Estrelas Perdidas escrita por S Q, Lara Moreno


Capítulo 6
Luz na Escuridão


Notas iniciais do capítulo

"Engate a mente na sua boa estrela e reconheça que sua luz interior o conduzirá sempre para cima e para frente"



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Benjamin tentou falar alguma coisa comigo logo depois, mas eu me virei para o outro lado sentido uma dor muito grande. Não emocional, física mesmo. Fortes pontadas na cabeça, como se estivessem sugando meu cérebro e girando dentro do crânio. Não sei exatamente o que aconteceu depois, porque não conseguia sentir mais nada de tão intenso que foi. Aos poucos, o que pareciam fogos de artifício em forma de socos no meu encéfalo foram se acalmando e quando me dei por conta estava deitada de novo, a peruca na mesa de cabeceira, vários enfermeiros ao meu redor.

— Calma, está tudo bem. Você ficou um pouco ansiosa e sua mente ainda está frágil, só isso. Respire fundo, procure relaxar, já estamos cuidando de você e só checando se não houve mais nada.

Tinha algo claramente errado com aquela declaração. Meu cérebro não estava "frágil", estava era trabalhando igual um louco tentando processar alguma informação. Só não havia entendido ainda qual era. Uma enfermeira, mais nova, usando um crachá escrito "estagiária" veio falar comigo sorridente:

— Não foi nada demais, essas crises de estresse são comuns. Não precisa ficar assustada. — Eu tava com uma expressão tão desesperada assim para todo mundo mandar eu me acalmar? — Olha, nós pedimos para seu amigo aguardar lá fora, mas pode conversar comigo se quiser. Meu nome é Milena e o seu?

— Ri... AAAAAAAAAiiiiiiiiiiiiiihhhhh!! — AQUILO doeu. Muito. De verdade. Impossível explicar a dor. Só posso garantir que uma facada teria sido quase um carrinho do lado da pontada que me deu. Todos os enfermeiros ignoraram a recomendação de deixar a paciente "calma" e começaram a falar ao mesmo tempo:

— Sua tonta! Ela está com quadro de amnésia retrógrada!

— Esqueceram de passar o prontuário?!

— M-mas ela começou a dizer o próprio nome, tenho certeza!

— Só o início, né? Por que será?!!

— Não estudou isso ainda não, sua mula?

— Mas eu fiz ela lembrar um pouco!

— Nós que estávamos errados achando que ela teve uma crise de estresse, admitam!

— Isso não tira a irresponsabilidade de ninguém!

Eu sei que enquanto alguma força invisível fazia vudu com a minha cabeça alguém teve a brilhante ideia de chamar o plantonista, que foi dispensando os enfermeiros e começou a me examinar animado. Voltou a fazer as perguntas inúteis, mas quanto mais ele me perguntava, mais a dor passava e mais nada vinha na minha cabeça. Foi um lampejo momentâneo. Sinceramente, se eu tivesse que passar por isso para cada sílaba da minha vida pregressa, acho que não seria tão ruim assim seguir a vida desmemoriada.

O médico, ao terminar, me disse que era normal não lembrar tudo de uma vez porque esses avanços são lentos mesmo. Mas ele disse também que para o meu estado, eu deveria ficar esperançosa pois ocorreu rápido demais. De qualquer forma passaria o resto do dia em observação, o que significava dormir com eletrodos e enfermeiros anotando os sinais que aparecessem na tela do aparelho.

Também significava que Benjamin não me veria mais hoje. Confesso que fiquei aliviada. Não sabia se queria realmente ouvir ele me dizendo que não voltaria mais. Então fiquei o resto do dia concentrada em tentar lembrar resto do meu nome, mas nada me vinha pela cabeça.

Nesse dia sonhei que estava caída no asfalto duro e tudo ao meu redor era gigante e escuro. Aparecia um ser disforme e me oferecia mão para que eu levantasse. Fiquei primeiro com medo, mas o monstro estalou os dedos e num passe de mágica estava tudo iluminado. Ele me ofereceu a mão de novo. Dessa vez aceitei e no momento em que encostei nele o monstro se transformou em um magnífico espelho. Tentei me ver nele, mas não tinha reflexo.

Acordei bem confusa. Nem só pelo sonho, mas por que já tinha um camarada me observando assim que abri os olhos.

— Tá melhor? — Ele perguntou apreensivo. Tinha um sorriso frouxo no rosto.

— Eu não sei. — Respondi confusa. Depois de tudo que aconteceu acordar com ele ao meu lado me deixou bastante ansiosa — O que está fazendo aqui tão cedo? Pensei que tinha dito que não precisava...

— Desculpe, mas eu não quero mais te deixar sozinha. — Ele respondeu como se não fosse nada demais.

Fiquei meio surpresa. Ergui uma sobrancelha em desconfiança.

— Táá...

O que mais eu poderia falar? Entramos num silêncio constrangedor. Depois de não sei quantos minutos, parecia uma eternidade, ele pigarreou:

— Você.... tá de boa com isso?

Hesitei mais um pouco para responder. Acho que ainda era insegurança. Porém, como ele disse que estaria ao meu lado... valia a pena dispensar o único amigo que eu tinha? Por fim, respondi, dando um pulinho repentino na maca:

— Claro que eu tô! Mas... não fica me olhando dormir, por favor, isso é estranho!

Benjamin riu descaradamente.

— Foi mal. É que eu não aguentei esperar lá fora você acordar.

— É tão chata assim a sala de espera? — Perguntei.

— Nem é, mas esse horário não tem ninguém pra conversar e se tem, prefere dormir ou ficar quieto.

— Entendi. Você não consegue ficar muito tempo calado né? — Observei.

Ele corou um pouco e riu, acenando afirmativamente com a cabeça, sem graça. Aproveitei a deixa e mandei logo:

— Mas sabe que eu não vou falar com você enquanto eu estiver dormindo, né?

— Claro que sei. — Aí que ele começou a rir com vontade. — Mas você fala dormindo...

Se antes era o cara ao meu lado que estava sem graça, ele conseguiu virar o jogo. Existiria alguém mais vermelha do que eu? Eu me desesperei. Que tipo de coisas eu falaria dormindo? Algo comprometedor? Ainda vem que ele teve o bom senso de se explicar. Mas não sei deixar de gargalhar mais alto ainda.

— Eu tava zoando! — Declarou. Obviamente comecei a dar tapinhas no braço dele. Porém, confesso que eu mesma já estava rindo daquela idiotice.

— Tá bom, tá bom, parei. — Falou desviando dos meus golpes fracos, como se fossem realmente ameaçadores. Aos poucos, depois de muitas e longas respiradas fomos voltando a ficar como duas pessoas normais dentro de um hospital: sérios. De repente, me toquei de que precisava dizer uma coisa para ele:

— Obrigada

— Por nada. — Botou a mão na cabeça e depois tirou e colocou de novo como se tivesse tirado um chapéu. Encarei ele, incrédula.

— Essa era a hora que você perguntava "pelo quê"!

Ele então se aproximou me olhando nos olhos, com uma carinha de menininho esperando um doce. Não sei por qual motivo, aquilo foi mais intenso do que deveria ser.

— Pelo quê?

— Aff, esquece, já quebrou o fluxo do diálogo...

— Mas agora fiquei curioso... — Fingiu ficar bravo, cruzando os braços e repetindo a pergunta. — Pelo quê?

Suspirei, rendida.

— Eu tava precisando rir um pouco.

Ele sorriu e ficamos em silêncio. DE NOVO. Aquilo estava ficando bastante bizarro. Eu precisava falar alguma coisa. Acabei soltando sem pensar, o que ainda não tinha nem percebido que estava atormentando o fundo da minha cabeça:

— O médico te disse sobre o que aconteceu ontem?

Benjamin se empertigou talvez mais nervoso do que eu assim que terminei a pergunta.

— Bom, na verdade, eu ainda tava aqui quando tudo começou, mas depois fui embora e hoje ele não disse nada...

— Então acho que eu tenho uma boa notícia. Quer dizer, é meio estranha mas... melhor que nada.

— E qual é? — Perguntou curioso, arqueando as sobrancelhas espessas.

— Eu... tive um vestígio de memória. Consegui começar a dizer meu nome para uma enfermeira, mas no meio eu senti... Argh, uma dor indizível e eu simplesmente esqueci... o resto dele. Tá, contando, isso parece bem tolo.

— Ah não, é bem legal! — Sorriu animadoramente. — Você lembra agora o início dele?

— Só sei que começa com algo mais ou menos parecido com "Ri". — Respondi frustrada. Ele me olhou sapecamente.

— Ri? Beleza, Ri?

— Ai, não me chama assim... Ri parece que eu tô sempre rindo. — Falei fazendo uma careta.

— Verdade. — Ele respondeu com um risinho.

Nesse momento, me toquei de uma coisa. Só tinha um nome comum feminino (que eu soubesse) que começava com "R" e "I".

— Acho que Rita fica bom. Ao menos, por enquanto.

— Então posso te chamar de Rita?

— É o que temos. — Falei dando de ombros, mas sorrindo. Achar um nome para mim era um avanço que não sei se alguém fora dessa situação pode fazer ideia. Acho que Benjamin notou a cara boba que eu fazia pensando nisso pois começou a rir mais uma vez. Lá vinha.

— Mas é pra você "RIR, tá"? Entendeu?

Era uma piada tão idiota que... realmente não tive como não rir.

— É, funcionou. — Falei.

Ele deu um sorrisinho em resposta. Ainda estava impressionada, como apesar de tudo ele continuava do meu lado, me animando. Honestamente, acho que eu não faria o mesmo. Quer dizer, só dá para achar mesmo, porque nem lembrava de como agia, né? Era tudo tão insólito... Acabei me dando conta de algo:

— Meu Deus, eu escolhendo meu próprio nome... Tem certeza que vai se meter nessa roubada? Se quiser pular fora, aproveita e vai.

— Tá, então tô indo. — E eis que se levantou e começou a ir em direção à porta. Mas depois voltou e sentou de novo. — É claro que tenho certeza. Não é melhor escolher o próprio nome? Ou você prefere que escolham um ridículo para você?

— Vendo por esse lado...

— E você ainda pode mudar quando quiser pra outro que comece com Ri.

— Tipo? — Perguntei curiosa. Qual outro nome poderia ser? Existiria, além de Rita, algum outro que também se iniciava com algum som ao menos parecido?

— Sei lá... Rihanna? — Benjamin disse. Ele poderia ser ator porque fingiu bem que realmente aquela era uma opção a se considerar.

— Hahahahahahah, essa é boa! Quais as chances de uma artista famosa estar desaparecida em um hospital público de niterói?

Ele voltou a rir, zoando com a minha cara.

— Você acha que pode ser alguém famosa? Até agora não teve nenhuma notícia sobre alguma artista desaparecida... zero?

— Quem está vivendo entre as pessoas normais não sou eu! Sei de nada!— Brinquei

Ele entrou na onda:

— Ahhh, agora você é um ET também?

— Sei lá, vai que meu nome é Ri-El? — Chutei um nome de alienígena que parecia justo.

Ficamos nessas brincadeirinhas até que ele olhou o relógio e saiu correndo estabanado, estando atrasado para o trabalho. Mas antes de atravessar a porta, fez algo diferente. Pegou a peruca que tinha me dado, pôs novamente na minha cabeça, ajeitando-a com cuidado e fitou meu rosto por um tempo. Depois simplesmente saiu, falando:

— Seja quem você quiser.


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Notas finais do capítulo

Aqui é a S Queen de novo (agr com um nick mais "sério" p uma fic paralela). Desculpem a demora, tive alguns problemas técnicos, o capítulo foi postado mas simplesmente sumiu! Faremos o possível para que não se repita. Espero que a demora tenha compensado. Até o próximo!



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