaz.

Mama, obrigada por tudo o que fez por mim. Pelo pão que deixou de comer para me alimentar. Pelo carinho que me deu mesmo quando eu fui rebelde, mesmo quando neguei seu amor. Sei que não posso falar, mas a senhora me escuta com o seu coração. Nossos corações batiam na mesma velocidade, mas agora o meu está mais fraco. Me perdoe por isso.

Nada realmente importa, qualquer um é capaz de ver isso, nada realmente importa. Coloco a mão em minha cintura e tiro a arma que está presa ao cinto de minha calça. Tudo parece acontecer em câmera lenta, mas isso não importa. Nada realmente importa para mim.

Escuto mais um som estridente e algo se chocando contra meu corpo. Agora estou indo em direção aquela luz e ao que me espera daquele lado.

Nada mais importa para mim.

O que me surpreende é essa figura que me espera do outro lado da vida.

De qualquer forma o vento irá soprar.


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