É dito na Irlanda um conto muito antigo.

Sobre sereias, belas em forma de mulheres, com cauda de peixe.

Toda sereia é ruiva e tem olhos verde-água, e canta com uma voz bela, terrífica.

Uma voz tão bela que pode fazer com que os marinheiros desviem-se de seus cursos, apenas para saber quem é a dona de tal voz.

Elas se dividem eternamente, entre dois desejos:

Viver eternamente no mar que amam, ou amar um homem da terra para poderem descansar de sua eterna canção.

O segredo das sereias é a pele de foca, que usam para poderem viver no mar. Tais peles, encantadas com uma miríade de runas perdidas, valiam toneladas de dinheiro antigamente.

Caso um homem roube essa pele, a sereia se esquecerá de sua vida antiga, e será forçada, pela magia antiga que permeia a terra e que as deu existência, a amar o humano que roubou a pele.

Essa história é uma história triste, sobre um amor fadado a nunca dar certo. Ainda hoje é contada aos jovens pescadores irlandeses, para que se lembrem de que não deve-se mexer com os sentimentos das sereias.

Um certo dia, em um certo ano esquecido, 4 amigos pescavam no alto mar.

Eram, como eu disse, 4: Um senhor bem idoso, um jovem que recém tinha saído da casa dos pais, e dois homens adultos do povoado.

Para aliviar a solitude fria do mar, o velho, assim que pararam em uma gruta, perguntou ao seus companheiros qual o sonho mais profundo.

Chamaremos este senhor de Sábio.

Um dos homens, Ganancioso, como o chamaremos, falou:

_Quero ser o homem mais rico desta terra, mas rico que o rei da Inglaterra e da França juntos!

O outro, Ambicioso, falou:

_Pois eu sou honesto! Prefiro ser o melhor pescador que este mundo já viu! Então, com meus lucros, serei ainda mais rico que você!

Ganancioso riu largamente e falou:

_Ora, Ambicioso, mas enquanto você dependerá do mar para ter sua riqueza, eu serei rico até mesmo que o mar seque!

E então Ambicioso olhou para Sábio e perguntou:

_E tu, velho? O queres mais da vida?

_Ora, meu jovem. Quero apenas viver o resto dos meus dias em paz, ao lado da minha senhora e dos meus moleques.

E então, virando-se para o mais jovem, Sonhador, perguntou:

_E tu, Sonhador? O que queres deste mundo que ainda não recebestes?

Sonhador, saindo de seu transe, olhou para Sábio e falou:

_Pois eu quero uma esposa, uma esposa bela como uma das sereias, como a própria Áine, ou talvez até mesmo uma das sereias.

Sábio percebeu que estavam caminhando sobre um gelo fino, e tentou mudar o rumo da conversa:

_Mas, então, meus amigos, como acham que estará o mar amanhã?

Mas sua tentativa foi em vã, pois Ganancioso já estava falando sobre um conhecimento proibido:

_Ora, Sonhador, então, ouça o que minha mãe me falou: Vá até uma das grutas, e espera até que as belas entrem e tirem suas peles de foca. Então, roube uma das peles e fala: Pela magia antiga, teu coração agora é meu, ó bela!

Logo que voltaram da pescaria, Sonhador se escondeu em uma dar grutas, e esperou.

Tocaiou durante dias, e nada da bela aparecer.

Porém, um dia, ela entrou lá, e ele viu a linda sereia derrubar sua manta no chão.

Sacudindo a cabeça para evitar ficar hipnotizado pela beleza da mulher a sua frente, o jovem fez como seu amigo havia lhe indicado.

Imediatamente a sereia caiu no chão.

Sonhador a levou para sua cabana, e a vestiu com roupas de sua falecida mãe.

Quando ela acordou, lhe inventou um conto sobre o ‘horrível acidente’ que havia sofrido, logo após eles se casarem.

Disse que eles foram abençoados pelos deuses, pois ela apenas se feriu levemente e perdeu a memória.

E certamente eles foram auxiliados pelos deuses, afinal, todos os dias ele achava pequenas, porém valiosas, jóias no mar.

E eles foram aumentando a casa, mesmo que esta continuasse vazia.

Sim, pois não podiam ter filhos.

E logo Sonhador comprou um pesado baú, para esconder a preciosa pele. Cobriu a pele de ouro, e assim que o baú ficou cheio demais, comprou OUTRO, e colocou este por dentro. E cobriu com mais ouro.

Porém, um dia, a sereia, agora já uma mulher madura, estava procurando uma jóia para usar no jantar.

E então, ela achou.

Tomada de raiva pelo homem que mentira durante uma vida inteira para ela, agarrou a pele, e o amaldiçoou a nunca mais ser amado.

Com um último pensamento sobre os anos que viveu longe de seu amado oceano, pulou no mar e nunca mais foi vista.