Estrelas Perdidas escrita por S Q, Lara Moreno


Capítulo 22
Mundo da Lua


Notas iniciais do capítulo

"Tenho alma de artista, sou um gênio sonhador e romântico" - Balão Mágico



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E aí, gente? Aqui é o Benjamin de novo depois de tanto tempo, sentiram saudades? Eu sei que vocês querem saber mais das memórias da Rita, porém preciso contar a minha parte da história também, né? Então, vamos começar do hospital. Primeiro, a mulher me disse que achava que sabia quem era “ele”, e é óbvio que fiquei empolgado na hora. Estaria Rita recuperando a memória? Estava melhorando de vez? Ele quem? Alguém do passado que poderia ajudar a recuperar suas lembranças? Como esse cara era? O que fez? “Ele” disse alguma coisa? Como ela sabia que o conhecia? Parecia suspense de novela mexicana. Mas Risadinha não conseguiu responder nada direito e eu parei de elocubrar quando ela apertou meu braço. Entendi que não era o momento e o resto Rita já contou, Suzana e Pietra chegaram, depois a levaram para fazer uns exames; nós não-médicos saímos do quarto e então o plantonista deu a notícia reconfortante que confirmou que ela estava mesmo recuperando a memória.

Depois disso, minha namorada dormiu, mas eu não consegui ir embora. Esperei por muito tempo no quarto. Mas aí quando já estava escuro lá fora, Pietra me mandou mensagem, perguntando se ainda estava no hospital. Respondi que sim e minha amiga lembrou que precisava dormir para o trabalho no dia seguinte. Me despedi de Rita e fui para casa já todo cansado.

Dormi assim que cheguei. Tive um sonho muito louco, Rita recebia alta e descobria que era uma atriz de sucesso, mas não quis voltar aos palcos porque seu sonho era viver numa casa no campo comigo. E a vida ia bem, nós dois morando num sítio bem felizes e tranquilos admirando o sol se pôr numa cadeira à porta de casa, abraçados como um casal de velhinhos na aposentadoria da ficção, só que ainda jovens, até que ela passa mal e desmaia. No desespero, levo ela para o hospital numa caminhonete toda ferrada. Lá, ela acorda e logo pergunta:

— Quem é você? – Me observava com os olhos espantados. – Como eu vim parar aqui?

Nisso, eu ficava sem resposta e corria atrás de um médico pelo hospital inteiro e só encontrava funcionários que não sabiam o que fazer, pacientes na fila de espera, enfermeiros atendendo outras pessoas e sem tempo para mais nada. Não havia um médico para nos ajudar. Ninguém. Então, eu voltava para o quarto dela e ela continuava me olhando estranho.

— Rita? – Tentava, já desesperado.

— Quem?

Acordei no susto. Olhei o celular e percebi que já era o décimo alarme que tocou, ou seja, eu estava muito atrasado. Assim, pulei da cama quase tropeçando para me arrumar, sem tempo de digerir o pesadelo. No meio do caminho para o banheiro, que percebi que precisava ligar para o meu chefe. Voltei tudo para buscar o celular. Enquanto ouvia chamando, podia escutar também meu coração batendo ainda preocupado por causa do pesadelo e também da vida real, com Rita estando realmente em um hospital. Eu não tinha cabeça para trabalhar e queria muito estar ao lado da minha namorada para vê-la e dar apoio.

— Alô, bom dia! – O patrão atendeu, sério e apressado. – O que você quer? Estou ocupado, então seja rápido. Aliás, já está vindo?

— É... bom dia. – Engoli em seco. – Na verdade, minha namorada está no hospital e quero passar o dia para visitar ela, sabe? Então, o senhor poderia me dar folga hoje?

Ele não respondeu de imediato. Parecia um suspense que queria fazer com minha pessoa nervosa.

— Poderia, mas não vou dar. Não tenho como te substituir agora, está muito em cima da hora para chamar o David. – David era o outro anunciante, não tão carismático quanto eu. – Me diz de onde vou tirar um anunciante a essa hora da manhã?

“Não sei, da sua privada? Arruma um jeito e me deixa de folga só por hoje, por favor. Deixa de vacilo e me ajuda pelo menos uma vez na vida, já que nem para pagar as pessoas direito você consegue. Só pensa em mais alguém sem ser você pelo menos uma vez na vida!” Me segurei para não soltar essas coisas na cara dele naquela hora. Agora sei que meu patrão estava muito ocupado e não tinha como resolver aquilo naquele exato momento, mas eu estava sentindo uma confusão de sentimentos absurda dentro de mim.

— Sim, o senhor tem razão. Não tem como mesmo. – Respirei fundo. – Desculpa incomodar, eu vou sim para o trabalho.

— Te espero no horário de sempre. Tchau. – Disse e desligou.

O horário de sempre era oito horas. Olhei para a hora no meu celular e marcava sete e meia, assim faltava só meia hora para chegar no mercado. Com a distância que eu moro somada ao trânsito de Niterói, era impossível chegar no horário de sempre e meu chefe sabe disso. Ele só pode estar me zoando. Com essa conclusão, fiquei irritado e joguei forte o celular na direção da cama, mas errei a pontaria e ele se espatifou todinho no chão no meio do quarto. Foi uma cena linda, sendo bem irônico.

Enfim, peguei um celular antigo e fui para o mercado. Mesmo estando atrasado, fiquei mais calmo e me senti bem por um instante por ouvir a voz de David ecoando pelo local. Logo, fui para a sala do chefe e ele explicou que tentou sem muita fé chamar o bendito, porém deu certo; eu estava liberado! Ainda desejou melhoras para Rita. Depois disso, me senti meio culpado por ter xingado tanto ele mentalmente, mas segui em frente com a cabeça focada em ver a dona das minhas preocupações.

E vou te falar, poder observar com meus próprios olhos que ela estava melhorando, elevou totalmente meu humor, até que um bip bip começou a acelerar e ela disse que lembrava de ter composto a música da Riley.

Não, Rita devia estar se confundindo; devia estar piorando na verdade. O médico disse que a parte do cérebro responsável pelas memórias antigas estava se recuperando, então ela provavelmente fez confusão entre as memórias passadas e atuais.

— Não, essa música é da Riley. – Falei, tentando ser gentil.

— Mas eu lembro de estar escrevendo essa letra... – Respondeu olhando para baixo e franzindo a testa.

— Tudo bem, amiga. – Suzana falou, sorrindo de um jeito simpático. - Você precisa descansar, eu só vou chamar o médico pra gente conversar, tá?

— Não precisa, eu estou bem.

— É só para conversar, relaxa. Você deve estar grogue por causa de tudo isso. – Disse apontando para os aparelhos ao redor de Rita e saiu.

— Mas eu... – Começou num tom baixo, mas parou e ficou quieta encarando o nada até Suzana voltar.

Quando Suzana e o médico voltaram, pediram para eu sair do quarto. Por isso, fiquei aguardando do lado de fora preocupado. Há um hora, eu pensava que Rita estava melhorando e agora, isso? Ali, só esperava para que não acontecessem mais essas coisas e logo ela ficasse bem de novo, como a Rita bem-humorada e positiva que eu conhecia. Porém, quando os médicos saíram de lá e entrei de novo no quarto, ela parecia mais abatida que antes e pra piorar, o resto do dia foi mais um silêncio tenso do que qualquer outra coisa, já que eu não tinha certeza do que se passava dentro daqueles olhos perdidos, mas com bip bip normais. Não tinha noção se seus pensamentos caminhavam por estradas seguras ou por labirintos sufocantes. Torcia para que estivesse se encontrando, mesmo que suas poucas palavras passassem o contrário. E assim, chegamos à noite, mesmo com todo mundo aparecendo para visitar e tentando puxar assunto, nenhum durou. Até um momento em que Suzana avisou que precisava ir ao banheiro, e ficamos sozinhos no quarto. Ela me fez esse pedido estranho.

— Ben, pode botar seu toque para eu ouvir?

— A música da Riley?

— Sim.

Coloquei para tocar e enquanto escutávamos, comecei a cantar baixo e de repente, ela passou a me acompanhar. Claro que gostei por ela não estar xingando e pedindo para eu tirar rápido, mas também achei esquisito depois, ela pedindo para gente ouvir mais algumas.

— Achei que odiasse as músicas da Riley. - Sorri de lado.

— E quem disse que agora eu amo? Continua sendo chiclete. - Respondeu num tom mais animado, para rapidamente se fechar e dar de ombros. - Só quero conhecer ela mais um pouco.

Então coloquei uma música que fez sucesso ano passado para tocar, até que Suzana voltou finalmente de Nárnia com o médico responsável por Rita. Ela demorou, porque já estava sabendo que a amiga receberia alta e foi encontrar com o plantonista para fazerem os procedimentos lá para um paciente poder ser liberado do hospital, sei lá, não entendo dessas coisas, não sou médico. Acabou que finalmente naquele dia pude ver o olhar de Rita se iluminar, e logo ela se inclinou ao mesmo tempo que eu,, para nos abraçarmos e beijarmos. Isso foi rápido junto à saída do hospital, e como o turno de Suzana tinha terminado, fomos nós três juntos até o ponto de ônibus numa conversa mais empolgada, já que a enfermeira reparou que Rita estava ouvindo Riley no quarto e aproveitou para zoar com ela.

Alguns dias depois, era sábado e o dia da audição. Rita ainda parecia pensativa mas não queria tocar no assunto de jeito nenhum. Dizia que eu precisava me concentrar para a apresentação.Estava um misto de nervosismo e empolgação. Sentia que havia algo que puxava meu braço direito, dizendo que era desperdício de tempo e que eu não iria passar, mas ainda bem que a coisa que puxava o lado esquerdo era mais forte e me disse que seria divertido de qualquer forma, era um passo que eu estava dando na direção de um sonho. Foi uma manhã mais clara e calorenta, Rita não parava de me empurrar nos dois sentidos da palavra.

— Vai logo, está há uma vida amarrando esse cadarço. – Dizia enquanto eu calçava meu tênis. – Vai se atrasar.

— Normal, ué. – Só eu ri, ela parecia mais ansiosa que eu.

— Não, dessa vez não. Essa é a oportunidade de dar voz ao DiCaprio. Estou falando sério, para de rir.

Nós demos um selinho e fui ao quarto do meu irmão para avisar que estava saindo, eis que ele solta essa pérola:

— Quebre a perna. – Desejou num tom de “boa sorte”.

— Mas isso é para apresentação de dança. – Rebati, girando a manivela, o que uma manhã não faz a um jovem preguiçoso.

— Eu sei. – E sorriu, debochado.

— Tchau. – Disse já me preparando para fechar a porta, mas antes... – Olha o vermelho no boletim.

Assim, bati a porta e saí na pressa para o estúdio que ficava no centro. Tudo fica no centro nessa cidade, uma desgraça! Mas felizmente, por ser fim de semana e as ruas estarem mais vazias, consegui chegar a tempo de ainda estar no grupo A dos candidatos.

— E aí, cara? – Kaio me ligou. – Já foi? Deu tudo certo?

— Não, ainda estou esperando ser chamado.

— É entrevista, é?

— Sim e aí depois tem o teste da voz, pelo o que parece.- Falei lendo um cartaz na recepção do estúdio.

— Legal. – Ele fez uma pausa. – Anota o que estou te dizendo, tu vai dublar o próximo protagonista de Star Wars.

— Pô... nem fala. – Meu sonho, cheguei até a me sentir mais relaxado imaginando isso e emendei com uma voz parecida a de Darth Vader. – Luke, eu sou o seu pai!

— Nãaaoooo. – Pude ouvir ele berrando em resposta, como se fosse o próprio filho de Anakin. Nós rimos. – Tenho que ir, beleza? Quebre a perna.

— Sabe que isso é pra dança, né?

— É? – Agora a manivela girava ao lado da cabeça dele. – Ata, então boa sorte! Valeu.

— Falou.

Uns minutos depois, meu nome completo foi proclamado em voz alta. Logo, levantei e entrei na salinha. Uma moça me entrevistava perguntando aquelas coisas básicas de sempre: nome, idade,documentos...

— Já fez curso de dublagem?

— Não. – E anotou no papel dela.

— Tem DRT? – Quer dizer se tenho registro profissional para atuar.

— Não. – Acho que aquilo foi um risco que ela fez ali.

— Tem experiência com teatro?

— Sim, fiz por alguns anos quando mais novo. – Dessa vez, ela escreveu mais um pouco.

— Certo, e você tem alguma experiência com a voz?

— Eu sou anunciante de mercado, sabe? – Ela assentiu e continuou me encarando, devia querer ouvir mais, pensei. – Faço vozes diferentes, de pessoas famosas, personagens; fico animando o mercado, às vezes dou uma improvisada com um colega de trabalho também, os clientes e quem estiver passando na rua. Isso de ficar brincando no microfone atrai muita gente, né? Mas não é só brincadeira, eu levo muito à sério a minha voz, de verdade, porque pode machucar, né? – Eu sentia meu rosto quente, nem sabia mais o que falar. – Mas o pessoal lá me adora, isso é sério. As crianças ficam pedindo para eu fazer a Peppa Pig, o Baby Shark, é sucesso. – Cala a boca, Benjamin. – Nossa, é demais, você tem que ver!

— E vou ver mesmo. – Largou a caneta na mesa e começou a se ajeitar para levantar. – Vamos para o teste?

— Claro.

Nisso, ela me deu uma folha com um monólogo nela e me explicou que era para eu ler, depois assistiria a cena de onde foi tirado o texto e dublaria no estúdio. E assim, aconteceu. Na hora de gravar, só tinha eu de um lado do vidro com o microfone grande e a acústica perfeita, tudo soava profissional. Senti meu coração acelerar, parecia que a temperatura tinha aumentado, mas esse pequeno momento foi o suficiente para me deixar feliz. Eu interpretei, improvisei, ri, me emocionei em poucos minutos por causa do personagem e quando terminei, pude ver o resultado da minha voz no vídeo. Cara, vou te falar: foi uma sensação incrível!

Saí do estúdio mais otimista e inspirado para me esforçar e realizar esse meu objetivo. Mesmo assim, pensava que não conseguiria passar nos testes já que não era profissional em nada. Por isso, tomei uma decisão precisava aceitar aquele convite da Pietra de voltar ao teatro.    


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