Estrelas Perdidas escrita por S Q, Lara Moreno


Capítulo 24
Sombras do Passado


Notas iniciais do capítulo

"My neighbors think I'm crazy but they don't understand you're all I have" - Bruno Mars- Talking to the Moon



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Imagina que você está de boa: sucesso na entrevista; ônibus chegando rapidinho e ainda vazio, um dia de Sol que ele não bate na sua cara... Coloca o fone e põe no aleatório para ouvir. E aí, a primeira música a tocar é uma da Riley.

"Uma piscadinha

Um beijinho

E você já é meu

Todo meu

Porque eu sei conquistar

Ah ah ah

Porque eu sei encantar

Ah ah ah"

Você vai ouvindo essa voz e música sem defeitos até chegar em casa, porque seu gosto musical é bom. O motorista acha que está numa corrida de fórmula um, então rapidinho você está na porta da sua casa. Chegando lá, desliga o som. Mas continua escutando a Riley cantar. Alguém deve ter colocado uma música dela no som alto. Tudo tranquilo e bonito até pisar na cozinha e perceber que a melodia estava saindo da boca da Rita.

Pausa para o surto. A RITA ROUBOU A VOZ DA RILEY?! Ou então a Riley roubou a voz da Rita?! Quem roubou a voz de quem? Eis a questão, um problema digno para estudar entre filósofos. Porém, eu ainda achei que conseguia resolver sozinho, pois eu tinha certeza que se alguém tivesse roubado a voz de alguém, essa pessoa seria a Riley, porque nos últimos meses descobri que a Rita é um ser humano incrível! A outra, enquanto isso, parando para pensar fez a gente esperar horas debaixo do sol quente para no final, só os privilegiados conseguirem enxergar a sujeita. Mas depois eu falo mais sobre isso. Vamos voltar ao surto que eu dei que foi acalmado, duplicou, triplicou quadruplicou e não lembro mais o resto quando ela me contou todas as memórias do passado que vieram em sua cabeça.

Me senti péssimo por tudo que ela passou. Ela é uma pessoa tão maravilhosa com tudo e todo mundo! O pouco que lembrou comprova que ela não merecia passar por aquelas críticas, desgastes e abandono. Eu não fazia ideia de como ajudar ela, por isso acabei indo para o quarto pensar. Quando estava na cama, meus pensamentos me levaram ao único show que fui da Riley. 

Era de tarde, mas o calor estava um absurdo, ninguém mais aguentava esperar naquela fila que eu não conseguia ver o início, nem o fim. Fomos eu, Kaio e mais uns três amigos da escola. A gente estava tão cansado que até pensava que ir para aula que matamos seria mil vezes melhor que estar ali. Minha mãe não parava de me ligar para perguntar se o show já tinha começado e reclamar que tinha gastado muito dinheiro para uma bonita já super bem de vida atrasar. Enfim, depois de horas, abriram os portões e eu lembro até hoje da cena.

— Anda, passa por cima, filhote de boi!

— Não tem como, tá engarrafado! Não tá vendo, animal?!

— Dane-se, cria asa e voa, radiação!

— Olha aí, a gente já tá quase chegando. Não tem paciência, né? Eu hein, parece um pincher, só falta tremer, porque o ódio já tem.

Após esse diálogo cheio de carinho e amor, entramos para perceber que já tinha uma multidão na frente e só dava para enxergar a parte de cima do palco. A decepção aumentou ainda mais quando o amor da minha vida na época demorou mais muito tempo para começar o show. No momento, eu amei tudo o que ela fez, mas agora lembrando, percebo que a gente mais cantou que ela — o que não me deixou achar a conexão menos linda na hora—porque ela basicamente só dançava. E eu e meus amigos não conseguimos ver nada. O máximo que enxerguei foi na hora que ela passou o microfone para um burguês safado lá da frente cantar com uma voz de quebrar os tímpanos uma letra nada a ver. Sem ironia, ainda achei aquele show mágico.

Só naquele momento comecei a pensar que talvez ela fosse obrigada a dançar, sendo que amava mesmo compor e cantar. Naquele dia mal soltou a voz, talvez fosse porque ela estava exausta dos tantos shows que faz por mês. O atraso pode ter sido por isso também, se o único descanso era em um banco de ônibus das viagens entre uma cidade e outra mesmo. Droga, que vida horrível!

Fiquei horas rolando na cama pensando nessas coisas. Mais tarde, sem ainda noção do que fazer, resolvi ligar para a Pietra e falar da audição porque pensar naquele assunto não ajudava. 

—  Então, você vem aqui no teatro amanhã. Ah não, deixa, amanhã é domingo. Vem sábado que vem, fala com o diretor e explica a sua situação.— Pipi falava sem freio, nem sei como respirava ao mesmo tempo aliás. Tudo essa empolgação porque ela já estava há anos no teatro e bem perto de tirar a carteira de profissional. — Provavelmente, ele vai falar para você assistir o ensaio do dia, vai conversar com você depois do ensaio acabar e aí vocês vão combinar um papel pequeno para você. Só adiantando, a peça é sobre uma Cinderela atualizada e pode rir, mas eu faço um papel de boazinha, não sou a princesa porque na vida real já sou uma rainha, e também porque eu sou a Fada Madrinha. Uma coisa legal é que eu chego invadindo a casa da menina, muito engraçado, mas a peça não é toda de comédia, tá? Tem bastante análise para os dias atuais como...

Com essa última frase, eu tive uma ideia e parei de ouvir o monólogo de Pietra. Eu e Rita podíamos analisar algumas lives e clipes de Riley antes do acidente e depois dele. Poderia ter alguma diferença ou indício que não era a mesma pessoa. E também a gente podia assistir os primeiros vídeo no YouTube, para ver se ela era mais parecida com as memórias da Rita, uma vibe mais tranquila, menos enfeitada e explorada também.

— Benjamin?

— Oi? Foi mal, viajei.

— Ah normal, mas eu não ligo. Tenho que voltar ao ensaio, te vejo sábado que vem aqui.

—Tá, tchau.

— Tchau.

Assim, corri para contar minha ideia para Rita que não demorou para topar. Começamos assistindo a alguns shows no início da carreira da Riley, logo no seu primeiro ano de sucesso, e depois colocamos para rodar alguns clipes do ano passado e retrasado. Só nesse pouco conseguimos notar que realmente a vibe do início da carreira e a do seu auge são muito diferentes. Antes, a Riley tocava violão e cantava umas músicas mais românticas, com significados mais profundos; além de não se movimentar muito, enquanto mais recentemente, ela não pega um instrumento, dança e se mexe tanto que parece o Flash, e suas músicas são todas com letras e um ritmo repetidos com o único objetivo de grudar na sua cabeça. Não tem nada além do que  está dito. Só fala em como ela é poderosa, a mais bonita e arrasa com os homens, segundo as palavras de Rita, a especialista no assunto música. Outras coisas que percebemos é que a quantidade de shows atrasados, adiados e cancelados só aumentou a cada ano, e que a banda não é a mesma do início, a que ficou mais tempo durou seis meses, logo no início da carreira. Então, pelo que parece, ninguém realmente suporta o empresário.

Não analisamos mais que isso, porque mamãe resolveu encher o saco me mandando várias mensagens de uma vez só. Não estava afim de conversar com ela por ligação, mas acabei ligando para a bendita porque o celular antigo é muito ruim de digitar.

— Alô. — Comecei.

— Que número é esse agora que apareceu aqui?! Comprou outro celular?!

— Não, esse é o velho.

— E o que aconteceu com o outro?

— Quebrou.

— Como? Você deixou cair? Mas não muda mesmo, né? Vive quebrando as coisas, não tem cuidado nenhum com nada, vive esquecendo as coisas...

— Mãe! — cortei, sem a menor paciência naquele momento para sermão. — A senhora quer alguma coisa? Por que me enviou tanta mensagem?

— Você nunca fala comigo, não me conta nada e eu fico sem saber o que está acontecendo na sua vida. — Olha o drama aí. — Se eu não te chamar, você também não me chama. Eu quero saber de você!

— O que a senhora quer saber?

 — Ah não sei, você parou de me mandar mensagem, não me liga mais...  Se eu tento qualquer uma dessas coisas, só recebo vácuo. Deixei para lá faz tempo... Você está estranho, ficou diferente desde que conheceu aquela garota. Aliás, ela ainda mora aí ou já se tocou e foi cuidar da sua própria vida?

— Não, mãe, ela está morando aqui. — revirei os olhos, já estava começando a incomodar.—  Mas já conseguiu um emprego e está trabalhando...

— Pelo menos! Uma coisa certa essa fingida conseguiu fazer!

 — Mãe, vou desligar. Se a senhora me ligou apenas para ficar criticando a Rita...

— Rita? Então é esse o nome dela? — me interrompeu apressada. — Está vendo como eu nem conheço essa menina?! Eu não sabia nem o nome dela e  ainda estou pagando as contas para ela, olha aí como você me exclui da sua vida! – falou mais irritada.

Por que será que eu ainda ligo? De dez palavras, nove são críticas e a outra uma é drama.

 —Se a senhora quer saber da minha vida, vou te responder.—  respirei fundo e mandei. —Primeiro que a senhora não está pagando nada sozinha, eu e a Rita pagamos as contas dela e do apartamento também! Segundo, Rita não é nada disso que a senhora imagina, ela é uma pessoa maravilhosa, muito humilde e simpática. Não está armando para roubar nosso dinheiro e depois fugir ou sei lá. Pode perguntar ao Alex, até ele gosta dela...

—O Alex gosta, é? Vou conversar com ele depois.

— Pode conversar, ele vai confirmar isso tudo. – ouvi ela assentindo e soltei de uma vez. - E por último, eu e ela estamos namorando.

— O que?! – ela ficou sem falar nada por um tempo. – Quer saber o que eu quero depois disso, Benjamin? Eu não quero saber mais de nada! Se for para ficar com uma estranha, casar e ter filhos, se muda e arruma uma casa para vocês, porque eu tiro as minhas mãos!

—Tá bom.

— Acha mesmo que eu vou te sustentar mais que isso?! Você é adulto, se vira!

— Eu sei.

—Tchau! — disse e desligou.

Continuei encarando a tela do celular sem reação por uns segundos, tentando absorver tudo até Rita chegar por trás para me abraçar, o que deu um efeito ao contrário do que ela esperava: tomei um susto. Ela própria se assustou com isso também nossos nervos estavam muito agitados

— O que foi? – inclinava a cabeça e franzia a testa. – Estava conversando com quem?

— Com a minha mãe.

— Sério? Hm, você nunca me fala da sua mãe. – deixou essa frase no ar e se apoiou no batente da janela como eu estava fazendo. – Como ela é?

— Você quer conhecer ela? – Devo ter feito uma cara de nojo pelo jeito que ela me olhou e respondeu depois.

— Não quer que a gente se conheça?

— Ah, tanto faz. – Diante de tantos absurdos, dei de ombros e fui para cozinha. – Quer jantar?

Assim, encerrei o assunto e nós passamos a cozinhar juntos, enquanto conversávamos sobre a Riley, a audição, Kaio e Suzana, a peça de Pipi e outras aleatoriedades. 


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