Estrelas Perdidas escrita por S Q, Lara Moreno


Capítulo 28
No Fundo do Mar Negro


Notas iniciais do capítulo

https://www.youtube.com/watch?v=ZSM3w1v-A_Y



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761218/chapter/28

Tem momentos na vida que a gente simplesmente precisa desabafar para não enlouquecer. Desculpa por pegar a fala do Benjamin de novo, mas agora vou fazer a tagarela porque lembrar da minha mãe foi emoção demais.

Assim que o cara estranho que se chamava Edgar falou na existência dela, eu entrei em uma espécie de transe. Aos poucos algumas imagens foram tomando forma na minha mente:

Eu estava sentada de frente a um espelho. Na imagem refletida via uma menina de cabelos loiros e um olhar de indiferença. Devia ter uns 15 anos. Alguém de mãos macias e muito elegantes, com unhas de acrigel, passava um creme nos meus fios. Falava empolgadamente de planos para o meu futuro.

Estávamos juntas em uma loja. A mesma mulher, com cabelos tão loiros quanto os meus falava animadamente enquanto escolhia diversas roupas chamativas de grife para mim. Eram muitas, dos mais diversos estilos. Enquanto eu observava, ela falava algo do tipo:

— Vai boba, prova logo, tenho certeza que vai ficar bom em você!

Saindo do provador, eu ri, pois a reação dela com o look que escolhi foram palminhas eufóricas.

Em outra lembrança, eu já parecia mais velha. Estava no mesmo quarto da primeira imagem que me veio à mente, mas sozinha, com as portas e a janela trancada. Eu chorava sentada num canto do quarto, quando minhas lágrimas foram interrompidas ao ouvir uma voz afinadinha e doce do outro lado da porta cantando para mim:

“take another chance, take a fall, take a shot from you

I need you like a heart needs a beat

But it’s nothing new”

(Tente outra opção, se deixe cair, fuja da bala que vem na sua direção

Eu preciso de você como um coração precisa bater

Mas isso não é novidade)

Quando acordei do transe percebi que só tinha uma coisa certa a fazer. Ainda que me sentisse mal só de falar com aquele homem:

— Me deixa encontrar ela.

Rolou um pequeno barraco no apartamento assim que eu disse isso, com o Edgar querendo inventar novos tipos de contratos musicais para eu ver minha mãe, o Benjamin berrando com ele pela cara de pau, a Pietra xingando todo mundo de louco e o Alex vindo para a sala, surpreso com o barulho. Tudo isso sem o cara nem passar da nossa porta. E para completar a cena, enquanto Ben e Edgar quase se estapeavam dava para ouvir ao fundo “festa no apê” tocando alto no apartamento de um vizinho.

— Tenta vir, colega! Tá fazendo chantagem judicial por ela ter abandonado teu contratinho? Meu irmão é advogado, a gente te processa por importunação ao lar niteroiense!

— Eer, Benjamin na verdade essa acusação ainda não existe oficialmente…

— Ainda.. - Meu namorado respondeu, com os olhos vidrados no homem apoiado no batente da nossa casa, transbordando um ódio que eu nem sabia que ele era capaz de sentir. Percebi que precisava fazer alguma coisa.

— Benjamin- falei com a voz mais suave que consegui fazer naquele momento - eu sei que você só quer me proteger mas… talvez eu precise conversar direito com o Edgar. Ver com calma o que ele tem para dizer.

E assim, quando dei por mim, estava já no carro do cara, uma luxuosa pick-up, bem diferente do carro popular de Alex. Edgar poderia até me dar ânsia, mas tinha lábia. Foi conversando comigo pelo prédio, indo bem lentamente em direção ao carro e eu, inocentemente, só conseguia fazer perguntas sobre minha mãe. Nem me liguei que ele queria dar uma volta comigo até que ele abriu a porta depois de uns 20 minutos de diálogo. No início ele ainda falou das minhas multas contratuais com a sua gravadora, por ter largado os palcos em época de turnê, o trabalho que teve para achar dublês… Pensando bem, quem deveria ter reclamado por isso era eu, a artista substituída em um passe de mágica. Mas ele percebeu que eu não me importava com nada disso naquele momento, nem me lembrava, não é? Então, o infeliz foi mudando o tom de voz, falando de como minha única parente queria muito ver… pronto, fui tapeada, e só me dei conta quando ele já tinha dado a partida no carro, e trancado todas as portas. Acho que foi o clique delas que me fez sair do transe.

Inicialmente me senti como que em pânico. “O cara que rondava meus pesadelos, está te levando para algum lugar que você não conhece”- Gritava um alerta em minha cabeça. Depois, foi chegando a culpa por ter largado meus amigos preocupados comigo lá no apartamento.

— Não adianta remoer. O mundo virou de cabeça para baixo da noite para o dia e agora você está aqui. Vamos só ver onde isso vai dar. - Dizia para mim mesma a fim de me acalmar.

Em uns quinze minutos chegamos em um muro com um enorme portão branco. Edgar falou algumas coisa para um pequeno interfone que tinha na frente da entrada do terreno. O portão começou a escorregar para o lado, automaticamente. Assim que toda a paisagem atrás dele fora obstruída, fiquei estarrecida: tinha uma mansão imponente ali, com piscinas, decks, churrasqueiras, salões e todo tipo de área de lazer que vocês possam imaginar, em volta dela.

— Bem-vinda de volta. - Edgar falou.

Não respondi. Estava estarrecida observando o verdadeiro palácio que se colocava imponente na frente dos meus olhos. Fiquei em choque por alguns segundos até que uma voz me fez voltar à Terra.

— Edgar? O que faz aqui a essa hora?

Prendi a respiração. Era ela.

Vocês devem estar esperando agora aquela cena linda de reencontro em que a protagonista, se portando como uma verdadeira princesa da Disney, vai placidamente de encontro ao seu trono de direito Seria bastante lindo, se tivesse sido assim.

Na realidade, eu dei um guincho de emoção, e esse mesmo sentimento confuso me fez também dar um pulinho no banco do carro na hora que Edgar abriu a porta traseira. Resultado: caí sentada para fora do carro.

Depois dessa minha entrada triunfal, eu esperava ser enxotada daquele lugar na mesma hora, mas uma mão veio na minha direção, servindo de apoio para que eu me levantasse. Assim que me recompus, vi uma mulher maravilhosamente vestida, o rosto coberto por uma grossa camada de maquiagem e um cabelão louro sem nenhuma sombra de frizz.

— Calma, menina, o que houve? Edgar! Quer me explicar o que está acontecendo?!

— Encontrei a Riley.

Ela deu uma risada alta. Balançando a cabeça, foi me observar melhor, até que encontrou o fundo dos meus olhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estrelas Perdidas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.