Estrelas Perdidas escrita por S Q, Lara Moreno


Capítulo 32
Starstruck


Notas iniciais do capítulo

Here I am, with all my heart, I hope you understand, I know I let you down, but I'm never gonna make that mistake again, you brought me closer to who I really am" - What You Mean To Me, Starstruck



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Quando saí daquele programa, tudo que queria era falar com Benjamin. Ele devia estar uma fera comigo. Me apressei pelos corredores da emissora, nem dando ouvidos para o que Edgar falava, muito menos os demais produtores do canal de TV. Porém, quando estava chegando na saída dos estúdios, um braço me deteve. Era minha mãe.

— Querida? Onde você vai? Acabamos de nos ver e você nem falou direito comigo.

Verdade, isso foi mancada minha.

— Cíntia, eu...

Ela mandou um olhar voraz para mim, que não entendi de primeira.

— Ah, desculpe… mãe.

— Desculpo se o meu amor vier passar a tarde comigo. Poxa, sou tão ruim se tentar recuperar o tempo perdido com minha filha? -comentou, alisando minha testa.

Não consegui falar mais nada com esse argumento, então apenas lhe segui até seu carro, com o coração apertado por causa de Benjamin. O que me consolava era que ainda podia ligar pra ele do meu celular e explicar tudo. Uma imensa maravilha, não fosse por um detalhe: não tinha trocado meu pré-pago. Ou seja: “Operadora informa, créditos insuficientes para completar a ligação ou entrar na internet”. Ligar a cobrar para ele nem valia a pena, já que a pessoa era mais dura ainda do que eu.

“Mas e o wi-fi da mansão?” vocês devem estar pensando. Pois bem, justamente naquele dia, estava um técnico mexendo na rede de lá, o que significava dia inteiro sem internet.

Foi uma tarde complicada, não porque eu fosse viciada em telefone e não soubesse viver sem internet, mas porque precisava muito falar com meu namorado, embora também não tivesse coragem de deixar minha mãe sozinha e incomunicável depois de tanto tempo sem conseguir conversar com ela.

Bem, o início da tarde foi bem agradável, ela mostrou um caderninho que eu tinha quando mais nova, onde estavam anotadas as primeiras letras que escrevi. Algumas eu lembrava, o que foi motivo de comemoração entre a gente. Achei ela muito empolgada com aquilo, e me perguntei se não teria herdado esse meu jeito alegre dela. Então, ela foi me mostrar o estúdio montado no fundo do terceiro andar. Eu quase surtei. Primeiro: tente visualizar um estúdio, tipo daqueles clipes que mostram os cantores preparando a música. Uma belezinha dessas. Bem dentro de uma casa.

Fiquei muito deslumbrada. Tanto que nem notei a entrada de Edgar, não só na nossa casa, como no exato “cômodo” onde estávamos. Assim, levei um baita susto quando a criatura apareceu por trás, metendo o mãozão nas minhas costas.

— E aí, Riley? Voltando a aproveitar a vida de pop star? Ou devo dizer, Ritinha? - Comentou debochado.

Não respondi a criatura. Meus pulmões não deixavam, só me faziam ofegar pelo susto. Ainda bem que Cíntia parecia ter mais bom-senso, e assim se pronunciou:

— Estava mostrando alguns instrumentos de trabalho antigos dela.

Edgar esfregou as mãos.

— Ah, ótimo! Espero que se re- habitue com eles rápido porque temos muito trabalho a fazer.

— Como assim? - foi só que consegui dizer.

— Ora, Riley, como acha que ficou sua agenda de shows durante esse tempo? Tivemos um duro trabalho para cancelar e botar tudo em dia, fora as multas do patrocinadores… Agora eles estão benevolentes com a divulgação do caso, mas quanto tempo acha que isso vai durar?

Não sabia exatamente o que responder. Falei que precisava ainda de algum tempo para me re-adaptar, entender melhor quem eu era e tudo que tinha acontecido.

Ele riu. Disse apenas volto amanhã, deu um abraço em minha mãe, e saiu. Acompanhando as risadas dele, Cíntia me abraçou por trás.

— Querida eu entendo sua situação. O que quiser fazer eu te apoio. Contanto que não deixe seu lindo sonho para trás.

Havia tanta emoção em seus olhos que eu acreditei. Parecia que ela falava aquilo por pura preocupação comigo. Devolvi o abraço e então saímos do estúdio. Quando fui olhar a janela, levei um susto. Já estava de noite. Cíntia aproveitou a desculpa para pedir que eu dormisse lá. Foi uma conversa meio longuinha, mas o veredito final foi: quem já estava o dia inteiro sem falar com o namorado que aguentasse a noite também.

No dia seguinte, bem, cedo, aproveitei que minha mãe estava grogue de sono, dei-lhe um beijo e finalmente saí. Chamei um táxi, esperando que os royalties pagos pelas minhas músicas dessem conta da corrida e fui direto para a casa de Benjamin. Como já era de se esperar, senti ele um pouco distante, mas nem mencionou a minha declaração na entrevista. Eu deixei como estava, com medo de que cutucar o problema piorasse as coisas. Na verdade, ele parecia mais preocupado com minha estadia na mansão do que com qualquer outra coisa. Achei uma desconfiança meio estranha porque na verdade aquela era minha casa, não é?! Mas tinha realmente zero vontade de discutir naquele momento, então mudamos de assunto para o teatro de Ben. Era tão bonitinho ver ele todo empolgado falando das peças. Eu estava feliz e orgulhosa de verdade por ele estar começando a conquistar seu sonho. Por isso, prometi a ele que iria assisti-lo.

Devia ter feito uma nota mental sobre promessas, porque sempre que a gente promete a alguém que vai fazer algo parece que todo o universo conspira para que você não cumpra o que disse. Foi exatamente o que aconteceu.

Edgar não estava de palhaçada quando falou que meus patrocinadores não seriam benevolentes por muito tempo. Naquele mesmo dia, ele marcou uma reunião comigo e Cíntia por telefone. Seu tom de voz na ligação não era nada amigável. Voltei à mansão no fim da tarde e lá encontrei minha mãe sentada, com cara de aflita enquanto Edgar andava de um lado para outro roendo as unhas, com a testa encharcada de suor. Deu um pulo quando me viu chegar. Caminhando hostil na minha direção, jogou vários papéis na minha mão. Demorei para reconhecer o que eram, até que minha ficha caiu ao ver números bem altos com um sinal de negativo ao lado. Com a voz fraca, constatei...

— As multas…

— Não só multas de patrocinadores, mas também multas contratuais com as casas de show onde deveria ter se apresentado no período em que esteve desaparecida, canais de TV, repórteres e mais uma tonelada de empresas que tinham algum vínculo com você! - ele declarou berrando e bufando pelas narinas.

Fiquei tão atordoada que levei alguns segundos para conseguir articular o que eu queria falar, tempo suficiente para ele atacar de novo.

— Enquanto esteve lá de férias com seu namoradinho, nós tivemos que resolver todas essas SUAS pendengas! Você tinha hits para ser lançados, fãs desesperados, mas quem teve que assumir todas essas suas responsabilidades.

Fiquei chocada. Ele não podia estar querendo dizer que tudo aquilo era culpa minha. Eu quase morri e ele tratava aquilo como “irresponsabilidade”? Olhei para minha mãe, pedindo algum apoio. Ela sorriu amarelo.

— Querida, veja bem, a gente sabe que você andava numa fase bem rebelde antes de sumir. Aquela última ligação que tive com você, sua voz estava tão alterada que… bem, não precisa mentir para nós, se não tiver realmente perdido a memória.

Eu sentei no enorme sofá branco e vazio no meio da sala onde estávamos. Não conseguia dizer nada por mais que tentasse. Só chorar. Cíntia veio ao meu lado e colocou a mão no meu ombro, como se mostrasse compreensão, mas eu não sei se isso melhorou ou piorou as coisas.

— Bem, esse mês agora, teremos que correr atrás do prejuízo. - declarou Edgar.

Meus dias seguintes foram engolidos por uma rotina insana composta de compromissos acumulados ao longo dos últimos meses . Ao longo deles, ao menos descobri porque “riley” fazia algumas aparições públicas enquanto eu estava na casa de Benjamin: eles fizeram um acordo com os empresários mais intransigentes, e contrataram uma cover para me substituir nos palcos, enquanto me dublavam.

O talento dela era inquestionável, porque suas performances conseguiam ficar realmente iguais aos meus vídeos antigos. Tanto que a maior parte dos fãs e repórteres deixou passar batida essa troca. Mas não pude deixar de me sentir mal pela farsa. De qualquer forma, a palhaça agora era eu, que tinha que cantar músicas que não gostava, fazer gestos nada naturais, vestir roupas brilhantes e apertadas que não faziam meu estilo e dar declarações que eu não concordava. Compulsivamente.

Só consegui respirar dessa loucura no fim do mês. Era uma quarta-feira e no caso, um patrocinador que tinha marcado uma reunião para aquele dia disse que preferia que eu descansasse ao invés de propor as novas propagandas que eu participaria. Edgar só liberou porque o homem garantiu que não iria cortar a contribuição da marca para o novo CD.

Era uma quarta, o queria dizer que durante o dia, Benjamin estaria no mercado trabalhando. Chamei meu motorista e fomos correndo para lá. Mas não entrei. Porque de fora dava para ouvir a voz de Benjamin nos altos falantes:

— Gente, dá uma força, vai? A mulher que eu tava namorando me largou sem dar explicação. nem sei mais o que a gente é… Só levem a comida pra casa, pra eu não me sentir um completo inútil aqui falando com vocês… Pode ser? Fiz até uma música, talvez compondo eu seja uma pessoa superior, não é mesmo? Lá vai...

 

"A dona precisa do arroz

O arroz, do mercado

Mercado precisa de mim

E eu preciso do dinheiro!

Quem eu quero não me quer

Quem me quer, não vou querer

Mas não vou sofrer sozinho

O concorrente vai sofrer"

 

Eu não podia acreditar na fossa em que deixei Benjamin. Sabia o que devia fazer: sair correndo até lá e declarar o quanto eu amo esse homem. Mas eu falaria aquilo e voltaria no dia seguinte aos meus afazeres, nos afastando de novo... Então, ao invés de querer correr ao seu encontro, eu senti uma vergonha tão avassaladora do que minha vida virou, que preferi apenas sair dali, para livrar Benjamin de mim, de uma vez por todas. 


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Notas finais do capítulo

Tradução das notas inciais: Eu estou aqui com todo o meu coração, eu espero que você entenda, eu sei que te decepcionei mas eu nunca mais cometerei esse erro outra vez, você me trouxe para mais perto do que eu realmente sou"



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