SuperGrimm – Uma Caçada Wesen escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 10
Conversa insana


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo chegando ♥

Esse mais focado num certo Winchester cabeludo...



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Se tem uma coisa que Sam Winchester aprendeu ao longo dos anos como caçador é que não há espaço para relacionamentos amorosos nesse tipo de vida. Sempre acabam mal.

Ele tentou levar uma vida normal e ser feliz com Jessica, por exemplo. E ela foi morta, de maneira cruel e sobrenatural, por causa dele. Tudo terminou em chamas, com ela grudada ao teto da república que dividiam em Stanford.

Um ano depois, ele se apaixonou por Madison. E teve que matá-la ao descobrir que ela era uma lobisomen incapaz de controlar a natureza assassina. A própria Madison lhe entregou a arma e implorou que colocasse um fim àquilo.

Ruby simplesmente o manipulou para servir a Lúcifer, deixando-o viciado em sangue de demônio e semeando a discórdia entre ele e Dean.

Amelia parecia a mulher certa na hora certa, pois ele havia perdido tudo — ou acreditado que tinha perdido — e pensou que poderia recomeçar do zero e viver como qualquer pessoa normal. Sam estava enganado. Também teve que deixá-la eventualmente e voltar para a estrada.

Sarah Blake, com quem ele trocou um único beijo há muito tempo, acabou morrendo em seus braços anos depois, sufocada por um feitiço de Crowley, sem que ele pudesse fazer nada para impedir. Eles nem chegaram a ter um relacionamento, e ela foi atingida pelo mal que cerca a vida dele mesmo assim.

Por tudo isso, Sam não deveria estar pensando em Juliette Silverton agora. Mas está.

Ele diz a si mesmo que foi só uma atração momentânea, sem importância, uma reação natural diante de uma mulher bonita. Ele não virou um monge, afinal. O fato de não poder ter um relacionamento duradouro, não significa que esteja morto. Às vezes, ele só precisa de sexo, de um momento casual, de uma mulher para preencher aquele vazio por uma noite e nada mais.

Com certo custo, o caçador se convence de que foi exatamente isso que sentiu ao colocar os olhos em Juliette. Ela é bonita, misteriosa, parece disponível e ele viu uma oportunidade. Poderia ficar com ela por uma noite.

E depois, quando o Abath fosse carta fora do baralho e ele tivesse que ir embora de Portland com Dean, faria isso facilmente. Sem olhar para trás. Nada lhe prenderia ali.

Por algum motivo, dessa parte Sam não consegue se convencer. O que é estranho porque ele mal conhece Juliette. Wesen e amiga de Nick, isso é tudo o que ele sabe sobre ela. Há poucos minutos, nem sabia que ela existia.

Ainda assim, agora ele não consegue tirá-la da cabeça. Porque ele sentiu aquilo. Aquele nervosismo e encanto imediato. O pulso acelerando sem explicação aparente. A garganta um pouco seca enquanto as palavras lhe fugiam. Sinais que Sam se recorda muito bem porque já sentiu antes. A cada vez que, ignorando a vida de caçador, ele sentiu uma atração mais forte, irresistível, que acabou em paixão e caos.

— Planeta Terra chamando Sam Winchester. Sam Winchester! Sammy! Caramba, o caso é grave...

Dean estala os dedos na frente do rosto dele, enfim despertando o irmão dos pensamentos que o mantinham tão absorto.

Com um sobressalto, Sam endireita o corpo no banco do Impala e olha para o irmão, constrangido por ter ficado tanto tempo distraído. Depois, espia pela janela para disfarçar. Estão quase chegando ao hotel.

— Você ouviu alguma coisa do que eu disse? — Dean pergunta, de um jeito quase retórico.

— Desculpe.

— Estava pensando no quê?

O mais novo acha melhor se esquivar da pergunta.

— Em nada.

O outro não se dá por satisfeito, no entanto, e reformula na sequência:

— Ok. Estava pensando em quem?

Sam respira fundo, começando a ficar incomodado com o rumo da conversa.

— Em ninguém, Dean. Podemos mudar de assunto?

— Claro! — Ele faz uma pausa, tamborilando os dedos no volante. — Juliette é Wesen, certo? Quem suspeitaria?

Meio no susto, Sam franze o cenho e questiona:

— O que você está fazendo?

— Mudando de assunto.

— Não está não.

— Você disse que não estava pensando nela, então é um novo assunto sim.

Sam respira profundamente de novo. Por um momento, imagina a cabeça do irmão inflando, inflando, até explodir numa nuvem de confetes. Opta por manter os olhos na avenida em frente para manter a própria cabeça no lugar.

Tentando terminar com qualquer brecha que Dean possa usar contra ele, responde de um jeito seco e óbvio:

— Muito bem. Ela é Wesen. Próximo tópico?

Dean fica em silêncio. Sam fica aliviado, imaginando que ele se deu por vencido. Trinta segundos se arrastam. Até que...

— Olha, Sammy, você não está morto.

Doce engano, ele não está livre da impertinência do irmão. Com azedume, retruca com ironia:

— Obrigado, Dean, eu não tinha percebido isso, é muito bom estar vivo.

Ignorando o tom, o mais velho simplesmente prossegue com o argumento:

— Tudo bem se divertir um pouco às vezes. E tudo bem se for com ela.

Pasmo com a parte final, Sam torna a olhar para ele.

— Como é?! Você não vai dizer que eu deveria manter distância porque Juliette é Wesen?

Dean pensa um pouco, tamborilando os dedos no volante de sua Baby mais uma vez. Fica surpreso com a própria conclusão à qual chega segundos depois.

— Quer saber? Não. Eu não vou implicar, você tem a minha benção, tanto faz.

Sam ri sem humor, sem saber o que pensar.

— Estou chocado. E confuso.

Depois de fazer uma curva fechada em outra rua, o caçador mais velho tenta explicar:

— Existem Wesens do mal e Wesens do bem, certo? Eu só estou tentando aceitar isso. Ou pelo menos não pirar. Monroe parece ser um cara legal, Juliette não atacou a gente e o Nick confia nos dois. Bom, o cara tem uma família Wesen. Por tudo isso, acho que eu posso ser um pouco menos...

Ao perceber que o irmão está em busca de uma definição, Sam decide ajudá-lo:

— Pé no saco?

Dean lança um olhar torto para ele antes de corrigir com ênfase:

— Compreensivo.

Reconhecendo que essa é uma evolução e tanto tendo em vista que Dean não é conhecido por ser maleável com qualquer um que não seja cem por cento humano, Sam faz um biquinho com os lábios e debocha:

— É um progresso, estou orgulhoso.

— Cala a boca. E então?

— E então o quê?

— Você vai falar com a Juliette? Sim ou não?

— Não — Sam esquiva-se da ideia mais uma vez, sentindo-se estranhamento nervoso. — O que eu falaria pra ela?

Dean contém um riso. Muito mal.

— Qual é, Sammy? Eu te ensinei como chegar numa garota há muitos anos, lembra? É como andar de bicicleta. Você consegue. Confiança em si mesmo é a alma do negócio.

Tirando uma das mãos do volante, ele dá alguns tapinhas no ombro do caçula. Sam trinca os dentes e faz um esforço para não perder a calma.

— A questão não é essa. Eu não vou me aproximar dela.

— Por que não?

— Porque eu não quero.

— Você quer — Dean afirma, pois o conhece melhor do que ninguém e percebeu o interesse dele na amiga de Nick. — Por que não?

Embora grato por Dean tentar ajudá-lo, Sam acredita que ceder à atração é uma péssima ideia. Por isso, expira com força e eleva um pouco a voz ao responder:

— Eu não devo, okay? Agora chega desse assunto.

Dean tira as mãos do volante por um segundo, rendendo-se.

— Okay, você que sabe. — Finge uma tosse, despejando uma palavra no ar: — Covarde... Só fique sabendo que, por mim, tudo bem. Mesmo que ela tenha tentáculos.

Dessa vez, Sam ri de verdade.

— O quê?! Ela não tem tentáculos.

— Como você sabe? — Dean questiona, num tom desafiador. — Não tem como saber, admita. E se ela fizer aquele woge que só um Grimm consegue enxergar, vai continuar na ignorância. O que pode ser bom, certas coisas é melhor não saber.

— Essa é uma das conversas mais insanas que já tivemos.

De repente, o mais velho arregala os olhos. Perplexo com uma possibilidade que surge em sua mente, há certo assombro na voz quando volta a se manifestar:

— Será que eu já fiquei com alguma Wesen, Sammy? Que tinha tentáculos?

— Dean, para com isso.

— Não consigo. — Ele engole em seco, entrando no estacionamento do Englewood Hotel, cantando pneus. Desliga o motor com um tranco. — Minha pressão está caindo e eu preciso de glicose. É uma emergência.

Sam estreita o olhar na direção dele, dando-se conta de que Dean está exagerando agora, apenas debochando de tal perspectiva e usando a “queda de pressão” como desculpa para conseguir uma coisa.

— Certo, eu compro o café da manhã.

Dean relaxa de imediato e sorri em resposta.

— Obrigado, eu já me sinto bem melhor, você é um anjo.

Sam abre a porta do Impala, espalhando um rangido pela silenciosa manhã. Antes de sair, não perde a chance de retribuir toda a inconveniência do irmão, dizendo com falsa inocência só para irritá-lo:

— Por falar nisso, aproveita para conversar com o seu.

Dean fecha a cara e retruca no mesmo instante:

— Pela última vez, última mesmo, ele não é o meu anjo. E vê se não esquece a torta.

Sam se despede com um sorriso que Dean classificaria como cretino e caminha rumo à calçada com as mãos no bolso da grossa jaqueta. Atravessa a rua, onde poucos metros à frente há uma padaria.

Ao empurrar a porta de vidro, não gosta muito da aparência das tortas disponíveis numa prateleira. Elas parecem um pouco passadas, apesar da etiqueta de validade dizer que não.

Dean já comeu coisas vencidas muitas vezes e sem se importar, alegando que era um desperdício jogar comida fora. No entanto, tortas são sagradas para o Winchester mais velho e ele prefere as bem frescas. Sendo assim, para evitar um atrito por tão pouco, Sam acha melhor procurar outro lugar. Lançando um sorriso sem graça para o dono do estabelecimento atrás do balcão do caixa, ele deixa a padaria para trás e sai em busca de outra.

De certa forma, fica até aliviado por adiar a volta ao hotel. Será bom caminhar um pouco e esvaziar a mente. Dean merece passar um pouco mais de fome por ter testado a paciência dele ao limite com aquela conversa insana, por mais que a intenção tenha sido boa.

Tentando não pensar mais em Juliette, Sam passa em frente a outras padarias, lojas de conveniência e lanchonetes, e não para, quer estender mais a caminhada. A cidade vai acordando em volta dele, as ruas ganhando mais carros, as calçadas ganhando mais pessoas, mais um dia começando de fato.

A vários quarteirões de distância do hotel, ele enfim entra em uma nova padaria e pede dois cafés para viagem. Enquanto a atendente prepara tudo e acomoda os copos térmicos num porta-copos de papelão, o caçador procura por algo saudável e leve para ele. Faz uma nota mental a fim de não esquecer de ir na sessão de porcarias calóricas depois e comprar a bendita torta para Dean. Dessa vez, ele jura a si mesmo que não vai esquecer.

Sam já está passando no caixa quando a vê. Do outro lado da rua, ao olhar de relance para a porta da padaria, pouco depois de ter entregado um dos inúmeros cartões de crédito falsos para a atendente.

Juliette atravessa a rua e, por um momento, o caçador imagina que ela vai entrar ali. Fica inquieto, uma estranha expectativa aflorando em seu íntimo. E frustrado, quando a amiga de Nick passa direto e vira à esquina.

— Senhor? Senhor, o seu cartão. O senhor está me ouvindo?

Sam desperta da espécie de transe em que mergulhou, enfia o cartão no bolso de qualquer jeito e pega as compras, balbuciando um agradecimento qualquer. Na pressa de ir embora, acaba esquecendo uma das sacolas sobre o balcão. Justamente a única sacola que ia interessar a Dean. Aquela com a torta.

Só quando percebe que está seguindo Juliette, Sam se dá conta de como isso é errado. Errado e vergonhoso.

Ele devia parar, esquecer o assunto tal como pediu ao irmão que fizesse, dar meia volta e encontrar Dean no hotel. Mas ele não para, continua no encalço da misteriosa Wesen, sem saber com qual objetivo, até que ela vira em mais uma esquina.

Sam apressa o passo, mas a perde de vista alguns metros adiante. Confuso, para no meio da calçada e tenta entender o que aconteceu. Estuda as possibilidades, mas não entende para onde ela pode ter ido.

Até que ele ouve uma voz suave e firme ao mesmo tempo, logo atrás dele, dizendo num tom de brincadeira, mas de alfinetada também:

— Você não devia abusar da sorte. Caso não saiba, eu tenho amigos na polícia de Portland.

Alarmado, Sam vira-se na direção de Juliette. Seu primeiro instinto é negar a acusação velada, pedir desculpas pelo “mal-entendido” e deixá-la em paz. Uma parte dele, a parte racional, sabe que é exatamente o que devia fazer agora.

Entretanto, o reencontro silencia essa parte e desperta outra. O conselho de Dean acaba surtindo efeito enquanto Sam se vê, mais uma vez, preso a presença quase magnética de Juliette. É como um ímã, e ele não consegue se convencer a desistir, embora tampouco saiba do que abriria mão.

Talvez ele possa sim se aproximar dela, certo? Apenas um pouco. Por pouco tempo, que seja. Sam precisa disso de um jeito ou de outro. Dar um passo e descobrir aonde esse passo irá levá-lo. Se irá levá-lo a algum lugar.

Pensando assim e tomando coragem, o caçador finalmente rompe o silêncio:

— Eu acho que vou arriscar. Algo me diz que vale a pena.

Juliette o encara por um longo instante. A princípio, surpresa com a resposta, quase descrente. Depois, intrigada, curiosa. Por fim, a postura um tanto defensiva começa a ruir inevitavelmente. Ela é vencida por um leve sorriso.

Deixando qualquer cerimônia de lado, Juliette pega um dos copos de café de Sam, lhe dá as costas e caminha devagar rumo a uma praça perto dali.

Sem hesitar, ele vai atrás dela.


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Notas finais do capítulo

Ora, ora... ( ͡° ͜ʖ ͡°)



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