Heartbeat escrita por Ana


Capítulo 9
Women's day II


Notas iniciais do capítulo

O capítulo de hoje está indo sem capa e talvez com mais erros do eu gostaria, mas se não fosse assim eu não conseguiria por ele hoje, no mais, é isso.
Perdoem os erros que passam despercebidos e boa leitura ❤



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761090/chapter/9

A medida que se aproximavam de mandar o arquivo final para a gráfica, para que então fosse impressa e mandada para os assinantes e para as bancas, supermercados e terminais aéreos e rodoviários para serem compradas, a correria dentro da revista aumentava, todos pareciam trabalhar com um gás a mais, principalmente as mulheres, que não estando contentes apenas em mandarem as suas hashtags para Regina, tinham feito muito mais expondo os abusos e estereótipos que envolviam as suas profissões, e organizavam também uma campanha online, que prometia entrar no trends topics do país.

Tudo que Regina recebia dos colaboradores se mostrava estar até acima das suas expectativas, tinha lançado as ideias e muitas outras tinha surgido, conversavam e as amadureciam, transformando elas em matérias para a edição. Tudo fluía de acordo com o esperado, exceto é claro, pela escolha do casting de modelos para as fotos.

Regina folheava o portfólio que Jekyll tinha montado para edição, e nada do que estava ali estava de acordo com o que ela tinha pedido na última reunião.

— Belle? — ligou para a recepção.

— Pois não, Mills?

— O Jekyll está no andar?

— Está sim.

— Pode pedir para que ele venha a minha sala agora, por favor?

Depois de vinte e quatro minutos contados, três batidas na porta soaram e a cabeça de Jekyll apareceu dentro da sala de Regina.

— Mandou que me chamassem?

— Sim, pode entrar Jekyll — ele entrou e se manteve com os braços cruzados no peito e em pé na frente da mesa de Regina —, você pode sentar, se quiser. — a mandíbula dele se retesou, a detestava ainda mais por fingir costume, quando sabia que ele abominava a existência dela dentro da revista.

— Não, obrigado, estou bem de pé.

 — Tudo bem, como quiser. — riu educada, desde o dia em que ficaram sem internet no prédio, percebeu que o jogo era aquele, enquanto um parecesse estar furioso, o outro deveria estar tendo o melhor dia da sua vida, e pela a forma como as coisas caminhavam bem para a sua primeira edição completa, Regina realmente estava feliz — Eu estava vendo o casting que você montou para o editorial do dia da mulher — falou passado as páginas do portfólio com o perfil das modelos. —, são modelos muito bonitas.

— Esse é o nível com o qual trabalhamos nas campanhas, por isso que o cachê é um pouco mais alto, se é sobre o que você quer falar, mesmo não sendo da sua alçada. — limpou a garganta.

— Entendo que temos que pagar mais caro por certas coisas, mas não é sobre o cachê das modelos que eu quero falar. Você entendeu a minha proposta para essa edição?

— Claro que sim. — descruzou os braços e enfiou as mãos no bolsos da frente.

— Imagino que também deva ter lido sobre a nova linha da Ashua Curve e a ideia da campanha.

— Sim, ei li. Será que você pode ser mais objetiva, tenho muito o que fazer, inclusive fechar com as agências. — Regina soltou com força pelo nariz em um riso, o que o irritou.

— Já que leu, então você deve saber que nessa nova coleção eles estão trazendo roupas até o tamanho sessenta, não?

 — Sei que estão.

— Então me explique o porquê de usar apenas modelos de tamanho único quando a marca está querendo mostrar que também se preocupa com a autoestima e a dificuldade que pessoas gordas têm para encontrar roupas que as vistam bem, e que sejam elegantes e confortáveis? Deixei claro que queria diversidade, eu quero que você refaça esse casting, quero o mais heterogêneo possível, gordas, magras, altas, baixas, mulheres mais maduras e de todas as cores que o espectro permitir, quero variedade porque representatividade importa.

— Montei o grupo de acordo com o que foi pedido da última vez que fizemos o editorial deles e no que fizemos no ano passado.

— Ok, mas nós não estamos mais no ano passado, você já notou isso? A proposta agora é outra, é inclusão e diversidade, mas eu já deveria saber, é isso que acontece quando um homem faz esse tipo de trabalho.

— O que é que você está insinuando? Que não faço bem o meu trabalho, é isso? — se aproximou intimidador da mesa. — Eu estou a mais tempo nessa revista do que qualquer um aqui, já vi todo o quadro de funcionários mudar, mas eu permaneci.

— Não é porque você trabalha com isso a muito tempo que o faz da maneira que deva ser, tempo de profissão não significa necessariamente excelência. — Regina se levantou da cadeira e se inclinou sobre a mesa a poiando as suas mãos nela. — Os tempos são outros, Jekyll, ou você se atualiza ou fica para trás, porque eu tenho certeza que você escolheu as modelos baseadas em gostos pessoais seus.

— E se foi? Não tenho culpa se esse é o gosto da grande maioria da população mundial.

— População mundial ou de homens que não entendem como esse padrão absurdamente inalcançável foi impregnado em suas cabeças, e que tanto fazem mulheres mutilarem os próprios corpos em prol dele? Essa não é uma revista masculina, caso não tenha percebido, ela é cosmopolita, e caso essa edição do dia das mulheres fosse para fazer homem feliz, eu a chamaria de falso orgasmo.

— Ah, vá! Branca e privilegiada com discussão feminista? Você não é a primeira a passar por aqui com isso.

— Tem razão, eu tenho os meus privilégios, mas eu estudei para estar aqui, e muito, o Gold não me contratou para assumir o cargo de editora chefe por causa da minha pele ou da cútis maravilhosa que eu tenho, mas porque ele sabe que tenho capacidade mais do que suficiente, tanto é que eu estou aqui, sentando nesta cadeira todos os dias, a cadeira que você queria estar o ocupando, ou eu estou enganada?

Jekyll sentia um rubor subir em seu rosto em forma de calor, até o ar que expirava parecia sair pegando foto. Queria pular por cima da mesa agarrar ela pelo pescoço e jogá-la para fora dali, para fora da sala que por muito pouco não foi sua.

— Pisei no seu calo? Me desculpa, não foi por quer. — disse como as mãos sobre o peito, como se estivesse realmente arrependida, quando na verdade queria gargalhar — Eu sou a editora chefe daqui, Jekyll — assumiu um tom sério. —, e no nível hierárquico estou acima de você, é a mim que você deve prestar serviço, estamos entendidos?

Havia um sapo enorme preso na garganta dele, tão grande que Regina poderia jurar que o viu engolindo.

— Claro, mais alguma coisa?

— Não. Ah, Jekyll — o chamou quando ele já tinha lhe dado as costas e estava com a mão na maçaneta da porta, tremendo com pinscher raivoso.

— Sim? — bufou.

— Não haverá falta de internet que nos pare dessa vez, se faltar novamente, levo todos vocês até para o meu apartamento, se for preciso, e vocês trabalham lá, usando a minha internet.

Jekyll saiu da sala tal qual uma chaleira, soltando fumaça pelos ouvidos. Em todos os anos que trabalhou na revista, Gold nunca ser metera daquela maneira no seu trabalho, e Regina ter aberto o jogo falando explicitamente sobre ter roubado a sua promoção e a falta de internet, só o inflamava ainda mais.

 

Como havia tido um atraso com a escolha do casting das modelos que participariam do editorial da Ashua Curve e do restante das fotos da edição do dia a das mulheres, Emma e Cruella se dedicaram mais a escolha dos cenários, para que casassem com as roupas. Haviam passado tanto tempo no estúdio, que tinha sido pouca as vezes que Emma conseguiu ver Regina, mas sempre que a via ela parecia estar muito empolgada, o que era entusiasmante, e Emma percebia que não era apenas para ela, ver a chefe daquela maneira levantava toda a equipe da revista.

Também não tinha mais falado com ela sobre elas, o que deixava Emma um pouco insegura, Talvez ela volte atrás durante esse tempo, talvez ela perceba que aquilo foi um erro, mas por algum motivo mudava de ideia quando passava pela recepção do prédio, e através das portas de vidro da creche, via Henry brincando lá dentro, e quando ele também lhe via, e parava de brincar para acenar animado.

Depois de decidido o novo casting de modelos, foi que Emma realmente começou a trabalhar, e fazendo o que gostava, horas e horas poderiam passar que ela nem ligaria, para ela a célebre frase “Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida”, fazia total sentido. Quando chegou no prédio subiu direto para o estúdio, sem passar na redação, estava com as suas duas câmeras na bolsa e a sua equipe já organizava o local.

No estúdio Cruella corria de um lado para o outro, levando e trazendo as peças de roupas para as modelos que apinhavam o estúdio.

Antes de tudo Emma procurou no spotify a playlist que tinha montado na noite anterior, conectando celular pelo bluetooth ao sistema de som do estúdio, clicou em “ordem aleatória” e Run the World começou a tocar, seguida por Girl on Fire, Confident, Flawless, Bitc* Better Have My Money, Love Myself, Independent Women, Power e mais uma infinidade de músicas que falavam sobre o feminismo, empoderamento e sobre amar a si mesma.

Agora sim podemos começar.

Emma começou a fotografar as modelos enquanto Cruella ia pedindo que elas fizessem algumas posições que valorizassem as peças e que mostrassem algum detalhe das roupas que estavam passando despercebidos.

Depois de um intervalo, onde Emma aproveitou para lanchar, que só lembrou de fazer isso por causa de uma mensagem da mãe, percebeu a presença de Regina no estúdio, e diferentemente da primeira vez em que a editora chefe tinha estado ali, e fingiu só ter notado a presença dela depois, Emma acenou sorridente, e Regina prontamente acenou da mesma maneira.

Quando Regina entrou no estúdio, foi recebida por ondas de conversas e uma música alta, que ela achou ser da Beyoncé, que dizia:

Posso ser má se eu quiser

Posso dizer o que eu quiser

Posso viver com rapidez se eu quiser

Posso ir com calma a noite toda

Sou uma mulher adulta

Posso fazer o que eu quiser

Além de tudo, as playlists são temáticas, riu enquanto acenava para Emma para que lhe dava tchau do outro lado do estúdio.

— Eu nunca vi tanta gente feliz e sorridente em um lugar só, esse estúdio nunca esteve tão alegre e vibrante, nem quando tem crianças. — Emma disse parando ao lado de Regina com a câmera pendurada no pescoço, por aquele dia era só, o ensaio continuaria no dia seguinte.

Regina observava as modelos conversando e devolvendo as peças, concordava com Emma, a vibe era outra, a atmosfera era ainda muito mais leve do que da última vez em que acompanhou um dos ensaios coordenados por Emma.

— Ter que se encaixar em moldes sociais é cansativo e estressante, por isso que Jekyll chama os modelos padrões de histéricas. Ser e aceitar quem realmente são não é doloroso para essas mulheres, pelo menos não mais.

Mulheres quando juntas sempre rende muita conversa, mas a daquela tarde era diferente do que Emma sempre costumava ouvir, que eram dietas mirabolantes, redução de medidas em quinze dias, lipos e retiradas de costelas, enquanto hoje contava piadas nos horários de intervalos, se elogiavam e diziam o quanto estavam maravilhosas com as peças do editorial, também falavam sobre assuntos triviais, coisas que acometiam a vida de todo mundo, não só a de quem já tinha viajado para França ou Milão. Eram todas pessoas reais.

— Como estão ficando as fotos? — Regina perguntou mordendo o lábio inferior curiosa.

— Incríveis. — Emma ligou a câmera e mostrou algumas das fotos no visor. — Você não poderia ter acertado mais nessa campanha, as peças da coleção são lindas e essas mulheres tem uma energia tão boa que meu Deus...

— E você está se sentindo em casa, não é?!

— Eu sempre me sinto. — Deu de ombros rindo — Meninas! — Emma as chamou, mas o barulho das conversas e a música as impediam de ouvi-las, e com o indicador e o polegar na boca, ela soltou um assovio logo e agudo que fez com que Regina fizesse uma careta, mas que ser viu para chamar a atenção de todas. — Garotas, essa aqui é Regina Mills. A Regina é a nossa nova editora chefe, essa é a primeira edição dela, digo, inteiramente dela, e ela que foi a pessoa responsável pela ideia da campanha, de mostrar toda a diversidade de biótipos que nós temos.

— Emma... — disse sorrindo com os dentes trincados — Para com isso.

Regina estava tão corada que acha que o seu rosto iria explodir ou pegar fogo.

— E eu acho que nós poderíamos fazer uma foto com ela, para ela ter uma recordação desse momento, o que vocês acham?

“Sim!”, “Agora mesmo”, “Só se for agora”, responderam.

— Não dá, desculpa, mas não dá, eu não sou fotogênica como vocês, eu não nasci para isso. — Regina começou a andar de costas em direção a saída

— Ah, qual é Regina? — Emma a pegou pela mão e começou puxá-la para onde os refletores estavam posicionados.

— Swan! — falou fazendo força para não sair do lugar, fincando os pés no chão, mas era impossível, Emma tinha mais força do que ela.

— É só uma foto, Regina.

— Emma, não...

— Você nem precisa aprender a fazer carão, já faz naturalmente por esses corredores, e pode ser também a mesma expressão que você faz quando ver o Jekyll — falou baixo.

A boca de Regina se abriu em um O.

— Para facilitar para você, você vai ficar sentada, ? — um dos assistentes colocou um banco alto no meio do estúdio, onde Regina se sentou enquanto as outras mulheres se organizavam ao seu redor.

Regina queria enfiar a cabeça dentro de um buraco ou correr e se trancar dentro do banheiro, mas tinha certeza que Emma lhe alcançaria na corrida. Se sentia completamente um peixe fora d’água.

— Muito bem, continue fazendo essa cara de como se eu fosse perder o meu emprego. — Emma chamou a sua atenção. — De como se estivesse à um passo de demitir.

— E eu estou mesmo, Swan.

“Você pode abraçar a si mesma”, uma das modelos soprou, percebendo que Regina não sabia o que fazer com os braços.

Os lábios carnudos entreabertos e o olhar fulminante acertavam Emma em cheio do outro lado da câmera, que caminhava em busca dos melhores ângulos, todos perfeitos, pensava consigo. O foco fixo em Regina dizia muito mais sobre como ela se sentia quanto a morena do que transparecia, não importa o que fazia, ou onde estavam, era sempre atraída para ela. Aos poucos via ela se soltando, se sentindo mais à vontade, começou a mexer nos cabelos, mudar o ângulo do rosto, e por fim sorrir. Um sorriso arrebatador, que fez sem dúvidas fez Emma suspirar.

Regina tinha o olhar cravado na lente da câmera, como se enxergasse todos os mecanismos do objeto, como enxergasse Emma através dela, mas a verdade era que sentia o exato o posto, era como se a fotografa a visse por completo, como se estivesse nua diante dela, e estranhamente se sentia confortável com aquilo.

— Para última quero que formem um fila, tipo Dua Lipa em New Rules, podem se misturar, quando mais misto, melhor.

— Continuo no meio? — Regina perguntou ao descer do banco e ele ser retirado por o mesmo ajudante que tinha colocado.

— Aham, deixa eu só... — Emma se aproximou para arrumar o cabelo dela de modo que emoldurasse bem seu rosto, deixando visível a boca carnuda e os olhos castanho escuro.

Os olhos de Regina se fixaram aos seus, eles pareciam contar histórias com a mesma proporção que as escondia. Segurando ímpeto de beijá-la, voltou a fotografar.

— Obrigada meninas, e foi um prazer fotografar vocês. Vocês são fodas de mais. — e o estúdio irrompeu em palmas.

— Deixa eu ver as fotos, Emma. — Regina pediu quando as modelos começaram a sair do estúdio, deixando só elas e os ajudantes que desmontavam os aparelhos e os cenários.

— Não. — tirou a câmera do pescoço e a guardou na bolsa.

— O que? Porque não vai me deixar ver?

— Porque a câmera é minha.

— Mas eu estou na foto e eu sou a sua chefe. — insistiu.

— Todas as outras também estavam, mas nem por isso viram, e você tem certeza que está falando comigo como a minha chefe?

— Emma...

— A não ser que pague pedágio, é claro. — Emma estava se divertindo muito com aquilo, toda a inquietação que tinha sentido antes a respeito delas havia sumido.

— Uma pena que deixei a carteira na minha sala, mas se ameaçar te despedir não conta?

— É claro que não, e quem disse que a minha moeda é o dólar? Trabalho com beijos, Regina.

— Você não... — olhou para os lados vendo quem ainda estava ali, apenas os ajudantes distraídos fazendo o seu trabalho, e como a adolescente que não era mais, se aproximou e deu um beijo rápido em Emma.

— Ah, isso nem fez cócegas, Regina, não valeu.

— Valeu sim.

— Sou eu quem decido isso, e eu estou dizendo que não valeu. — disse próximo da boca dela.

— Bom, se é isso o que você quer...

Regina mordeu o lábio inferior e puxou Emma pela gola da camisa para um beijo que propositalmente começou rígido, mas que se transformou em um beijo cálido em que as suas línguas travavam uma deliciosa luta pela dominância.

Quando encerram o beijo, Regina baixou a cabeça e riu, para depois olhar para os lados procurando se alguém estava prestando atenção nelas, e para amenizar a sua vergonha, não estavam, ou pelo menos fingiam não estar.

Emma se surpreendeu, achava que Regina não fosse beijá-la, e sorriu quando a viu com a o rosto rosado olhando para os lados.

A finalização da revista entrou noite a dentro, por toda a redação se encontrava pessoas comendo em suas mesas, enquanto se alternavam em morder os hambúrgueres e digitar furiosamente em seus teclados. Preparavam a campanha online que acompanharia o lançamento da revista enquanto as últimas questões de formatação eram acertadas.

Emma trabalhavam em umas fotos quando ouviu baterem em sua porta.

— Pode entrar. — disse sem tirar o olhar da tela do notebook.

Sem entrar, tornaram a bater. Dessa vez Emma falou ainda mais alto, mas bateram novamente, soltando o ar com força pelas narinas, se levantou e foi abrir a porta.

— Eu disse que podia en... — começou a dizer, mas parou quando viu quem era.

— Eu não consegui abrir a porta com o cotovelo. — Regina mostrou um sorriso amarelo ao passar por Emma e entrar na sala.

Em uma das mãos ela trazia uma pizza e na outra, duas cervejas.

— É que eu não gosto muito de comer sozinha. — se justificou quando Emma fechou a porta e se virou para ela.

—É... — foi até a sua mesa e discretamente baixou a tela do notebook. — É que eu não bebo.

— Eu sei, percebi no outro dia no bar, você passou a noite tomando água tônica, e é por isso que a sua é sem álcool.

— Ah, mas também não como pizza, quer dizer, derivados de fastfood. — coçou a nuca, não queria parecer que tinha muitas frescuras para comer.

— Por favor, só uma vezinha só? Não vai me deixar comer só, vai? Todo mundo lá fora está comendo, e eu não queria comer sozinha na minha sala, e eu também pensei que você estivesse om fome.

Emma sorriu e prendeu o lábio inferior com os dentes, Regina ter se preocupado se ela estava com fome ou não, era tudo no que ela conseguia pensar.

— Tudo bem então, uma vez não mata ninguém.

— Exatamente!

Regina olhou para a mesa de Emma apinhada com os e equipamentos de fotografia e algumas fotos impressas, definitivamente não dava para comer ali, então colocou as cervejas e a pizza no chão e também se sentou nele, o usando o sofá da sala como encosto para as costas.

— Você não parece ser o tipo de pessoa que toma cerveja direto da garrafa, ou que come pizza com a mão e ainda por cima sentada no chão — Emma disse sentando de frente para Regina, que colocou a caixa da pizza entre elas e a abriu.

— E veja só, é justamente o que eu estou fazendo.

Pegou uma fatia de pizza e deu uma mordida, talvez fosse a fome, mas uma pizza nunca tinha lhe parecido tão saborosa. Emma abriu as duas cervejas e também pegou um pedaço de pizza.

Emma limpou o canto da boca os dedos e em seguida os lambeu, nada sexy ou provocador, na verdade era tão íntimo e casual, que mas mais uma vez fez com que elas sentissem que se conheciam.

— Como estão as coisas a produção da revista? — Emma perguntou.

— A Kristin já terminou o layout, daqui a pouco levo para gráfica para começarem a imprimir.

— Mas já? Quer dizer, foi mais rápido dessa vez.

— É, foi. — Regina suspirou e tomou um gole da sua cerveja.

— O que foi? Alguma coisa deu errado?

— O Gold não aprovou uma das minhas ideias, a minha homenagem às funcionárias da revista.

Mais cedo Gold tinha estado na revista, e com a ajuda de Belle recolheu os seus pertences da sala que ocupava, aos poucos ia esvaziando ela.

— Gold, a edição está quase finalizada, você não quer dar uma olhada? — perguntou animada ao cruzar com ele na redação.

— Ah, claro, mas já imagino que está incrível, as ideias foram muito boas.

Com Gold lhe acompanhando, Regina seguiu para sala, onde em seu computador mostrou a ele o esboço final daquela edição.

— É... — coçou a cabeça. — Não me entenda mal Regina, mas haveria um gasto em dobro de material, seria necessário mais papel e mais tinta, e eu não sei se compensaria.

Falou a respeito da homenagem que Regina estava propondo fazer às mulheres que trabalhavam na revista, que acompanhavam o tópico “Conheça as mulheres que fazem a Gold’s Magazine”.

— Então como está pretendendo prestar essa homenagem? Está pensando em rosas e bombons de chocolate?

— Não necessariamente, eu posso pensar em outra coisa, você pode me ajudar a pensar.

— É só que... Me parece um pouco hipócrita propor as coisas que estamos trazendo nessa edição e não fazer valer isso aqui dentro da revista. — tencionou o queixo.

— Com o tempo você vai perceber que isso aqui é mais do que a parte criativa, e que administrativa e burocrática também pesão nas finalizações.

— Ok, eu vou pensar em algo.

Agora desanimada, Regina contava tudo a Emma.

 — Não acho que você deveria desistir dessa ideia, nada assim foi feito aqui, e faz jus ao que você está oferecendo nessa edição.

— Eu sei, mas ele é o dono.

— E você é a editora chefe, ele deixou todas as responsabilidades nas suas mãos, você definitivamente não pode desistir. Você já tem os textos prontos?

— Tenho sim, é uma espécie de biografia e habilidades de cada uma de vocês, e já está diagramado e com as fotos.

— Tenho certeza que você vai pensar em algo que diminua de materiais.

— Mas tenho que mandar a revista para a gráfica hoje, a não ser que...

— Que...? Desenvolve a ideia.

— Talvez se eu reduzisse as páginas pela metade, de A4 para A5? Reduzia um pouco os textos e imagens e caberia perfeitamente.

— Ficaria como um livreto?

— Isso, e então tudo cairia pela metade, e se...

— E se a revista vender bem como que vai, por causa dos grandes nomes que estão nela, ela vai praticamente se pagar. — Emma completou o raciocínio de Regina.

— Mas tem mais uma coisa, a Kristin saiu, quando vim aqui na sua sala vi ela entrando no elevador com você sabe quem.

— Eu posso reduzir, eu sei usar o programa.

— Você faria isso?

— É óbvio que sim! Agora bate aqui. — Emma ergueu a mão.

— Ham... — Regina ficou olhando duvidosa.

— Ah, qual é? Esse foi o nosso turn down, bate aqui.

Sem acreditar na vidara que tinham dado, Regina bateu confiante, apesar dos percalços, a edição sairia como ela tinha planejado.

— Obrigada Emma, muito obrigada. — deu um beijo rápido nela e se levantou. — Vou no meu computador mandar o arquivo para você e ver se está tudo pronto para campanha online amanhã, e depois vamos mandar para a gráfica.

— Mas e a pizza?

— Fica para depois.

Emma esperou Regina sair praticamente correndo da sua sala, então pegou a caixa e a sua cerveja do chão, os colocou em sua mesa bagunçada e voltou a trabalhar.

Quando Emma terminou de reformatar a edição, Regina estava tão ansiosa para mandar o arquivo para a gráfica para que a edição que começasse logo a ser impressa, que nem se deu ao trabalho de ver como o “livreto” tinha ficado. Se Emma disse que sabia usar o programa e que iria apenas diminuir a escala, sabia que assim ela faria, a fotógrafa já tinha dado razões suficientes para que confiasse nela, pelo menos a tudo que desrespeitasse a revista, mas para outras questões, Regina sentia que estava prestes a descobrir.

Dessa vez Emma não desceu para a gráfica com Regina, devido ao atraso das fotos por causa da escolha do casting, a sua sala estava uma completa bagunça, então ficou organizando ela para não precisar dar trabalho as pessoas da limpeza. Guardava as câmeras na bolça quando Cruella entrou agitada em sua sala.

— Vamos Logo Emma, está demorando tanto porquê?

— Vamos para onde? Eu estou organizando as minhas coisas.

— Para o The Haven, a chefinha está dizendo que a primeira é por conta dela.

— Quem? Regina?

— Ela mesma! Vamos logo, loira.

Emma saiu da sala para ver se o que Cruella dizia era verdade, e o que ela encontrou foi Regina no meio da redação cercada por muitos funcionários, que animados, falavam alto e comemoravam a finalização da edição. Emma riu, ela parecia um pontinho no meio de tanta gente, um pontinho brilhante, porque era perfeitamente capaz de sentir a alegria dela. Regina irradiava exatamente o que sentia, se estivesse com raiva, todos seriam capazes de sentir a sua ira, mas se estivesse aninada, como mostrou estar a semana inteira, todos também ficariam, assim como estavam naquele momento.

No meio de toda aquela gente, Regina viu Emma na porta da sua sala com Cruella, e sem que pensasse muito, a chamou com a mão, depois se dando conta de que estava na frente de quase toda a redação, mas para a sua sorte, pensou, como Cruella também estava ali, não seria tão estranho.

Emma pediu que ela esperasse com a mão e voltou a entrar na sala para terminar de organizar a suas coisas.

— A primeira rodada de tequila, sal e limão são por minha conta. — Regina gritou quando entrar no pub para os remanescentes, e como não poderia faltar, nesse meio estavam Ruby, Cruella e Emma.

— Por acaso você encontrou uma garrafa de vodka na gráfica quando você desceu lá? — Killian perguntou enquanto caminhavam até o bar.

— Se você quiser pagar pela sua própria bebida, tudo bem para mim.

— Cala a boca, Killia — Cruella deu uma cotovelada nele.

— Não está mais aqui quem falou. — ele passou o zíper na boca.

Regina sentou em uma das banquetas do balcão e a acompanharam, dando trabalho ao barman que estava sozinho e precisou servir um shot de tequila para cada um.

— Confraternização? — ele perguntou a Emma quando serviu para ela água tônica.

— Quase isso — ela olhou para o lado procurando Regina, não tinham conseguido sentarem juntas, estavam separadas por mais duas outras pessoas. —, é uma comemoração, a chefe deu um show essa semana.

— Por mais comemorações como essas. — ergueu a garrafa de tequila, quase no fim, que usava para servi-los, e o acompanhando, Emma ergueu a sua água.

Não demorou muito para que o álcool subisse a cabeça de Ruby e Cruella, para elas pedissem que montassem o karaokê, e já alterados, quase todos fossem atrás delas, deixando apenas Emma e Regina no balcão.

— Na outra noite você perguntou se eu não ia cantar — Regina disse saindo do seu banco e indo para o que estava vazio ao lado de Emma. —, mas você também não foi.

— Eu não quis passar tanta vergonha assim na sua frente. — brincou.

— Acho que já me acostumei. Vai dessa vez?

— Só vou se você for, vamos?

— Claro que não. — riu e sovéu a smirnoff da garrafa.

— Compartilhar a vergonha torna tudo menos vergonhoso.

— Quem disse isso?

— Eu mesma, Emma Swan. Eu posso te puxar até o palco sem problema nenhum.

— Como você fez no estúdio?

— Exatamente! Uma vez só não mata ninguém, Regina.

Regina terminou a sua coragem líquida em forma de vodka e acompanhou Emma até o palco, que não parava de sorrir não acreditando que Regina faria aquilo mesmo com ela, se sentia como se estivesse em seu carro levando Alice para universidade, confortável e estranhamente familiar.

Pegaram os microfones depois que Ruby e Cruella desceram, e escolheram a música, procuraram por algo que as duas soubessem, e enquanto a introdução da música começava, Regina pensava em jeitos de sair dali sem que Emma a alcançasse, mas já era tarde demais, as letras começaram a aparecer e Emma a cantar a primeira estrofe:

Oh minha nossa, o que você fez comigo

Como um raio quando eu estou nadando no mar

Desde a primeira vez que nos amamos

Desde a primeira vez que nos tocamos

Caminhando por cabos e fios de eletricidade

Você coloca seu corpo sobre o meu

Toda vez que você me eleva

Aos céus e as estrelas

Olhando fixamente para o monitor, Regina começou a cantar:

Oh Senhor, tenha misericórdia

Estou implorando, por favor

Me sinto esgotada, preciso de amor

Você carrega minhas energias como eletricidade

Acelera meu coração com o seu amor

E então cantaram juntas, Emma não olhava mais para os amigos lá em baixo, olhava diretamente para Regina, pois sentia que cantava diretamente para ela, e não mais com ela:

Tem uma energia

Quando você me abraça

Quando me toca

É tão poderosa

Eu consigo sentir

Quando você me abraça

Quando me toca

É tão poderosa

Se sentindo mais à vontade Regina conseguiu olhar para os colegas da redação que se amontoavam e cantavam junto, mas o seu olhar não permaneceu ali por muito tempo, porque como sempre costumava acontecer, ele foi atraído para o de Emma, que ao seu lado, lhe olhava também.

Não poderia ir embora nem se eu quisesse

Porque alguma coisa me puxa de volta para você

Desde a primeira vez que nos amamos

Desde a primeira vez que nos tocamos

O toque dos seus dedos

O seu cheiro que fica

Minha mente acelerada

Com as lembranças do seu sorriso

Oh, você tem que me dar algo

Ou você pode dar tudo

Mas nunca é o suficiente

Repetiram o refrão mais uma vez e finalizaram juntas:

Me coloque entre seus braços

Queimo como fogo, eletricidade

Quando você está por perto, eu sinto as faíscas

Me eleva além do infinito

Na pista, enquanto todos assoviavam, gritavam e aplaudiam já bêbados, Cruella cutucou Ruby com o cotovelo, que levou o dedo indicador aos lábios fazendo “shh”.

— Doeu? — Emma perguntou quando desceram do palco.

Regina escondeu o rosto nas mãos enquanto ria.

— Nunca mais me deixe fazer isso, por favor.

Emma gargalhou.

Nas caixas de som do pub começou a tocar Familiar, uma música que misturava o inglês e o espanhol, e sem saber nada do outro idioma, Emma começou a cantar enquanto dançava de um jeito que era único seu, e discretamente chamava Regina com os dedos.

— Já foi suficiente para uma noite.

— Não, foi não, estamos comemorando a sua primeira edição, uma edição inteiramente sua.

Aquele era um argumento muito bom, Regina teve que concordar, e sem se permitir pensar muito, começou a dança com Emma, tentando seguir a loucura que eram os passos dela, mas no final acabou só sentindo a música e o seu corpo fez o resto.

Emma parou e ficou apenas observando Regina enquanto essa dançada e as luzes do pub piscavam e giravam, o corpo dela se movia livre no ritmo da música, ela sorria enquanto mordia o lábio inferior e sentia as batidas que parecia fluir pelas suas veias e se libertarem pelos cabelos que eram jogados para todos os lados, tão liberta, tão desinibida e expansiva. Poderia haver mais cem pessoas ali dentro, e mesmo assim Emma teria certeza absoluta de que nenhuma estaria mais feliz ou mais radiante do que Regina. Definitivamente não entendia como aquela mulher lhe fascinava e prendia tanto.

— O que foi? — Regina perguntou ao perceber que Emma tinha parado de dançar — Desistiu de passar vergonha comigo? — precisou falar alto por causa da música.

— Achei que o karaokê tinha sido suficiente para você. — brincou. Regina deu uma risada alta. — Vem comigo? — Emma estendeu a mão, que Regina olhou por alguns segundos antes de agarrá-la e sair sendo puxada.

Emma as levou para o andar de cima. Lá a música não chegava a ser tão alta quanto era na pista, pois o sistema se som fica abaixo do nível do primeiro andar, e por isso conseguiram conversar sem precisar falar muito alto para se fazerem ser ouvidas.

— Porque viemos para cá? — Regina perguntou olhando para baixo e vendo outras pessoas subirem ao palco para cantarem no karaokê.

— Porque você me disse que queria ir com calma, então eu imaginei que você não ia querer que ninguém da revista visse isso.

Emma colocou uma de suas mãos na cintura de Regina, trazendo ela de vagar para mais perto do seu corpo, que mordia o lábio inferior e meneava com a cabeça, a outra mão Emma pôs na nuca dela, e antes que as suas bocas sedentas se unissem, Regina sorriu, o que acabou com qualquer resquício de consciência que Emma ainda pudesse ter.  

O beijo começou calmo, mas foi se aprofundando e se tornando cálido e ardoroso na mesma medida em que Regina sentia o seu corpo entrar em estado ebulição, ela desejava aquela mulher, Regina desejava alguém, tinha saído do seu estado de latência direto para aqueles braços fortes que lhe apertavam a cintura. Regina desejava Emma na sua rotina, na sua vida e na do seu filho, e muito possivelmente na sua cama.

Regina começou a desferir beijos na mandíbula de Emma e foi descendo pelo pescoço fazendo a loira suspirar, e quando Regina alçou o colo dela, com a intensão de provocar, levou as mãos ao primeiro botão da camisa de Emma, que a trouxe de volta para o beijo, fazendo com que Regina esquecesse completamente o que estava fazendo antes.

Enceram o beijo com alguns selinhos e roçando os seus narizes um no outro, o que lembrou a Emma um beijo de esquimó.

— Você não quer que eu te leve para casa? Da última vez você disse que não estava bêbada o suficiente para cantar no karaokê, e hoje você cantou, e até aceitou as minhas aulas de dança. — disse rindo enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha dela.

— Eu estou bem, Emma. — a vontade que sentia era a de fechar os olhos e continuar sentindo o toque de Emma em sua pele.

— Tem certeza?

— Tenho sim, eu não bebi mais do que da outra vez, eu só estava... — considerou um pouco que palavra usaria, nos últimos tempos tinham sido poucos os adjetivos que usava para definir a si mesma — Eu só estou mais feliz do que da última vez. — e sem sombra de dúvidas, feliz, não era um deles.

Emma sorriu largo e a tomou em seus braços mais uma vez, se entregando ao prazer daquela boca quente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não deixem de me contar o que estão achando, está bem?
beeijo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Heartbeat" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.