SuperGrimm – Uma Caçada Wesen escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 4
Bodecórnio?


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente :-)

No capítulo de hoje, vamos aprender uma palavra nova (conforme o título).

Aprendam bonitinho com o professor Dean Winchester ♥

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761025/chapter/4

Não muito tempo atrás, o Englewood Hotel foi cenário de uma caçada Wesen. Agora, ao que tudo indica, ele pode se tornar o cenário de outra. Quem sabe ainda mais intrigante e perigosa do que a luta contra a gerente Alpe foi.

Se há alguns meses, Monroe serviu como isca para atrair o monstro faminto por sono, agora ele está aqui exercendo outro papel. Igualmente importante e também como um favor pessoal ao amigo Grimm.

Desde que Nick inventou de xeretar a sua propriedade, há alguns anos e enquanto Monroe demarcava território com urina como seus ancestrais, a lista de favores cresce junto com os laços de amizade entre os dois. Mas apesar de reclamar algumas vezes e fazer piadas na maioria, a verdade é que o Blutbad gosta de ajudar Nick. Para ele, é para isso que amigos de verdade são feitos. Mesmo que o tal amigo abuse um pouco da sua boa vontade.

O favor da vez é descobrir se os falsos agentes federais, que chegaram em Portland essa manhã, e já deram dor de cabeça à Nick, Hank e Wu suficiente para o ano inteiro, são Wesen e, caso sim, de qual tipo.

Para desvendar o mistério, o Blutbad precisa fazer woge e apurar bem o sentido olfativo na direção da hospedagem, onde Sam e Dean Winchester estão enfurnados desde o fim do interrogatório da família Johnson.

É exatamente o que Monroe faz, quando não há ninguém passando pela calçada logo em frente. O vidro ligeiramente escuro do carro de Nick também funciona como um tipo de camuflagem. De qualquer forma, Monroe sabe que precisa ser rápido pois, a qualquer momento, alguém pode passar por ali de novo e talvez o insulfilm não seja suficiente para mantê-lo oculto.

Com o verdadeiro rosto revelado, ele fecha os olhos de um vermelho intenso, emoldurados por sobrancelhas que estão mais espessas e escuras do que de costume. Concentra-se o máximo possível, farejando o ar através de uma fresta da janela com suas narinas mais largas e sensíveis. E retorna à feição humana alguns instantes depois, com um característico movimento de cabeça e parecendo muito frustrado.

Monroe olha para Nick, que aguarda pelo parecer visivelmente ansioso no banco do motorista, e argumenta:

— Eu preciso chegar mais perto, cara. Tem muitos odores atrapalhando, inclusive de mofo. Acho que esse lugar caiu pelas tabelas depois que a antiga dona morreu.

— Não me diga, que pena — o Grimm comenta com ironia. — Eu não gosto da ideia de chegar mais perto. Esses caras parecem espertos, pode ser arriscado.

— Eles nunca me viram antes, Nick. Além disso, eu não vou bater na porta do quarto dos dois e pedir um pouco de açúcar. Só preciso me aproximar um pouco mais. A recepção seria o suficiente, só que eu não possa wogar na frente do funcionário. Então... acho que vou pedir a gentileza de usar o toalete. Que tal?

Antes que Nick concorde com o plano ou não, Monroe abre a porta do carro e o dispensa com um discreto gesto de mão. O detetive entende a mensagem, dá partida no carro e estaciona na rua lateral ao hotel. Ficar esperando diante do lugar poderia chamar a atenção de alguma forma. Caso os irmãos Winchester decidissem sair de repente, por exemplo.

[...]

O que nem Nick nem Monroe sabem é que os caçadores não pretendem deixar o Englewood por ora. Num dos quartos no segundo andar, eles estão concentrados demais em uma pesquisa que parece sem fim e conjecturando sobre qual criatura pode ser aquela que Ted Johnson desenhou.

— Eu não lembro de nada parecido com essa coisa no diário do papai. — Dean joga a folha com os rabiscos trêmulos sobre a mesa na qual o notebook de Sam trabalha sem parar. — Ou nos arquivos do bunker. Muito menos de ter cruzado com algo assim pela estrada. Parece um bode misturado com unicórnio. Um bodecórnio.

O irmão para de digitar a próxima busca num site sobre deuses pagãos por um momento e arqueia as sobrancelhas na direção dele.

— Bodecórnio? Sério, Dean? De onde você tira tanta criatividade?

Sem se abalar com o tom de deboche, o Winchester mais velho dá de ombros e responde:

— Eu não sou apenas um corpinho bonito, Sammy. Tenho muito conteúdo.

Em seguida, ele pega duas cervejas no frigobar que fica no canto do quarto de paredes amareladas. Deixa uma das garrafas ao lado de Sam e caminha até uma das camas de solteiro. Senta-se largado sobre a colcha puída de retalhos irregulares e se livra da tampa da long neck com um estalo. Um segundo depois, toma um longo e generoso gole, fechando os olhos momentaneamente.

— Tudo bem, gênio. — Dean limpa a boca com a manga da jaqueta. — Em qual suspeito você está pensando?

Sam abre a outra cerveja. Gira a cadeira de forma a ficar de frente para o irmão, permitindo assim que ele veja as abas de pesquisa abertas até ali. Depois de tomar um gole rápido da bebida, ele expõe intrigado:

— Na verdade, em uma série deles. O Deus grego Pan, o egípcio Seth, um sátiro qualquer e até mesmo uma manifestação bizarra do demônio Baphomet. Todos se parecem com bodes ou cabras, todos podem ter suas motivações para atacar uma criança e matar o pai que tentou defendê-la. O problema é esse chifre bem no meio da testa. Nenhum deles possui essa característica. E eu não acho que Ted erraria sobre esse detalhe. Foi o que ele mais destacou no desenho, parece algo importante.

— Bodecórnio, cara. Confie em mim. É isso que estamos caçando. Uma nova criatura. Um híbrido.

Sam ri sem humor e beberica mais um pouco da cerveja. Como a investigação não está indo para lugar algum e o mistério apenas segue encoberto por uma densa névoa de perguntas, ele decide mudar de assunto:

— Ei, o que você achou do detetive Burkhardt?

Dean dá de ombros e despeja sem pestanejar:

— Meio idiota, por quê?

O mais novo se ajeita melhor na cadeira e pondera:

— Bom, eu tenho certeza que ele pensou o mesmo de você, e que o detetive Griffin concorda com o parceiro nesse ponto, mas não é disso que estou falando, Dean. — Após uma breve pausa, e ignorando o olhar azedo do irmão, Sam reformula a pergunta: — Você não achou estranho ele ter pedido para ver o desenho daquele jeito afoito? E, principalmente, a forma como olhou para o monstro que Ted Johnson colocou no papel? Não me pareceu o interesse de um policial comum, mas de... Sei lá, outro tipo de interesse.

Embora também tenha estranhado a postura de Nick Burkhardt ao alcançá-los na saída da delegacia daquela maneira só para dar uma boa olhada no desenho do menino, Dean está um pouco relutante quanto à única explicação que consegue imaginar para isso. Com essa descrença teimosa, ele indaga:

— Você acha que ele é um caçador? Como nós? Sem chance.

— Ele poderia ser, certo? Por que não? — o mais novo rebate, sem conseguir pensar em outra explicação e mais inclinado a aceitá-la do que o outro. — Não é tão absurdo assim, você acha?

— Honestamente? Eu não sei o que pensar, Sammy. — Dean toma mais um longo gole da long neck, como se o álcool fosse capaz de clarear sua mente. Mas não é. — Só sei que o cara é estranho, agiu estranho e um “caçador detetive policial” soa mais estranho ainda.

Achando o argumento meio fraco, Sam faz um lembrete:

— Um nome: Jody Mills. Xerife e caçadora nas horas vagas. Não é muito diferente desse Nick.

— Ela é uma exceção. — Dean fica quieto por alguns instantes, expira com força e recomeça: — Olha, eu só quero despachar o bodecórnio logo e ir embora dessa cidade maluca o mais rápido possível. Se você quer saber, eu não gostei da forma como aqueles dois olharam para a gente. Acho que podem ter desconfiado dos disfarces.

Ao lembrar das farpas que Dean soltou no ar durante a passagem pela Delegacia de Homicídios, Sam decide alfinetar:

— Suponho que o gênio difícil do agente John Hetfield não tenha ajudado muito a despertar empatia neles, que dirá confiança. É óbvio que eles ficaram desconfiados, Dean. Com muita sorte, vamos sair daqui antes que decidam fazer uma certa ligação para o verdadeiro FBI.

— Mais um motivo para despachar o bodecórnio logo. Eu voto por arrancar o chifre. Aposto que deve ser o ponto fraco dessa coisa horrorosa.

Inconformado com o apelido esdrúxulo, o Winchester mais novo fecha os olhos por um momento e depois questiona:

— Você não vai parar de chamá-lo assim, vai?

— Tem uma sugestão melhor?

Não, infelizmente Sam não tem. Mas concorda com uma coisa, eles precisam resolver esse caso rápido e cair na estrada de novo. E é ao ponderar isso, que ele toma uma decisão.

— Quer saber? Eu vou dar uma volta por aí e conversar com os vizinhos dos Johnson. — O caçador levanta da cadeira e pega o terno largado em seu encosto. — Talvez alguém tenha visto alguma coisa naquela noite.

— E eu vou ligar para o Cass, pedir que ele dê uma voada para o bunker e uma boa olhada em tudo. Talvez algum daqueles livros fale sobre o nosso bodecórnio, afinal.

Enquanto veste o terno, Sam contrapõe com confiança:

— Acho difícil, eu já li a maioria deles e folheei todos os outros.

Dean estreita o olhar com azedume e resmunga:

— Uma vez CDF, sempre CDF. — E quando o vê caminhando até a porta, diz um tanto ansioso: — Ei! Na volta, traz...

— Torta, claro — Sam adivinha, pois o pedido é muito recorrente, praticamente intrínseco de Dean. — Uma vez comilão...

— Não esquece, Sammy. Torta — o irmão reforça, porém não é ouvido.

A essa altura, o outro já girou a maçaneta e deixou o quarto, bem como o restante da cerveja para trás. Dean acha melhor não desperdiçá-la.

[...]

A essa altura também, Monroe já saiu do Englewood Hotel e, nesse momento, volta para o carro de Nick com passos apressados. Assim que se acomoda no banco do passageiro e bate a porta, ouve o amigo perguntar com ansiedade:

— E então? Conseguiu farejar dessa vez?

— Positivo, e sinto muito em decepcioná-lo, mas os sujeitos são 100% kehrseite.

— Tem certeza? — a pergunta simplesmente escapa, embora no fundo o detetive não esteja tão surpreso assim. O sexto sentido, ou talvez o seu gene Grimm, nunca acreditou que Sam e Dean fossem Wesen.

— Absoluta — o Blutbad confirma de pronto. — Um deles tem o cabelo muito cheiroso, algo digno de nota. É o mesmo shampoo que Rosalee usa e eu amo.

Nick ri um pouco, incrédulo diante da observação.

— Sério, Monroe?

— Eu só estou dizendo, cara. Ele deve ter um apreço muito grande por aquelas mechas.

O detetive se recosta no banco e pensa um pouco, avaliando tudo o que sabe até agora. Sam e Dean Winchester se identificaram como agentes do FBI, sem de fato serem. Não são Wesen, tampouco. Não parecem assassinos, porém todas as evidências levam a uma onda de crimes orquestrada pelos dois em meados de 2011 e que terminou com suas decapitações numa delegacia em Iowa.

O engraçado é que os irmãos estão bem vivos e as cabeças perfeitamente intactas. Outro detalhe estranho é que pareceram sinceros quando demonstraram interesse no caso, pareceram mesmo querer desvendar o crime; o que, por si só, não condiz com o caráter de psicopatas.

A única possibilidade a qual Nick consegue chegar é que talvez os dois sejam como ele. Grimms. Mas isso não explica o passado de roubos, fraudes e mortes que deixaram pelo caminho.

— O que você pretende fazer agora? — a voz de Monroe desperta o policial desses pensamentos.

Um instante depois, Burkhardt decide o próximo passo. Ele pega o livro que trouxe do trailer. Abre na página amarelada que mostra um desenho muito melhor do que aquele que Ted tentou reproduzir e responde:

— Por enquanto, me concentrar no meu trabalho. Mais tarde, vejo o que faço sobre aqueles dois.

Assim que o Blutbad olha para a ilustração, sua expressão muda. Agora é uma mistura de espanto e revolta.

— Então foi esse maldito que matou aquele pobre homem? Faz todo o sentido agora. Você sabe que essa coisa queria o menino desde o começo, não sabe? Esse tipo de Wesen se alimenta de crianças, Nick. Alegam que a carne é mais tenra e saborosa. Deve ter matado o pai só porque ele tentou defender o filho. Eu juro que se, um dia, um desses ousar chegar perto da minha prole... Eu não responderei por mim. Arranco esse chifre imundo com os meus próprios dentes. Isso não o mataria, mas eu ouvi dizer que a dor é excruciante.

Quase involuntariamente, a coloração vermelha toma conta das íris de Monroe. Nick acha prudente fechar o livro agora. A capa grossa espalha um ruído abafado dentro do veículo quando ele faz isso, ocultando o desenho preciso da criatura semelhante a um bode e com o chifre que lembra o de um unicórnio. Dean, certamente, teria um nome para ela, mas não é o que está escrito naquela página.

O Blutbad pisca e seus olhos voltam ao castanho costumeiro e amigável. Meio sem jeito, ele se justifica:

— Desculpe, Nick. Eu sei que Blutbaden não são os melhores exemplos de gosto alimentar, mas nem nos meus tempos obscuros, eu tive coragem de caçar crianças. São crianças, cara! Além disso, eu acho que a paternidade está me deixando mais sensível para certas coisas.

— Se serve de consolo, piora depois que eles nascem — o Grimm avisa com uma irônica solidariedade. —  A empatia com as crianças de outras pessoas e a preocupação com as nossas só aumentam.

— Oh, fico feliz em saber, obrigado... — Monroe replica também com ironia. — Eu vou te deixar trabalhar em paz. — Ele se prepara para abrir a porta do carro. — Mas se precisar de ajuda com esse monstro, pode me ligar mais tarde. Qualquer hora. Será um prazer ajudar.

Um tanto confuso, o detetive pergunta:

— Não quer uma carona?

— Não, tudo bem. Prefiro andar um pouco para espairecer — o amigo dispensa, já saindo do veículo. Ele fecha a porta logo depois e se inclina na direção da janela. — Também preciso comprar uma torta de frutas vermelhas para Rosalee aqui perto. Um pouco antes de você aparecer, ela disse que estava com desejo. E eu não quero que o nosso pequeno grande time nasça com cara de sobremesa.

— Já é horrível pensar que algum deles pode nascer com a sua cara, imagine de frutas vermelhas.

— Não abuse, Grimm — Monroe alerta, num tom falso de ameaça.

Nick sorri em despedida e observa o melhor amigo Wesen se afastar pela calçada logo depois.

Ele está pronto para dar partida, pretendendo dirigir até o bairro do falecido Jacob Johnson e conversar com seus vizinhos. Talvez algum deles faça woge ao ser pressionado e se revele como a criatura que Nick precisa tanto deter.

Porém, ao reconhecer o veículo clássico e negro passando justo ao seu lado e seguindo pela rua adiante, ele simplesmente congela no volante. Percebe que só há um homem lá dentro. Fica curioso e se pergunta para onde Sam Winchester estará indo e o que vai fazer quando chegar lá.

Nick toma uma decisão alguns segundos depois e dá mesmo partida. Do jeito mais cauteloso possível e querendo respostas, começa a seguir o Impala Chevy 67 pelas ruas arborizadas de Portland.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Sim? Não? Talvez? Contem tudinho ;-)

O próximo capítulo vai demorar um pouco porque eu quero escrever o 6 primeiro para ter um reserva antes.

A saber, kehrseite é humano no universo Grimm.

Beijos e inté lá!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "SuperGrimm – Uma Caçada Wesen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.