Heartbeat escrita por Ana


Capítulo 6
The incredible friend


Notas iniciais do capítulo

Vamos a mais um capítulo.
Perdoem os erros que passam despercebidos e boa leitura!



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— E então? — Ruby perguntou quando Regina e Emma entraram na redação, detendo o seu olhar sobre a amiga.

— Já está tudo resolvido — Regina respondeu antes que Emma pudesse abrir a boca —, era apenas um cabo mal conectado. Vocês já podem voltar ao trabalho porque ainda tem muita coisa para ser feita e pouco tempo para se fazer, e essa edição não vai se escrever sozinha. Textos, seja reportagem, esportivo ou de moda, terminem de escrever, passem pelo programa de correção e mandem para mim e para a Ruby, tem muita coisa acumulada para uma pessoa só. O layout, você já tem as suas ferramentas disponíveis, Kristin, crie e depois só jogamos os textos e as fotos, e pegue com Swan as opções de foto para capa, quero no mínimo três opções para o cliente poder escolher, e com urgência máxima. E Jekyll, seja útil, faça alguma coisa além de produzir gás carbônico, essa revista tem que estar nas bancas depois de amanhã.

Regina marchou com cara de poucos amigos até a sua sala deixando todos os outros, e Emma, para trás, que a acompanhou com o olhar até ela entrar.

Quando a porta da sala da editora chefe se fechou, todos começaram a se mexer, a redação voltou a vida e os sons de teclados de computadores encheram o ambiente.

Emma que já tinha as suas fotos tratadas e prontas para serem anexadas, procurou Kristin para ajudá-la com a capa e com o que mais ela fosse precisar, tinha noção de design e sabia mexer com o programa usado, e com um prazo tão justo...

— Belle, você viu para onde a Kristin foi? Ela estava aqui há um segundo.

— Ela saiu caminhando lado a lado com Jekyll, acho que foram para a copa. Cuidado para não chegar de surpresa e ver o que não quer. — cochichou a última parte, um pouco maliciosa demais para uma pessoa delicada como Belle aparentava ser.

Emma sorriu para Belle por educação, mas por dentro estava revirando os olhos. Driblou toda a redação, que agora parecia um formigueiro, e foi para copa chamar Kristin, tinham muito o que fazer, e quanto antes começassem, mais tempo teriam para pensar e discutir, antes de mostrar a Regina, mas enquanto caminhava, se deu conta da chance de ouro que estava tendo.

Se Jekyll tinha feito aquilo com o cabo da internet como ela achava que tinha, já que ele era o único a ter motivos, inveja e dor de cotovelo, com toda certeza seria a Kristin que ele iria contar. Tinham algo próximo do que poderia ser chamado de relação, pelo menos era o que todos achavam. Os viam sempre juntos e cochichando pelos cantos da revista, e quando um deles sumia, o outro também nunca era encontrado por perto.

Se aproximou em silêncio e olhou rapidamente para dentro da copa, Kristin estava encostada no balcão e Jekyll com as duas mãos apoiadas no móvel, mantendo ela presa ali. Emma voltou rápido para trás e ficou escondida em um vão de parede. Até respirava mais devagar, não podia fazer barulho e entregar que estava ali.

Ouviu estalos de beijos o que fez o seu estômago revirar, nem sendo hétero entenderia alguém seria capaz de se interessar por um mal caráter como ele.

— Você — sons de beijos —, você foi muito esperta, sabia?

— Quem diria que cinco minutos mais cedo no prédio e um alicate de unhas fariam milagres.

— Você foi de mais. — beijou ela novamente — A demora dos técnicos para chegar desestabilizou ela completamente. Mas eu já avisei a empresa. — falou com a voz aguda, imitando Regina.

Os dentes de Emma trincaram comprimindo uns aos outros com força, o seu coração começou a bater mais rápido, estava com raiva pelo o que eles tinham aprontado com a revista e com ódio por ele zombar de Regina daquela maneira. Ela não tinha culpa de ter sido escolhida pelo Gold para o cargo, que por certo ele tinha os seus motivos para não dar tanto poder a Jekyll dentro da revista.

— Mais meia hora sem internet e eu posso apostar que alguém teria ligado para o Gold, e ele veria que você é o melhor para isso.

— Um mês, dois no máximo, e ela desiste e volta para o inferno de onde ela saiu.

— Você já descobriu alguma coisa sobre ela?

— Soube de algumas coisas, e também perguntei ao Gold, você sabe, como quem não queria nada, já morou em Boston antes, tinha uma família...

Na revista as vezes era apelidada como good vibes por estar sempre na sua e não se envolver nas calorosas discursões que as vezes aconteciam nas reuniões, fazia o seu trabalho e era isso importava, fazia o que gostava e vivia bem com a vida que tinha, sem sofrer por antecedência ou se deixar ser tirada do sério com facilidade, tanta coisa valia mais do que isso, mas aquilo, ouvir o que eles diziam e como falavam de Regina sem que ela estivesse ali para se defender, queimava dentro de Emma, ardia feito brasa.

Emma queria entrar na copa e encher a cara de Jekyll de socos até tirar o nariz dele do lugar, para depois poder pegar Kristin pela gola do casaco e bater com a cabeça dela contra a parede até que ela acordasse e entendesse que para um homem daqueles ela não era nada mais que um joguete, mas em vez disso, respirou fundo e saiu dali, antes que algum deles a visse.

 

— Mas o que é que você está fazendo aqui, Emma? — Kristin perguntou surpresa. Quando abriu a porta da sua sala se deparou com Emma sentada na cadeira em frente a sua mesa e usando o notebook.

— Trabalhando, o que mais eu poderia? — respondeu sem tirar os olhos da tela do laptop, temia entregar a sua raiva. — Já ajudei você antes com os layouts.

— É, mas eu não pedi a sua ajuda dessa vez. — deu a volta na mesa e se sentou na sua cadeira.

— Não precisa falar comigo como se falasse com uma criança, Kristin, você é mais velha do que eu, mas não é tanto — provou a mulher, sabia que falar sobre a idade dela era um assunto sensível, assim como era para todas as mulheres vaidosas — Vamos lá, o que você está pensado para essa edição? — mirou a loira a sua frente com os olhos serrados por cima do notebook, enquanto a outra ligava o computador.

Mantenha os amigos por perto, e os inimigos mais perto ainda; era exatamente isso Emma estava fazendo, mesmo não entendendo exatamente o porquê.

 

Os textos só começaram a serem enviados para Regina depois do meio dia. Trabalhando com Ruby em sua sala, liam e mudavam tudo o que achavam necessário, e devido a pressa e ao caos que a falta de internet tinha causado na redação, muitos eram os erros e a falta de concordâncias, que programa corretor algum resolveria, a menos é claro, que o corretor fosse humano.

— Acho que podemos fazer uma pausa, não acha, Regina? Já estamos há horas lendo essas matérias, daqui a pouco vamos estar deixando as coisas passarem. — Ruby falou se espreguiçando.

— Está cansada? — tirou os óculos de leitura e coçou os olhos. Estava com a vista cansada, como diria o seu pai, de tanto tempo que tinha passado em frente ao computador.

— E com fome — completou. — nós não almoçamos, lembra?

— Lembro, mas eu não estou com fome, vou continuar com as correções, mas se quiser parar um pouco, tudo bem.

— Tem certeza?

— Tenho, você pode ir. — a verdade era que Regina não queria sair do seu escritório e ter que dar de cara com Jekyll ou qualquer outro que pudesse lhe tirar do sério.

— Você quer alguma coisa? — Ruby perguntou parada com a porta aberta antes de sair.

— Não, obrigada. — colocou os óculos de novamente no rosto e voltou a sua atenção para o monitor.

Quando saiu do escritório da editora-chefe, Ruby passou na sala de Emma, e sem encontrar ela lá, foi até a recepção, Belle podia ser um doce, mas sempre via quem entrava e saia da revista.

— Belle, você viu se a Emma passou por aqui?

— Não, Ruby, a última vez em que a vi, ela estava procurando por a Kristin. Devem estar juntas.

Ruby bateu na porta da sala de criação, e ao ouvir um “pode entrar” abriu a porta e colocou a cabeça para dentro da sala.

— A Emma está a...?

— Oi, Ruby, eu estou sim.

— Vim te chamar para ir comer alguma coisa ali na frente.

— Claro. — praticamente se pós de pé em um pulo.

— Você Kris...

— Ela está ocupada, não é, Kristin? Ainda falta muito para terminar.

A morena virou um pouco a cabeça quando Emma respondeu tão rapidamente no lugar Kristin, deixando a outra de boca aberta, sem ter ao menos a chance de dizer alguma coisa.

— Vamos? Ah, Kristin, pelo grupo familiar você pode ver e pegar o que eu já fiz, está bom? Volto daqui a pouco.

— O que foi aquilo? — Ruby perguntou quando saíram do prédio.

— O que você acha que foi?

— Você claramente não queria que ela viesse conosco.

— Ela só ia ficar falando de homem, e nem você e nem eu estamos interessadas nesse assunto.

— Estar, estar, não estamos, mas porque você estava trabalhando com ela? A sua obrigação é só com as fotos, não tem nada a ver com layout gráfico.

— Eu só quis ajudar. — falou quando atravessaram a rua —, está tudo atrasado, você mesma está trabalhando com a Regina.

— Isso é verdade. Eu vou sair dessa revista sem querer ler nem mais o cardápio de drinks do pub, de tanta coisa que já precisei ler hoje.

— Idiota. — rindo, Emma deu um empurrão na amiga.

Comeram em um café que ficava quase em frente ao prédio da revista. Emma pediu um chá gelado e um sanduiche de frango, enquanto Ruby se deliciou com um chocolate quente com creme e uma fatia de bolo.

— Está gostando de trabalhar com a chefe nova? — Ruby perguntou limpando o bigode de chocolate com um guardanapo.

— Sim! Quer dizer, normal ué. Mas é você quem deveria me responder isso, já que estar trabalhando diretamente com ela. — devolveu a pergunta bebericando o chá, tentando demonstrar menos interesse do que realmente sentia.

— Ah antes que eu esqueça, o Jekyll me falou sobre o comentário que ela fez a respeito de uma das modelos, parece que ela é das nossas. — piscou maliciosa.

Emma corou, lembrava muito bem do comentário que Regina tinha feito.

— Ela disse aquilo só para rebater outra coisa idiota que ele tinha falado. — para a sua própria surpresa, se pegou querendo acreditar que aquilo fosse verdade.

— Ah, qual é?! Eu bem vi ela olhando para você outro dia.

— Olhando para mim? — perguntou alto demais.

— Sim, você. Você estava falando com a Belle e o Will.

— Ah, por favor Ruby, ela devia estar querendo que a gente deixasse de conversa e voltasse logo a trabalhar. — falou um pouco desanimada.

Ruby revirou os olhos. A quem ela está querendo enganar? pensou.

— Então, sobre o que me perguntou, eu não sei se é por causa do atraso da internet e tudo mais, mas ela me pareceu ser workaholic, viciada em trabalho. Desde as 12p.m, que nós estamos trabalhando e ela não se levantou nem para ir ao banheiro. Se ela for mesmo essa máquina, está claro o porquê do Gold ter escolhido ela.

— Seria bom se o Jekyll entendesse isso de uma vez.

— Ele não gostou nada da nomeação do nome dela em vez do dele.

— Ele está sendo um babaca, isso sim! — colocou o copo de vidro sobre a mesa com mais força do que deveria, fazendo barulho.

— Nossa Emma, o que te deu hoje? Nunca vi você falando assim de alguém, mas não que ele não mereça ou não que eu não concorde, é claro.

— Ele está sendo o maior FDP, fica fazendo comentários inconvenientes e... — Emma ponderou se deveria contar ou não o que tinha ouvido escondida na copa da revista, e após um suspiro, decidiu que sim, Ruby era sua amiga e confiava nela. — Ouvi ele a Kristin conversando, ela estava contando a ele como conseguiu cortar o cabo da internet.

— O que? — Ruby que estava bebendo o seu chocolate, quase devolveu a bebida de volta para a xícara.

— E eu aposto que a ideia foi dele, e ela como uma cachorrinha foi lá e fez.

— Mas que filho de uma... Mãe, e eu e ela estávamos lendo aquelas matérias feito duas loucas por causa de todo esse atraso. Você contou a ela? Contou a Regina? Não né, porque a revista ainda está de pé. Você tinha que ver o jeito que ela falou com a atendente do servidor de internet, foi de fazer chorar, imagina o que faria com dois.

Quando voltaram para o prédio da revista, Emma foi surpreendida por um abraço inesperadamente apertado para alguém daquele tamanho.

Henry estava sentado em um dos sofás da recepção ao lado de uma das professoras da creche, quando viu a sua nova amiga entrar, então se levantou rápido e correu na direção dela, até alcançá-la e se agarrar em suas pernas em um abraço.

— Henry, não... — a professora começou a dizer, mas não teve tempo de completar a frase.

— Opa! — Emma disse se desiquilibrando um pouco, antes de ficar de joelhos no chão do saguão e o abraçar apertado, devolvendo o que tinha recebido a Henry.

Quando se separaram e os seus olhos se cruzaram, diferentemente da primeira vez em que se encontraram, os dele estavam alegres, e sem que se desse conta, os lábios de Emma se abriram em um sorriso largo, e como se o convidasse, Henry pulou em seus braços, mais uma vez.

Com os olhos estreitados, Ruby os observava estranhando toda a situação.

Faziam poucos dias desde que tinham se visto pela primeira e até então última vez, e também não se conheciam tão bem assim, mas com ele ali em seus braços, o que Emma sentia era uma saudade esmagadora que parecia ter sido alimentada por anos, que nem mesmo ela sabia que sentia.

— Henry? — a professora se aproximou deles e chamou o menino.

— Ela é minha amiga, tia. — explicou quando saiu de dentro do abraço de Emma.

— É... Está tudo bem. — disse Emma, quando se levantou — Porque não está na creche? — bagunçou os cabelos do seu mais novo amigo. — Não vai me dizer que você fugiu de novo?!

— Não! — balançou a cabeça em negação. — Eu pometi de dedinho pra a minha mãe que não ia fazer mais isso.

— Assim eu espero, heim.

— É que está passando um pouco do horário da mãe dele vir pegá-lo, e depois do último incidente, tenho olhado ele bem de perto. — a professora contou.

Emma ergueu o punho da camisa para olhar no relógio de pulso que horas eram, 17:45, os alunos eram liberados às 17:00.

— Ela, a Regina, está lá em cima. Eu posso leva-lo.

— Eu já liguei para lá avisando, a recepcionista disse que iria avisar a ela.

— Mas eu posso subir com ele para a revista e ...

— Emma. — Ruby colocou a mão no ombro da amiga, sabia que ela tinha levado o garoto de volta para a mãe no outro dia, mas não entendia o motivo de tanto afeto e da insistência dela em levar ele.

— Mas é que a Regina está cheia de coisas lá em cima, e foi por isso que ela se atrasou. Ela vai ter só o trabalho de descer para subir de novo.

— Deixa tia, por favor, ela é a minha amiga.

A professora não sabia se aquela era uma boa ideia, mas lembrou que a amiga de Henry era quem tinha o encontrado. Não sabia como a mãe dele iria reagir, mas estava atrasada e já tinha passado do seu horário.

— Tudo bem, aqui está a mochila e lancheira dele.

 

— O que foi agora, Rub... Ah, oi Belle. — disse quando tirou o olhar do monitor e olhou para a porta — Desculpa eu achei que fosse a Ruby.

— Tudo bem.

— Mas a pergunta é a mesma, o que foi dessa vez?

— Ligaram lá de baixo, da creche, pediram para dizer que ela já vai fechar e estão perguntando se você vai descer para pegar o Henry, ou se alguém vem buscar ele.

— Droga. — praguejou baixo e acertou a mão na testa depois de olhar que horas eram no canto inferior esquerdo do monitor. — Eu esqueci completamente disso, fiquei fazendo as correções das matérias e não me atentei ao horário.

— Você vai descer ou...?

— Vou, claro que vou. Vou agora.

Regina saiu apressada da sua sala, mas parou de uma vez ao ver quem estava entrando na redação.

— Mamãe! — animado e andando apressado em direção a mãe, Henry saiu puxando Emma pela mão.

Saltitante, assim como estava pela manhã, Henry vinha segurando na mão de Emma, enquanto ela puxava a mochila de rodinhas e trazia a dele lancheira nas costas.

A boca de Regina se abriu, gesticulou, mas não disse nada. A visão que tinha ali, bem na sua frente, lhe tirou as palavras, não entendia o porquê, era só uma funcionária com o seu filho, não era? Mas existia um mas que martelava em sua cabeça, em seu peito.

— Mãe!

— Oi, é... Mas...

— Eu o encontrei no saguão com a professora, estavam esperando por você.

— Foi, você me esqueceu, mamãe.

— Não, claro que não, eu só... É que tem muito trabalho para fazer aqui, e acabei me atrapalhando e me atrasando um pouco.

— , eu desculpo você. — sorriu para o filho.

— É... Obrigada por ter trago ele. — disse saindo do seu torpor.

— Não foi nada. — entregou a mochila e a lancheira a Regina.

— Eu vou ficar aqui com você, mamãe? — perguntou soltando da mão de Emma e pegando na da sua mãe.

— Vai sim, pelo menos até eu terminar o que tenho para fazer hoje.

— Eba! — comemorou quando começaram a caminhar e ir para o escritório de Regina. — Tchau, Emma. — se virou e acenou com a mão livre.

— Tchau, Henry. — Emma que já sentia um aperto quando eles começaram a se afastar, acenou sorridente de volta.

Enquanto Regina e Ruby trabalhavam em cima das matérias, Henry ficou no sofá de dois lugares que tinha na sala, com uma folha de papel ofício apoiada no braço do móvel e uma caneta vermelha na mão, ele desenhava. Desenhou a sua família, ele, a mãe, o vô Henry, a tia Zelena e o tio Robin, os primos, o Roland e a Robin, e uma lua no céu. Pelo menos era isso que ele achava estar desenhando.

— Mãe, olha o meu desenho.

— Está lindo, filho.

— Mas você nem viu. — falou fazendo biquinho.

Regina suspirou e olhou para Ruby, que lhe sorriu complacente.

— Agora eu estou vendo, e está lindo, vamos guardar para colocar na porta da geladeira, está bom?

Voltaram a trabalham até que Henry as interrompeu de novo.

— Mãe, não dá para mim desenhar aqui, fica furando o meu desenho. — a superfície do braço do sofá onde Henry apoiava o papel não era plana e nem firme o suficiente, e toda vez que ele desenhava com um pouco mais de força, acabava furando o papel.

— É “para eu”, Henry, e você pode ir para o chão, se quiser.

— Mas mamãe...

— Filho por f... — começou a dizer, mas batidas na porta a interromperam.

— Com licença — uma cabeça loira surgiu dentro da sala.

— Emma! — Henry pulou do sofá deixando o seu desenho lado e correu em direção a ela, pela segunda vez no dia.

— Oi, você não está fazendo bagunça, não é? — perguntou baixinho enquanto afagava os seus cabelos.

— Então Emma, o que foi? — Ruby perguntou.

— É.. A capa da edição. Não conseguimos falar com o cliente, ele está fora da cidade e não conseguimos entrar em contado. A secretária dele disse que ele só estará de volta amanhã.

— Ainda mais essa. — Regina passou a mão nas têmporas.

— Mas a Kristin preparou três opções de layout com as fotos que nós conversamos que tinham potencial para capa.

— Tudo bem, achei que poderíamos finalizar tudo hoje, mas já vi que não vai dar.

— Emma, você é repórter como a minha mamãe? — Henry perguntou quando Emma estava pronta para se retirar.

— Não Henry, eu sou fotógrafa, faço as fotos da revista.

— Ah. Você tira uma foto minha?

— Henry! — Regina o repreendeu.

— Está tudo bem, Regina. Você quer ver as minhas câmeras, Henry?

— Swan, não acho que seja uma boa ideia. — falou se levantando da cadeira.

A cabeça de Ruby virava na direção de uma e da outra, cada vez que falavam. Não acreditava que só ela percebia o que estava acontecendo.

— Vocês ainda estão trabalhando, eu posso ficar com ele. Só quero ajudar. — se justificou.

— Por favorzinho, mamãe. — Henry pediu com as mãos postas.

Não saberia dizer quem tinha a expressão mais pidona no rosto, se era o seu filho, ou Emma.

— Okay, eu e a Lucca vamos trabalhar com o que temos aqui e eu o pego daqui a pouco.

 

Prontamente Henry agarrou a mão de Emma e a arrastou para fora da sala, deixando Emma apenas com a imagem de Regina com olhar que beirava apreensão.

— É aqui que eu trabalho. — Emma disse quando entraram na sua sala.

No geral, a sala era parecida com a sua mãe, tinha uma mesa com cadeiras na frente, um sofá e janela, menos pelas softboxes, refletores, fotos e capas de revistas emolduradas nas paredes e as duas câmeras profissionais sobre a mesa, que chamaram a atenção de Henry.

— Você vai tirar uma foto minha? — perguntou com os brilhando.

— Posso tirar se você quiser, mas que tal se eu te ensinar a tirar fotos?

— Eu vou poder pegar na câmara?

— Câmera — o corrigiu sorrindo. —, e se você quiser, vai poder sim.

— Eu quero. — respondeu eufórico.

Emma pegou a canon EOS e colocou no pescoço de Henry.

— É pesada. — disse todo tenso.

— É um pouquinho, e por isso que você vai segurar ela assim. — ajeitou a câmera nas mãos dele. — Ele liga nesse botão.

— Aqui?

— Isso, pode apertar. — Henry apertou e a lente se projetou para fora. — E por essa tela você consegue ver tudo que está do outro lado da lente. Aqui você dá o zoom, traz o que está longe de você para mais perto, e aqui você tira o zoom. Nesse aqui, apertando e segurando, você tira a foto...

Enquanto ela explicava o que cada botão fazia, da melhor forma que ela acha que Henry fosse entender, ele ia apertando e realizando cada função.

— Agora você pode tirar quantas fotos você quiser.

— Hum... — levou o dedinho indicador ao lado da boca enquanto pensava. — Do que eu posso tirar uma foto?

— Que tal uma minha? Eu não sou modelo, mas posso posar para você.

— Faz uma pose bem bonita então.

— Faz uma pose, bem, mas bem bonita.

— Assim está bom? — se afastou a colocou as mãos na cintura. — o flash foi disparado e Emma se aproximou para ver. — Ah, ficou sem foco Henry — ele fez biquinho descontente. — Para a foto ficar boa, você só pode apertar no botão quando você estiver vendo bem a pessoa que está do outro lado por essa telinha, está bem?

— Uhum! Eu posso tirar outra?

— Claro. — se afastou de novo e posou. — Vamos ver... Essa está ótima, parece até que eu sou mais nova.

Depois de ter entendido como o aparelho funcionava, Henry saiu tirando foto de tudo, dos enfeites das prateleiras e da mesa, das suculentas no parapeito da janela, dos quadros na parede, e claro, muito mais fotos de Emma.

Ela gargalhava com as poses que Henry pedia para fizesse, com a mão na cabeça, em um pé só, fazendo um quatro, imitando o incrível Hulk e fingindo que ela estava tirando uma foto com a outra câmera, o que Emma aproveitou para tirar uma foto dele mesmo fotografando.

Sentaram no sofá enquanto viam na câmera as dezenas de fotos que Henry tinha tirado e dividiam um pacote de biscoito.

— Eu gostei dessa aqui. — disse quando chegaram na foto que Emma estava imitando o Hulk.

— E que nome você vai dar a ela?

— Nome? — perguntou confuso.

— É, nome. Deixa eu te mostrar uma coisa. — se levantou e até a sua mesa onde pegou duas fotos de uma das gavetas. — Olha, essa foto aqui é umas das que eu mais gosto, ela se chama “A Pintora”, eu sei que é óbvio, mas foi o primeiro nome que me veio a mente. — na foto em posição retrato que Emma mostrava, estava Alice, com os cabelos trançados em uma trança mal feita e estava vestida em um macacão machado, enquanto pintava um de seus quadros.

— Quem é essa mulher? — perguntou curioso.

— É a minha irmã mais nova, Alice.

— Eu queria ter uma irmã para brincar com eu. — ficou tão derretida com a carinha que ele fez quando disse aquilo, que Emma deixou até o erro passar.

— E essa aqui — mostrou uma outra foto em paisagem, nela tinha a foto de um golden ritriever correndo pela praça, com os pelos dourados ao vento e a língua molhada para fora. Tinha tirado essa em uma de suas saídas para andar de bicicleta pela manhã. —, o nome dessa é “Freedom”, liberdade.

— Então a minha vai se chamar “A Incrível Amiga”. — falou solene.

Sentados no sofá continuaram vendo as fotos com Henry empenhado a dar nome a todas elas.

— Ah Henry, eu tenho uma para te mostrar. Henry? — mas não ouve respostas, o menino tinha adormecido com a câmera na mão e encostado nela.

Emma pegou a câmera e o ajeitou de modo com que ele ficasse deitado com a cabeça no colo delem seu colo.

Tinha chamado ele para mostrar a foto que tinha tirado na outra câmera, e olhando para ela agora, Emma também pensou no nome em que daria para ela.

“Meu mais novo amigo fotógrafo”, sorriu com a dualidade do nome, o “novo” fazia jus tanto o tempo de amizade que tinham como a idade de Henry.

Emma deixou a câmera de lado e distraída começou a mexer nos cabelos dele, e assim a sua mente viajou. Gostava de crianças, de Henry em especial, e gostaria de ter filhos, os seus próprios filhos, mas já tinha sido desacreditava pela a sua médica quanto à possibilidade daquilo. Por causa do transplante, tomava meia dúzia de remédios todos os dias, o que durante a formação de um bebê poderiam prejudica-lo, causado deficiências motoras ou cognitivas, e mesmo assim, não sabiam se o seu coração poderia aguentar todo o estresse de uma gestação ou ao parto. Mas Emma sabia que aquela não era a única a alternativa, e que quando chegasse o momento certo, ela saberia o que fazer para o bem do seu futuro filho.

 

Passava das oito da noite e Regina e Ruby ainda não tinha conseguido corrigir devidamente tudo, ainda faltavam redatores terminarem os seus textos e a capa da revista que certamente ficaria para o dia seguinte. Realmente cansada, Regina achou melhor deixar o restante para manhã, sentada do outro lado da mesa, Ruby tinha os olhos vermelhos e já bocejava, e Regina não estava muito diferente.

Se despediu da sua editora e passou na sala de Emma para pegar Henry e irem para casa.

Quando bateu na porta e ouviu um “Pode entrar” baixinho, abriu a ela de vagar e pela segunda vez no dia ficou sem palavras, de repente não sentia mais raiva ou cansaço. Emma tinha o seu filho nos braços, que dormia tranquilamente.

— Ele acabou dormindo. — Emma falou baixo.

— É... — Regina passou as mãos no rosto. — Ele não deu trabalho, deu?

— Nenhum, mas tirou muitas fotos, talvez tenha uma veia artística aí.

— Que coragem a sua, deixar ele pegar nas câmeras. — se aproximou e fez um carinho no rosto do filho.

— Ele foi cuidadoso e fez tudo direitinho. Conseguiram terminar tudo?

— Não, ainda ficaram algumas coisas para amanhã, mas vamos conseguir colocar a revista nas bancas.

— Eu nunca duvidei disso. — sorriu.

— Porque você ficou até esse horário, Emma, as suas fotos já estavam prontas, o seu trabalho já estava feito?

— Eu ajudei a Kristin com o layout e depois fiquei com o Henry.

— Mas nada disso é obrigação sua. — mexeu os ombros. Será que ela é tão altruísta assim mesmo? Regina pensou.

— Mas se precisavam de ajuda, não me custava nada ajudar, mesmo que não tenha sido pedido. — falou um pouco retraída.

É, ela é sim.

Henry se mexeu se ajeitando no sofá, elas desviaram o seu olhar uma da outra e olharam para ele.

— Ele dormiu sem jantar. — Regina lamentou.

— Ele comeu biscoito, sei que não é nada muito nutritivo, mas pelo menos era de cereais e não recheada.

Regina sorriu cansada.

— Acho melhor descer, quanto antes e ele estiver na cama dele, melhor.

— Bom, se você esperar que eu coloque as minhas câmeras na bolsa, posso descer junto e te ajudar com ele e bolsas.

Emma colocou as suas coisas na bolsa e pegou Henry nos braços, mesmo Regina dizendo que levaria ele. Com a visão da cabecinha do seu filho repousando sobre o ombro da sua amiga, Regina pegou e sua bolsa e pasta, e a mochila e a lancheira de Henry, apagou a luz da sala e fechou a porta.

Se não fosse por o segurança do andar, a redação estaria deserta.

Desceram de elevador até o estacionamento subterrâneo, onde Emma colocou Henry na cadeirinha e o prendeu com o cinto, enquanto Regina ajeitava as bolsas do outro lado.

— Obrigada por hoje, pelo o que me disse mais cedo, por ter ajudado com a revista e com o Henry.

— Não foi nada, gosto de ser útil.

— É claro que foi, e algo me diz que é mais do que isso.

Emma sorriu de lado e deu de ombros.

— Não estranhe o que vou perguntar, mas o Henry pediu para ver a lua antes de dormir?

— Não, ele só adormeceu, estávamos vendo as fotos que ele tinha tirado e então ele dormiu. Mas porquê?

— Por nada, ele só gosta da lua, gosta muito. — pela primeira vez, em três anos e a noite, Henry tinha dormido sem pedir para que visse a lua primeiro.

— Ele estava tão distraído que deve ter esquecido.

— É, acho que sim.

— Mas sabe do que eu tenho certeza? É que hoje já deu para você, você está merecendo um descanso. Tchau Regina.

— E você também. Até amanhã, Em-ma.

Mas aquela não era uma saudação de despedida, era a esperança velada de que realmente se veriam no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Só queria dizer que essa fase introdutória está acabando, e que no próximo capítulo vai ter algo que eu acredito que vocês querem bastante.
Agora é com vocês!
Beeijooos e até o próximo



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